Skyhigh escrita por Mandalay


Capítulo 1
Skyhigh — capítulo único




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Tudo começara com uma ligação de ninguém menos que Death the Kid, o deus da morte, o diretor da Shibusen, aquele viciado por simetria.

— Isso é sério, Kid? Como? Ela deveria ter me avisado antes, eu-

Era uma tarde tranquila como qualquer outra, não havia nada de importante a ser feito e eles poderiam aproveitar ao menos algumas semanas na companhia um do outro sem grandes interrupções.

Isto é, até Maka receber uma ligação de Kid que a fizera mudar de postura drasticamente. Ela parecia tensa enquanto ouvia o amigo do outro lado da linha.

"Ela poderia querer te fazer uma surpresa Maka", sugeriu o jovem deus da morte do outro lado da linha.

— Mas ela sempre me manda cartões postais e, eu estou tão feliz com a notícia, muito obrigado por me avisar Kid!

Aquilo não poderia ser um bom sinal, não mesmo. A tarde de serenidade deles regada a jazz, livros e vídeo games fora interrompida. Mas Soul tinha que manter sua compostura, não queria demonstrar seu incômodo, não agora que a loira finalizava a ligação com uma expressão que parecia conter as lágrimas enquanto sorria largamente.

Era agora que ele teria que se manter calmo.

— O que houve dessa vez?

Quando Maka se virou para ele, Soul sabia que se arrependeria de ter aberto sua boca grande.

— Minha mãe esta voltando para Death City Soul! Minha mãe, consegue acreditar nisso?

Droga, ela parecia saltitar de alegria, o brilho que irradiava era demais para os olhos do albino.

— Isso é sério?

Ela assentiu com a cabeça, um sorriso lindo no rosto.

Droga! 

— E você não cansou de me falar que ela preferia viajar o mundo do que ficar aqui com o seu pai?

— É, eu sei. Por mim ela não voltaria, pelo menos era o que dizia em seus cartões mas Soul, a minha mãe voltou! Eu- eu nem sei o que pensar, eu vou vê-la depois de tantos anos!

Ele nunca vira Maka agir daquela forma em relação a sua família. Parando para pensar, apenas uma vez mas era em uma situação completamente diferente desta, ela não sorrira nem transbordava alegria.

Fora quando ela quase perdera o pai e por sorte, isso não aconteceu de fato.

— E o que vai fazer quanto a isso? Uma festa? Vai chama-la para passar uns dias aqui no apartamento?

Ele não adicionou a gente na frase como estava tão acostumado a fazer com um propósito específico em mente, queria checar se a cabeça de Maka ainda estava na terra, dentro da estratosfera e abaixo das nuvens, e olhando para a expressão que ela tinha no rosto, sua a cabeça ainda estava no lugar. A emoção que a novidade trouxera não abalara tanto seu jeito de ser, só a deixara um tanto ansiosa, visto como mexia no cabelo com certa insistência.

— Eu não sei. Pelo que Kid disse, ela precisava relatar algumas coisas das viagens que fez diretamente a ele. Por isso dela vir para cá, e ele me contou de propósito para que eu pudesse vê-la mas mesmo assim, ele disse que talvez ela quisesse fazer uma surpresa. Não entendi isso.

Era ela quem tinha a habilidade de ler almas, de saber o que cada um sentia em seu cerne mas agora, era Soul quem se sentia capaz de lê-la como uma partitura, um allegro que seu irmão costumava interpretar com grande perfeição.

Maka estava radiante.

E aquela parecia ser a deixa para que ele soltasse uma de suas pérolas de sabedoria.

— Maka o que você quer fazer?

Ela o encarou nervosa, mudando o peso de um pé para o outro, voltando a se sentar ao lado dele no sofá.

— O que eu faço Soul?

Como resposta ele riu, afagando os cabelos louros de sua artífice.

— Espere. Você vai entrar em combustão desse jeito. Depois ligue para o Kid.

As íris verdes observaram o albino com ternura, como se o agradecessem pelas palavras e com isso, Maka se recostou sobre ele, aos poucos se aconchegando em seu colo.

— Não fique nervoso.

— Não estou nervoso.

— Claro que está.

— Maka.

— Ela não vai dizer nada sobre nós, é a minha decisão.

— Se isso servisse como garantia.

A verdade, era que Soul temia pelo que a mãe de Maka pudesse pensar dele. Pelo que ouvira, ela era uma mulher forte e impetuosa, que dependia apenas de si mesma. Se não fosse para tanto, não teria deixado a filha aos cuidados do pai mulherengo e Soul sabia que Spirit não era uma má pessoa, pelo menos cuidara de Maka da melhor forma que pôde, para no final a loira herdar as atitudes da mãe.

Os cursos que o destino tomava eram curiosos de fato e pensar que, em algum momento, ele poderia não ter conhecido Maka o incomodava.

Enfim, aquilo parecia ser o prenúncio de que aquele dia seria movimentado.

Uma foto antiga e desgastada era admirada com esmo, os dedos indicador e anelar passando sobre a figura de uma garotinha com maria-chiquinhas e um vestido cor de rosa, a face daquele que a acompanhava na foto a muito tempo riscada com um marcador preto. Uma xícara de café acabava de ser servida a sua mesa, completando o conjunto de um caderno, fotos e canetas, dispostos conforme ela fazia suas anotações enquanto relembrava do passado, caminhando a anos atrás em busca de comparações com o que via da janela daquele Death Bucks que já pertencera a outro dono.

Caso alguém lhe dissesse que ela voltaria a colocar os pés na cidade da morte mais uma vez, depois de ter saído de lá, ela não acreditaria. Mas aqui estava mais uma vez. Infelizmente, ela não contava com a mudança repentina que veria ao redor do mundo, os sinais tão característicos da insanidade que tanto combatera quando nova, aparecendo em todos os cantos como se fossem milho de pipoca estourando em uma panela quente, e fora essa estranheza que se prolongara por meses a fio, até desaparecer tão rápido quando surgira, que a trouxera de volta a Death City. O lugar onde crescera e fizera seu nome.

Com as muitas fotos da filha entre as páginas do caderno, expostas sobre a mesa. Fotografias estas dadas pelo ex-marido antes que ela fosse embora, como um lembrete que havia algo além de sua curiosidade para regressar ali, mesmo que ela não se sentisse exatamente pronta para rever a garotinha que deixara aos cuidados daquele mulherengo novamente.

Maka deveria estar grande agora, bem maior do que a menina naquelas fotografias.

Era muito difícil de receber uma carta dela, por não parar em um lugar específico por muito tempo, mas quando acontecia de conseguir receber algo escrito era sempre para relatar o que ela estava fazendo no momento - estudos, missões, treinamento - a última que recebera sendo um pouco antes dos ataques de insanidade tomarem conta do globo e ela parecera estar em pé de guerra com sua arma.

Ela se perguntava se fizera bem em restringir sua visita a sede da Shibusen, seria bom poder abraçar Maka e perguntar se tudo se resolvera como ela esperava.

Uma bruxa entrara no café tranquilamente, enquanto era recepcionada pela garçonete e se sentava em uma mesa ao lado da sua, acenando com a cabeça quando seus olhares se cruzaram. Um arrepio correra por seu corpo, a lembrando de como fora cortar uma ao meio com sua foice em um momento no passado. Por mais que não houvesse pedido por mais informações quando ligara, ao ter sido atendida por um garoto se auto-nominando shinigami, ela notara que algo muito grande acontecera para a cidade. E ela adoraria descobrir o quê exatamente.

Reunindo anotações e outros objetos para dentro da mochila que carregava consigo, deixou bem mais do que o necessário pelo o que consumira sobre a mesa e saiu pela porta vazada.

A cidade continuava quente, bem do jeitinho que ela se lembrava, e ainda havia um longo caminho até o seu destino.

A filha pródiga realmente havia retornado ao lar mais uma vez, Amélia Albarn caminhava pela ruas de Death City agora como uma completa turista. Poucos sendo os rostos que lhe eram familiares conforme andava pelas ruas. Haviam-se aberto tantos outros comércios que ela até conseguia sentir a sensação de se estar deslocada, mesmo que brevemente. Caso a perguntassem, ela não sentia tanta falta de viver na cidade da morte. Depois de viajar o mundo, pôde notar que o clima quente realmente não era o seu favorito mas isso não a impedia de sorrir em contentamento, com a vista que tinha abaixo de seus pés, abaixo das centenas de degraus que separavam a escola para armas e artífices, de Death City.

Mesmo anos depois, aquela vista ainda conseguia tirar o ar de seus pulmões, que ela teve de recuperar rapidamente para dar seus próximos passos afinal, ela tinha um objetivo a cumprir.

Por fora, poucas coisas pareciam ter mudado mas ao adentrar o prédio da Shibusen, ela pôde notar pela movimentação de alunos e funcionários que aquela escola conseguira formar muitas levas de alunos. Os corredores ainda eram como em suas memórias, as luminárias, até mesmo Spirit petrificado ao vê-la no meio do caminho.

— Ame? É você mesmo?

— E quem mais poderia ser, outra de suas namoradas?

O comentário parecera causar efeito no estado atônito de se ex-marido.

— Eu não sou mais assim!

— Diga isso para alguém que acredite Spirit, e eu não vim até aqui para falar com você mas sim com esse tal shinigami que me atendeu quando liguei.

— Então foi você quem marcou uma reunião extraordinária com o Kid?

Ao menos agora ela sabia quem havia tomando o posto do antigo diretor - o próprio filho dele - o que fazia com que certas teorias que rondavam sua cabeça, se concretizassem. Já fora o tempo em que ela estranhava ver que o diretor não saía de um espelho por nada, ele havia aberto mão de sua humanidade afinal.

— Então eu irei conversar com o filho do shinigami? Que coisa.

— Quer que eu te acompanhe?

Ser acompanhada pelo ex-marido para uma reunião não estava em seus planos mas talvez o que costumava ser a sala do antigo diretor houvesse mudado, não é mesmo? E se Spirit ainda estava ali, significava que algumas coisas poderiam estar como antigamente.

— Tudo bem, mas vamos logo.

Realmente, o garoto resolvera mudar de domínio. Spirit explicara que para ele, ficar no mesmo cômodo que outrora fora ocupado pelo pai o incomodava e que ali, naquela sala bem organizada e meticulosamente simétrica, ele poderia ser ele mesmo e não uma sombra. E outras histórias, claro. O percurso não fora tão longo, mas fora o suficiente para que ela tivesse certeza de que algo incrivelmente perigoso ocorrera. Ao menos fora o que percebera pela faceta de pai orgulhoso que seu ex-marido usava enquanto falava de Maka, ditando os feitos da filha. Observando aquele com quem ela conversara por telefone, ele se ausentara, ficando calado ao seu lado.

Dizer que ela não se sentia minimamente nervosa seria uma baita mentira.

— Então você é novo representante da Shibusen. Muito obrigada por ter me recebido hoje, Death the Kid.

— Eu que agradeço por sua presença. Você não só criou a death scythe que acompanhou meu pai durante anos, como também é mãe de uma grande amiga minha.

Enquanto cumprimentava o garoto, Amélia encarava Spirit com um olhar acusador e teve um breve "me desculpe" como resposta.

Ela não contava com o garoto a associando a Maka tão rapidamente.

— Me diga o que a trouxe aqui, já que você deu uma desculpa esfarrapada pelo telefone.

Os olhos de Kid pareciam certeiros, prontos para analisar qualquer gesto feito por ela, mas não era ele quem teria suas respostas naquele momento.

— O que aconteceu a um ano exatamente? Pelo o que meu ex-marido me contou tenho quase certeza do motivo, mas quero ouvir de você, o que levou a insanidade quase dominar o mundo.

A sala ficou muda por um momento, tanto Spirit quanto Kid pareciam compartilhar dos mesmos pensamentos, ponderando o que dizer.

— De forma breve, o kishin ressurgiu - e antes que Kid pudesse prosseguir, uma batida na porta o silenciou.

Era uma garota.

— Desculpe interromper, tinha me esquecido que hoje você tinha hora marcada - comentou enquanto se acomodava ao lado de Kid, que parecia ter sido pego de surpresa pela visita.

— E ainda assim, você vai ficar aqui Liz?

Ela assentiu.

— Patty está treinando com o Black Star e eu estou entediada, por isso, sim, eu vou ficar - os olhos da garota pareceram notar as outras presenças meramente até se interessarem por Amélia — e você não me é estranha.

— Essa é a mãe da Maka, Liz. Amélia.

— E você deve ser a arma dele, estou certa?

— É isso aí! Tem a minha irmã mais nova também, somos uma dupla, pois esse aqui só suporta coisas simétricas.

Agora a decoração certinha do lugar começava a fazer sentido.

— Bem, continuando. Uma bruxa que se infiltrou na escola conseguiu fazê-lo ressurgir, isso levou a um caos tremendo. Foram-se meses até conseguirmos criar uma estratégia para detê-lo.

A garota deu um riso amargo.

— E você quase foi junto no meio disso.

— Mas estou aqui agora, então deixe de pensar nisso - comentou afagando a cabeça dela — só não consigo entender o que deixou uma ex-aluna desligada de seus serviços, curiosa sobre o assunto.

— É exatamente por saber o que estava acontecendo e não poder fazer nada sobre isso. Todos os lugares por onde eu viajava haviam focos de insanidade e de repente, todos sumiram.

Spirit mesmo sem dizer nada, estava tenso ao seu lado. Como se soubesse exatamente o que estaria por vir em seguida.

— Eu havia mencionado ao seu pai que isso poderia acontecer. Mesmo que ninguém houvesse de fato me contado, eu sabia que havia algo importante escondido na sede da escola, e que uma hora ou outra, as bruxas poderiam usar isso a seu favor.

E como se estivessem tendo aquela conversa a sós, seu ex-marido comentou.

— No final, você estava certa sobre as Górgonas.

— Elas foram as únicas a querer comprar briga com o shinigami, não me surpreende terem chegado tão longe mas como depois de derrotar Aracne ele pensou que tudo estava resolvido, achou que a minha teoria fosse besteira.

— Ninguém quis te dar atenção naquele momento, Amélia.

— Até mesmo você, e veja onde chegamos.

— Então você já sabia que isso viria a acontecer? - perguntou o garoto interessado.

— Sim, e por ninguém ter me dado ouvidos que eu resolvi sair da cidade. Depois que promovi Spirit a death scythe e tive minha filha, não via motivos para continuar aqui.

— Você deve ter fica realmente irada, agora eu vejo a quem a Maka puxou.

— Liz!

— Mas é a verdade, seu velho não quis ouvir ela, então ela não tinha motivo para continuar servindo a escola. Só acho errado esse negócio de ter deixado a filha para trás.

— Ela está certa Kid, Amélia é cabeça dura.

— E como vocês conseguiram deter o kishin?

— Prendendo ele. Não havia outra maneira, ele era muito forte para ser derrotado. Bom isso de forma resumida, ainda hoje me surpreendo com a força de Chrona para aprisiona-lo na lua com o sangue negro.

— E quem é Chrona? Espere, não me diga que é por isso que temos lua nova todas as noites.

— Chrona foi uma experiência da bruxa que fez o kishin ressurgir, o sangue negro era uma de suas invenções que se assimilava a insanidade. Por isso, foi a melhor forma de detê-lo. Definitivamente dessa vez.

Por mais que não gostasse muito do que tivera como resposta, pressionar por mais informações parecia ser uma tentativa desnecessária ao olhar confiante daquele que agora comandava a Shibusen, que em muito se assemelhava a presença despojada do pai - até mesmo com uma uma de suas armas ao seu lado - parecia inabalável, como se nada o fizesse mudar de ideia em suas escolhas inclusive alguém como ela.

Death the Kid era algo diferente na equação. Algo completamente novo.

— Sinto que em suas palavras eu posso confiar. Espero que com a Shibusen em suas mãos, nenhum inconveniente apareça.

— Fico contente em ouvir isso.

Esse fora um dos raros momentos em que estar certa, não trouxera nenhuma satisfação a Amélia já que ali ninguém discordava de suas palavras, muito pelo contrário.

Ali, naquela pequena e breve reunião, todos pareciam ouvi-la atentamente.

De repente, toda a inquietação que a trouxera até ali, até aquele momento, parecia não ser realmente tão grande assim. Tudo se resolvera no fim.

Ela só não contava com a surpresa que a esperava do outro lado da porta.

Maka estava admirada, observando a mãe pessoalmente. A sensação era a de que ela houvesse chegado ao final de uma longa maratona, escalado a montanha mais alta e estivesse admirando a vista. As íris verdes brilhavam, prestes a transbordarem enquanto ela abraçava a mulher estupefata a sua frente.

Era ela de verdade. Em carne e osso.

— Mãe, é tão bom te ver!

Seu corpo parecia tremer em antecipação, enquanto a sentia retribuir o gesto, afagando o topo de sua cabeça.

— Filha você cresceu tanto! E está tão bonita.

Maka sentia que poderia chorar a qualquer momento e nem se importaria com isso, tanto o tempo que esperava por esse encontro.

— E quem é esse garoto atrás de você?

Maka se afastou brevemente do abraço, com um sorriso no rosto, trazendo o garoto para perto.

— Esse é o Soul, mãe. A death scythe que eu criei!

Ao serem devidamente apresentados Maka notara uma leve surpresa passar pelo olhar da mãe, até algo diferente que ela não conseguia descrever se mostrar.

— Você é um Evans, não é? - a mera surpresa dele e de Maka, ela sorriu — Fui a um concerto do seu irmão, vocês são muito parecidos em aparência, mas ele foi bem mais simpático.

Soul riu, coçando a nuca.

— Wes sempre foi mais sociável do que eu.

— E ele toca muito bem.

— É, não é a toa que ele representa a família agora.

— Só não sabia que além de músicos, eles tinham armas na família.

— Eu fui um dos poucos a herdar esse sangue da família.

— Isso é interessante. E você toca algum instrumento, Soul?

— Piano.

A artífice de foice sorria contente. Depois da conversa que tivera com Soul antes naquele dia, ela temia pelo encontro dele com sua mãe, mas ao vê-los conversando tão livremente esse nervoso se dissipara.

Ela não poderia imaginar que a mãe conhecesse tão bem a família de sua arma.

— Então você criou algo a mais para ser associado ao nome dos Evans. Além de músicos virtuosos, eles também possuem armas memoráveis.

O garoto riu, como se houvesse escutado uma boa piada, enquanto Maka o cutucava com um sorriso maroto dizendo "você ouviu isso?".

— É, não tinha parado para pensar desse jeito.

Ao fundo, os outros que estiveram presentes na reunião, até o momento esquecidos pelos três, observavam a conversa esperando por algo fora do comum acontecer a qualquer momento. Afinal, era estranho ver uma mãe que passou anos longe da filha, conversando tão bem alguém com quem ela passara todo esse tempo ao lado e nem sequer sabia como se portava.

Felizmente nada de estranho acontecera, Maka até mesmo convidara a mãe para passar o resto do dia na companhia dela e de sua arma - ignorando o auto convite de Spirit.

— Elas são realmente parecidas - comentou Liz ao fundo, quando o trio já havia se distanciado o suficiente.

Uma sensação maravilhosa tomava conta de Maka naquele dia. Seu cérebro bem dotado de palavras difíceis conseguia definir aquilo simplesmente como felicidade, um contentamento que poderia facilmente não caber em seu ser, enquanto caminhava ao lado da mãe e de sua arma, conversando sobre aventuras passadas - incluindo detalhes sobre a luta que definiu o destino no qual estavam agora - tanto deles quanto dela e honestamente, ela não imaginava que tal momento um dia poderia ocorrer, dirá poder apresentar a arma que ela criara inspirada pelos feitos da própria mãe - e ver os dois interagindo como se conhecessem um ao outro a tempos para Maka era como ver ao vivo e a cores os itens remanescentes de sua lista de desejos sendo riscados.

Ela pudera enfim rever sua mãe!

— Mas ainda falta algo em você filha, tenho a sensação de que está indecisa sobre alguma coisa.

Por um instante, Maka pensou que sua mãe também poderia ler não só almas, como mentes também. De onde estava na cozinha, Soul comentou em alto e bom som, algo que seu cérebro insistia em estar indeciso sobre.

— Stein sugeriu que ela começasse a lecionar na Shibusen, mas Maka não sabe se isso é o que ela quer de verdade.

Amélia sorrira, bagunçando os cabelos da filha, seus olhos contando memórias que a mesma ainda não pudera passar adiante.

— O que acha de uma viagem? Talvez isso te ajude a expandir seus horizontes, posso até fazer um guia para você se quiser, é claro.

— Uma viagem? Mas logo agora mãe?

— E qual o problema? Tenho certeza que ninguém iria contra uma experiência a mais no seu currículo, ainda mais visto a amizade que tem com o senhor Death the Kid - disse fazendo aspas no nome do garoto.

— Isso até que é verdade, na última vez que viajamos foi em missão.

Com uma pequena bandeja em mãos, abrigando três copos de suco que fora colocada sobre a mesa de centro, Soul sentou-se ao lado de Maka soltando o breve comentário.

— Mas ainda assim, o que isso de viajar pode me ajudar em decidir entre sim e não?

— Simples, viajar pode como não pode te ajudar. Isso depende de você querer tirar uma lição disso.

— Bom, com a cabeça dura da Maka vai ser difícil.

Amélia deu uma breve risada, bebendo do suco.

— Parece que nisso você puxou ao seu pai e pelo visto, seria ótimo ter o Soul ao seu lado nesse momento de escolha.

Da última vez que ouvira algo muito semelhante a essas palavras, fora Stein quem lhe dissera sobre ela ter uma escolha e ainda agora era algo difícil dela conseguir compreender. Como viajar poderia ajudá-la quando ela mesma estava evitando pensar sobre o assunto? E como assim ela puxara algo do pai? Pareciam ser tantas coisas rondando por sua cabeça desde o começo do dia que-

— Eu acho que seria uma boa a gente sair de Death City.

— Até você Soul?

— Porquê você quer tanto ficar aqui então? Isso não te ajudou em nada até agora.

Maka se resignou a suspirar em derrota, não perdendo muito tempo em entreter as várias possibilidades que vinham distraindo ela até então. Pousou seu olhar sobre a mesa e sorriu sem muita convicção. Sua escolha parecia estar clara agora.

Sua escolha parecia estar clara, agora.

— Tá, vocês venceram.

— Agora eu vejo a minha filha aqui!

— Mãe!

E ela nem poderia discutir quando tanto Soul quanto sua mãe começaram a rir da expressão dela. Fora assim que ela notara que as vezes, algumas boas escolhas, precisavam de um certo empurrãozinho na hora de serem tomadas.

 

Uma palpitação fazia um forte impulso correr pelas veias de Maka, enquanto caminhava pelo longo corredor que dava no que seria a sala do atual diretor da Shibusen. Havia escolhido aquele como o melhor momento para dar uma resposta definitiva a Stein, seu corpo vibrava em nervosismo enquanto seus pensamentos colocavam mais uma vez os prós e contras sobre uma balança dourada - se perguntando se aquela era a escolha certa - e apenas ter a presença de Soul ao seu lado a trazia de volta a realidade.

Suas sombras pareciam dançar enquanto caminhavam de mãos dadas.

Soul apaziguava qualquer inquietação.

Outros passos se fizeram ouvir vindos na direção oposta, e quando a pessoa se tornara o centro de sua atenção ela notou que não era um rosto desconhecido. Pelo contrário só parecia um pouco diferente. As íris anis continuavam as mesmas, transmitindo a mesma coragem, transbordando energia mas os cabelos negros não estavam mais presos por maria-chiquinhas, agora na altura dos ombros, com roupas leves que disfarçavam certas áreas do corpo que pelo menos até aquele momento não haviam mudado tanto.

Ao menos o sorriso que era sua marca registrada persistia. Tsugumi Harudori. Antiga aluna da ala NOT da Shibusen. E fora ela quem correra em direção a Maka.

— Senpai! A quanto tempo!

Harudori estava mais alta - agora ambas competiam em altura - e o abraço que deram transmitia parte da sintonia que ainda compartilhavam.

— Tsugumi! Você está tão bonita! - tal elogio deixou a arma sem jeito — O que faz por aqui? Me sinto mal por não ter mantido contato com você.

A garota apenas riu, colocando a mão em frente a boca. As bochechas claramente vermelhas.

— Akane me convidou para uma missão. Como retornamos agora, tivemos de passar o relatório para o diretor e o professor Stein.

— Que tipo de missão?

— Verificar resquícios de insanidade em alguns lugares, nada de estranho aparentemente - os olhos curiosos da arma se voltaram para ela - mas e você senpai, vai a algum lugar?

— Vou me desligar por um tempo, sair da cidade.

— Então espero que aproveite a viagem, foi muito bom revê-la senpai!

— Digo o mesmo Tsugumi.

As duas se abraçaram e para Maka, aquele pequeno gesto dizia tantas coisas, tantos sentimentos. Quando se separaram, riram e se despediram, no momento certo em que Akane aparecia na curva do corredor, para acompanhar Tsugumi.

— E agora, o ato final - disse Soul, abrindo a porta da sala em que Kid ficava grande parte do tempo quando estava na Shibusen.

— Vou querer meus aplausos no fim disso.

E foi segurando o riso que ambos entraram na sala para traçarem mais uma aventura. E dessa vez, Maka não iria salvar o mundo, não mesmo. Agora ela iria focar mais em si mesma.


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Notas finais do capítulo

Olha, não vou dizer que foi divertido criar uma mãe para a Maka do zero porque não foi, literalmente. Na real, foi muito cansativo, eu tive até que dar uma lida nos primeiros volumes do mangá para não me esquecer da base que tinha para ela - e colocar sentimento e coisa e tal AAAAAAAAAAAAAAHHHHH. eNFIM, aMÉLIA ATÉ QUE É UM NOME LEGAL, Né NãO?

Foi uma trabalheira, mas minha teimosia meio que me fez insistir na ideia, e esse foi o resultado :D



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