Rios Fluem Até Você escrita por Hanna Martins


Capítulo 1
Ben Solo vive


Notas iniciais do capítulo

Após sair do cinema eu só tinha uma coisa em mente: "preciso escrever um final que não me faça chorar um litro de lágrimas" e assim nasceu "Rios Fluem Até Você". Ela tem um pouquinho de tudo, drama, comédia, momentos fofos entre esse meu casal que tanto amo #Reyloforever
Espero que se divirtam tanto quanto eu estou me divertindo escrevendo essa fanfic.



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Rey suspirou e entornou de uma só vez a bebida ácida e quente.  

— Ei, Rey! — disse Finn, com um radiante sorriso, sentando-se ao lado dela. — Amo essas festas! — exclamou. — Poe, quero dizer, o General Dameron sempre organiza as melhores festas. 

Claro, e também as maiores confusões. Todas as festas sempre acabavam com alguém em uma situação constrangedoras. Certo comandante fora flagrado apenas com uma gravata na manhã seguinte a uma destas famosas festinhas. Mas, limitou-se apenas a assentir, observando o amigo tagarelar sem ao menos tomar um pouco de fôlego. Finn estava já no seu quinto copo e todos sabiam que ele não era exatamente a pessoa mais tolerante ao álcool.  

— General Finn — gritou Rose Tico. — Estão te procurando... as bebidas acabaram... — disse ela, se aproximando. Pairava ainda um certo clima entre eles. Todos na Resistência sabiam do passado daqueles dois. Aparentemente havia uma forte fofoca entre o relacionamento da Comandante Tico com o General Finn, e também sobre o General Dameron... 

— Claro! O General Finn sempre precisa resolver tudo. Cadê aquele desgraçado do Poe estas horas? Deve estar por aí...  nas calças de alguém no banheiro — falou com certa amargura.  

Rose o encarou por um interminável segundo. Finn não ousou contestá-la e — com certos resmungos — foi resolver o problema. Ela o observava de braços cruzados como se estivesse certificando-se de que ele iria mesmo para o setor de bebidas. Somente depois de perdê-lo de vista, desabou ao lado de Rey no sofá.  

— Noite difícil? — indagou Rey, observando a amiga suspirar.  

— Sim... O General Dameron sempre dá estas festas, mas sou eu quem precisa resolver tudo no final... 

As duas caíram no silêncio, sozinhas com seus pensamentos.  

— É hoje, não é? Aquele dia... — perguntou Rose com certa hesitação, após um longo tempo de silêncio, enquanto observava Rey pelo canto dos olhos.  

Rey deu os ombros, fingindo uma indiferença que estava longe de sentir. Fazia três anos que Palpatine havia sido derrotado. Fazia três anos que a Resistência ganhara a guerra contra a Primeira Ordem. Fazia também três anos que ele se fora.  

— Você o amava tanto assim? — indagou Rose. 

— E isso importa agora? 

— Por que não importaria?  

— Não foi suficiente para trazê-lo de volta... — murmurou Rey, com uma voz quase inaudível, porém, repleta de ressentimento e mágoa.  

— Rey... eu sei o que você vem fazendo nos últimos três anos... 

Ela voltou totalmente a atenção para a amiga, quase assustada. Aquilo deveria ser um segredo. Um segredo que ela estava protegendo com sua própria vida.  

— Eu sei — reafirmou Rose. — Você está tentando trazer Ben Solo de volta. 

Os olhos de Rey se tornaram um mar turbulento, querendo fugir, mas sem qualquer escapatória. Ela desviou os olhos, tomou um grande gole da bebida ácida. 

— Mais alguém sabe? — conseguiu falar após um momento.  

— Não.  

Suspirou um pouco aliviada. Era menos uma preocupação. Sabia que nenhum de seus amigos iria aceitar aquilo, pensariam que era uma total loucura. No entanto, ela precisava tentar. Precisava fazer qualquer coisa para aliviar aquela dor que queimava como carne viva em seu peito, aquele buraco vazio que nada era capaz de preencher.  

Devia ter sabido. Rose poderia perfeitamente ver através das pessoas, o que elas escondiam no seu mais íntimo. Ela era a pessoa mais perspicaz dentre todos os seus amigos. Finn era agradável e generoso, um ombro amigo sempre disponível, mas ele nunca conseguiria a compreender. Poe? Bem, os dois estavam sempre discutindo na maior parte do tempo.  

De certa forma, era um alívio que Rose fosse quem tivesse descoberto seu mais guardado segredo. De todos os seus amigos, ela era também a pessoa que menos a julgaria por suas escolhas.  

— Como você descobriu?  

— Não é preciso ser nenhum gênio. — Ela sorriu suavemente. — Você não é do tipo que ficaria quieta em um planeta deserto sem fazer absolutamente nada, quando se trata da pessoa que você mais ama. Não. Você jamais conseguiria ficar sem fazer nada.  

Rey tomou mais um gole do líquido que desceu queimando por sua garganta.  

— Eu... estou tão cansada... — admitiu pela primeira vez em anos. — Ele simplesmente... parece que se foi totalmente. Nem mesmo consigo sentir seu fantasma da Força. Nada. Leia, Luke... todos eles, eu consigo senti-los. Mas, Ben... ele parece ter desaparecido completamente. Nada há dele neste mundo — A voz dela havia se tornando tão pequena e angustiada que era doloroso até ouvi-la. — Nada.  

Uma solitária lágrima escorreu por sua face. Rey tratou de limpá-la rapidamente, não queria chorar como uma garotinha. Não hoje. Não na frente de todo mundo. Não. Os choros estavam reservados para suas solitárias noites.  

Naquele dia estava excepcionalmente triste e abatida. Acabara de fracassar em sua mais ressente tentativa de trazer Ben à vida. E daquela vez tudo parecera tão certo, tão perto. Realmente acreditara com toda a sua alma que não falharia dessa vez. E tudo resultara naquele absurdo fracasso que só a deixara ainda mais vazia e cheia de tristeza.  

Uma casca vazia. Essa era perfeita definição de como se sentia. Uma grande casca vazia, sem nenhuma alma. Ben era seu igual, sua alma gêmea. Eles eram dois corpos que dividiam a mesma alma. Eles eram uma díade. Ele era uma parte sua. Como poderia viver sem parte de sua alma?  

Quando ele se fora, jurara para si mesma que iria trazê-lo de volta. Possuía uma certeza tão grande deste fato que a partida de Ben parecera uma viagem. Uma viagem que logo terminaria e ele regressaria, ela então poderia se aconchegar naqueles braços fortes, o local ao qual realmente pertencia.  

Mas, os dias, os meses, os anos passaram. Acumulara fracasso atrás de fracasso. Ben estava cada vez mais distante. Tudo o que lhe restava naquele momento era um coração que sangrava sem cessar.  

O que mais doía era o fato de que fora tão tola ao ponto de não conseguir admitir todos esses sentimentos para si mesma quando ele ainda estava ali, perto dela. 

Rose abraçou a amiga, mas não disse uma única palavra. Ambas sabiam que não existia nenhuma palavra de consolo para ser pronunciada.  

 

********************** 

Rey acordou com o sol batendo em sua cara. A festa da noite anterior terminara extremamente tarde. Finn havia insistido para que ela ficasse por alguns dias junto com eles na nova base da Resistência. Depois da guerra, ainda havia um longo caminho a ser percorrido. A Resistência trabalhava incansavelmente para trazer paz à galáxia.  

Depois de um demorado banho, andou pelo quarto, inspecionando seu luxuoso aposento. Nunca tivera um quarto tão cheio de riqueza como aquele em toda a sua vida. Sua casa em Tatooine era simples. Nada de coisas caras. Apenas o necessário. Mas, ela gostava de sua pequena e quieta casa, naquele planeta cheio de areia. Era para lá que corria depois de mais uma tentativa frustrada. Era lá que recuperava suas forças. Talvez Ben não gostasse tanto daquele lugar. Os Skywalker tinham um problema com areia aparentemente. Um pequeno sorriso, quase imperceptível, se formou em sua face.  

— Rey! — Finn bateu à porta. 

— Pode entrar. 

A porta se abriu, a cara de alguém, que acabara de acordar com a mais terrível ressaca que tivera em toda a vida, surgiu. 

— Hoje reservei o dia inteiramente para você — disse ele, entregando a ela um pãozinho. — Primeiro vamos fazer compras. Você está precisando de roupas novas Rey. É até vergonhoso que Rey Skywalker esteja andando por aí nestes trajes. 

— O que há de errado com minhas roupas? — objetou ela. — Elas estão em perfeito estado! 

— Minha querida Rey, nem vamos começar a discutir sobre isso — falou, ignorando-a. — Depois vamos almoçar, reservei o melhor restaurante da cidade. Eles têm uma lista de espera de meses, mas como sou eu, consegui mexer meus pauzinhos.  

— Que honra, General Finn — brincou.  

Ele fez uma pequena careta. Finn não gostava que ela o chamasse daquele modo.  

— Mas, primeiro acho que você precisa de algum remédio para essa sua ressaca — interferiu ela nos planos dele.  

Finn riu, por um segundo. Porém, uma expressão de dor surgiu em seu rosto. Ele realmente estava precisando daquele remédio.  

— Finn! — Poe entrou sem nenhuma cerimônia no quarto. — Estava procurando por você. Temos que acertar umas coisas com aquele carregamento de alimentos... 

— E você não pode fazer isso? — objetou Finn. — Eu já tinha avisado há semanas que iria tirar uns dias de folgas enquanto Rey estivesse aqui.  

— É só para acertar algumas coisas, amigão. Vai, quebra essa por mim! Por favor.  

Finn suspirou, indeciso. Só havia duas pessoas que conseguiam dobrar o poderoso General Finn, que por acaso estavam diante dele naquele momento.  

— Não se preocupe comigo, Finn. Eu já tinha mesmo combinado com Rose de sair por aí... Ela quer me levar... para fazer coisas de garotas — mentiu. Não era boa em mentir. Era uma sorte que Finn estive ainda meio grogue para não notar sua mentira esfarrapada.  

— Ok — cedeu Finn. — Mas, você vai me prometer, Poe, que depois disso que estarei livre, certo? 

— Combinado! 

Todos sabiam que aquela promessa não seria mantida. Afinal, Finn era quem fazia as coisas funcionarem por ali.  

Rey aproveitou o dia para andar pela gigantesca cidade em que se encontrava a base da Resistência. Ela estava em um planeta populoso, muito diferente de seu quieto lugar. Andar por aquelas ruas repletas de pessoas era ao mesmo tempo perturbador, fascinante e cansativo.  

Comprou algumas coisas que estava precisando para consertar a Millenium Facon (ela nem pudera usar a nave para vir aquele planeta) e depois vagou sem rumo certo por algum tempo, até os pés doerem. Só então notou que estava em um local bem diferente do restante daquela cidade agitada, que lhe dava a impressão de estar em uma corrida frenética. Não havia mais prédios tão altos que pareciam tocar o céu, nem aquele aspecto que tudo acabara de ser limpo. Não, aquele lugar era completamente diferente.  

As ruas eram estreitas e feitas de pedras. Havia algumas casas esparsas que diminuíam de frequência cada vez mais até desaparecerem completamente em meio a inúmeras árvores.  

Não fazia a mínima ideia de como fora parar naquele local. Era como se seus pés tivessem agido por vontade própria, enquanto seu cérebro estava claramente em outro lugar, procurando uma solução para sair do labirinto em que se encontrava. Deu uma boa olhada por aquele local, até que avistou um sinal de vida. Um garotinho de longos cabelos negros brincava com uma menina de cabelos castanhos atados em uma trança. Aproximou-se deles, com certa cautela, temendo assustá-los e não querendo atrapalhar a brincadeira. Foram as crianças que se detiveram primeiro ao vê-la.  

— Você está procurando a Resistência? — perguntou o menino, olhando-a com curiosidade, porém, como se aquilo não fosse incomum.  

Ela apenas balançou a cabeça, assentindo.  

— Fica por ali — apontou ele, com aquelas pequenas mãozinhas.  

— Obrigada — agradeceu, indo na direção que o garoto apontava.  

Deveria ser uma das sub-bases da Resistência que se encontrava espalhadas pelo planeta. Rey não esperava encontrar uma justamente naquele lugar tão quieto e distante.  

Ela não teria acreditado que aquele local era uma sub-base da Resistência se não fosse pela placa e os caças espalhados pelo pátio. A base ficava cercada por uma espécie de floresta e parecia quase abandonada. Aliás, não havia ninguém ali, apenas aqueles caças. Um deles lhe lembrava vagamente um certo caça que queimara em Ahch-To quando estava cheia de raiva. 

Ben... tudo lhe lembrava o seu Ben. Ele estava no som do vento, estava na chuva que caia, estava no fogo e estava nela. Tudo era Ben.  

Fechou os olhos, quase podia senti-lo lá, naquele exato momento. O seu cheiro, o toque de sua pele, sua temperatura. A presença era tão real que precisou abrir os olhos. Sua respiração estava pesada, mal conseguia levar ar para os pulmões. 

— Você está bem? — perguntou uma voz atrás dela.  

Aquela voz... Não existia mais tempo e espaço. Sua mente foi esvaziada de qualquer pensamento. 

Ela virou-se. 

Ben Solo estava parado diante dela.  

E ele não era um fantasma da Força.  

 


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Notas finais do capítulo

O que acharam?