Rios Fluem Até Você escrita por Hanna Martins


Capítulo 20
Água e Areia


Notas iniciais do capítulo

Hey, reylos!
Mais um capítulo chegando e alguns acontecimentos interessantes...



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A areia escaldante queimava seus pés. Vivera anos naquele lugar, mas ele ainda lhe era estranho em muitos aspectos. Lar não era uma palavra que usaria para designar Jakku.   

 — Tio, você vai andar comigo na nave? — perguntou Matt, enquanto o olhava com aqueles grandes olhos azuis, impressionado com o veículo que tinha diante de si. — Por favor? 

— Claro — falou, bagunçando os cabelos ruivos do garotinho. — Depois que eu conversar com seu pai, a gente vai. 

— Promete? 

— Prometo — disse, sorrindo. — Você pode entrar na nave, só cuidado para não mexer nos controles. A Resistência ou Morpheus, provavelmente Morpheus, acabariam comigo.  

O garotinho correu em direção ao veículo, dando pequenos saltos de alegria.  

Yuri lançou um breve olhar para o homem de estatura mediana e cabelos loiros que o observava. Fazia meses que não via seu irmão Declan.  

— Fico feliz que tenha vindo nos visitar, Matt e eu sentimos a sua falta, Yuri — disse ele. — Matt sempre fala de você... 

— Eu também senti saudades de Matt... e de você...  

Os dois homens se encararam por um breve segundo. Havia ainda um certo desconforto entre eles. Declan não apoiara nenhum um pouco a escolha do irmão de deixar Jakku e se aventurar com a Resistência. 

— Tive alguns dias de folga — explicou Yuri. A Resistência estava em um clima festivo, algo sobre a comemoração de uma aliança com um planeta muito rico, por isso eles haviam dado três dias de folga para todos.  

— Ah... Entre — convidou o irmão.  

Eles entraram na pequena cabana de tecido. Declan trouxe um chá aromático gelado para os dois e eles se acomodaram nas únicas cadeiras que havia na tenda.  

— Como você está? — indagou o irmão. — Está tudo bem no trabalho? 

— Está — respondeu, tomando um gole do chá. — E como as coisas andam por aqui? 

— Tudo bem. Nenhuma novidade.  

Os dois caíram no silêncio. O ar dentro da tenda tornou-se subitamente asfixiante. 

Gotas de suor escorriam pelas costas, molhando sua camisa. Olhou para o chão, procurando pelas palavras adequadas. Aquele assunto era complicado e não fazia a mínima ideia de como o começar.  

—  Fale. O que você quer? Certamente, não é por saudades de Jakku que você está aqui, Yuri — falou Declan repentinamente, como se estivesse lendo os pensamentos do irmão. — O que foi que trouxe você aqui?  

— É... — hesitou. Mas, precisava falar, era por causa daquilo que voltara àquele planeta perdido no meio do nada. — Sobre o meu passado... eu deveria saber mais alguma coisa? Você se esqueceu de me contar algo? 

Declan tomou um grande gole de chá.  

— Por que você está tão interessado no seu passado? Você nunca teve tanto interesse antes — afirmou o irmão. 

Aquilo era verdade. Antes, ele nunca se interessara realmente em saber sobre seu passado. Sua vida era simples. Nascera naquele planeta, perdera os pais quando criança, fora criado pelo irmão, trabalhara com ele, transportando coisas pelo deserto. Pronto. Não havia nada de complexo. Ele apenas aceitara esta verdade, quando Declan lhe falara sobre seu passado. E até gostava daquilo, de ser apenas uma pessoa comum. Apreciava aquela simplicidade das coisas. Apenas possuía aquele sentimento de que Jakku não era de fato o seu lar, de que precisava escapar daquele lugar, que havia algo lhe esperando lá fora. Algo realmente importante. Aquele sentimento era tão forte que o deixara quase enlouquecido.  

E quando ela aparecera em sua vida as coisas ficaram complicadas demais.  

Agora estava tendo aqueles pesadelos assustadores que o fazia gritar como um garotinho, tremendo de medo. A última vez que tivera uma noite de sono decente fora mais de uma semana atrás, quando Rey dormira ao seu lado.  

Ao despertar, na manhã seguinte, encontrara a cama vazia e fria. Ela não estava mais lá e aquilo lhe deixara aliviado. Havia certas questões, que descobrira naquela noite, que precisava ainda digerir. 

Depois do que acontecera, Rey não voltara à oficina. Ela estava ocupada com assuntos da Resistência. No lugar dela, o General Dameron surgia com muita frequência.  

— Tem algo lhe incomodando? — inquiriu Declan.  

— Eu tenho tido alguns... sonhos estranhos... — disse hesitante.  

— Que tipo de sonhos estranhos? — perguntou o irmão.  

— Pesadelos... realistas demais... como se eu fosse outra pessoa... — explicou vagamente.  

Declan levantou-se e pousou a mão no ombro do irmão.  

— São só sonhos — falou ele. — Esqueça deles. Foque em outra coisa. Lembra que Matt também tinha aqueles pesadelos horríveis? 

— Claro. Matt mal conseguia dormir.  

— E você ajudou Matt a se livrar daqueles pesadelos, disse para ele começar a pintar... isso ajudou muito. Agora, ele já está bem melhor.  

— É, ele está... 

— Não se preocupe com isso, Yuri. Você está complicando as coisas demais... Às vezes, a gente tem a mania de complicar coisas que na verdade são simples. O melhor que a gente tem a fazer é viver a vida e não ligar muito para as coisas que não interessam.  

Talvez, Declan estivesse certo, as pessoas gostavam de complicar as coisas. Talvez, ele mesmo estivesse complicando aqueles pesadelos. Se ele não tivesse ligado tanto para o primeiro pesadelo, provavelmente, não teria tido o seguinte. Aquilo havia se transformado em uma bola de neve. 

— Encontre algo para se focar — sugeriu o irmão.  

Encontrar algo para direcionar o seu foco era problemático, porque sabia que o que o afastaria de seus pesadelos era ela... 

Naquela noite, enquanto Rey repousava em seus braços, ele compreendera a verdade. Não era devido ao fato que se parecia com Ben Solo, o homem que ela tanto amara, que evitava se entregar àqueles sentimentos. Era outra coisa... 

Ele tinha medo.  

Medo de não ser o suficiente para Rey.  

Medo de magoá-la.  

E medo de si mesmo.  

Algo em seu anterior, lhe dizia que não deveria se entregar àqueles sentimentos, que ele só magoaria a todos se deixasse que eles florescessem. Que nunca deveria amá-la. Que o amor lhe era proibido. Que não era digno de ser amado por ela. 

A verdade era que aqueles sentimentos eram tão intensos e profundos que o assustavam. Eles haviam se enraizado em seu peito sem qualquer permissão e cresciam, cresciam... Não podia controlá-los. 

Estivera o tempo todo utilizando a desculpa de Ben Solo como um escudo. Essa era a verdade.  

Ben Solo era a desculpa para ele não encarar aqueles sentimentos que cresciam em seu peito.   

O que faria? 

Talvez, estivesse na hora de deixar de agir como um covarde e parar de fugir. 

Sim, estava na hora.  

Precisava deixar de fugir.  

**************************************** 

Rey mergulhou na banheira, querendo afogar na água limpa e fresca todos os seus problemas. Mesmo depois de mais de uma semana, não conseguia esquecer aquilo... o que fosse que tivesse sido. Mal conseguia dormir direito. Por vezes, ela mesma evitava cair no mundo dos sonhos, porque os pesadelos a atacavam e a arremessavam no meio daquele turbilhão aterrorizante, do qual não sabia como sair. Estava cansada de acordar no meio da noite com os próprios gritos.  

A sensação, que o mal estava a espreitando, continuava lá, mais forte do que gostaria de admitir.  

Submergiu a cabeça na banheira. Assim, seus pensamentos podiam calar-se por um instante. Porém, havia lembranças das quais não conseguia escapar, mesmo escondendo-se nas profundezas de um oceano.  

Ela emergiu da água límpida do lago. Aquele pequeno planeta era cheio de lagos e árvores. Havia várias folhas no lago, folhas em formato de coração. Apenas em Liebe existia aquele tipo de folha. Rey pegou uma delas e admirou-a. Ela era linda. Amava as plantas. Se pudesse teria um jardim. Seu sonho de menina era morar em uma casa com um enorme jardim que lembrasse uma floresta, repleto dos mais variados tipos de plantas.   

Leia a mandara a Liebe para que ela meditasse. Rey estava tendo problemas para manter o foco no treinamento. Uns dias em um planeta calmo e desprovido de habitantes, pelo menos daqueles tagarelas e que se gabavam de serem seres racionais, a ajudaria.  

A água escorria por seu corpo, suas roupas estavam completamente encharcadas. Ela mergulhara no lago de roupa e tudo, aquela água era tão deliciosa que não conseguira resistir.  

Fechou os olhos e deu outro mergulho, prendendo a respiração pelo máximo de tempo que conseguia. Aquilo que era divertido e ajudava-a a manter o foco também.  

Emergiu da água quando seu pulmão não suportava mais. Notou imediatamente que havia cometido um grande erro ao se desconectar do mundo por um breve instante. 

— Você vai pegar um resfriado... 

— Obrigada pela preocupação, mas eu não preciso de seus conselhos — rebateu ela.  

— Só estava avisando — replicou Kylo, sentando-se em uma das grandes pedras que cercavam o lago.   

Rey mergulhou na água, torcendo para que ele não estivesse mais lá quando ela emergisse novamente. Porém, lá estava ele, com cabelos voando ao vento e um olhar cínico, quando veio à tona.  

— Você não tem outra coisa para fazer? — indagou ela, na quinta vez que emergiu, cansada daquele jogo.  

Ele apenas a olhou. Ela não esperou por uma resposta, submergiu no lago novamente, cheia de raiva (ultimamente estava repleta deste sentimento), por mais tempo do que era recomendado.  

Sua consciência começou a desaparecer... 

Sentiu algo a tocando, abriu os olhos. Kylo estava em sua frente e segurava-a pelos ombros. Ele a puxou até a superfície.  

— Por que você fez isso? — disse ele, cheio de indignação, furioso.  

— Eu não fiz nada — declarou, desnorteada com o estado dele.  

— Você sabe como isso é perigoso? Você poderia ter se afogado! — Ele ainda tinha as mãos em seus ombros e os segurava com força, não como se quisesse a machucar, mas como se desejasse mantê-la assim, presa a ele.  

Ela não compreendia a razão daquela fúria.  

— E você gostaria disso — rebateu ela.  

Os olhos dele se encheram de uma emoção que não conseguiu compreender, parecia até que ela havia o atravessado com um sabre de luz. Por um instante, acreditou que quem estava diante de si era Ben, mas um Ben totalmente ferido e magoado.  

Ele soltou os ombros dela e saiu do lago.  

— Você é tão teimosa — resmungou ele, de costas para ela. — Eu não sei por que eu... — disse uma palavra que ela não conseguiu ouvir.  

Rey hesitou sobre o que fazer. Não queria sair do lago e mostrar-se com suas roupas brancas e molhadas perante ele. O melhor era esperar ele ir embora. 

Kylo retirou o suéter molhado, ficando apenas com aquelas calças justas. Desviou os olhos. Pelo menos, ele estava de costas para ela e não capturou sua reação. Não sabia lidar muito bem com a nudez de outras pessoas. Ela fora criada em Jakku sozinha, deveria ser por isso que não conseguia lidar com certas coisas que para outras pessoas eram tão naturais. Ele parecia saber daquilo, sempre arranjava um jeito de bater em seus pontos fracos.  

Ele voltou-se para ela, bruscamente.  

— Você sempre foge das coisas, Rey! — desferiu ele com sua língua afiada.  

— E do que estou fugindo, Kylo? — replicou com ferocidade na voz. — Eu não estou fugindo de nada. Eu nunca fujo.  

— Ah, não está? — disse ele em um tom sarcástico. — Você é uma mentirosa e uma teimosa!  

— E você é um monstro! — cuspiu as palavras sem pensar, estava dominada completamente pelo calor da fúria que a invadia.  

— Sim, eu sou um monstro, mas pelo menos eu não sou um mentiroso, que fica fugindo pelos cantos. 

Aquilo já era demais. Rey saiu da água furiosa, pronta para pegar seu sabre de luz e atacá-lo.  

— Quero saber do que eu estou fugindo? — gritou.  

— Você sabe muito bem do quê! — rebateu ele, encarando-a. — Só não quer admitir para si mesma. Você está se comportando como uma covarde. 

O barulho do tapa ecoou pela floresta.  

As narinas de Rey estavam dilatadas, e ela mal conseguia ver o tinha em sua frente, cega pela fúria.  

Kylo levou a mão até a bochecha vermelha e a massageou.  

— Pare de comportar como uma covarde, Rey — disse calmamente, como se o tapa não houvesse o afetado de maneira alguma.  

— Eu não sou uma covarde, muito menos uma mentirosa! — rebateu, enquanto tentava domar a cólera.  

— Então, enfrente as coisas.  

— Enfrentar o quê? 

Ele aproximou-se dela.  

— Você queria pegar minha mão — afirmou ele, vagando seus olhos pela face dela.  

Rey controlou a vontade de desviar os olhos dos dele. Mesmo, sem entrar em sua mente, ele ainda conseguia lê-la com perfeição.  

— Você sabe que é verdade... — disse ele, baixinho.  

Ele inclinou-se até ficar com a cabeça muito próxima da dela.  

Os olhos dele imploravam por ela.  

Por um segundo, Rey hesitou... Não, ela não deveria. Aquele era Kylo Ren. Os dois estavam em lados opostos em uma guerra.  

Ela virou o rosto. E ele voltou a sua antiga posição. 

— Sempre fugindo — falou ele, sarcasticamente.  

— Essa ligação já deveria ter terminado... — resmungou ela, dando as costas para ele. 

— Ah, isso não é uma ligação da Força. 

Foi então que ela notou, ele estava realmente lá.  

 


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Notas finais do capítulo

O que acharam?
Um encontro entre Rey e Kylo... hummm o que será que saiu deste encontro?



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