Sutil escrita por Minerva Lestrange


Capítulo 9
There's is thunder in our hearts




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— Ah, cara...

Ouviu o murmúrio baixinho ao seu lado e respirou fundo, revirando-se sob os edredons até alcançá-lo e se apoiar no corpo quente. Ainda manteve-se de olhos fechados por um instante, mas a luz do abajur ligado na mesa de cabeceira ao lado de Barry já começava a despertá-la. Abrindo os olhos lentamente, encarou-o praticamente deitado segurando um livro com uma única mão enquanto mantinha o cenho franzido indignado.

— O que está lendo?

— Um desses livros de banca. - Na capa que mostrava, havia uma mulher com um vestido vermelho muito comprido e a silhueta de um homem logo atrás abraçando sua cintura. Barry deu de ombros. – Eu perdi o sono e saí para comprar.

— Okay.

— E você está me julgando. – Ele disse após um segundo quando Caitlin apenas levantou as sobrancelhas, criticamente.

— Eu não estou!

— Caitlin, conheço você. – Barry fez questão de marcar a página em que estava antes de se virar para ela. – Sei identificar a face do julgamento.

— Do que está falando? Eu não tenho uma “face de julgamento”. – O viu sorrir sabidamente, continuando a encará-la de forma insistente antes de enfiar o livro entre os travesseiros de ambos, na direção da cabeceira acolchoada e puxá-la para mais perto, pela cintura.

— Sim, você tem. – Estavam tão próximos que o próximo passo foi mordiscar seu lábio inferior, com calma, tentando-a lentamente como ele gostava de fazer sempre que tinham tempo. – Mas meio que gosto.

— É mesmo? – Questionou, pois duvidava muito disso, no que o velocista meramente sorriu e desviou a atenção ao seu pescoço.

— Gosto de tudo em você. – Se contorceu inteira quando o sentiu murmurar, se empenhando mais naquele ponto específico entre seu pescoço e sua orelha. – Seu cheiro é incrível.

— Você é inacreditável.

Ele soltou um riso rápido, acomodando-se sem pressa sobre seu corpo e voltando a encará-la. Barry não deveria poder ficar tão bem sob todas as luzes possíveis, mas acontecia, mesmo sob a luz amarelada do abajur, com os cabelos castanhos bagunçados por seus dedos mais cedo, os olhos brilhantes meio inchados de sono e a barba curta para completar todo o bonito quadro.

— Cait, eu falo sério! – Ele analisou seu rosto com um resquício de sorriso e a beijou novamente, antes de sussurrar contra seus lábios. – Amo seu perfume. Amo você nesse uniforme.

Riu brevemente, mas logo a boca dele apropriou-se da sua de forma exigente e tudo em que podia pensar era nas mãos passeando por seu corpo, sob o uniforme azul de beisebol do time da delegacia – seu pijama oficial todas as vezes em que dormia ali, nas últimas semanas. Ofegante, fincou as unhas nas costas nuas de Barry ao descansar as pernas confortavelmente contra os quadris dele, sentindo-o duro contra o lugar certo.

A barreira da calça de moletom e de sua calcinha já começava a incomodar, pois podia se mexer apenas muito limitadamente e Barry não parecia com pressa ao se concentrar em seu pescoço novamente, beijando e mordiscando com calma, testando seu limite, pois sabia que, em alguns minutos, Cait não estaria nos ofegos silenciosos e discretos. A casa no lago era ótima, realmente.

Seus dedos entrelaçaram-se aos fios castanhos, cada vez mais macios sempre que os tocava, e fechou os olhos, mordendo os lábios ao senti-lo enganchar os dedos nas laterais de sua calcinha e deslizá-la para baixo por suas pernas. Dessa vez, ela quem alcançou a boca de Barry, beijando-o mais lascivamente do que admitiria, pois queria mais dele como se não houvesse tido naquela mesma noite.

No entanto, no instante que a mão dele deslizou pesadamente por sua perna nua e começou a subir internamente por sua coxa, o ruído baixo e insistente fez com que tudo pausasse. Lentamente, Barry deixou sua boca e ambos encararam criticamente o celular que vibrava sobre o criado ao seu lado.

— Não. – Pediu com uma careta lamentosa.

— Sim.

Barry murmurou olhando contrariadamente para o aparelho, antes de se esticar para pegá-lo e entregar a ela, claramente, se recusando a manter distância enquanto Caitlin atendia.

— Cisco, são duas da manhã, eu espero que tenha um bom motivo para estar me interrompendo. Interrompendo meu sono, eu quero dizer.

— Você soa bem desperta. – O ouviu gracejar enquanto levava uma das mãos para ajeitar uma mecha do cabelo de Barry de caía sobre a testa. – Precisa vir ao laboratório, é urgente.

— O quê? Agora? – Perguntou numa careta, no mesmo instante que os lábios de Barry desceram em direção ao seu colo, desabotoando sem pressa cada botão do uniforme que ele gostava, fazendo-a engolir em seco, quase fechando os olhos. – Por quê?

— A bolsa de Iris estourou. 

— O quê? – Abriu os olhos imediatamente, empurrando Barry e sentando-se de maneira ruidosa. – Iris está em trabalho de parto?

— Sim. Acabei de buscá-la, como nós combinamos. – Olhou para Barry, que a olhava alarmado de volta, ambos completamente esquecidos de tudo que faziam antes da ligação. Então, a voz de Cisco tornou-se um pouco mais desesperada. – Você precisa vir agora, Cait, eu não sei o que fazer com uma grávida e ela está apertando a minha mão muito forte!

— Okay, certo, eu... Estarei aí em um instante. – Olhou o telefone por alguns segundos ainda, antes de se voltar a Barry, completamente assustado sentado ao seu lado. – Você está bem?

— Sim, apenas... Sinto como se estivesse tendo um ataque de pânico. – Caitlin sorriu brevemente e passou o braço pelos ombros dele, apoiando o queixo por ali.

— Agora, você realmente será papai.

Frisou antes de beijá-lo na bochecha e levantar-se, buscando sua calcinha. Barry a imitou de forma automática, jogando as pernas para o outro lado da cama enquanto balbuciava que precisava de um banho. Abriu o guarda-roupa, pegou uma troca de roupas, que deixara ali por precaução e começou a se trocar. Em segundos, enquanto ainda abotoava o sutiã, o velocista voltou do banheiro já vestido e com os cabelos molhados, perguntando se estava pronta. Após se dar conta do que acontecia, ele a queria no S.T.A.R. Labs o mais rápido possível, mas Cait manteve-se calma: tudo sairia conforme o planejado.

*

O laboratório estava um caos quando chegou. Cecile ajudava Iris a respirar, Ralph e Cisco falavam ao mesmo tempo sobre a situação em uma tentativa de deixar as coisas melhores para a mulher, Joe estava sentado com Jenna em seu colo, a qual mordia um brinquedo qualquer observando atentamente tudo ao redor. Barry, ao seu lado, encarava a tudo perdido, mas agora toda a atenção de Caitlin estava na jornalista que, apoiou-se na cama curvando-se de dor.

— Iris, não force agora. – Avisou, prendendo os cabelos e aproximando-se enquanto colocava as luvas. – Há quanto tempo está sentindo contrações?

— Er... Algumas horas. – Uma careta ultrapassou o rosto bonito enquanto ela segurava a barriga, como se isso pudesse aplacar a dor. – Eu me deitei para dormir e, de repente, a cama estava molhada... Ah, Caitlin, dói tanto!

— Eu sei. – Encarou os demais. – Vocês vão precisar sair, por enquanto. Cecile e eu vamos ajudá-la a se ajeitar aqui.

Todos se calaram e saíram, respeitosamente. Voltou-se para a mulher, que apertou sua mão, e Cecile a encarou.

— Ela precisa trocar de roupa, certo? – Caitlin buscou uma camisola cirúrgica verde e ambas ajudaram Iris a se trocar de forma calma, pois tinha experiência em manter-se no controle em situações de estresse e a promotora, porque possuía a prática de dois partos. – Agora, se deite aqui pra Caitlin fazer... A coisa dela.

— Por favor, diga que não vai demorar muito.  

— O suficiente para que o bebê se encaixe na posição certa para sair sozinho. – Disse, tocando a barriga dela suavemente e auscultando a frequência cardíaca de Nora. – Não se preocupe, nós vamos fazer como combinamos, no seu tempo. Não precisa ter pressa, eu não optarei pela cesariana, a não ser que seja extremamente necessário. Cecile, qual é o intervalo das contrações?

— Cisco contou 50 segundos a cada 4 minutos.

Caitlin confirmou com a cabeça e seguiu para se sentar entre as pernas dela, sem cerimônias. Após proceder a todos os exames necessários, conversou com Iris durante mais algum tempo, tentando acalmá-la e encaminhou-se ao córtex, onde todos se encontravam inquietos e esperando por sua preliminar.

— E então? – Barry se levantou, enquanto Caitlin tirava as luvas e as jogava no lixo.

— O intervalo das contrações é muito grande e ela está com seis centímetros de dilatação. – Todos a encararam, como que esperando continuar a explicação. – Isso é pouco, quer dizer que vamos ficar aqui por algumas horas.

— E quanto a Nora? – Perguntou Joe.

— Está tudo bem com ela. Enquanto Iris faz sua parte, vou continuar monitorando-a para garantir que tudo fique tudo em ordem.

— Iris disse que só quer a cesariana em último caso. – Barry disse, lembrando-a.

— Sim, por isso é importante que elas continuem em sintonia. Posso ter de fazer a cirurgia se Nora ou Iris apresentarem alguma complicação, mas até o momento elas estão bem. – Garantiu com tranquilidade. 

— É claro que Iris pode dar à luz naturalmente. – Ralph deu de ombros tranquilamente. – Ela é determinada como o inferno.

— Vocês podem entrar lá agora, desde que não a deixem ainda mais nervosa. – Avisou-os de forma firme encarando insistentemente Ralph, Barry e Cisco. – Ela vai gritar de dor, xingar a todos nós, apertar demais a mão de vocês, mas... Está tudo bem, nada está fora dos conformes, nós não estamos fazendo nada de errado, okay?

Barry lhe encarou agradecido e seguiu com os outros até seu laboratório. Depois disso, as coisas seguiram seu ritmo normal. Iris se curvava de dor, apoiando-se em alguém, andava de um lado a outro, tentava manter uma constante na respiração, apertava a mão de alguém sentindo cada vez mais as contrações do parto. Ela reclamava, encarava o teto com impaciência, mas não brigava com ninguém, ainda que algumas lágrimas começassem a escorrer por seu rosto suado.

— Caitlin? – Iris começou, sentada em uma bola de pilates azul segurando fortemente suas mãos enquanto tentava respirar fundo sobre o ofego da última contração. As dores agora ficavam mais contínuas. – Eu nunca pensei que isso seria assim, mas... Estou feliz que seja você aqui.

— Eu também.

Sorriu, percebendo os olhos lacrimejados por lágrimas, mas logo Iris estava no meio de outra contração, abraçando-a e escondendo o rosto contra sua barriga, tentando sem sucesso abafar um grito de dor. Passou as mãos pelos cabelos negros e encarou Cisco, que informou as contrações com intervalo de um minuto.

— Barry, vamos nos paramentar. – O viu concordar olhando Iris detidamente, claramente preocupado, antes de sair logo atrás dela quando Joe ocupou seu lugar. Entraram na pequena sala onde ficavam os abastecimentos de seu laboratório de forma estranha, mas previsivelmente silenciosa. Ajudou-o a amarrar o avental cirúrgico, após a esterilização, indicando tudo que ele deveria vestir, enquanto ela própria trocava suas roupas. – O que foi?

— Nada. – Ele inclinou-se para depositar um beijo calmo. – Vamos conhecer a bebê Nora.

Caitlin ainda encarou as costas dele, franzindo o cenho em estranhamento, mas não havia tempo para que pudessem conversar de verdade, então apenas o seguiu de volta ao laboratório, encaminhando-se para a jornalista, que ainda estava em dor sentada sobre a bola de ginástica. Cecile massageava a base de suas costas e ela estava abraçada a Joe, chorando copiosamente de dor.

— Iris, nós iremos para a sala de cirurgia, que está esterilizada, certo?

Barry postou-se do outro lado dela ajudando a colocá-la de pé, enquanto Cecile puxava seus cabelos para trás e os prendia, deixando-a mais livre. Iris encarou Joe, tentando sorrir, em meio aos olhos inchados e molhados. Seu corpo aguentava, é claro, fora moldado para aquilo durante nove meses, mas podia perceber que ela já estava ficando mais cansada.

— Oi, papai.

— Querida, pode não acreditar agora, mas você está linda.

Sorriu, pois Joe era sempre encantado por seus filhos, refletindo a tentativa de sorriso no rosto da própria Iris, que se curvou de dor mais uma vez, apertando sua mão. Então, seguiram o mais calmamente possível para a outra sala, onde ela e Barry a colocaram sentada em um pufe macio, que fora preparado naquela semana. A jornalista decidira que não queria fazer o parto deitada, pois se estivesse sentada seria mais simples para o bebê se encaixar na posição certa, embora não muito mais fácil. Nunca mais fácil.  

— Barry, atrás dela. – O velocista sentou-se atrás de Iris sem pestanejar, deixando com que se apoiasse nele, enquanto Caitlin ajoelhava-se entre as pernas dela. O trabalho de médica da equipe não era cheio de tatos. – Okay, Iris, agora estamos com dez centímetros de dilatação, na próxima contração que vier você precisa fazer força.  

— Tudo bem. – Ela acenou respirando como se estivesse correndo e buscou as mãos de Barry, urgentemente. – Barry, você segura a minha mão?

— Sim, sempre. – Olhou rapidamente o cronômetro do celular na mesinha ao seu lado.

— Em dez segundos, okay? Empurre com calma, pois precisará tentar outras vezes. – Encarou firmemente os olhos negros, que colocavam toda a confiança nela. Nesse instante, a contração veio novamente e a mulher empurrou, esforçando-se para não se contorcer de dor, apesar do grito alto e dos nós dos dedos mais claros ao apertar as mãos de Barry. – Respire fundo, se concentra em mim. Iris, olhe para mim e respire. Barry está fazendo o mesmo atrás de você, apenas concentre-se nisso.

— Isso dói tanto! – Ela chorou, apoiando a cabeça no ombro do ex-marido após outra onda de contrações. – Porque eu quis que fosse desse jeito, Cait?

— Eu sei que dói, mas já vai passar. – Apoiou-se com cautela nos joelhos dela, continuando a tentar passar confiança, pois a dor nublava os sentidos e ela tinha de saber que estava tudo certo. – Em alguns minutos, você terá Nora em seus braços. Só precisa manter a calma, respirar e empurrar no momento certo.

Então, exatamente sete minutos depois, Caitlin tinha Nora em suas mãos após mais uma tentativa de Iris, que já mostrava sinais de exaustão. Sorriu pegando a manta verde que deixara a postos, embrulhando o pequeno bebê, que lentamente começava a chorar. Iris expirou aliviada, mas cansada, suada e com alguns fios de cabelo grudados no rosto, olhando dela para o pequeno ser como se não acreditasse.

— Iris? Ela é nossa.

Barry murmurou atordoado quando a colocou com cuidado nos braços da mãe, que agora apenas era capaz de encarar o pequeno embrulho, sem palavras. Pôde vê-lo respirar com mais calma, finalmente, após saberem que Iris estava em trabalho de parto. Não podia imaginar a sensação de olhar um bebê e saber que era seu, mas pela primeira vez após um procedimento cirúrgico que dera certo, deixou algumas lágrimas rolarem, acompanhando os olhos lacrimejantes do velocista, que a encararam estonteantemente brilhantes.


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