Rain escrita por Aiwa Schawa


Capítulo 3
Dia 3




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Exceção

 

—Exatamente. Você é nessa situação, quem mente. A pessoa que conta uma mentira capaz de enganar todo o mundo.

—Não fale comigo em enigmas, não faz o meu tipo. E mais importante, não sei do que você está falando, Arc-tan.

—Você parece ser alguém que por constrangimento evita passar, mas ainda assim não fez esforço algum para pensar, no que deveria me chamar. Respondendo sua pergunta, é certo que moro no Japão e estou apenas de visita, nós de fato usamos honoríficos, é uma parte vital da etiqueta, no entanto você usou algo absolutamente inapropriado, esse honorífico é uma pronunciação errada de “chan” mais especificamente, como uma criança pronuncia isso, mesmo se tivesse usado a pronuncia certa ele seria inapropriado, você ter feito essa pronuncia cavou a sua cova.

—Desculpe a confusão, apenas achei que usar qualquer honorifico serviria.

—Isso novamente, a sua teimosia é surpreendente. Você parece ser alguém que valoriza a verdade, no entanto vive uma mentira, é isso que me preocupa.

—Gostaria de ajudar, fazer algo sobre isso, mas não faço ideia do que você quer dizer com isso, para mim todas as suas sentenças não fazem sentido nenhum.

—A sua vontade de ajudar os outros também é um problema. Tudo é, mas agora pode dar utilidade a isso, melhor voltarmos a ler.

—Correto. Talvez entenda o que você disse depois de deixar o pensamento me perturbar por alguns dias.

—Fale comigo de novo assim que tiver algum palpite, não sou uma inimiga sua, por mais que você se torne um inimigo meu.

—Uma situação que definitivamente gostaria de evitar seria se tornar seu inimigo.

—O quanto estaria disposto para evitar isso?

—Hum... certamente tentaria mudar a situação, não posso dizer que teria disposição para jogar todo e qualquer plano meu ao lixo por isso, mas com certeza procuraria um inimigo alternativo, ou uma forma mais pacifica de resolver o conflito.

—Você pode manter essa promessa?

—Bem... dizer que com certeza seria um grande risco, ainda mais pensando que você não confia nas minhas palavras... direi que talvez. Uma chance de 50% é bom para você?

—Certamente.

Apagão

Nossa pesquisa deu frutos, mas eles não tinham gosto bom, eram azedos, eram maus presságios.

Aquele rabisco representava um mundo onde várias estrelas e até planetas não existiam mais, não de qualquer ponto próximo do futuro.

Após alguns cálculos, podíamos dizer que o céu visto no desenho vinha de pelo menos um milênio a frente.

Também seria fácil fazer essa conexão, um rabisco sobre um céu do futuro, cartas-celestes, um dos observatórios mais altos da Europa, tudo junto de um cientista louco e de alguns capangas que pareciam estar sempre em alguns lugares, mas apenas neles.

Em nossas buscas pela verdade já vimos coisas estranhas, evidências de coisas quebrando leis da natureza, vida fora do nosso planeta, algumas coisas assim pareciam ser ao menos possíveis, porém, nesse caso só uma possibilidade parecia existir.

Possibilidade

 

Uma delas se apresentou como parecendo insana, porém apropriada.

Talvez fosse um caso de viagem no tempo.

As silhuetas surgiram do nada, aquilo indicava pelo menos que ir do ponto A ao ponto B sem passar por qualquer ponto no meio, se é possível andar sem passar por qualquer ponto dentre as 3 dimensões, o que impediria andar sem passar pela dimensão inalcançável, o tempo?

Ele poderia estar fazendo justamente a mesma pesquisa que nós, talvez determinando o ano em que estamos? Digamos talvez que os calendários tenham mudado, assim ele precisa usar estrelas de referência para descobrir quantos anos viajou.

De todo modo, sabemos o objetivo atual dele e assim temos como planejar um contra-ataque.

O objetivo atual é apenas encontrar com o cientista chefe, Zencho, nós vamos fazer algumas perguntas e esperamos terminar aí, nossa missão é a de resolver mistérios, é ela o que importa.

Nascimento

Dia 13 de julho.

O professor eventualmente voltaria ao observatório, após a meia-noite para evitar turistas, tudo isso podíamos imaginar.

Dissemos que faríamos um acampamento como desculpa para sumir temporariamente.

Andamos até as redondezas do observatório, montamos uma barraca, dela podíamos usar binóculos para observar as entradas e saídas da construção.

Iriamos esperar anoitecer para começar a caçada ao doutor Zencho, pelo menos chegarmos às 11 da noite.

Assim como esperado, em torno de 01:30 um homem alto e forte, usando jaleco, apareceu na visão dos meus binóculos.

—Los! Achamos o idiota!

Comecei a correr, dessa vez não deixaria um truque barato salva-lo da RAIN.

O doutor entrou na sala do telescópio, deixei o resto da agência a postos, quis confrontar ele pessoalmente.

Mesmo estando a metros dele, o doutor continuava observando as estrelas, tendo um inimigo nas suas costas.

—Doutor, a RAIN lhe achou, comece a falar.

Após alguns segundos ele pareceu ter ouvido, outra pausa estranha até ele tirar o olho do telescópio, até por fim se virar.

Ele era bem mais alto, com certeza mais forte do que eu, nunca vi um cientista tão musculoso.

—Não é possível... você...

—Nós temos várias perguntas ao senhor, por favor as responda de imediato, nem pense em mentir.

—Pare com essa besteira, você e todo seu grupo precisam ir para o mais longe dessa cidade imediatamente, já viram o que aconteceu quando tentaram invadir a minha casa?

—Sim, mas “tentaram” não seria a palavra, nós conseguimos —Trouxe os papeis comigo, comecei a abanar eles.

—Os devolva de imediato, enquanto vocês os tiverem, sua vida estará sempre em risco.

—Nos diga tudo sobre seus planos, sobre aqueles rabiscos do céu, então lhe darei de volta, tudo será mantido sobre nosso sigilo, se assim vermos como adequado.

—Está bem.

As janelas, todos os vidros que podia ver embranqueceram, era o brilho mais forte que já havia visto, ele se perpetuava indefinidamente, apenas um milagre serviria para explicar aquilo.

Mas o que estava focando não era nisso, era nos olhos daquele cientista.

Neles vi um ponto completamente escuro, como um buraco, através dele podia ver a verdadeira essência de sua alma.

“Ele mentiu”

Novamente, várias silhuetas não-identificáveis cercaram o observatório, todas correrão atrás de mim.

—Isso é sua culpa. Pode se declarar como nosso inimigo.

3 anos atrás, o código da RAIN foi definido.

“Nós somos quem deverá saber de tudo, omitir informações, mentir diretamente para a RAIN é a maior ofensa, quem o fizer será nosso inimigo”

É simples, porém precisamos ter uma tradição para alcançar algum sucesso.

Luzes

Diferente da última vez, essa facção que chamamos de “sombras” por conveniência apenas, não sou tão bom em dar nomes.

Dessa vez eles não abriram fogo sem pensar.

“São aliados do doutor, então”

Claro que considerei a aparição da facção das sombras na fase de planejamento.

Corri para as escadas, algumas sombras estavam em cima, mas o ângulo ainda botava o doutor em risco.

Encurtei a nossa distância, puxei minha saída de emergência, um sinalizador.

Atirei na janela, eles demonstraram então um comportamento bem inesperado, mas tematicamente interessante.

Assim que a sala foi iluminada, as silhuetas se abaixaram e esconderam seus rostos, pareciam ter medo da luz.

Melhor para mim, pulei da janela quebrada pelo tiro e fui me encontrar com os outros.

Nossa rota de fuga era descendo a montanha, Yuki se encarregou de esperar escondida para acompanhar quem tivesse confrontado o doutor.

Ela já havia sido encontrada pelas sombras e estava correndo, eles abriram fogo quando nos juntamos.

Por estar parado, era o único que podia fazer algo, pulei e a joguei na direção contraria para sair da linha dos tiros.

Tinha mais sombras para aquele lado, estávamos caídos no chão.

Rolei e apontei o sinalizador para o céu, outro clarão foi lançado.

Dessa vez, eles não apenas se cobrirão, aquelas sombras, antes a um instante de nos matar, eles recolheram as armas e correram.

Não vimos nenhuma mais naquele dia.

—Rots, parece que o treino foi bem útil para virar um especialista de me jogar em você.

—Foi apenas sorte...

Acampamento

Não queríamos voltar para a vila tão cedo, então levamos a barraca para partes mais profundas da floresta e ficamos por lá.

Dia 14 de julho.

Algumas coisas foram tiradas do evento, uma espécie de fraqueza das sombras, serem vistos.

Já que atualmente pensamos eles serem viajantes do tempo, considerei algo, talvez ter uma pessoa do passado os ver seja um perigo, obviamente não entendemos nenhuma mecânica dessa suposta viagem no tempo, no entanto aquilo soava adequado, por agora isso será a hipótese que me basearei.

Fora isso, Bomil conseguiu algo, depois de encarar por dias os papeis, ela entendeu que certos pedaços, vários, eram datas e pode nos dar essas datas.

Elas eram todas de um passado não tão distante, a mais longe parece datar do início do século 20.

Jestiv também diz que com isso vai ser mais fácil decodificar, porém ainda não é garantia que será possível, apenas que saberemos se foi ou não um sucesso mais cedo.

Pedras

 

Junto de Yuki, fomos brevemente à vila, nós iriamos acampar por mais alguns dias, no entanto, tendo as fraquezas das sombras como a luz, fomos comprar algumas coisas para explorar esse ponto fraco.

—A lógica do que vimos parece apontar para uma fraqueza assim, não deixarei de comprar esses utensílios, mas tenho uma pergunta.

—Diga Yuki.

—E se não for exatamente ser visto? E se for a luz em si?

—Eles apareceram no meio do dia na primeira vez, apenas estavam sendo cuidadosos para não vermos seus rostos, não estamos lutando contra vampiros. Nunca vi um vampiro usando armas de fogo.

—Sim... acho que vampiros deviam usar armas brancas, espadas, facas, coisas assim.

—Ainda prefiro que o vampiro use apenas o próprio corpo, pule em alguém e finque as presas, ou usar as unhas para perfurar o coração dos caçadores.

—Mas o resultado não é parecido?

—Sim, bastante. É só... não sei bem como explicar o que tem de especial nessa diferença, só... é uma ideia diferente eu acho.

—Você gostaria de se tornar um vampiro?

—É claro que não, não queria virar nenhum ser sobrenatural, todos eles são cheios de limitações, nenhuma super força ou imortalidade me convence a deixar de comer cebola.

—Comer cebola?

—Não que esteja desprezando esses poderes, porém essa foi a fraqueza vampiresca que me soou como a ameaça mais imediata.

—Você não devia pensar sobre a fraqueza à luz do sol? Você seria evaporado agora se fosse um vampiro, não é uma ameaça bem imediata?

—Imediata talvez não seja a palavra então... só o que me soou mais irritante, não veria tanto problema em não poder sair na luz do sol.

—Sério? Você prefere as noites?

—Não tenho preferência em relação a posição de objeto celeste algum, é apenas lógico. Eu vou ser imortal, perder metade de um dia seria perder metade de um ano, porém isso não significa nada se eu for viver por centenas de anos, nesse ponto de vista, é uma barganha.

—Mas quantos desses anos você vai realmente usar? Não pode chegar num ponto que tudo tenha virado um loop de buscar sangue, ganhar mais poder, sem nenhum fim a vista?

—Esse não é meu departamento, questões sem resposta clara e objetiva não fazem o meu estilo e de um ponto claro, imparcial e objetivo, não importa se você “usar” apenas 1% da sua vida vampírica, 1% de infinito ainda é infinito.

—Sim, tudo bem. Eu prefiro um breve caos, não penso na imortalidade.

—Yuki, posso pedir uma resposta absolutamente sincera?

—O que houve? Ficou sério repentinamente.

—Algo de ontem te perturbou? Algo que não fosse tão óbvio? Talvez que você não possa falar até?

—...

Estávamos longe da vila nesse ponto.

Parei de andar, me virei para encara-la, imaginei ter acertado em cheio, teoria da mente é uma capacidade que todo humano tem, apenas tomei conta de a desenvolve-la prudentemente.

—É uma maldição... ontem fiz algo que não deveria, a maldição se ativou. Foi por isso que as sombras apareceram naquela hora.

Maldição. Depois das coisas que vi, após entender tudo que esse mundo pode prover. Uma maldição era quase inacreditável, mas apenas quase.

Maldição. Uma condição de ser rodeado por uma aura sobrenatural que causa algum infortúnio à vítima, no caso de hoje, iremos cuidar de uma maldição a qual traz apenas azar, um sinônimo de infortúnio, a forma mais vaga de um evento ruim.         

Maldição. Algo que te perseguira por toda a vida, ou talvez, apenas possivelmente, possa ser dispersado graças a uma poção, um perdão, ou apenas algo que o tempo vá curar.

—Você esteve sempre com essa maldição, não é? Apenas está me contando agora porque só ontem esse tipo de coisa se tornou aceitável.

—Sim... não tinha escolha antes... deveria contar aos outros?...

—Não agora, definitivamente em breve, porém não agora.

—Por que não? Se eles souberem isso vai ajudar...

—Eu sei. Sou quem faz nossos planos, basta dizer a eles que o plano que fiz é o melhor e eles irão acreditar, você não vai ter que convencer mais ninguém.

—Arg...!

—Minha vontade é essa, por favor não conte a eles. Odiaria os resultados a longo prazo.

—Quais resultados?

—Isso não importa para você, sou eu que faço os planos de curto e longo prazo. Tudo isso é responsabilidade minha, falhar seria uma tragédia para mim.

—...está certo.

“Como queria, ela pôs tanta confiança nessas palavras quanto eu queria”

Mudança

Agora com o doutor sendo nosso inimigo, nós teríamos que tomar medidas para essa batalha.

Outro motivo de dissermos ir acampar foi para termos a chance de sumir por algum tempo.

Por pontos chave da cidade, colocamos câmeras, podíamos observa-las do acampamento com um computador, o doutor não poderia apenas ir embora, ele tem de nos enfrentar diretamente.

Porém essa é mais uma precaução, o doutor provavelmente pode viajar pelo mundo inteiro, ainda assim estava numa casa velha na sua estadia nessa vila.

Isso me aponta que ele tem alguma pesquisa aqui, não no observatório, porém escondido em algum canto da cidade, não temos uma ideia ainda de onde poderia ser, porém as buscas começaram, melhor dizendo, a caçada começou.

Caçada

E os dois a cuidar da busca...

Eu, obviamente e...

Soutien Arc.

Perguntas

Passamos o dia inteiro procurando às cegas, anotávamos cada rua que visitamos e em seguida íamos a outra, esse processo ocorreu o dia inteiro com uma dúzia de palavras sendo trocadas, até no fim finalmente termos declarado.

Não é na vila.

Mas então, antes de ir.

Fomos ao telhado do esconderijo.

O céu estava escuro, parecia faltar menos de meia hora até chover.

A ventania parecia ter força suficiente para levantar as casas da vila.

—Arc, acho que entendi o que você me disse naquele dia.

—Demorou tanto, espero ter uma resposta que cause espanto.

—Sinto muito então, mais, gostaria que abaixasse as suas expectativas sobre mim, Arc-senpai.

—Usou um honorifico novamente, infelizmente está errado por um ano.

—Você estava dizendo que minhas próprias ações são uma mentira? Que o que penso não é levado em conta nas minhas próprias decisões?

—Foi bem modesto, está bem perto da verdade, você foi desonesto ao pedir para abaixar minhas expectativas.

—Mas você precisava, entendi o que você quis dizer agora, mas não sei o que isso significa ainda.

—Neste ponto você está apenas se fazendo de tonto. Tenho então...

Ela deixou de encarar meus olhos, mas não os tirou de mim.

Começou a chover bem mais cedo do que esperava.

—Você é uma falsificação, se há sequer um traço da sua personalidade real que se manifeste, no meio de tantas mentiras ele não significa nada.

—Então é isso.

—Você apenas olha para fora, nunca para dentro, você pensa tanto nos outros que deixou de pensar em si, o que começou como uma bondade genuína, agora é só uma manipulação bem-intencionada.

—Incorreto. Nada do que você diz faz sentido.

—Digo o mesmo para tudo que você falou desde o dia que te conheci, tudo que você faz é pensando em provocar a reação desejada nos outros, nesse ponto você sequer percebe, mas é isso que está acontecendo.

—E apenas hipoteticamente, se sua suposição insana esteja correta, o que poderia fazer sobre?

—No seu caso, apenas reconhecer isso servirá, o resto será natural, apenas isso bastará.

—Se for assim, agora, ele existindo ou não, será resolvido, não é?

—Sim, não é algo nada difícil de resolver, é tão fácil quanto reter um resfriado depois de passar minutos na chuva ao céu aberto.

—Espera... não...


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