Rain escrita por Aiwa Schawa


Capítulo 19
Dia 21




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Submarino

Dia 2 de dezembro 01:47.

Tinha um bom tempo para pensar no que Dravo havia me dito.

“Morrer heroicamente”

Isso soa muito bem, morrer para salvar alguém, em nome de algo maior do que si mesmo, não há como alguém que morreu assim ter desperdiçado sua vida, pelo contrário, ele a deu uso da forma mais direta possível.

Contudo...

—Assim... hora de um solilóquio. Deve ser o tipo de coisa mais apropriada para ele fazer, porém irem tomar esse posto e a fazer eu mesmo...

“E... começar”

—Vamos ir a raiz do problema, como desejo morrer? Quando me pergunto isso dessa forma tão direta, mais institivamente digo “não quero morrer”, entretanto, passando por isso, o que vejo é “morrer por alguém” como Dravo disse... e a mensagem a qual Jestiv me passou foi para reprimir isso, mas por quê? O que há de errado nisso?... Assim, só o fato de não poder achar um erro mostra a extrema importância desse solilóquio, nós estamos com linhas de pensamento opostas, tenho de mudar minha frequência, como um rádio... devo fazer isso aos poucos. Sim, sim... já entendi, se um de nós morrer, nossa missão será sem sentido, estamos à fazendo porque querem nos matar, se eu, qualquer um de nós, morrer no meio do caminho, será o mesmo que nada, certo, agora talvez tenha me acertado, agora para achar uma solução... imaginar que todos os meus planos darão certo é muito arrogante, portanto, para fins desse solilóquio, imagino aqui uma situação a qual posso finalizar a missão, porém, um de nós, tem que morrer por isso, não dois como antes, apenas um, eu mesmo nesse caso... incorreto. Para mim me sacrificar é a decisão mais lógica ainda, então talvez mudar um pouco a situação possa ajudar, algo mais realista. Uma situação em que posso me sacrificar e garantir uma vitória, ou arriscar uma chance de perda, com digamos... 99% de chance de perder... Ainda não, considerando que perder significa todos nós morrermos... há! Sim, agora achei um jeito, vamos reverter essas probabilidades, 1% de chance de derrota, nesse caso...

—Nem termine, pare antes que se determine.

—AH! Meu solilóquio!

—Desculpe interromper, além de ouvir tudo, essa parte acaba com quase todo o propósito de ser um solilóquio —“Que rima esquisita...”

—Não... não tem problema, posso fazer de novo, começar do começo, um novo solilóquio!

—Agora não, pois é hora de tornar esse monologo, num diálogo. Já que você sozinho não vai chegar na resposta, é melhor lhe dar ela de uma vez.

—Você... apenas dar a resposta...? Como esses dois pedaços podem se unir numa frase dessa forma?!

—Deixe de prestar atenção em linguísticas, essa é uma situação séria, comecei e a terminarei.

—Correto... qual a solução?

—Hum... você precisa escolher viver.

—Estava muito bom para ser verdade... o que isso significa? Não sou bom em resolver esse tipo de enigma, se vai me dar a resposta, a dê inteira! Termine o que começou!

—Que negociação... sim, sendo mais simples, você precisa deixar de pensar em situações e colocar sua vida na balança, contabilizar como se fosse um carro, isso não é humano.

—E o que seria humano...?

—Viver, não importa a situação, você tem de viver, não podemos deixar de arriscar nossas vidas, porém nunca desista de viver, se parece que sua única opção é se jogar numa chuva de fogo, o faça, mas o faça pensando em sobreviver.

—Não tem como, perdi meus robôs quando o avião caiu, não foi exatamente uma troca justa, porém...

—Você não tem metabolismo? Já está morto? Seu corpo pode se regenerar, não precisa de nano robôs do futuro, apenas de alguma força de vontade.

—Minha capacidade foi muito limitada, lembra da bomba no nosso esconderijo? O que teria acontecido se não tivesse os robôs? Morreria ali mesmo, sequer chegaria ao hospital.

—Isso, você não sabia se isso teria funcionado, poderia ter morrido ali, não foi? Você apenas notou depois que poderia sobreviver, não é?

—Não lembro de muita coisa..., contudo, você está correta. Não sabia que iria sobreviver, apenas depois tive de me agarrar a chance que tive.

—Essa é a linha de pensamento errônea. Naquele momento, você jogou sua vida fora e teve sorte de ser forçado a voltar, isso não é humano. Para o último passo de retomar sua humanidade, dê valor a sua vida e jamais desista dela. Não irei te dizer mais nada, termine o monologo.

“Com tudo isso mente”

—Para terminar o solilóquio... a resposta de todas as situações anteriores não está nas chances de sucesso ou derrota da missão, está na chance de que eu sobreviva, ou na existência da mesma, ambas não podem me abalar, pois devo fazer tudo ao meu alcance, não apenas para completar a missão, mas para sobreviver também. É a coisa mais natural de um humano, dar valor a própria vida, se não fizer isso, não sou um humano e se não sou um humano... o que seria eu?... Um demônio.

Humano

Dia 2 de dezembro 02:00.

“Demônio” esse termo é tão vago, em geral se refere a seres sobrenaturais e malignos, demônios existem por todas as culturas, Ásia, Europa, América, África, todos eles.

Às vezes podem ter relação direta a religião, sendo uma oposição a natureza ou a deus, contudo podem ser apenas mitos baseados em interpretações erradas de alguns fenômenos, como os vampiros sendo fruto do processo de decomposição de um cadáver, numa época de conhecimento escasso.

E com isso, demônios viraram sinônimos de maldade, as vezes caos e as vezes ordem, porém sempre os frutos do mau, puro mau.

Dizer aquilo foi uma péssima finalização, não posso dizer algo assim...

—Contudo, retirar minhas palavras parece impossível, como se por coincidências, porém destino ainda, elas estivessem certas.

Hesitar em não se identificar como um demônio, fonte de todo o mau do mundo, é um exemplo de fraqueza, mais importante, um exemplo de como apenas uma pessoa pode conhecer a si mesmo, de certa forma, até certo ponto.

“Sou um humano...”


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