Rain escrita por Aiwa Schawa


Capítulo 20
Dia 22




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Demônio

Dia 2 de dezembro 02:09.

—Me identificar como humano é correto, contudo deixar de me ver como um demônio soa incorreto, como? Esses dois elementos se contradizem, você não pode ser A e B ao mesmo tempo, isso é além das leis da lógica, se quebrar isso..., contudo, posso ser algo como... digamos um meio-demônio e meio-humano, não as duas coisas, um meio termo entre os pontos, não... isso ainda não elimina meu maior problema, assim... posso colocar então como um pseudo-humano, parecido com um demônio, ou seria um pseudo-demônio, parecido com um humano? São parecidos, entretanto, fundamentalmente diferentes, assim... chegar desse solilóquio por agora.

Não é certo deixar questões como essas a pender, se está fazendo esse questionamento, ele é importante, se você quer evita-lo, você já o evitou por tempo demais, não há tempo a perder... jogando cartas...

Dia 2 de dezembro 02:12.

Chamei Yuki para um jogo de cartas, era essa a minha forma de fugir.

Após perder metade das minhas fichas, apostei tudo antes de ver minhas cartas.

—Acha que é uma boa ideia nós pararmos o submarino para jogar cartas?

—Deve ter combustível para isso, nós estamos com algum tempo ainda.

—É algo importante esse jogo? Alguma mensagem escondida?

—Não que você precise saber, só estou tentando me distrair para minha mente voltar com o foco nos lugares certos.

—Por isso fez um movimento tão ruim assim? Lembra que você vai ficar me devendo um DVD se perder —Ela cobriu minha aposta com fichas tomadas de mim, no máximo voltaria à estaca zero.

—Imaginei, sua sorte se estende para jogos de azar também, é melhor fazer isso.

As cartas se revelaram.

Ela tinha um flush, 5 cartas de mesmo naipe, terminado em ás.

—Não foi dessa vez. Hahaha...

—Vamos ver... straigh flush.

5 cartas de mesmo naipe em sequência, terminando em 5.

—Ah... como você sabia que isso ia acontecer?

—Incorreto, não sabia. Yuki, apesar de você ter aprendido a manipular sua maldição sozinha, descobri como o fazer antes de você, é apenas natural que possa engana-la melhor do que você.

—O que...? Você achou outra forma...?

—Sim, desde o verão.

Ela pegou as novas cartas.

—Pois então...

Colocou todas as suas fichas, depois mais das reservas.

—Vou aumentar a aposta! Se você perder, quero que me diga o método que você achou.

—Correto, porém... para compensar, você tem de apostar o botão de seu blazer, esse que você está vestindo agora.

—Hum? Por que você quer um botão desses?

—É minha condição, mais comentários são para ser apostados.

—Que seja então, aceito essa condição esquisita.

Novamente, não precisei olhar minhas cartas.

—Fils, o que é isso? Você não quer definir suas cartas agora, apenas quando elas forem reveladas? Para então haver uma ressonância com as cartas da mesa?

—Quanta besteira, as cartas aqui são apenas duas e só elas, a hora que olho não pode mudar isso.

—Isso está mesmo certo? Não é como se a realidade fosse única e simples como vemos, entendo minha maldição como uma demonstração disso.

—Incorreto. A realidade é apenas uma, sua maldição não tem relação alguma com nada além de si mesma.

—Está querendo mesmo entender mais da minha maldição do que eu? Hahaha...

—Não quero, já sei mais.

—Vamos ver então.

As apostas foram medianas, por fim tinha sido um quarto das minhas fichas na mesa.

Yuki ganhou, trinca de damas.

—Seu truque é de uso único? Se for, nem preciso saber o que é.

—Próxima mão por favor.

—Mas continuando, seu pensamento que a realidade é única... não é muito cientifico.

—O que você está aprendendo nas aulas de ciência agora?

—A luz bate nos objetos, seu cabelo, roupas e pele, eles por sua vez a refletem, essa luz refletida é absorvida pelos olhos e ativa alguns nervos, assim posso interpreta seu cabelo como loiro, uma cor parecida com ouro, sua pele como branca, porém não tanto quanto neve, suas roupas como um azul, mais forte do que o do mar.

—Correto, isso por si só está certo.

—Mas... se são apenas estímulos nervosos, o que impede o meu cérebro de interpretar seu cabelo como uma cor que você chamaria de vermelho? Será que nós vemos o mesmo vermelho?

—Somos da mesma raça, nenhum de nós tem problemas de visão, nosso vermelho é o mesmo. Ainda que não fosse, só existiria uma realidade, a forma que observamos e interpretamos muda, contudo as bases as quais usamos é a mesma, dentro desse sistema, não importa a hora que olho minhas cartas, elas sempre serão as mesmas.

—Você está sendo chato...

—E você parece o Dravo falando isso.

Apostei metade das minhas fichas dessa vez.

Quadra de 3, ganhei essa.

—Ah... foi ele mesmo que me falou um pouco disso, é uma forma de pensar meio estranha, né?

—Você só estava repetindo o que ele disse? Esse dejà vu era por isso?

—Mas ele não está totalmente errado, esse pensamento quer dizer que o que defini a realidade não é ela mesma, mas sim nós, nossa forma de interpreta-la.

—Se você conseguir voar ou atravessar paredes com essa linha de pensamento, por favor me ligue.

—Está certo.

Ganhei novamente, agora estava na vantagem.

Dia 2 de dezembro 02:13.

—Vamos logo.

Peguei minhas cartas e apostei tudo que tinha, mesmo se perdesse ainda teria como continuar.

—Se desistir agora, lhe daria essa vantagem, dela você continuaria ganhando sem parar, mais, admitiria que você pode me vencer com uma mera chance de 50%. Você precisa de pelo menos 100% contra mim!

Ela apostou tudo.

Tinha uma sequência até a dama.

Eu... uma até o rei.

—Como...?

Antes que fosse tarde, enquanto ela estava tentando entender por que perdeu, levei minha mão até o botão mais baixo do blazer, pôs dois dedos ao seu redor, e puxei.

—Aqui está por que ganhei —Apertei o botão entre meus dedos... então ele queimou, a falta de ar entre meus dedos fez a chama sumir instantaneamente.

—Ah... isso foi um dos seus truques... como na estação de trem.

—Você se distraiu durante as apostas, foi bem fácil fazer isso. Também foi isso que te fez perder, se não tivesse tirado seu botão, iria queimar você minha aposta garantiu minha vitória.

—Por isso... minha sorte me salvou de ser queimada fazendo eu perder o jogo. Isso é uma vitória então, no fim, não tem como me fazer realmente perder, ou eu ganho, ou eu ganho!

—Pense assim, vai ser mais fácil de usar isso contra você quando tivermos de lutar.

—Vamos lutar algum dia...?

—É um pouco pessimista dizer isso, mas é plenamente possível, vou tentar evitar tal situação a todo custo, mas nossas naturezas e objetivos se convergem para isso ocorrer.

—Você já pensou nesse tipo de coisa...? Se sim, já pensou o que pode acontecer no futuro, no futuro de todos nós?

—Sim. Tudo depende do que vermos ao amanhecer, nisso talvez iremos selar nosso destino para um dia nos encontrarmos como rivais, somos aventureiros afinal, nossas vidas são além de insanas, são bizarras e as vezes parecem não serem baseadas em lógica.

—Entendo... mas minha sorte não vai deixar isso acontecer, nós vamos continuar juntos, não importa o que.

—Por minha parte, prometo que mesmo se um dia sejamos rivais, olharei para o passado com um sorriso no rosto e lhe cumprimentarei, mesmo se isso envolver lhe deixar ter o primeiro ataque.

—Também, não é como se você fosse acertar o seu golpe mesmo.

—Correto...

E assim o fiz, umas das poucas promessas que pude manter, apesar dos caminhos que tomamos desde a adolescência até a vida adulta, ainda lembro com um sorriso desses dias onde tinha algo como inocência em meu coração, um otimismo irracional e um senso heroico, mesmo que um egoísta.

E como prometi, mesmo que nos enfrentemos no futuro, irei cumprimenta-la.

Solilóquio

Dia 2 de dezembro 02:19.

Tendo um momento para conversar com todos os meus companheiros, resolvi fazer um último solilóquio antes de prosseguir.

—Por fim, agora conclui de fato o que sou, não um demônio, não um humano também. Essa a resposta perfeita, nenhum dois, nem alguém que muda sua forma para cada observador, sou eu mesmo. Essa resposta não diz nada, mas o complemento sim, sou eu independente de quem observar, de suas interpretações e ângulos, é isso que sou, nada mais.

Frente

Dia 2 de dezembro 02:23.

—Enfim, obrigado por terem esperado, porém a hora da última operação da RAIN está chegando.

Todos fomos a cabine do piloto, em breve o submarino chegaria ao seu destino.

—Eles cometeram um erro ao nos enfrentar. Hahaha...

—Atacar, é o que o fim os causará.

—Sim, exatamente isso Arc —Dravo.

—Com tudo, Fils, qual é o plano de novo? —Bomil.

—Sim... aqui está nosso plano.


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