Sutil escrita por Minerva Lestrange


Capítulo 7
What a lovely little mess I've made




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— Não sei como consegue fazer essas coisas tão bem. Você consegue fazer tudo muito bem.

Iris constatou enquanto a acompanhava misturar as claras em neve ao bolo de chocolate que decidira fazer de última hora, pois terminara os preparos para o jantar mais cedo do que previra. Estavam novamente na casa do lago de Barry. Três semanas depois, ele e a jornalista haviam conseguido comprar todos os itens necessários à chegada de Nora e combinaram de ir até lá no próximo dia livre, para que montassem e deixassem tudo pronto.

Todos sabiam que era uma desculpa para relaxarem. Embora fosse meio de semana, não tinham pausa há alguns dias, nem mesmo no final de semana. Caitlin nunca se importara em dedicar a maior parte do seu tempo ao trabalho, tinha de admitir que gostava dos dias de folga, gostava dos dias de confraternização e gostava de cozinhar. Sorriu, ouvindo a outra.

— Cozinho desde a adolescência, na verdade. Gostava de fazer doces, principalmente, e tinha tempo de sobra, porque ficava muito sozinha. – Deu de ombros, colocando a massa na forma e passando o dedo para experimentar.

— Argh, meu pai e Barry cozinham tão bem que é quase humilhante. – Andando pela cozinha como se frequentasse aquele lugar desde sempre, colocou tudo na pia e começou a lavar. Em alguns minutos tiraria o cordeiro do fogo, refogaria os legumes e esquentaria o molho que deixara pronto para acompanhar a carne, para apenas então fazer a calda do bolo. – Por falar em Barry, ele parece mais... Tranquilo.

Caitlin viu-se apertar um pouco mais forte o copo de vidro que tinha em mãos para não deixá-lo escorregar na pia. Esperou que Iris não notasse a tensão em seus ombros. Nada acontecera com Barry, após o combinado que fizeram, mas, às vezes, evitar flertar era apenas impossível, porque era fácil demais. Apenas concordaram em ir com calma, não em esquecer. E não sabia como a mulher poderia reagir a isso, afinal o divórcio era recente e ela estava grávida.

— Você achou?

— Sim, ele está mais eufórico, é claro. Mas, ainda assim, controlado. – O tom de Iris era pensativo. Caitlin terminou o copo e pegou os talheres que não podiam quebrar.

— Er... Também notei que ele está mais focado, evitando riscos desnecessários. Soa como...

— Um treinamento para o que está por vir? – Iris continuou em um tom mais baixo e sequer precisou concordar porque a outra sabia a resposta. – Mas... Além disso, ele pareceu realmente feliz, nas vezes em que o vi nessas últimas semanas.

— Bem, Nora está chegando. – Tentou não pensar que tivesse algo a ver com ela, pois seria egoísta. – Ele disse que deveria se preparar para estar bem quando esse momento chegasse.

— Quero que Barry possa ser o pai que sei que será, mesmo que não estejamos juntos como um casal, então... É bom saber que agora ele está seguindo em frente do jeito certo. – Caitlin não pode deixar de sorrir, pois sabia também que o velocista não seria menos que maravilhoso como pai, e também por perceber o entendimento que tinha com Iris. Ainda que não fosse mais sua mulher, sempre seria sua irmã adotiva. Sequer os via em qualquer conflito sobre a criação de Nora: apesar de Iris ser centrada e um tanto rígida, permitia-se ter seus momentos de doçura com aqueles que amava e Nora a ensinaria, essa era uma certeza. – Ei, Cisco, também notou que Barry parece mais calmo nos últimos dias?

— Er... Sim? – Virou-se rapidamente para vê-lo adentrar a cozinha e responder a mulher com um ar de dúvida enquanto a lançava um rápido olhar e sentava-se ao lado de Iris, junto à ilha de mármore no centro. – Que eu saiba Barry sequer saiu para procurar distração.

— Cisco. – Avisou Caitlin em um tom baixo, pois não sabia se a outra estava inteirada das atividades do ex-marido.

— Talvez ele esteja empolgado com este lugar. – Sugeriu o engenheiro.

— Barry está aqui, perfeitamente bem, empolgado com a casa e esperando Nora. – O velocista esclareceu, adentrando a cozinha sem pressa e ignorando que estavam conjecturando em grupo sobre sua vida, mas ninguém se importou realmente. Então, o viu postar-se ao seu lado, perto demais. – Precisa de ajuda?

— Não, já estou terminando. – Respondeu no mesmo tom baixo, sorrindo-lhe rapidamente.

— Só estávamos comentando que você parece mais leve nos últimos dias e é assim que gostamos que fique. – Disse Iris, assim que ele voltou-se a todos, cruzando os braços e encostando-se na pia ao seu lado.

— Porque, então, não faz nenhuma besteira muito grande, tipo... Viagens no tempo ou entre terras, mudanças de linha do tempo e todos os outros afins. – Complementou Cisco, em seu sarcasmo habitual.

— Isso faz parte do trabalho.

Defendeu-se Barry, fazendo-a soltar um riso e gerando revolta aos outros dois. Com o passar do tempo, começaram a fazer piada de suas próprias tragédias, o que era bom, pois estavam superando.

— Okay, crianças, eu espero que estejam prontos para abrir o apetite para o jantar.

Caitlin terminou de lavar tudo e se virou, enxugando as mãos em uma toalha branca, a tempo de ver Ralph adentrar a sala com uma garrafa de tequila e diversos copos apropriados.

— Oh, obrigado pelo mimo, Ralph! Achei que trabalharíamos o dia todo apenas pelo jantar de Caitlin. – Cisco disse, enquanto ela entregava a sacola de limões ao detetive.

— Vocês são meus amigos, nem deveriam pensar em cobrar. Vou retribuir quando chegar o momento de vocês.

Barry abraçou os dois pelos ombros, mas ambos, Ralph e Cisco, franziram o cenho subitamente pensando na possibilidade. Então, o primeiro passou a abrir a garrafa com mais rapidez, enquanto o velocista se afastava rindo.

— Não, obrigada.

O engenheiro negou com a cabeça estendendo um copo a Barry, enquanto Iris se deitou contra a bancada como podia, devido à barriga enorme, lamentando que não tomasse tequila há meses.

— Não aguento mais estar grávida ou ter este tamanho. – Fechou os olhos, aparentemente cansada. Provavelmente, a fase de não encontrar posição confortável para dormir havia chegado e a acompanharia até o final da gravidez.

— Já está quase no final. – Barry disse da forma consoladora de sempre e, obviamente, Iris o encarou de forma contrariada, afinal ela estava grávida, cansada e com os hormônios à flor da pele. 

— Essas semanas irão passar como se fossem três meses, Barry. – Ela suspirou e levantou-se, sob os olhares de todos, esbarrando em Cisco sem querer. – Vou escorar no sofá e fingir para mim mesma que estou deitada, já que não posso ajudar no jantar ou simplesmente beber.

Sorriu silenciosamente, solidária a mulher. Para alguém como Iris, sempre ágil e empoderada e curiosa, seria realmente o inferno chegar à fase onde não conseguia fazer sozinha algumas coisas e onde o corpo e o bebê falariam mais alto do que a vontade própria.

— Uau. Ela está mais ranzinza que o normal? – Questionou Ralph, encarando o lugar por onde ela desaparecera.

— Posso ouvir o que está dizendo, Ralph. – O detetive levantou as sobrancelhas e Barry confirmou a pergunta, afinal isso era óbvio para quem ficasse com ela nas últimas semanas.

— Melhor não cutucar a leoa. – Murmurou Cisco, antes de virar um copo de tequila.

— Barry, pode checar a carne para mim?

Ele foi imediatamente ao forno, enquanto Caitlin ajeitava o molho e os legumes, após negar a bebida dessa vez. Era dia de semana e, quando bebia, gostava de fazê-lo de maneira apropriada. Momentos depois, enquanto conversavam amenidades e fofocas, pela primeira vez em muito tempo, anunciou que o jantar estava pronto, mas ainda iria fazer a calda do bolo, fazendo Cisco e Ralph gemer exageradamente.

— Ou você pode esquecer a sobremesa de hoje e deixar o bolo para eu comer depois. – Barry sugeriu ao ver os dois começando a protestar e inclinou-se para ela, quase murmurando em seu ouvido. – Eu divido com você.

— Acho que seremos retaliados se não tiver bolo. – Murmurou de volta, no que ele deu de ombros, nunca tirando os olhos dos dela. Era empolgante, perturbador e novo, ou seja, apenas a fazia querer mais.

— Eu não me importaria.

— Oh meu deus, a tensão sexual está estalando ao meu redor. – Cisco disse em tom baixo chamando sua atenção, enquanto Ralph os encarava, concordando. – Preciso ir ao banheiro. Fazer xixi.

— Essa é minha deixa para infernizar as West-Allen.

Caitlin levantou a sobrancelha vendo Barry franzir o cenho de braços cruzados, enquanto ainda encarava pensativamente o lugar onde os amigos estavam.

— Sinto que Cisco está certo. – Concluiu o velocista de maneira lenta, o que a fez rir de forma breve e bater levemente no abdômen dele, antes de voltar a se movimentar pela cozinha.

— Vou preparar a calda de chocolate. – Arranjou uma panela e despejou todos os ingredientes. – Não é tão demorado, só estão reclamando porque são mimados.

— É claro. – Ele encostou-se na bancada ao seu lado, alternando o olhar entre ela e a calda que mexia, sem parar. – E gostamos de mimar nossas crianças.

— Estranhamente, não acho exatamente ruim pensar neles como “nossas crianças”. – Barry deu de ombros, como se fosse apenas a verdade e nada pudessem fazer. – Mas não conte a eles.

— Eu não os deixaria ter o prazer de saberem disso nem se me torturassem. – O velocista se manteve ainda em silêncio por um tempo, algo que já não a incomodava tanto quanto após aquele primeiro beijo ali, meses antes. Agora era apenas... Normal, não precisavam ter assunto o tempo todo para estarem interessados na presença um do outro. – Sabe, sobre a conversa que tinha como tópico meu comportamento, eu realmente me sinto mais calmo. Minha mente parece, finalmente, clara e focada após... Nora e Iris.

Caitlin levantou os olhos, sorrindo satisfeita, pois aquele era o Barry que mais conhecia. Ninguém sabia muito bem lidar com todos os pedaços dele, quando se quebrava ou quando o mundo o fazia. Então, era bom que estivesse se reconstruindo, colocando as peças no lugar, ainda que previsivelmente precisasse de tempo.

— É bom tê-lo de volta. 

— Mas... Não tem a ver somente com a chegada de Nora ou com o quanto gosto desse lugar. – O ouviu prosseguir, lenta e suavemente, incapaz de quebrar o contato visual que estabeleciam com tanta facilidade. – Você é parte disso, Caitlin. Ainda que eu seja um idiota e tente repelir a todos com um humor intragável, às vezes, você não desiste e continua a segurar minha mão, do jeito mais sutil possível, como sempre fez.

— Barry...

— Nessas últimas semanas... – Continuou, ajeitando seus cabelos ao lado do rosto de forma tranquila e riu brevemente. – Você me deu um fora e, ainda assim, continua me consertando. Me mostrando, que, às vezes, as coisas não precisam ser rápidas e impensadas para serem grandes e importantes. Elas apenas são.

— Como nós?

Sussurrou quase incapaz de pensar em algumas palavras após tudo que ele dissera. Barry parecia ter passado algum tempo refletindo e se mostrava tão certo sobre, que o viu menear a cabeça de forma simples em confirmação, enquanto sorria levemente. Antes que pudesse se impedir, esticou-se nas pontas dos pés para alcançar os lábios dele.

Sentiu os dedos em sua nuca entrelaçados ao seu cabelo preso e quase se deixou amolecer ali, apertando a camisa dele em uma das mãos, porque apenas o queria mais perto o tempo todo, mas o ruído de passos pelo corredor que levava a cozinha fez com que se afastassem, sem aprofundar o contato.

— Vou arrumar a mesa do jantar.

Caitlin sorriu e concentrou-se na calda de chocolate, distraída em relação à conversa de Cisco, Ralph e Iris, a qual havia simplesmente sentido o cheiro da sobremesa. Horas depois, quando haviam se alimentado à mesa, como uma família normal – exceto que seus assuntos não o fossem – quando a casa já estava silenciosa e escura há algum tempo, desceu as escadas suavemente para que as tábuas lisas não regessem embaixo de si.

A TV estava ligada em um filme de ação famoso e Barry estava completamente enroscado em um cobertor vermelho. Levantou as sobrancelhas, prendendo um riso, pois para ela não estava tão frio assim. Supôs que o velocista estivesse dormindo, tão quieto se encontrava, mas não fizera qualquer ruído para anunciar sua presença, visto que usava meias nos pés. Assim, aproximou-se calmamente e levou os dedos aos cabelos macios. No entanto, o sono de Barry era leve e logo revirou-se no sofá para encará-la pacificamente, como se soubesse quem era. 

— Eu ouvi a TV ligada. – Sentou-se no espaço que ainda restava no sofá, de frente para ele, explicando-se em voz baixa. Então, o viu olhar a TV de maneira confusa para, então, suspirar.

— Fazia um tempo que queria ver esse filme, mas é uma droga.

— Julia Roberts e Hugh Grant são sempre a melhor opção.

— Tem razão.

Sorriu sugestiva, porque ouvia isso algumas vezes no decorrer da semana. O silêncio instalou-se enquanto os dedos dele percorriam um caminho desconhecido por seu braço e seus olhos mantinham-se concentrados um no outro. Barry era charmoso mesmo ao acordar, com os cabelos bagunçados, os olhos inchados e a voz mais rouca pela falta de uso. Então, com um suspiro rendido, inclinou-se, apoiando-se no ombro dele, juntando suas testas. Não de maneira provocativa, apenas... Aconchegante.

— Quando disse para irmos com mais calma, não imaginei que seria impossível tentar manter distância. – Fechou os olhos, levando a mão aos cabelos macios novamente. – Por que não consigo ficar longe de você, Barry Allen?

Seus narizes se enroscaram e logo seus lábios estavam juntos novamente, ocasionando aquela sensação bem vinda de estar no lugar certo, aprofundando o beijo que tiveram de esconder horas antes. Beijá-lo era quase como chegar em casa e poder tirar os saltos depois de um dia cansativo de trabalho – exceto que muito melhor. Era... A coisa certa a se fazer e Barry estava bem ali, sob ela, deixando-a perpassar por toda essa dimensão que eram.

Sentiu-o correr uma das mãos por sua barriga, rodeando-a e então a puxando por cima de si para que se deitasse entre o corpo dele e o encosto do sofá. Foi tão rápido que, mesmo seu pequeno susto deve ter passado despercebido dos ouvidos alheios. Ajeitou-se embaixo do cobertor vermelho, contente que o sofá era espaçoso o suficiente, ou seja, tanto quanto um sofá caro podia ser e, ainda que não fosse dependente de calor, contente por senti-lo quente ao ser puxada para perto.

— Não fomos feitos para manter distância um do outro.

Murmurou Barry, perto a ponto de sentir sua respiração. Lembrou-se de quando Cisco a procurou para que o tirassem da Força de Aceleração. Sabia que sequer precisava insistir, pois viver em um mundo onde ele não estivesse era um tanto... Desanimador. Às vezes, pegava-se atordoada com a forma fácil como Barry entrara em sua vida, quebrando suas barreiras todos os dias sem muito esforço. No entanto, estando entre os braços dele naquele momento compreendia sua falta de vontade em evitá-lo.

— Provavelmente tem razão.

O beijou novamente, dessa vez com mais afinco, pois tê-lo tão próximo era apenas tentador demais. Sentiu a mão pressionando sua cintura, enquanto se aconchegava contra ele, os pés se enredando da mesma forma, ambos de meia, e desejou que o tecido apenas sumisse milagrosamente.

Deslizou as unhas pelas costelas, embaixo da camiseta preta, buscando mais contato, mais urgência e rapidamente foi atendida ao ter suas costas contra o sofá, o corpo do velocista parcialmente sobre o seu e a boca em seu pescoço. O perfume com notas amadeiradas a levava a outro nível e quase não a deixava pensar na barba rala que a arranhava de maneira excitante. “Deus, que ele nunca tire essa barba”, pensou brevemente, segurando seus cabelos.

— Estou quase arrependido por ter convidado todos pra vir. – Caitlin riu baixinho, quando Barry voltou a encará-la após um beijo rápido. – Eu faria todo o serviço de arrumação com tranquilidade e, depois, teria você apenas pra mim. 

— Em um lugar apropriado. – Complementou sinalizando o sofá que ainda dividiam.

— Eu não sei, gosto do sofá. – O viu dar de ombros, sorrindo tranquilamente enquanto a mão escorregava pra cima e pra baixo em sua cintura. – A primeira vez que dormiremos juntos será nele.

Ainda o encarou por um momento, chegando à conclusão de que era apenas uma das verdades contra a qual não lutaria. Por isso, o viu desligar a TV e acomodar-se novamente, dessa vez na completa e bem vinda escuridão da casa do lago. Barry puxou o cobertor sobre eles e apertou Caitlin contra si, seus dedos juntos sobre sua barriga, enquanto aspirava o aroma de seus cabelos castanhos, mais claros que o comum.  


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Notas finais do capítulo

Ei!
Me deixem saber se gostaram do desenvolvimento pelos comentários. Quando voltar será para trazer o final da história ;)



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