Rain escrita por Aiwa Schawa


Capítulo 10
Dia 10




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Medo

O filme acabou, na saída do cinema, nos reunimos e perguntei sobre algo que só me incomodou assim que o meu relógio estava próximo à meia noite.

—Yuki, onde você vai dormir?

—Ah... opa...

“Sim, estávamos distraídos com a aparição repentina de uma amiga e esquecemos não só de nossas responsabilidades e a promessa de voltar antes das 11, como também de necessidades básicas, uma ignorância mais que ridícula vindo de nós”

—Não façam esse rosto como se fosse grande problema. Yuki pode dormir na sua casa, não é Bomil?

—Como vou explicar isso? Uma amiga minha que sequer fala alemão aparece as 11 da noite e dorme lá?

—Você consegue. Acredito em você, mais importante, na minha casa ela não tem chance alguma, portanto essa é nossa única opção.

—Ah... ok.

—Óoooootimo, dormir na casa da Bomil. Hahaha...

—Viu? Ela está animada com a ideia, eu também estou muito animado.

—1. Por que você estaria? 2. Seu tom está muito monótono para se dizer como animado.

—Desculpe, disse animado? Quis dizer alarmado.

—Ah... é o sono...

—Melhor ir logo.

Nós caminhamos por menos de 5 minutos para chegar na casa dela.

E estando tão cansados, cansados de lutar contra um monstro que veio das trevas e atravessou o mundo em busca de vingança, exaustos fisicamente, mentalmente, espiritualmente, o que houve era mais do que o esperado.

Manhã

No dia seguinte, acordei no sofá, não da minha de casa, da casa de Bomil, um teto que reconheci de imediato, não bastando notar que, provavelmente, um mero cochilo se tornou 8 boas horas de sono, como o fato de ainda estar com minha fantasia de bruxo.

—Ao menos não estou no quarto com elas, seria muito desagradável... ainda assim, talvez rumores voltem a circular —“Um bom estudante tem que se preoucupar com tais coisas”

Me levantei, ainda era domingo, portanto ao mínimo aula não seria algo perdido.

Resolvi andar pela casa, talvez alguém tenha acordado, sair logo agora me faria sentir que fiz algo errado na noite anterior.

Por toda a casa, não tinha ninguém, claro, sem olhar nos quartos.

“Eles estão abertos, contudo entrar é certamente um risco, irei toma-lo? ”

—Por obséquio! Claro que sim! Abre-te-Sésamo!

A porta do quarto de Bomil se abriu para mim.

Elas estavam dormindo na mesma cama, apesar de alta, Yuki é bem magra, essa parte não me surpreendeu.

“Devo ter ido dormir logo ao chegar, quanta fraqueza em”

No quarto...

“Espera...”

Uma dúvida me veio à mente, para achar a resposta, o local era obvio para mim.

Na gaveta, logo a minha frente, até parecia estar me provocando.

“Se elas dormiram juntas, Bomil tirou as lentes? Se sim... seria ótimo, sim, seria”

Não podia saber a distância, afinal, ela estava com os olhos fechados, dormindo pacificamente.

No entanto, o local dela guardar as lentes sempre foi na escrivaninha, sobre ela, se fosse para perto, olhasse nas gavetas por precaução, talvez no armário primeiro...

“O que estou pensando? É certo ter acabado de acordar, portanto meus pensamentos não estão 100%, ainda assim, isso foi uma piada de mal gosto”

Apenas cortei logo todo o processo, fui para a escrivaninha.

Não tinha uma lente de contato aqui.

Como falei, tal qual disse de forma absolutamente séria, iria também procurar na gaveta.

Lá, também não havia as lentes.

Antes dessa descoberta feliz poder me animar para o resto do dia.

—Você realmente não é um cavalheiro, faz ideia o quão inadequado é mexer nas coisas de uma garota enquanto ela dorme?

—Yuki! Quando...?

—Já tinha acordado faz tempo, só estava aproveitando um pouco, até você vir todo barulhento e começar a invadir a privacidade alheia.

—Correto... talvez essa não tenha sido, digo, essa realmente não foi uma boa decisão.

—Seja um tantinho cuidadoso as vezes, aliás, você dormiu no sofá mesmo?

—Pelo menos acordei nele, esse é o único fato.

—Entendo, não é por acordar num ponto, que você dormiu nele, isso faz todo sentido.

—Correto.

—Agora sem desviar do assunto, como você está sobre tudo isso?

—Tudo isso? Com essa palavra, o quão longe esse “tudo” vai? Não é como se pudesse entender um conceito tão grandioso, preciso de uma explicação simples.

—É tudo, realmente tudo.

Com essa pergunta...

—Está bom, foi muito bom te ver de novo, houve muito que temi naquele verão, porém nenhum desses temores se realizou, estou sentindo mudanças, espero poder mudar por dentro e por fora adequadamente.

—Também agradeço, lembre-se quem me ensinou a enganar o destino.

—Não fui tão espetacular assim. Te dei as respostas, quem soube executar foi você.

—Aquele raio fazia parte do seu plano, não fazia?

—Sim, sim, mas apenas aumentei um pouco as chances lhe dei o ponto, você canalizou sua emoção e por fim, nosso lado venceu,

—Agradeço por fazer isso soar tão romântico, no entanto, não roubarei o crédito da natureza.

—Como você pode roubar o que não existe afinal?

—Hum... boa ideia.

—Espera, como? —Temi ter dado alguma ideia para ela, roubar algo que não existe soa impossível, mas nessas aventuras com a RAIN, entendi que o nosso mundo há muito pouco de fato impossível.

—Sim, sim... há muitas coisas que poderia roubar assim. Vou começar minha lista agora mesmo.

—Isso é muita pressa.

—Não. Já fiz 10 itens.

—Tanto?! Quais foram os itens tão óbvios?

—Uma identidade, um alfabeto, uma emoção, uma doença e um desejo.

—Isso é só metade, mas nem quero saber o resto... posso sair agora? Por favor não conte o que estava fazendo, não quero ter de explicar.

—Explicar o que? Por que você estava mexendo nessa gaveta? —“Devia ser mais cuidadoso, minha escolha de palavras foi péssima”

—Err... era um bom motivo. Garanto... —“Dizer... não posso arriscar”

—Hum... —“É melhor usar a técnica secreta enquanto há tempo”

—Tchau! —Escorreguei para o lado e corri, pela porta e virando no corredor, era a melhor chance para mim, fugir.

Decide sair de casa sozinho, voltar logo e tirar a fantasia, já é novembro.

 

 

História

Dia 1 de novembro.

Mais cedo, ainda naquele dia, estava de volta com minha roupa de sempre, um terno azul royal.

O fim de ano estava próximo, com isso, a aventura do verão.

No entanto, com ela havia um sentimento, ou melhor, uma presença.

Coisas estavam faltando, nem tudo se encaixava no quebra-cabeça que montamos, esses buracos lógicos me perturbavam, esperei muito tempo para nossa reunião, agora Yuki estando na cidade, seria essa minha melhor chance para conversar sobre isso.

Estava definitivamente longe do fim, a história não acabou naquele verão. Tinha mais um detalhe para nós, uma última missão que deixara tudo em ordem antes do fim.

Muito em breve não seria mais um estudante do ensino médio, iria a uma faculdade, tomaria responsabilidades, seria um adulto.

“Não estou pronto para isso”

Isso não era superficial, era claro como cristal, neste momento não tenho como tomar mais responsabilidade alguma, já estou no meu limite, isso é a discreta imaturidade a qual sempre tive.

Tento tomar rédeas de tudo, porém cada vez mais, sei de que não estou fazendo o certo, minhas responsabilidades não estão sendo cumpridas conforme o esperado.

Por sorte e vantagens injustas, ainda estou aqui. Isso é errado.

Determinação

Pensar tanto em fatos sem significado é um péssimo hábito a se desenvolver, isso com certeza.

Voltei a pensar no presente.

“Não, não, nem pensar em resolver pendências da RAIN agora, amanhã tem aula, não posso perder meu sono logo hoje”

—Será apenas como receber uma antiga amiga em casa após passar anos sem vê-la, simples.

Para me acalmar, fui até a livraria, talvez alguma literatura antiga tirasse minha mente dessas preocupações.

Usei o dinheiro que tinha para comprar uns os quais já tinha meu olho a bastante tempo.

Sentei no chão, num canto pouco movimentado.

Comecei a ler.

Foi uma boa leitura.

“A escrita deixou a desejar, mas a forma do autor passar a mensagem foi uma das mais espertas que já vi, deveria dar esse livro para algum escritor de verdade e esperar que ele produzisse algo inspirado nisso. Ou talvez... justamente por ser absolutamente único ele tenha graça...? Será que sua qualidade vem apenas e excentricidade? ”

Um trem, metafórico, me acertou a 300 quilômetros por hora.

Bomil estava na biblioteca, do outro lado dela, a mesma não tinha me visto por estar encarando o outro lado, contudo, poderia reconhece-la com o mínimo de informação, não de uma forma ruim, claro.

Minha visão apenas é relativamente boa.

Botei o livro na sacola e desci algumas escadas para me encontrar com ela.

“Espera. Se Jestiv está aqui, Yuki também deveria, onde há fumaça, há fogo, aqui é a mesma coisa. A menos... não, ela definitivamente está aqui, em algum lugar”

Se estava na biblioteca, com Jestiv e ainda não tinha visto ela, só podia imaginar que Rots me achou antes, ela queria fazer uma emboscada, mais provavelmente pelo o que fiz mais cedo nesse dia.

“Como naquele jogo de esconde-esconde, vou demonstrar o que realmente me capacita para ser o especialista de táticas da RAIN”

 

Disfarce

“Lá havia um garoto, ele tinha idade para estudar no ensino médio, era relativamente alto, porém não mais do que eu”

“Estava com um livro no rosto e andando pela biblioteca, o chapéu de bruxo do bem não deixava dúvida de quem ele era”

“Meu objetivo apenas será cumprido se me aproximar a pelo menos 2 metros dele sem ser percebida, o que para mim é a coisa mais fácil do mundo”

“Em breve, logo ele viraria para um corredor sem saída, iria dar meia-volta apenas após 9 segundos, tempo suficiente para alcança-lo”

“Assim que o fez, disparei, num único pulo estava a uma virada dele, 1, 2, em três segundos alcancei o alvo, o ultrapassei, vi seu rosto, porém...”

“Não era ele”

Foi provavelmente algo assim que Yuki narraria, se estivesse no meu lugar, claro, é o que imagino ter sido sua visão, agora como um adulto, posso dar pelo menos 99% de acurácia garantida nesse trecho, mas jamais ganharei mais 1%, continuando agora, da visão de mim mesmo no período do ensino médio.

Especialista

—Muito obrigado por ficar com o chapéu, desculpe o pedido repentino.

Aquela pessoa, a qual absolutamente não era eu, foi embora da cena.

—Bom dia Yuki.

—Arg... como você fez isso?... Não bastou notar que estava te seguindo, também pensou em como fazer uma troca, isso é anormal.

—Incorreto. Não aceito ser chamado de anormal por você.

—E eu não me importo com o que você aceita ou não.

—Ai.

—Você vai falar com ela ainda? Deixei ela esperando por causa desse showzinho.

—Uma falha mais sua do que minha.

—Sem fugir da culpa, ela ainda é sua. Toda sua.

—Correto... está certo.

Chamamos ela, nosso trio foi para um café, pedi um bolo bonito e vermelho, era muito doce, joguei dinheiro fora ainda, pois Yuki insistiu em comer aquilo.

“Agora não tenho mais dinheiro para pegar o metrô. Isso pode ser um problema, um grande problema”

Rots nos disse que tinha dinheiro mais do que suficiente para um hotel, teoricamente deveria já ter voltado para casa, só que...

—Só vou embora quando vocês mandarem, até lá, vamos usar bem esse tempo.

Yuki Rots foi mudada depois do verão. Ela é grata a mim por essa mudança, no entanto, tanto no passado quanto hoje, digo que essa mudança foi apenas causada por ela mesma. Mais, o que digo apenas hoje é, toda minha influência foi negativa, se não tivesse me envolvido, talvez, apenas talvez, existiria um pouco de esperança a mais para nós no fim do ano, no inverno sombrio.

—Bomil, agora que ela se foi, preciso fazer uma pergunta.

—Diga, sem gaguejar, sem hesitar.

—Conhecendo Rots... apesar do meu pedido, ela ainda contou sobre o que fiz essa manhã, não é?

—Sim. Você tem 10 segundos para se explicar antes de ter o nariz arrancado —“Que ameaça! Mas espera, não preciso dar uma boa explicação, apenas uma explicação”

—Estava procurando suas lentes, você dormiu sem elas?

—Ah... —“Essa foi fácil”

—Responda, se achar adequado.

—Sim. Por quê? Está com ciúmes da Yuki?

—De forma alguma, no momento só diria que estou feliz por isso, essa responsabilidade talvez fosse um pouco além do que meus braços podiam aguentar.

—...

—Só digo, não dependa de mim se tiver outras opções, se não as tiver, prometo lhe salvar de qualquer coisa e ir além dos meus limites por isso, contudo... há pessoas melhores, Yuki com certeza é uma delas.

—Por que você está dizendo isso agora? Parece que está se aposentando.

—Incorreto, não é assim Bomil.

—Então o que seria?

—Só estou tentando dar alguma ajuda de verdade, isso é digamos... tudo que posso fazer, não... é que...

—Você não sabe mentir, por isso não tente.

—...Bomil, você é muito, muito especial para mim. Se qualquer coisa ruim acontecesse com você, seria a pior coisa do mundo para mim, por mais que deseje ser um cavaleiro forte e audaz, a pessoa capaz de te proteger, não sou essa pessoa. Yuki está mais próximo disso na verdade, não me importo se não sou eu a te proteger, enquanto você estiver bem, posso continuar vivendo a minha vida normal, como um estudante normal. Mesmo que com um futuro obliquo, continuarei vivendo.

—Ah... foi aquela frase que te disse? Sabe, aquela que tirei de um livro estrangeiro.

—Em parte, lembro dela bem. “Enquanto você estiver vivo...

—Coisas boas continuaram acontecendo com você”

—Essa. De qualquer forma, só não pense tanto assim, não se preocupe com isso, por favor.

—Nós estamos ligados pela alma por acaso?

—Vejo dessa forma, se você estiver feliz, também estarei, da mesma forma para raiva, tristeza, pânico, tudo. Também...

—O que?

—Caso você morra amanhã, não terei problema em morrer amanhã também.


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