Rios Fluem Até Você escrita por Hanna Martins


Capítulo 16
Esse é o seu destino


Notas iniciais do capítulo

Hey, reylos! Mais um capítulo chegando :D



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— Você vai ficar o dia inteiro aí? — inqueriu Rey com a voz repleta de irritação.  

— Talvez... — respondeu ele, folheando um livro antigo de modo casual e tranquilo.  

Odiava quando a Força fazia aquelas ligações aleatórias e odiava ainda mais o fato de ele parecer não se importar nem um pouco. Aquela aparente serenidade, que ele reservava especialmente para aqueles momentos, era profundamente irritante. 

Quando as ligações aconteciam, ela procurava ignorá-lo, algumas vezes, obtinha bons resultados, já em outras, eles não eram nada satisfatórios. 

Ela tentava fechar o vínculo da Força que havia entre eles, fazendo o máximo de esforço para extinguir aquelas ligações. Porém, era ainda muito inexperiente usando a Força. Não conseguia manter a alta concentração que aquele esforço exigia todo o tempo. Já chegara a passar dias e dias sem vê-lo. Mas, repentinamente, sem o menor aviso, lá estava ele, em sua frente, olhando-a daquele modo enigmático, como se soubesse algo que ela desconhecia completamente.  

Rey deu as costas a Kylo e tentou concentrar-se no treinamento, brandindo o sabre de luz furiosamente. Uma hora ele iria embora, repetia para si mesma. O melhor que poderia fazer era ignorá-lo. 

No entanto, aquela tarefa era quase impossível. A presença dele era marcante demais para Rey fingir que ele não se encontrava ali, bem diante dela. Isso a deixava furiosa. A fúria e a raiva eram mais dirigidas a si própria do que a ele.  

Por que ela não poderia simplesmente esquecer da presença dele? Por que era tão difícil ignorá-lo?  

— Não adianta fugir, Rey — falou ele.  

— Eu não estou fugindo — resmungou, mal-humorada, notando tarde demais que havia caído em sua provocação. — Só não quero me encontrar com você! Você é a última pessoa da galáxia que eu quero ver! — explodiu.  

Ela voltou-se para ele, cheia de raiva e frustação.  

Aqueles olhos, que mudavam de tonalidade às vezes, profundos como o mar de Ahch-To, belo e perigoso, voltaram-se para ela. Por um único instante, fugaz como o bater de asas de uma borboleta, não era mais Kylo Ren que tinha diante de si, era Ben Solo.  

Então, ele desapareceu.  

Um arrepio percorreu o corpo de Rey com aquela súbita lembrança. Ela envolveu-se no suéter de Ben. Aquele velho suéter havia a acompanhado nos últimos três anos, como um amuleto.  

O suéter ficava extremamente grande nela, mas ela gostava daquilo. Sentia-se protegida, como uma garotinha que tentava se refugiar dos monstros que a assombravam. E havia tanto monstros que a perseguiam.  

Aquele suéter fora a única coisa que lhe restara de Ben, quando ele desaparecera diante dos seus olhos em Exegol. Ele lhe ajudava a suportar aquela dor. Ninguém poderia compreender a dor de perder a metade de sua alma. Era uma ferida aberta que doía e sangrava cada vez que respirava. A dor era cruel. A mais cruel de todas. E era só sua.  

Ben era a seu lar. A metade de sua alma. O lugar ao qual ela pertencia.   

Estava naquele estado de semi-vigília, sendo quase levada para o mundo dos sonhos, mas ainda consciente. Deveria ser por isso que aquela lembrança fora tão real, quase palpável.  

Ela tinha tantos arrependimentos. Causara nele tantas feridas. O pior de todos os erros fora aquele que cometera naquele pequeno planeta, Liebe, quase tão ignorado quanto Jakku. Ela o ferira de tal forma lá que deixara uma chaga horrenda em seu peito. O que fizera fora simplesmente vergonhoso. Aquele erro era comparável ao de Endor, quando o apunhalara com o sabre de luz. Porém, a ferida que causara nele fora ainda pior, porque não era física. 

Agora, ele estava ali novamente. No entanto, ele não estava na Força e ela não podia mais se conectar com ele pela Força. Era como uma punição da Força por tudo o que ela havia feito. Talvez, fosse mesmo. Quando ela mais ansiava por aquela conexão, ela já não estava mais lá.  

Rey mexeu-se na cama. Os olhos estavam pesadelos, por fim, deixou-se arrastar para a terra dos sonhos. No entanto, os sonhos não trouxeram alívio para sua dor. Ela foi envolvida pelas teias pegajosas dos pesadelos.  

— Rey! — Uma voz a chamava, uma voz que ela odiada com todo o seu ser. — Esse é o seu destino.  

Ela despertou, suada e dolorida. As sensações de vazio e de dor corriam por sua corrente sanguínea, instalando-se em sua carne, penetrando em seus ossos.  

Passou a mão pela face. Elas ficaram completamente encharcadas de lágrimas.  

Aqueles pesadelos estavam cada vez mais frequentes do que ela gostaria de admitir. 

Mas, desta vez havia algo diferente. Ela lembrava-se de algo daquele pesadelo. Ela nunca havia lembrando de nada antes.  

Esse é o seu destino. 

A frase martelava em sua cabeça. Qual era o seu destino?  

Tinha a sensação de que não gostaria de saber a resposta.  

 

************************************************ 

Yuri sentia um gosto metálico na boca. A pele formigava e o estômago doía.  

Outra vez, sonhara com o sabre cor de sangue. Outra vez, estava naquele lugar podre e vazio como a morte. Mais uma vez, aquele cheiro não saia de suas narinas, assim como a náusea não o abandonava.  

— Amigão, me passa aquela chave ali — pediu Poe.  

Lançou um breve olhar para o General. Ele era muito tagarela para seu gosto. Porém, lá estava ele, substituindo Rey. Ela estava resolvendo alguma coisa sobre uma festa ou algo do gênero.  

— Pensei que as pessoas da alta patente tinham coisas mais importantes para fazer do que consertar caças — falou, dando a chave de fenda para o General.  

— Prefiro pegar na massa. Isso sim, que é trabalho de verdade, não ficar lá, dentro de um escritório, mexendo com burocracia. Aquilo não é para mim. Se eu soubesse que o cargo de General era tão tedioso, tinha era pegado meu droid, meu caça e caído fora. Chewie que estava certo em dar o fora daqui enquanto podia. Deveria ter seguido o exemplo dele.  

BB-8 disse algo para Yuri. O droid estava perto dele, observando-o trabalhar no motor de um caça.  

— É, você está certo — concordou Yuri com o droid.  

Poe olhou para os dois e um sorriso zombeteiro pairou nos lábios do General.  

— Quem imaginaria... — murmurou Poe consigo mesmo.  

Yuri o olhou interrogativamente.  

— Nada não — respondeu o General ao olhar do mecânico. — Lembrei de algo — disse ele, soltando uma risadinha. — Os planetas dão voltas... 

Yuri voltou ao trabalho, mas, ainda observava o General com o canto dos olhos.  

O General uma vez ou outra o olhava daquela maneira inquietante, como se soubesse algo que Yuri não sabia. Isso o deixava perturbado. Será que Poe conhecera aquele tal Ben Solo? Novamente, alguém o estava associando com aquele cara.  

— Sou tão parecido assim com ele? — perguntou Yuri, após um longo silêncio.  

— Com quem? — indagou o General de maneira perspicaz.  

O mecânico encolheu os ombros de modo descontraído, como se aquele assunto fosse mera curiosidade. Pelo menos, era isso que desejava transmitir.  

— Ben Solo... — disse Yuri.  

— Ah... — Poe o olhou por um instante, com os olhos semicerrados, como se refletisse sobre algo. — Não posso negar o fato de que você é extremamente parecido com alguém que eu conhecia... 

— Então... — ele hesitava.  

Poe o olhou, levantando a sobrancelha.  

— Diga — incentivou. — O que você quer saber sobre ele?  

— Quem era ele? 

O General o analisou por um instante, fazendo quase uma careta. Não sabia como interpretar aquela expressão.  

— Ben Solo era o filho de Leia Organa e Han Solo.  

Aquela informação provocou um calafrio em Yuri. Ele sabia quem eram aqueles dois. Morpheus sempre falava deles, contando suas façanhas. Leia Organa era uma princesa de um planeta que já não existia mais, Alderaan, e também a General da Resistência. Ela era uma lenda, assim como Han Solo. Junto com Luke Skywalker, eles compunham um trio famoso em toda a galáxia, louvados.  

Isso fazia de Ben Solo uma espécie de príncipe, filho de duas lendas, sobrinho de Luke Skywalker. Ele nunca poderia competir contra aquilo. Ele, um simples mecânico, jamais venceria em uma luta contra um príncipe. Um mecânico querendo vencer um príncipe? Riria até, se alguém lhe contasse sobre aquilo. 

— Era um Jedi também? — indagou, tentando espantar aqueles pensamentos. 

— Foi treinado por Luke Skywalker por um tempo... — respondeu o General. 

Um pensamento estranho lhe passou pela mente... Se ele era tão importante assim, o filho de Leia Organa e Han Solo, sobrinho de Luke Skywalker, treinado pelo famoso Jedi, então, por que nunca ouvira nada sobre ele da boca de Morpheus? O mecânico chefe era perito em tudo que rondava a Resistência, algo como aquilo não lhe passaria batido. Era grande demais para não ser mencionado.  

— Não há muitas histórias sobre ele... — observou Yuri, tentando não deixar sua curiosidade transparecer.  

— A General Leia sempre protegeu o filho — explicou Poe. — Poucas pessoas sabiam sobre ele... 

— Protegê-lo? 

— Todo este lance de ser filho de lendas, sabe? Com certeza, não seria bom para ele ser exposto... E ela gostava de manter sua vida privada bem distante da pública... 

Isso certamente explicava muita coisa.  

— Você era amigo dele? — ousou perguntar.  

— Amigo? — Poe levantou a sobrancelha de modo divertido. — Digamos que tínhamos uma relação próxima... Próxima até demais... Quando alguém entra na sua cabeça, acho que se pode dizer que se tem uma relação próxima — murmurou Dameron.  

Yuri não compreendeu o último comentário do General, mas, antes que pudesse perguntar qualquer coisa, Morpheus os interrompeu com algo sobre o trabalho. O momento se perdeu.  

Ben Solo lhe provocara tanta curiosidade. O fato de ele não estar neste mundo só tornava as coisas ainda piores. Não era justo batalhar contra alguém que não podia mais cometer erros.  

No que estava pensando? 

Jamais poderia vencer Ben Solo, mesmo se ele estivesse ali. Além disso, tinha seus próprios problemas. Aqueles pesadelos estavam se tornando mais fortes a cada dia.  

Os pesadelos chegavam até a lhe roubar a sanidade. Muitas vezes, acordava se perguntando se tudo o que vivenciara era apenas um sonho ou se era outra coisa... 

 


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Notas finais do capítulo

O que acharam? Ben/Yuri descobrindo cada vez mais coisas sobre seu passado... E Rey tendo pesadelos e se culpando sobre algo que ocorreu no passado... O que será que ela fez?



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