Sutil escrita por Minerva Lestrange


Capítulo 6
I wish time had better timing for you and me




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Horas depois, já se encontrava em seu laboratório. Com a blusa manchada de sangue e levantada até a altura dos seios, deixava à mostra a ferida do tamanho do palmo de sua mão, onde fora atingida pelos cacos de vidro refeitos em forma de lança por aquela maldita Meta. O fato de conseguir curar-se rapidamente era ótimo, mas o vidro encravado fundo em sua carne daquela forma não deixaria seu corpo agir corretamente.

Tentaram contê-la rapidamente, mas o fato da loja de departamento ser completamente envidraçada jogara contra eles, pois a Meta conseguia controlar essa matéria, e sequer poderiam agir sem qualquer cuidado com tantas pessoas no lugar em pleno sábado. Não haviam conseguido pegá-la e fizera um bom estrago, tanto no lugar, quanto em Caitlin.

Estava completamente desconcentrada, se precisasse colocar a culpa em algo além de si mesma. Barry a desestabilizava como ninguém, fora assim desde o começo. Ele estava sempre machucado, ela estava sempre cuidando para que não o perdesse, assim como fora com Ronnie. Inconscientemente, o colocara praticamente no mesmo patamar, por que... Barry fora o primeiro a fazê-la sorrir, como Ronnie fizera uma vez. E escolhera ficar em Central City por ele, invés de seguir uma vida com seu próprio marido, porque cuidara dele por nove meses e não podia conceber uma vida onde não estivesse fazendo isso.

Merda! Apesar da prática, apertou a pinça médica com mais força, fazendo o vidro fincar ainda mais na carne e, com raiva, jogou o objeto na mesa suja à sua frente. Olhou para cima, respirando fundo. Sabia que Barry não a colocara nisso por querer, sabia que, talvez, se houvesse pensado racionalmente, não os colocaria em tal situação, mas não podia deixar de irritar-se, porque ela não precisava disso, depois de conformar-se com a amizade. Não precisava ter parte dele para depois perdê-lo, como sabia que iria.

— Ei, precisa de ajuda? – Fechou os olhos, ouvindo a última voz que gostaria naquele momento.

— Não. – No entanto, Barry estava ao seu lado no momento seguinte, olhando criticamente para o ferimento. – Eu só... Estava tremendo e não consegui alcançar um dos cacos.

— Você estava tremendo? – Os olhos verdes a encararam de forma cética.  

— Deve ser a adrenalina ou algo do tipo.

— Venha aqui. - Ele segurou sua mão sem esperar por resposta e a direcionou até a maca que, geralmente, era dele. Com cuidado para que os movimentos não agravassem ainda mais o estado do ferimento, a ajudou a se deitar e buscou os materiais que já vinha usando.  – Não será nada como quando me conserta, mas isso eu posso fazer por você.

Continuou a observá-lo enquanto tentava ignorar a dor de ter os cacos sendo lentamente tirados do ferimento. Barry ainda vestia o uniforme do Flash, com a máscara para trás, o que costumeiramente deixava seu cabelo revoltoso. O rosto estava corado por todo o esforço das horas anteriores, onde tiveram de correr contra o tempo para deixar todas as pessoas a salvo e tentar pegar a Meta que atacara a loja de departamentos. Parecia completamente concentrado, uma vez que não se tratava de uma tarefa comum a ele.

Meneou a cabeça, não conseguindo evitar um pequeno sorriso lacrimoso ao notar a inversão de papéis e, possivelmente, os motivos dele para empenhar-se naquilo. Barry continuava a querer estabelecer aquele laço, mostrar que estava ali, cuidando dela, se fosse necessário. Ele queria impressioná-la e, talvez, esse fosse o fator crucial para rachar seu coração. Mordeu os lábios, levando uma das mãos ao braço dele assim que começou a ajeitar o curativo com gases e esparadrapos.

— Barry, precisamos conversar. Realmente precisamos. – Sussurrou sob o olhar solícito. No entanto, ele voltou a se concentrar no curativo, mais lentamente do que antes. O velocista a ignorou por alguns momentos, apertando os lábios em uma linha tensa e formando uma pequena ruga entre as sobrancelhas. Os olhos deixaram de lado a paz e a segurança que ostentava ao chegar ali e ajudá-la. – Por que está evitando?

— Não quero saber como a conversa termina. – Ele murmurou de volta, colando a última parte do curativo, apesar de agora não se importar minimamente com isso.

— Sempre conversamos sobre tudo. – O viu sorrir amargamente, apoiando-se no colchão, logo ao seu lado.

— Sim, por isso sei que estará certa e eu não quero que esteja. Eu conheço você, Cait.

— Não podemos agir como duas crianças inconsequentes, não é? – Tentou ajeitar-se na maca, mas não conseguiu fazer muito além de somente perceber que a dor continuaria ali por algum tempo. – Eu não costumo deixar acontecer o que não planejei. Aquela noite na casa do lago foi atípica e inesperada. Então, preciso ter certeza da sua certeza, por que... Não quero ter que me arrepender de nós dois, se realmente formos a algum lugar.

— Você sabe que, independente do que está escrito no jornal do futuro, Iris e eu...

— Sim, mas... Sem Iris, como você está? Sabia o que estava fazendo quando me beijou ou era só um teste? – Meneou a cabeça, não conseguindo impedir-se de conjecturar sobre. – Parou pra pensar sobre nós dois, realmente, ou ainda está sob esse impulso incerto? Por que eu não quero ser um...

— Cait, você não é um ato impensado. – Ele se defendeu rapidamente, arregalando um pouco os olhos, quase ofendido. – Nunca tive a intenção que se sentisse assim.  

— Eu sei, conheço você. Mas não acha que há muito que colocar em ordem agora? Você será pai, há uma crise chegando. – Sem pressa, acariciou-o sobre a barba por fazer, tentando tranquilizá-lo por um instante.

— Viu? Eu disse que teria razão. – Ele forçou um sorriso, antes de buscar a mão que estava em seu rosto e entrelaçar seus dedos.

— Não estou te afastando, Barry. – Insistiu sussurrando. – Apenas... Se continuarmos assim, você terá meu coração antes que eu possa perceber.

O viu encará-la com surpresa, como se não esperasse a sinceridade e fosse novo o fato de querer se proteger. No entanto, Caitlin era assim desde que se lembrava. A diferença é que sempre fora de guardar tudo em si mesma, exceto que ele a fazia honesta demais apenas com um olhar. Não via sentido em não sê-lo de qualquer forma, pois ainda era Barry, ainda era o seu amigo antes de tudo, um dos melhores. Eles superariam, se fosse necessário.

Barry não soltou sua mão, como achou que iria, mas continuou a encarar aquele ponto em específico por alguns momentos, cultivando o silêncio, que, apesar de tudo, não era desconfortável. Pela primeira vez, desde que o beijara na casa do lago, conseguia pôr em palavras o que sentia a respeito. Além disso, o fato de Barry ainda estar ali a tranquilizava; as coisas haviam mudado, mas nem tanto, certo? Então, ele calmamente levantou os olhos, conservando ali alguma ressalva, buscando as palavras certas enquanto a encarava firmemente.

— Não nos incluímos em todas essas coisas que devem ser colocadas em ordem. Nós dois apenas... Somos, independente do que esteja acontecendo ao redor. Sempre foi assim e sempre será, nem tudo é novo entre nós. – Ele sorriu rapidamente, como que se lembrando de algo, e inclinou-se para mais perto, ajeitando seu cabelo. – Entendo sua vontade de dar um passo atrás, porque o futuro é incerto e, se estivesse em seu lugar, talvez fizesse o mesmo. Mas Cait, eu não tenho qualquer dúvida sobre nós. Ao contrário, pela primeira vez em bastante tempo, finalmente tenho certeza sobre algo.

— Barry...

— E não me surpreendo que minha única certeza no momento esteja ligada a você. – Caitlin sorriu de volta aos olhos verdes, mais calmos a cada palavra. – Porque estou uma bagunça completa por inteiro e, de alguma forma, você sempre vêm e dá um jeito de me consertar. 

Suspirou quase inconformada pela persuasão daquele sorriso pequeno e dos olhos brilhantes novamente. Não queria ser a pessoa que o perderia, porque tudo sobre a ideia deles dois a agradava. Se acostumara a cuidar de Barry e, inconscientemente, com o passar do tempo, passara a fazer muito mais do que consertar a parte física. Ele se quebrava facilmente, não apenas de maneira externa. Quando se quebrava internamente era denso, complicado e imprudente. Apenas esperava que Barry soubesse a recíproca quanto a ela.

— Então, iremos com calma, certo? – O observou concordar, ainda sem tirar o pequeno sorriso do rosto e se abaixando para depositar um beijo calmo em sua têmpora.

*

— Olá, fofo.

Era a voz de Caitlin, mas não havia o mesmo tom delicado e geralmente calmo. Por isso, tranquilamente tirou os olhos do computador à sua frente e encarou os orbes azuis gelados de Killer Frost na médica, ainda de cabelos castanhos.

— Ei, Frost. – Escorou contra a cadeira, tentando evitar um sorriso, vendo-a levantar as sacolas que tinha em mãos e se aproximar da mesa de madeira. – Trouxe meu jantar? Você?

— Tive que deter um meta há alguns quarteirões e Francisco mencionou que esteve preso nesse lugar o dia todo. Por um infortúnio, fui designada a trazer sua comida. – Ele se levantou, pegando as sacolas. Era estranho, mas interessante vê-la agir sob as roupas e características de Cait, como se fosse uma pessoa comum caminhando pelos corredores da CCPD. – Caitlin o avisou algo sobre você não poder ficar sem comer, mas prestei atenção somente nos primeiros dois segundos.

— Como sempre. – Murmurou observando-a andar lentamente pelo local analisando tudo com bastante interesse. – Estranho poder andar aqui sem estar na iminência de ser presa?

— Gosto de sapatear no perigo, certo? – Ela lhe sorriu astuta, abrindo pastas espalhadas e lendo os dados por alto. Enquanto isso, Barry abria uma caixa de frango frito e pegava todos os ketchup possíveis, organizando tudo à sua frente. – Seu trabalho parece... Entediante. Quem imaginaria que o Flash pudesse passar os dias dentro de um escritório e recebesse ordens de alguém certinho como Singh?

— Singh é um cara legal, ele só quer fazer as coisas do jeito certo. E não recebo ordens diretas dele, mas de Joe, então... . – O homem sentou-se sobre a mesa, enquanto Frost se aproximava para pegar o que comprara a si mesma. – Além disso, seguir ordens não é entediante, é apenas normal.

— Em seu mundo, querido.

Deu de ombros, sentando-se na cadeira que ele antes ocupava, calmamente ocupando-se da embalagem de seu sanduíche de queijo quente. Sentia os olhos de Barry sobre si, quase como se não acreditasse que estava em seu escritório de verdade, mas, ainda assim, houvesse aprovado a iniciativa. Barry gostava de comida e, ultimamente, cada vez mais da presença de Caitlin, ainda que somente Killer Frost estivesse interagindo no momento.

— O que realmente está fazendo aqui?

Ela se manteve em silêncio por algum tempo, somente mastigando, os olhos baixos em sua comida. Lá fora, o movimento do departamento de polícia diminuía a cada minuto, pois todos iam encerrando seus turnos e o ambiente se tornava cada vez mais escuro. Gostava de trabalhar quando todos já haviam ido embora, pois não havia ninguém que o interrompesse e o distraísse.

— Caitlin parece um pouco inquieta. – Isso ganhou a atenção do perito. – Iris está entrando nas últimas semanas de gravidez e o último parto que ela fez foi um pouco conturbado, como nós dois sabemos.

— Bem, estamos cuidando para que nenhum meta atrapalhe dessa vez e Iris possa desfrutar, ao menos, desse momento com tranquilidade. Tanta tranquilidade quanto seja possível para um parto, eu quero dizer. – Barry fez questão de repetir o que vinha repetindo para si mesmo nos últimos meses, desde que descobrira sobre a gravidez da mulher. No entanto, Frost continuou, mais séria dessa vez.

— Não é só isso. – Ela o encarou diretamente. – Quanto mais perto do nascimento de Nora, mais próxima é a Crise. Tenho a impressão de que Caity tenta ignorar isso, mas seu subconsciente está sempre em vigilância.

— Ela parece um pouco mais tensa nos últimos dias, realmente.

Franziu o cenho por um momento, pois, pensando bem, não era um cuidado remanescente da conversa que tiveram. Era uma preocupação urgente, pois eles não eram urgentes em momento algum e estava aprendendo a lidar com isso, com as vontades e inseguranças dela em relação a ele, pois Barry era incerteza e perigo colidindo constantemente e a entendia. Apenas... Não conseguia deixar de cobiçá-la. Pelo contrário, via-se cada vez mais fascinado pela mulher, por tudo em que não havia parado para prestar atenção por todo aquele tempo.

— Caitlin, se pudesse, estaria surtando com a ideia de perdê-lo. – Ele a encarou com certa surpresa por estar verbalizando algo assim. – O tempo está passando e tem brincado de fingir que há toda uma vida pela frente. 

— O que quer que eu faça? – Soltou a caixa de frango frito na mesa ao seu lado, de maneira frustrada. – Cait pediu espaço para pensar e foi o que eu fiz. Somos amigos, antes de tudo, nunca irei desrespeitá-la.

— Não seja estúpido, Flash! – A mulher também se levantou, realmente encarando-o como se assim o considerasse, o que não duvidava. – Ela pediu para ir devagar para que você pensasse, não ela. Para que você tivesse certeza sobre seguir em frente, porque Caity já tem certeza há muito tempo.

— O que quer dizer? – Killer Frost suspirou, não se impedindo de revirar os olhos.

— De todas as coisas que sei sobre Caitlin Snow, a principal é que ela não pisa em falso. Nunca. – Então, a mulher aproximou-se quase perturbadoramente, apoiando as mãos na mesa logo ao lado dele, encarando-o de frente. – Ela jamais o beijaria se julgasse estar cometendo um erro. Ela estava segura, Barry, talvez porque confia até demais em alguém que não sabe a hora do próprio jantar. Mas a questão aqui é: e quanto a você?

— Eu nunca faria o que fiz para tentar usá-la como uma escada para superar Iris, se é o que está sugerindo. – Barry retrucou, sem se mover ou se intimidar, que é o impacto que ela gostaria de causar. – É Caitlin! É apenas fácil me aproximar e beijá-la, como se houvesse feito isso por todo esse tempo. Consigo me imaginar desfrutando dessa rotina de... Nós dois. Porque adoro tudo sobre ela e queria que se sentisse à vontade em me deixar saber mais. Agora que a estou olhando, quero poder ver tudo.

— Então, diga isso a ela de uma vez. O tempo está escorrendo por seus dedos sem que perceba.

— Não é tão simples assim. – Ele retrucou em tom desgostoso.

— Tão doce e tão tolo, Barry Allen. – Frost meneou a cabeça, agora levantando um sorriso nos lábios bonitos, levando uma das mãos para acariciar o rosto levemente barbado. – Porque não me beija para ver quão simples é?

— O quê? – Apesar do estranhamento inicial, o velocista não se afastou, mas a encarou de forma mais leve e risonha. – Isso seria beijar Caitlin?

— Eu não sei. Você gosta da ideia de me imaginar no corpo de Caity beijando outras pessoas, enquanto ela é totalmente compreensiva com sua indecisão? – A mulher inclinou a cabeça, sorrindo animadamente enquanto ele apertava os lábios em uma linha fina.

— Quer dizer que, se eu estiver com Cait, serei o único que você vai beijar?

— Você adoraria, não é? – Murmurou, correndo os dedos pelo colarinho da camisa dele. – Este é um ótimo paradoxo.

— Paradoxo interessante ou não, não irei beijá-la.

Segurou as mãos de Frost, afastando-a lentamente antes de levantar-se ouvindo o riso satisfeito da mulher. Barry não negava que seria interessante saber como ela poderia ser quando não queira matá-lo com seu beijo, mas sua mente estava completamente em Caitlin e sentia que a estaria traindo se a beijasse ali. Querendo ou não, ainda era o corpo dela, ainda se tratava de suas vontades. 


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