Rain escrita por Aiwa Schawa


Capítulo 1
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Seria triste não ter essa história em lugar nenhum



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Degraus

“Ciência quântica, isso não passa de uma histeria coletiva. Não posso entender esses conceitos, gato de Schröndinger? Ele é apenas uma insanidade, não há como algo como a superposição quântica ocorrer, um objeto estar em dois estados ao mesmo tempo? Vivo e morto? Impossível. Ou ele está vivo, ou ele está morto, a verdade é única e imutável, fugir disso é se revoltar contra deus”

Era o que pensava antes, mas, no fim dos eventos daquele verão que o sol desapareceu, aquele inverno que as nuvens escuras tiraram minha visão, muito mudou, por isso agora posso dizer com segurança que o primeiro parágrafo dessa história pode ser ignorado. Ele está errado, sem dúvidas.

Quando somos adultos, nossa vida muda pouco, preocupações análogas as da nossa infância, enquanto nossos brinquedos ficam um tanto mais caros, por isso não existe uma parte da vida com mais ou menos valor, em todas elas teremos objetivos e medos, com eles, o mais importante...

Verdades

Comecemos do dia 7 de julho, estava um dia nublado em pleno verão.

Esconderijo da RAIN, mais apropriadamente, R.A.I.N. “Research Agency of Isolated Networks”

Na cidade de Saint Veran, França, há anos um café está abandonado, nós tomamos seu armazém como base, colocamos velas, cadeiras e tiramos as caixas da nossa frente, por isso era tudo um pouco quente, sempre tirava minha jaqueta azul quando entrava.

Mentiras

Já havia alguém no esconderijo, conhecia ele.

Era alto, um ano mais velho que eu, muito magro, por baixo dos casacos, emulando uma silhueta triangular, era um corpo e membros finos, longos, mas seria errado chama-lo de fraco.

Seu rosto era pálido, as pálpebras eram quase fechadas, uma delas mais que a outra.

—Bom dia.

—Boa tarde —Foi o que ele respondeu.

—Incorreto. Você não podia ter respondido isso, mesmo se tivesse passado do meio-dia, você deveria responder como fiz.

—Não necessariamente por ter passado do meio-dia, mas porque você veio aqui pelo seu chá da tarde, certo? —Ele estendeu uma caneca cheia de café para mim.

—Correto, é certo que pedi um chá da tarde, mas isso é café, nada justifica sua resposta.

—Hum, perdão, mas não foi você que pediu um café no estilo italiano mais cedo?

—Por mais que não tenha uma rixa pessoal, ou uma promessa de vingar meu pai sobre o café, eu pedi chá, não café no estilo italiano.

—Desculpe, eu juro que há dúzias de pessoas, as quais todas as tardes me pedem um chá, mas também há dezenas que todas as tardes me pedem café no estilo italiano.

—Não, não há, seu juramento é fraco, só eu peço isso.

—Juro... por essa caneca, a qual minha vó tomou seu último café no estilo italiano antes de morrer ao meu lado.

—Está perdoado.

Maioria

Tomei o café junto dele, o qual chamarei de Durvo Navire, estava surpreendentemente bom.

—Durvo, não há hora melhor para perguntar isso.

—Tem certeza? Não estaria mentindo?

—É exatamente isso. Sou uma pessoa que dá valor a verdade, especialmente por ser um péssimo mentiroso.

—Sei disso muito bem, nem uma criança cairia numa mentira vindo de você.

—Está dizendo que meus belos cabelos loiros não inspiram confiança?

—Se você por apenas aparência eu que seria o pior mentiroso.

—O que não é o caso, você está sempre mentindo.

—Dizer isso é um exagero, pois apenas minto como uma pessoa normal, porém creio que esse ramo de hipérboles e eufemismos seja uma área que você possa dominar.

—Incorreto! Mesmo agora, você consegue mentir e continuar falando como se não tivesse feito nada errado, assim queria perguntar, você valoriza a verdade?

—Antes de responder, queria lembrar de uma perguntar que ouvi a algum tempo, ela encaixa na sua questão. “Dentre o original e uma cópia tão perfeita que se torna indistinguível do original, qual tem mais valor? ”

—Óbvio que o original.

—Eu discordo. Para mim, as duas tem o mesmo valor, afinal são indistinguíveis, ambas são importantes de uma forma ou outra.

—Espere, então se uma mentira for indistinguível da verdade, elas têm o mesmo valor?

—Claro, se você não pode apontar algo como uma mentira, qual o significado dela ser uma mentira?

—Pois ela não é real, não tem como ser provada fisicamente, por isso uma mentira não só é menos valorosa do que a verdade, ela não tem valor algum.

—Você não dá valor a própria visão? Como você interpreta algo?

—Jamais. Apenas os fatos valem.

—Se você vai para o chá da tarde antes do meio-dia, você não pode dizer que a tarde já chegou?

—Não. Isso é apenas uma mentira, não tem efeito algum na realidade, poderia muito bem dizer que esse é o chá do meio-dia e isso não mudaria que estou tomando café no estilo italiano em torno das 12.

—Neste ponto discordo de você, mas seria inútil arrastar a discussão além disso.

Arrasto

—Correto, é melhor não continuar.

—Digo que foi bem produtivo, entendi por que você gosta de matemática, é uma ciência exata afinal.

—Como você fez essa conexão?

—Você não gosta de ir para o meio, para essa zona cinza que são as ciências humanas, tudo para você deveria ser ordenado numa formula.

—Não foi essa minha pergunta.

—Lembra da última semana? Tentei falar de algo e você não me deu ouvidos, assim não quis terminar minha explicação.

—Então explique agora, se antes não lhe dei ouvidos, hoje será diferente.

—Certo, é sobre uma questão de democracia, na maioria dos países o líder de estado é escolhido pela população, certo?

—Sim, algumas exceções me vêm à cabeça, mas elas são apenas isso.

—Você acha que esse é um bom sistema?

—Claro, já foi mostrado várias vezes em experimentos e na história que com pessoas suficientes, qualquer problema pode ser resolvido, massas tem muito poder.

—No entanto, é fato que mesmo assim, as vezes escolhas ruins são feitas, não é?

—Sim, mas onde você quer chegar?

—Usaremos o sistema do país que estamos, aqui o presidente é eleito diretamente pela população, o voto não é obrigatório, se nenhum candidato conseguir uma maioria absoluta, uma segunda eleição é conduzida entre os dois mais votados, o vencedor dessa se torna o presidente.

—Não foi isso a minha pergunta, perguntei qual o ponto disso.

—Não acha que esse sistema é falho?

—Como ele seria? Ele permite a liberdade de opinião, ainda não tenho direito de votar na minha terra natal, mas não vejo problema algum nesse sistema.

—É o que você disse antes, tanto a pouco, quanto na semana passada, as massas naturalmente tem a capacidade de fazer a escolha certa.

—E esse sistema permite isso.

—Isso não deveria ser o mínimo? As massas tomam a decisão certa por natureza, estava pensando que um sistema bom deveria não apenas permitir que a escolha certa seja tomada, mas impedir que a escolha errada seja tomada.

—Se está recorrendo a mim para vir com uma solução, irei fazer como supostamente o fiz na semana passada e pararei de ouvir aqui mesmo, não sou um gênio como você diz, mesmo se fosse inúmeros gênios já passaram anos tentando resolver essa questão, nenhum deles conseguiu um sistema objetivamente melhor do que o que temos agora.

—Claro, mas minha lógica não está correta? Não é isso que deveríamos priorizar num sistema democrático?

—No papel sim, mas não tem como aplicar isso sem interferir com a liberdade da população.

—Você acha? Não é como se tivesse provas de que isso seja impossível.

—Pare ai mesmo! Já estou entendendo onde você realmente quer chegar!

—Se tem alguém que pode ver através das minhas mentiras...

—Não venha com essa, foi óbvio. Irei responder à conclusão que você tentou alcançar nessa conversa: Incorreto! Se você não fez a pesquisa necessária, isso apenas significa que a verdade ainda não foi alcançada, nada mais que isso.

—Não tinha como pensar diferente, é para isso que nós estamos juntos, não é?

—Correto.

Chuva

Subimos pelas lajes rachadas até o telhado do café, parecia frágil, 3 pessoas seriam suficientes para colapsar a estrutura, mas sendo apenas nós dois, nada deveria acontecer.

O céu estava nublado, a previsão do tempo falou sobre uma chuva pouco depois do meio-dia, as nuvens escurecendo parecia confirmar aquilo.

Romance

—E sobre o seu grande objetivo? O fim do ensino médio está chegando para você, não é?

—Sim... agora não é a hora de assuntos complicados mesmo.

—Qualquer coisa para você calar a boca sobre esses problemas filosóficos.

—Vai ser esse ano, na minha terra natal há uma faculdade muito renomada, voltarei para estudar lá e encontrarei ela.

—Você não podia ter pego o contato dela antes de sair? Na verdade, você não devia ter o telefone de alguém tão próximo?

—Sim, mas assim não poderia focar em me tornar alguém decente, estava funcionando como um satélite natural antes.

—Parece que sua ideia de “decente” é bem ruim.

—Diga o que quiser, mas nada muda meu objetivo, guardei essa chave desde do dia da minha partida —Era uma chave, a única coisa notável para mim era que no lugar de um arco normal, era um símbolo do naipe de paus.

—Sim, então você vai achar uma menina com um colar de fechadura no pescoço, vai abrir ele com essa chave e vocês vão se casar, blábláblá.

—Não muda que pediu para contar essa história de novo.

—Apenas para você calar a boca.

—Muito justo, poderia ficar o dia inteiro falando disso e não cansaria, mas gostaria que fosse com outra pessoa.

—Esse é o único tópico que você mostra algum resquício de ser um idealista e não só um mentiroso compulsivo.

—Correção, não sou um mentiroso compulsivo, meu cérebro é perfeito como o seu, por mais que não seja tão esperto.

—Você já tentou ir fazer uma radiografia?

—Claro, entre essa e as férias de inverno do último ano fui por curiosidade, não havia nada de errado.

—Hum... como posso ter certeza disso?

—Se quiser posso mostrar os papeis, acho que não tem nada para esconder neles.

—Acha?

—Você pode saber ler isso de alguma forma e descobrir algum segredo meu, talvez sobre o que aconteceu na última primavera no dia que cheguei em casa 3 horas depois do normal.

—Incorre... —Finalmente vimos mais alguém ao longe.

—Melhor paramos com esse papo furado. Você precisa ir atrás do seu romance também! —Ele se levantou e começou a descer.

—Já disse que não é nada disso! —Dei um chute perto da borda e poeira caiu.

—Cuidado! Isso pode me fazer cair, tenho certeza que morreria nessa queda.

Misericórdia

 

Chegou outro dos 5 membros da RAIN, a qual será chamada de Bomil Jestiv.

Uma garota da minha idade, de cabelo castanho-claro, dois olhos azuis, realmente bonita, o armário dela constitui apenas de vestidos longos que me fazem pensar se ela não roubou aquilo de alguma princesa.

Conheci ela a muito tempo, 8 anos atrás enquanto comprava doces para uma viagem, sendo crianças, bastou estarmos tentando comprar o mesmo doce para querermos ser amigos.

Mais tarde fui estudar na mesma escola que ela e a ideia da RAIN foi dela, por mais que a iniciativa na prática tenha sido minha.

Como meu temperamento ao questionamento de Navire revela, aquilo era uma mentira, ou melhor, uma meia-mentira.

Não posso dizer que busco um romance disso, mas apenas compreendo o instinto desenvolvido, se tentarem ataca-la irei me jogar na frente, não por escolha exatamente, para mim isso é tão natural quanto defender a mim mesmo.

É simples assim, qualquer outra interpretação disso é incorreta, absolutamente errônea.

Missão

Como nosso nome sugere, a RAIN, em situações casuais, todas no caso, apenas chamada de “agência” tem o objetivo de investigar cantos isolados, todas as férias nós voltamos para Saint Veran e resolvemos um mistério, o grupo constitui de um total de 5 membros no momento.

Danos

 

Nós três sentamos nas caixas e cadeiras do armazém e começamos a falar do que importava:

—O que conseguiu Bomil? —Ela jogou alguns papeis no meio de nós e começou a falar.

— Aqui estão os fatos: O professor foi rastreado, ele está indo pelo nome de “Zencho” sem nenhum sobrenome atribuído, encontrei o suposto endereço dele, além das instituições que ele está envolvido no momento —Bomil era uma especialista em coletar evidências, esse era o seu papel conosco.

—Como esperado, ele está usando o Observatoire de Saint-Véran —Disse enquanto passava meu dedo pelo papel.

—Sim, é o segundo observatório mais alto da Europa, está a quase 3.000 metros de latitude.

—E sobre isso, o que vamos fazer? —Durvo me fez a pergunta.

Relembrei o que ocorreu.

No primeiro dia das férias, estávamos apenas comemorando a reunião num restaurante, como sempre fizemos, mas algo pegou nosso olho, um homem alto usando jaleco, andando pelas ruas escuras sozinho.

Pagamos a conta e deixamos pratos sem terminar para segui-lo.

Ele sempre olhava para trás, não sei se por ter nos visto, mas ele acelerou o passo, ainda assim continuamos a perseguição, ele entrava em lojas que deviam estar fechadas, passava até 20 minutos dentro e saia com pacotes, ia para outros lugares, encontrava homens de terno e os entregava.

Começamos a nos separar para seguir todos os homens, até que apenas eu estava seguindo aquele homem.

Segui ele até uma cabana no meio da floresta, sentindo perigo iminente, puxei minha câmera e tirei uma foto do rosto dele, já considerando fugir.

Mas então, assim que tirei a foto, ele já havia entrando na cabana, me aproximei lentamente, ainda tentando tirar algo de lá.

Até dar mais um passo, ouvi um estralo, antes de poder considerar o que aquele som que nunca escutei era, a cabana explodiu em chamas, a onda de choque me ergueu do chão e voei por vários metros até bater numa arvore.

A floresta estava sendo consumida por chamas, sabendo que já estava correndo perigo, corri o mais longe que pude.

Na manhã seguinte, em vez de noticiários franceses falando sobre um grande incêndio na floresta, havia a previsão do tempo da semana.

Os outros disseram que também não conseguiram algo dos homens que seguiram, que eram pelo menos 15 envolvidos, então nem todos foram seguidos. Quando olhei de volta a cabana, ela havia sumido, o dano do fogo não existia, as arvores continuavam como antes.

E agora, tenho que decidir o quão longe devo ir para resolver esse mistério.

Discussão

Era hora de decidir, esperamos chegar os outros 2 membros da agência.

Uma a qual chamarei de Yuki Rots.

Ela é alguns centímetros mais alta do que eu, apesar de ser um pouco mais nova, o físico é pouco impressionante, mas seu rosto e olhos tem formatos afiados, justo para a pessoa que, em geral, “resolve problemas” da agência, ela não tem um armário especifico, mas está sempre com vermelhos e pretos em algum lugar.

A segunda será chamada de Soutien Arc.

É uma pessoa da ciência, tudo nela parece comportamento de um cientista, as calças, a jaqueta e bolsas, óculos finos, cabelo preso, só há duas coisas que poderíamos apontar que destoam disso, sendo uma delas:

—Boa tarde! Apesar que esse lugar é tão quente que arde! —Ela sempre fala rimando, por algum motivo.

Nós repassamos a situação para que todos estivessem entendidos, era hora de decidir o quão longe iriamos.

—Tenho uma ideia, podemos invadir a casa dele, já fiz isso antes algumas vezes, então não vejo problema em fazer isso novamente —“Mentiroso! Do que você está falando?! ”

—Não diga uma besteira! Se não te mandarei para além da fronteira!

—Eu aprovo... Hahaha... —Yuki teve sempre essa risada baixa e assustadora.

—Incorreto! Arc, nós não podemos invalidar isso ainda, pode haver informação valiosa lá, não é típico da agência fazer isso, contudo não é descartável.

—Aqui estão os fatos: Após uma pesquisa descobri que ele não tem sobrenome, nem passado, considerando o testemunho de....

—Lembre-se Bomil, estamos numa operação, use meu codinome.

—Considerando o testemunho de Fils Erlich, ele consegue explodir uma cabana, criar uma grande bola de fogo e a fazer sumir sem rastros, a mídia não foi comprada para não comentar, ela sequer soube. O que podemos entender é que ele é um homem poderoso e que quer esconder seu passado, não me parece nada bom.

—... não devia ter sugerido, não é?

—...

—Incorreto. Acho que essa é a única escolha para nós.

—Estes são os fatos: Temos que agir.

—Para fazer esse crime, espero que ninguém se arrime...

—Correto. Há alguma oposição?

—...

Ninguém queria dizer nada, aquilo não era o motivo de termos criado a agência, mas parecia ser o motivo dela existir.

—Acho que será isso, como sempre, irei cuidar do plano, levarei os seus papeis, Jestiv.

—Os leve...

A reunião terminou.

Papel

 

Era para isso que estava na agência, para fazer planos, minha única capacidade é a de analisar cada detalhe de uma situação, tirar dados dos menores detalhes e por fim fazer um plano para que nossos fins sejam realizados de forma rápida, quieta e pacifica.

É minha única função, por isso me dediquei a nunca falhar, hoje teria que voltar a isso.

Especialidade

Dia 8 de julho.

Resolvi passear um pouco pela cidade, se não tomasse essa decisão conscientemente acabaria passando dias inteiros no hotel, aprecio sem culpa uma boa cama e as três refeições de cortesia.

Decide ir até o topo do monte, não que fosse a primeira vez que tentei, mas minhas ideias haviam acabado após formular o plano.

Mas estranhamente, outra pessoa havia tido a mesmo ideia que a minha.

Yuki Rots.

—Rots! Rots! —Como era apropriado, investi contra ela.

—AH! CUIDADO!

Uma batida violenta suficiente para cortar uma pessoa ao meio.

Nós dois caímos na grama.

—ARG! Que dor! Que dor! Rots, por que você fez isso?! Por que?! —Sendo um impacto compartilhado, continuamos vivos.

—Por que você fez isso?! Essa é minha fala idiota!

Lentamente... me levantei.

—Incorreto. Você se deixou sofrer o impacto.

—Como?

—Sua especialidade é escapar de problemas, não sou exatamente franzino, mas você deve ser pelo menos duas vezes mais rápida, sem falar do seu tempo de reação excelente e força.

—Bem, onde você quer chegar com essa lógica?

—Tendo como verdade que você deixou isso acontece, por que você deixou?

—...

—...

—Para você aprender a não investir contra alguém só por ela ter chance de escapar, espero que tenha aproveitado bem essa dor, cuidei de mudar minha posição para que a maior parte do dano fosse transferido para você. Hahaha...

—Mas não era uma chance, era uma certeza.

—Não importa. Você não pode decidir que sabe de algo, que tem certeza sobre algo, não até você testar isso pelo menos duas vezes.

—Certo... —Entrei na posição de corredor.

—Espera, o que?

—Então preciso ir outra vez!

Dessa vez, passei direto, voei como um foguete e pousei me arrastando pela grama.

“Hoje... não sei se consigo andar mais...”

—Certo, agora você pode ter certeza.

Como um ex-corredor, mesmo após cair, me levantei.

—Ignorando qualquer possível machucado no meu rosto, o que você está fazendo por aqui Rots?

—Queria ver as montanhas... não sei o porquê, mas essas estruturas colossais me atraem, estatuas enormes, pontes, prédios, etc.

—Então me deixe te acompanhar, serei um parceiro absolutamente fiel.

—Você não se preocupa da sua namorada sentir ciúmes? Ainda mais sendo tão direto assim.

—Já deixei claro que sou propenso a infidelidade, eu sou um traidor de nascença.

—Ei, o que você quer dizer com isso? Como assim um traidor de nascença? Alguém pode realmente nascer para se tornar algo especifico?

—Pensei que se preocuparia mais de ter me descrito como “absolutamente fiel” e “um traidor de nascença” um após o outro.

—Não é como se mentir você um talento seu... nisso, será que sua falta de talento para mentir foi algo definido quando você nasceu?

—Falando dos fatos, quando você nasce, dependendo de genética e chance, seu cérebro pode ter um certo formato ou distribuição diferente, seu corpo pode ter uma química especifica, portanto... até certo ponto sua personalidade é realmente decidida no momento que você nasce.

—Certo, não é uma resposta nada conclusiva, mas ser 50% já é suficiente para você.

—Ótimo.

—Ótimo? Você acha que 50% é realmente bom?

—Não, estava falando das suas expectativas sobre mim, não preciso de expectativas a mais, de forma alguma.

Montanhas

—Yuki, talvez isso soe muito típico de mim, mas lembrei daquela frase, não lembro quem disse, mas o contexto seria de alguém perguntando ao alpinista “por que você escalou aquela montanha? ”

Para o qual ele responde “Porque a montanha está lá”

—Essas montanhas daqui não tem graça de escalar, elas são enormes, mas não muito altas.

—Não é sobre isso, é sobre o que nós fazemos como agência.

—Hum...

—Até agora, nós não tínhamos um real objetivo, éramos alguns adolescentes que se encontraram nas férias e decidiram resolver mistérios, se me perguntassem “por que você resolveu aqueles mistérios? ” Diria de imediato “Porque o mistério está lá”

—Se você já resolveu deveria ser “Porque o mistério estava lá” e qual o ponto disso?

—Qual a nossa missão agora? É salvar alguém? Talvez salvar essa cidade? Nós decidimos quebrar as leis porque colocamos nossa causa como acima das leis.

—Para mim não é assim, não me importo com lei alguma, quebraria a lei por um caramelo, apenas um é suficiente.

—Tem certeza? Você hesitou ontem.

—Jamais, apenas estava mantendo aparências, você é a única pessoa que realmente confio para contar isso. Hahaha...

—Obrigado então, desde que você continue do nosso lado... acho que posso aturar isso...

—Certamente, sempre usarei todas as minhas incríveis capacidades para... para... trazer o caos! —Por alguma razão, vi um resquício de ‘desespero’ nela naquele momento.

—Nesse caso, não será necessário, fiz um plano infalível.

—Infalível é? Você sabe que a vida não é uma conta de matemática, certo?

—Do que está dizendo? Se a quebrarmos em fragmentos suficientes, tudo é matemática, você está subestimando o poder da ciência e de um aluno que apenas tira boas notas em matemática.

—Vou esperar os resultados...

Voltamos, tínhamos ido para muito longe do vilarejo.

E lá, nos separamos de novo.


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