Sutil escrita por Minerva Lestrange


Capítulo 5
The art of eye Contact




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— Não sei se é correto dizer isso, mas estou feliz que posso voltar a beber meus drinks favoritos. Deus, senti tanta falta de uma piña colada!

Cecile exclamou levando o copo aos lábios e fechando os olhos para saborear a bebida. Era seu aniversário e, claro, Joe não deixaria que passasse em branco. Gostava que pudessem se encontrar naqueles momentos mais amenos, sem toda a tensão do laboratório, tanto para estabelecerem aquele laço, quanto para conseguirem alguma tranquilidade em meio ao caos. Além disso, estando no meio de todos não precisaria concentrar-se em Barry.

Tomou o que deveria ser a décima dose de gim tônica, olhou ao redor e suspirou, vendo-o conversar com Iris. Do alto de seus iniciados oito meses, os efeitos da gravidez chegaram com tudo. Seus membros incharam, assim como o rosto, e a mulher finalmente parecia cansada. Saltos haviam sido provisoriamente abolidos de seu guarda-roupa e, apesar de elegantes, suas roupas eram mais confortáveis do que qualquer outra coisa.

Ainda assim, ela estava radiante, parecia feliz como nunca antes. Não era o ideal dizê-lo, mas soava como se ela houvesse esperado por isso o tempo todo, pois, não a vira daquela forma em nenhum momento desde que a conhecera. Sabia que ela e Barry não estavam exatamente tranqüilos pelo que viria, mas, ainda assim, aquilo compensava tudo. Nora estaria ali, como um bebê, com eles e Barry a teria para si ao menos um pouco.

Abaixou os olhos, sentindo-se pequena ao pensar nisso. A Crise chegaria em algum momento e ele estava com medo e inseguro e Caitlin não podia fazer muito, pois todas as palavras que trocaram após repeli-lo a mais de uma semana eram formais e distantes. Haviam complicado tudo com aquele beijo e Frost internamente a culpava, pois estava sendo uma covarde no intuito de proteger seu coração.

— Ei Caitlin, estamos combinando de comprar alguns móveis para o quarto de Nora. – Iris aproximou-se enquanto Barry foi parar ao lado de Cisco e Ralph. – Temos de comprar coisas que não a deixem entediada e eu adoro comprar coisas.  

— Logo ela estará descartando tudo mais rápido do que qualquer um de nós. Tudo que é novo é mais interessante por alguns dias. Então o ciclo recomeça. – Ela encarou a filha com carinho, sentada sobre o tapete da sala, e Caitlin sorriu. Não conseguia imaginar-se sendo uma mãe tão dedicada, carinhosa e rígida na medida certa como ela.

— Cisco e Ralph disseram que vão nos ajudar, até porque não consigo andar muito por qualquer loja de departamento que tenha mais de um andar. – Iris passou a mão pela barriga, desgostosa com a nova inabilidade gestacional.

— Posso ajudá-la. Amanhã é sábado, se não tivermos que ir ao laboratório...

— Ah, amanhã é ótimo para mim também.

— Gostaria de ir, garotas, mas combinei com a minha mãe de passarmos o final de semana com ela. – Cecile disse encarando Iris. – Vou separar algumas coisas que Jenna não usa mais para levar.

— Você não doou quase tudo? – A mulher olhou Caitlin, quase culpada.

— Ainda não consegui me desapegar. – Todas riram, mas a Promotora colocou a mão sobre a de Iris. – Acho que será mais fácil se conseguir colocar na minha mente que estou repassando todas essas coisas a alguém especial. Joe também gosta da ideia, apesar de ter certeza que ele escondeu alguns itens de quando ela nasceu.

— Isso é a cara do papai.

Iris constatou e Caitlin levantou-se, dizendo que precisava ir pegar outro drinque, embora ao voltar-se para o balcão onde o se encontrava, tenha visualizado Barry e Cisco virando uma dose de tequila. Levantou as sobrancelhas, perguntando-se se havia ali a mistura que podia deixar Barry bêbado, mas não teve dúvidas quando se aproximou um pouco mais, desviando de alguns colegas do trabalho de Cecile.

— Cara, espero que tenha tirado o número de Cait da emergência. – O latino olhou incisivamente para o copo e depois para Barry, que pedia mais uma dose. – Estão esquisitos há semanas e se ligar para tirá-lo de alguma encrenca alcoólica... – Ele soluçou, fazendo-a revirar os olhos. – Ela vai congelá-lo. Frost, eu quero dizer.

— Frost não teria muitos problemas com isso. – Lembrou-se das vezes em que Frost usou seus poderes contra Barry, pois não era sua maior, mas acima de todas as coisas, gostava de provocá-lo. Outra dose foi colocada na frente dele. – Você voltou a ser o número na minha emergência.

— O que não faz muito sentido, afinal ela é a médica.

— Pode chegar rápido onde quer que eu esteja, certo? – Cisco concordou, virando a próxima dose em uma careta que não durou muito. – Então, tudo bem.

— O que está acontecendo? Está agindo como se Caitlin houvesse roubado seu brinquedo favorito no parquinho.

Ouviu o suspiro irritado de Barry e, quando reparou, encontrava-se ouvindo a conversa alheia escondida pelo canto da parede. Encarou o próprio drinque vazio e resolveu que deveria sair dali, antes que a situação ficasse ainda mais constrangedora.

— Apenas... – Olhou para cima, vendo-o dar de ombros. – Discordamos em algo.

— Parecem discordar muito veementemente. – Cisco complementou, o que a fez estreitar os olhos quase cinicamente. – Todos estão percebendo. Joe veio perguntar o que havia de errado com você.

— Dentre todas as coisas erradas?

O tom cansado a fez morder os lábios mais forte do que estava acostumada. Precisava realmente sair dali. No entanto, assim que se virou, seu ombro esbarrou no de Ralph, que a encarou animadamente, antes de praticamente gritar seu nome e abraçá-la. Dentre todos ali, parecia o único que ultrapassara todos os limites do álcool – e não era exatamente tarde da noite.

— Caity! – Ralph passou um braço por seu ombro a levando até onde Barry e Cisco estavam, embora seus passos pequenos os impedisse de ir mais rápido. – Você parece um pouco pra baixo, Frost é sempre mais divertida nas festas.

— Ralph. – Sibilou tirando as mãos dele de seus ombros, exatamente ao lado de Cisco. – Frost está sempre comigo e ela não gosta que me insultem.

— Eu não...

— Sim, você fez. – Cisco e Ralph levantaram as sobrancelhas, surpresos com seu tom, afinal Caitlin só chegava àquele ponto se estivesse muito irritada. Suspirou, colocando a taça no balcão, logo ao lado de Barry, que somente observava impassível seus movimentos, como havia sido por dias. – Eu vou ao banheiro, com licença.

Deu às costas aos homens após o murmúrio irritadiço, ouvindo Ralph soltar um som descrente entre a risada. É claro que percebera a estranheza durante aquelas semanas, mas estava bêbado demais para manter qualquer tato naquele momento. Subiu as escadas mais rápido que pensara e seguiu pelo corredor até a última porta.

Então, Barry não contara nada a Cisco, o que era estranho, mas ainda mais estranho fora o sentimento ridículo de perda ao ouvi-lo dizer que seu nome não estava mais na chamada de emergência. Quer dizer, sempre estivera! Desde o início, Caitlin era responsável por sua saúde e mais ninguém. Gostava que fosse assim, apesar de tê-lo visto, como ninguém, adentrar aquela espiral em que só fazia mal a si mesmo naqueles últimos tempos.

Mordeu os lábios, empurrando a porta, pois sabia o motivo de gostar disso: era a única coisa que apenas ela podia fazer. Balançou a cabeça e sentiu a porta ser empurrada de volta. Olhou para trás, vendo Barry adentrar rapidamente o banheiro antes que pudesse fechar a porta. Tudo aconteceu mais rápido do que, provavelmente, sua mente um pouco lenta pela bebida digerira.

— Barry! – Ele virou-se trancando a porta. – O que está fazendo aqui? Eu preciso ir ao banheiro.

— Ah, por favor, como Caitlin você mente muito mal! – Bufou, cruzando os braços. – Vamos conversar.

— Aqui? No banheiro da casa de Joe? – Levantou as sobrancelhas.

— Considerando que tem me evitado em todos os outros momentos...

— Okay. – Levantou as mãos impedindo-o de continuar a acusá-la, pois sabia que estava certo. – Vá em frente.

Então, ele estava ali apenas a encarando em silêncio, como se houvesse perdido a linha de raciocínio, pois não havia por onde começar, embora houvesse muito a dizer. Só queria que as coisas fossem esclarecidas e tudo voltasse ao normal. O viu até abrir a boca algumas vezes, tentando, e por fim desistindo. Encostada contra a pia sentiu-se culpada pelo impasse e por perceber como parecia deixá-lo ofendido e incerto. Abaixou os olhos em contrariedade, pois não precisavam ter chegado aquele ponto.

— Não pode... – Momentos depois, Barry começou em tom baixo, encostado à parede oposta, mantendo a distância. – Decidir se afastar e então me olhar com esse olhar ferido, como se eu estivesse a machucando de propósito. Porque eu não estou, essa nunca foi minha intenção.

— Barry, você não vê? – Meneou a cabeça, inconformada. – Não quero ter que me afastar. Não quero que haja essa distância entre nós.

— Então não deixe! – Conhecia cada expressão do que se passava em suas feições e agora ele lhe parecia mais indignado do que qualquer outra coisa, porque não conseguia entendê-la.

— Quero que as coisas voltem ao normal. – Se esforçou para não levantar o tom de voz e denunciar a todos que estavam discutindo o indiscutível no banheiro. – No meu normal, seus problemas românticos têm a ver com Iris, não comigo. E isso é muito mais simples. Nem estaríamos discutindo se tudo estivesse no devido lugar.

Ele franziu o cenho, confuso por um segundo e então parecendo atordoado, como se não houvesse cogitado ser essa a discussão naquele momento. Iris não era para ser um tópico naquela conversa, mas pensara sobre isso há muito. Quando eles estavam juntos, os problemas não eram seus – afinal Barry era praticamente um ímã.

— Iris e eu somos melhores como amigos do que como um casal. Devíamos ter percebido isso há muito tempo. O que quer que eu faça?

O viu articular lentamente e suspirou, lhe dando as costas para apoiar as mãos contra a pia. Era complicado retrucá-lo quando seus olhos pareciam adoráveis, mesmo demonstrando o desapontamento. Percebeu-se mordendo os lábios antes que pudesse se controlar.

— Isso... Vai passar, Barry.

— Está tão arrependida assim? – Barry perguntou após alguns momentos, no que o encarou pelo espelho. Como poderia mentir olhando diretamente naqueles olhos que, agora, pareciam mais desolados do que ofendidos? Abriu a boca para respondê-lo que sim, pois aquilo nunca deveria ter acontecido. No entanto, em momento algum se arrependera de verdade, pois queria beijá-lo há tanto tempo que sequer conseguia alcançar qualquer sentimento de culpa. Cometeram um erro, mas estava longe de sentir qualquer coisa próxima a arrependimento. Então, o olhou insistir, cada vez mais próximo de suas costas, o espelho permitindo que se olhassem. – Cait, você está? Se realmente estiver, faremos as coisas voltarem ao normal. Sem distância e sem silêncios esquisitos.

Num estalo, entendeu porque Iris, depois de tanto tempo enxergando-o como amigo e irmão adotivo, havia sucumbido. Ele era persuasivo, com toda aquela calma, o respeito e o olhar sincero. Antes daquele momento, Caitlin tinha todas as suas certezas inabaláveis sobre como deveriam ser, apesar de ser incômodo como o inferno. Então, Barry se aproximava novamente e abaixava sua guarda, exatamente como na outra noite, pois, apesar das dúvidas, ele a fazia esquecê-las com mais facilidade do que gostaria de admitir.

— É mais complicado do que estar ou não arrependida. – Constatou vendo-o abaixar a cabeça, como fizera momentos antes. Sentiu-se estúpida por adentrar esse caminho, pois queria que tudo voltasse ao normal, apesar da ideia lhe doer como o inferno enquanto Barry continuava a parecer desapontado. Então, suspirou antes de deixar-se mergulhar no problema que vinha evitando. – Em momento algum nessas últimas semanas estive arrependida, Barry, mas a questão é...

Se interrompeu ao ver os olhos dele parecerem extremamente aliviados quando levantou a cabeça para encará-la novamente. Aproximando-se o suficiente para que pudesse tê-lo a apenas centímetros de suas costas, sentiu-o apoiar a testa contra sua cabeça e correr os dedos por seu braço até entrelaçar seus dedos, desconcertadamente. Fechou os olhos por alguns momentos, pois o corpo dele atrás de si era mais do que pudera planejar para aquela noite em especial.

— Nós vamos dar um jeito nisso, podemos fazer isso. – Barry apertou seus dedos contra os dela e a sorriu, pelo espelho, com a intimidade e a forma de quem o fazia todos os dias. – Certo?

— Não, se continuar me olhando assim. - Murmurou de volta, como se fosse um segredo, distraidamente analisando-o, no que o velocista repuxou os lábios em um sorriso pequeno satisfeito, abaixando a cabeça para deixar um beijo em sua bochecha, tão próximo de seu pescoço que a arrepiara, fazendo-a morder os lábios e torcer os dedos dele nos seus, receosa. - Barry.

Avisou quase rendida ao senti-lo distribuir uma trilha de beijos por seu maxilar, seguindo diretamente em direção ao pescoço e, consequentemente, àquele ponto fraco logo antes de sua clavícula. No entanto, ele somente fez questão de continuar o que fazia, enlouquecendo-a com a aspereza de sua barba, deixando-a aproveitar de sua respiração quente e surpreendentemente lenta antes de morder exatamente aquele local.

Enfim, deixou a cabeça cair para o lado, os cabelos compridos seguindo pelo mesmo caminho e concedendo mais espaço à Barry. Forçou-se a abrir os olhos para encará-lo, no reflexo do espelho logo atrás de si, molhando o mesmo caminho com beijos lentos, tornando a tarefa de controlar seu efeito ainda mais difícil. Quando notou ser encarado em sua tarefa, Barry a olhou de volta, levando os lábios à sua bochecha. Novamente, parecia mais leve, sustentando aquela feição de divertimento malicioso, como se estivesse concentrado somente no que estava acontecendo ali.

— Você sempre fica linda de batom vermelho.

O espelho não era mais suficiente, constatou antes de se virar para encará-lo de frente, tão próximo que suas respirações se misturavam, o que era o bastante para deixá-lo desacertá-la por dentro. Então, permitiu que ele percorresse os olhos por seu rosto, descendo lentamente até seus lábios vermelhos. Nunca imaginaria que Barry houvesse reparado nisso sobre ela, mas sentiu o ego feminino revirar-se sendo acariciado dessa forma. Ainda tentou jogar com o próprio autocontrole, aproximando-se devagar, mas, assim que suas bocas roçaram, seus lábios se encaixaram em um beijo lento.

Parecia fazer mais tempo do que realmente fora, ponderou ao senti-lo enlaçar sua cintura, sobre o vestido de seda preta, fazendo-a pendurar-se mais rápido do que gostaria de admitir em seu pescoço. Seus corpos se moldaram quase naturalmente, enquanto afastava-se da pia para tê-lo contra a parede logo à frente. As mãos de Barry deslizaram da sua cintura às costas ao ver-se prensado, somente deixando-a ainda mais à vontade para apoiar-se nos ombros dele e, finalmente, alcançar os cabelos. Argh, gostava tanto disso, ponderou quando seus dedos puxaram os fios com calma, mantendo o controle do beijo e desconcentrando-o o suficiente para mordiscar seu lábio mais forte do que planejava.

— Desculpe.

Murmurou ofegante, voltando a beijá-la e sufocando o riso rápido que brotou de seus lábios. No entanto, não houve tempo para muito, pois um segundo depois uma batida alta soou contra a porta exatamente ao seu lado, fazendo-a soltar os lábios dele em um estalo, prendendo a respiração e olhando ao redor rapidamente, como se a todo o instante alguém estivesse ao lado deles, vigiando-os. Barry, por sua vez, deslizou a boca por sua bochecha, distraído, ignorando completamente a batida até a pessoa se pronunciar.

— Ei, Caitlin?! – Joe! O velocista a olhou com o cenho franzido quase comicamente. – Você está aí?

— Sim? – Respondeu incertamente, apertando a camisa de Barry entre os dedos.

— Iremos cantar parabéns em um minuto, estão esperando lá embaixo. – Concordou rapidamente para que o senhor saísse o mais rápido possível. Inclusive, achou que acontecera, até ouvir a pergunta novamente. – Você viu Barry? Eu não o encontro em lugar algum.

— Er... – Fechou os olhos por titubear e o encarou. – Não, não, eu não o vi.

O velocista, por sua vez, apertou os lábios e apoiou a cabeça na parede atrás de si, encarando o teto e prendendo um riso. Era como se fossem adolescentes novamente, escondendo-se dos pais. Só então pensou na perspectiva de estar ali, agarrando-se com Barry Allen no banheiro de Joe e Cecile, enquanto uma festa acontecia no andar debaixo. Então, o mesmo informou que ia continuar a procurar pelo filho e Caitlin arregalou os olhos para Barry.

— Tenho que me fazer ser achado, eu acho. – Sussurrou tranquilamente, sem retirar as mãos de sua cintura.

— Barry...

Tentou dizer algo que fizesse sentido, considerando a situação em que se colocaram, mas ele percebeu que ouviria seu discurso sobre como deveriam agir com precaução e somente a beijou novamente, segurando seu rosto com convicção, antes de se afastar.

— Iremos dar um jeito, okay?

— Sua boca está suja de batom. – Lembrou vendo-o afastar-se para vibrar contra a parede, onde deveria haver um quarto ou coisa do tipo do outro lado.

— A sua também.

Esforçou-se para não retribuir o sorriso satisfeito e não reparar nos olhos brilhando só para ela na imensidão do banheiro de Joe. 

*

— Você está em silêncio. – Concordou com Cisco, enquanto pegava um conjunto de fraldas para recém-nascidos e displicentemente jogava no carrinho que o porto-riquenho empurrava. No entanto, ele parou bruscamente e voltou-se a ela como uma das mãos na cintura. Embora não parecesse muito ameaçador naquela manhã pós-ressaca, ainda fazia uma boa tentativa, reconheceu. – Caitlin, o que tanto a incomoda?

— Não há nada que...

— Oh, por favor, você já foi uma mentirosa melhor. – Suspirou, percebendo que o mesmo chamava a atenção de algumas pessoas que passavam. – Há dias você tem esses momentos em que fica completamente aérea, em que parece concentrada em algo muito importante e, então, você sempre desconversa quando pergunto o motivo. Por que não está me contando?

— Cisco, apenas... – Fechou os olhos por um momento, tentando ignorar a sessão de produtos para bebês onde estavam e toda a loja de departamento, completamente movimentada naquela manhã de sábado. – Não é tão simples assim. Eu... Eu mesmo ainda não sei o que está acontecendo ainda, se é que está acontecendo algo.

— E é para isso que estou aqui. Sou seu melhor amigo, posso te ajudar a entender o que quer que...

— Barry e eu nos beijamos ontem à noite.

Soltou antes que pensasse demais e o desconversasse ou continuasse o chateando. Então, viu todas as reações possíveis o atingirem, desde a incredulidade até o pequeno sorriso presunçoso, como se esperasse por isso. No entanto, Cisco não teve não teve a oportunidade de dizer qualquer coisa. 

— Oh meu deus. – A voz completamente indesejável soou às suas costas fazendo Caitlin arregalar os olhos para o latino e voltar-se para Ralph, que parecia apenas chocado.

— De onde você surgiu?!

Não sabia se estava completamente mal-humorada ou se, simplesmente, deixava as coisas acontecerem. Ainda não havia se decidido consigo mesma sobre seus sentimentos e os acontecimentos daquela noite e, então, Ralph e Cisco já estavam a par do que acontecia. Era sempre mais complicado quando havia mais gente envolvida. Dibny, por sua vez, pareceu ofendido, aproximando-se com uma garrafa d’água em mãos.

— Eu acabei de chegar! – Ele a encarou de cima abaixo. – E você, mocinha, tem muito que explicar.

— Você está brincando, não é?

— Não. Desde quando isso vem acontecendo?

Revirou os olhos vendo que Cisco deixava que o outro seguisse em frente com seu interrogatório. Por isso, tomou o carrinho para si e começou a empurrá-lo por entre as prateleiras de cores pastéis e infantis para se distanciar dos dois, tentando identificar os itens da lista que Iris lhe dera mais cedo. No entanto, ambos seguiram logo atrás, enchendo de perguntas das quais não tinha a resposta.

— O que ele disse?

— O que você disse?

— Por que se beijaram assim, do nada?

— Não é como se estivesse beijando um parente?

Parou no último questionamento de Ralph, respirando fundo e voltando-se aos dois. Cisco já havia até retirado os óculos escuros e podia ver o brilho ávido por respostas em seus olhos, ainda que encarasse o mais alto com uma careta.

— Não seja nojento, Ralph. – Cisco estacou ao seu lado, virando-se para o outro. – É claro que Caitlin e Barry nunca se viram dessa forma.

— Okay, vocês querem conversar? Vamos conversar.  – Apoiou-se no carrinho juntando as mãos, falsamente entusiasmada, lembrando em muito a má vontade de Frost. – Não queria que soubessem por que sabia que iriam, no mínimo, reagir dessa forma a algo que não é... Nada. Nós não somos nada e nem seremos, essa é a questão que deve permear tudo isso e vocês estão, simplesmente, fingindo que não.

— Cait... – Cisco tentou interrompê-la, mas não conseguiu mais parar de falar, afinal vinha guardando consigo há semanas tudo que sentia.

— Não é legal ou saudável ficar fantasiando sobre algo que sei como vai terminar. – Resfolegou tendo a leve impressão de que se encontrava corada, enquanto ambos a encaravam de forma séria, pois não era comum que explodisse seus sentimentos dessa forma. Caitlin, geralmente, guardava para si. – O destino de Barry é Iris. É a maldita Crise que está chegando, é lidar com sua ausência como pai de Nora. Essa deve ser a preocupação dele e eu entendo, realmente entendo... Então, não vejo motivos para criar expectativas sobre algo onde, claramente, sou uma intrusa.

Terminou mais baixo, deixando de encará-los, embora ambos já parecessem sensibilizados ao perceberem, finalmente, terem ultrapassado alguns limites. Os sentimentos de Caitlin nem o que havia acontecido entre ela e Barry eram uma atração, embora houvessem agido como se fosse, afinal parecia muito interessante que, depois de anos de amizade, depois de anos cultivando a paixão desenfreada de Barry por Iris, fossem eles ali.

— Caitlin, tenho certeza absoluta que Allen não a beijaria, se acreditasse correr o risco de machucá-la.

— Eu não disse tudo isso a ele. – Informou, meneando a cabeça. – Sei que Barry não faria algo do tipo de propósito, mas... Sabemos como ele pode ser imprudente e egoísta, às vezes.

Pensou no que Barry dissera no dia anterior, sobre darem um jeito, no que quer que fosse aquilo entre eles. Tinha certeza que o velocista acreditava nisso, realmente, mas quando notasse que não havia qualquer jeito de tentar driblar a Força de Aceleração novamente, sua vontade ruiria e Caitlin se tornaria oficialmente aquela que estava interferindo na história.

— Eu só... Não quero que criem ou me incentivem a criar qualquer expectativa sobre isso, okay?

Encarou-os praticamente implorando, no entanto, o ruído alto de vidro explodindo atingiu toda a loja, causando gritos e histeria. Os três se voltaram para a direção de onde vinha o som, já em alerta, percebendo que todo o vidro que cobria vitrines e portas de entradas, nos três grandes andares da loja, havia sido quebrando, deixando o local completamente aberto.

— Acho que é uma boa hora para deixar Killer Frost sair e descontar toda essa frustração.

Imediatamente concordou com Cisco, o qual colocava seus óculos e seguia ao lado de Ralph na direção contrária às pessoas que passavam correndo por eles pelas prateleiras. Sentiu Frost agitando-se, como aconselhado, o gelo habitando-a de dentro para fora, até mostrar-se na cor de seus cabelos tão brancos quanto, nos olhos exageradamente azuis e nas mãos, onde duas estacas rapidamente cresciam. Sim, precisava fincá-las em alguém.


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