Sutil escrita por Minerva Lestrange


Capítulo 4
Name one hero who was happy




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— Barry, eu juro, se tivermos que ficar mais uma hora dentro desse carro, vou pegar sua coleção de DVDs pra mim. Toda ela.

Cisco frisou após duas horas e meia que o velocista estava dirigindo em direção ao interior do estado. Ele dissera que precisava mostrar algo a eles, mas não podia levá-los todos juntos e não queria que Cisco abrisse um portal vibrando-o. Iria ser à moda antiga, o que fez todos comemorarem por, finalmente, poderem sair um pouco do laboratório, mas ninguém esperava uma viagem longa e agora Ralph e Cisco já gemiam e resmungavam por praticamente qualquer coisa do banco de trás do carro.

— Vocês são muito nerds. – Desgostou o primeiro, sendo seguido pelo ruído alto de sua barriga roncando, o que a fez erguer uma sobrancelha a Barry, no banco do motorista. – Podemos parar para comer no próximo posto?

— Se pararmos para comer, chegaremos amanhã, qualquer que seja o lugar onde estamos indo.

— Apenas confiem em mim, vocês nunca viram um lugar mais legal.

Soltou uma risadinha, pois já imaginava o que poderia ser e somente apoiou-se contra a janela, observando a paisagem verde e montanhosa pela qual passavam, enquanto, finalmente, entravam em consenso sobre uma playlist de músicas dos anos oitenta. Ainda rodaram por mais uma hora depois disso, mas Ralph dormiu, o que parece ter deixado Cisco desmotivado a continuar buscando defeitos, enquanto Caitlin se mostrava sonolenta.

Então, repentinamente adentraram uma estrada de terra escura e seguiram brevemente por ali, rodeados por araucárias, até, finalmente, verem. A casa de maneira, espaçosa, a julgar pela altura e pelas varandas de assoalho, era perfeita, mesmo nos detalhes em vidro das portas e largas janelas. Havia algumas plantas à frente, mas a vegetação que a rodeava era predominantemente original. Além disso, havia um lago de água verde muito clara, poucos metros abaixo de onde estacionaram.

— Uau. – Cisco exclamou olhando ao redor assim que bateu a porta do carro. Barry sorriu empolgado e voltou-se a eles, enquanto ainda andava em direção ao lugar.

— É demais, não é?! – Caitlin sorriu, concordando. – Nora está quase chegando, então pensei: não posso continuar morando em um flat.

— É impessoal e inapropriado? – Sugeriu Ralph, também admirado.

— Então está pensando em morar aqui permanentemente? – Ela perguntou subindo as escadas que davam na varanda, logo atrás de Barry.

— Bem, posso chegar rápido a qualquer lugar, a qualquer hora do dia.

— Ótimo. – Adentraram a grande sala, também rústica, embora pouco decorada. Com o tempo, ele poderia deixar a cara dele. – Espero que tenha espaço para um pequeno QG, porque não vai morar nesse lugar remoto e cheio de mosquitos sem que possamos nos comunicar com qualidade.

— Essa, meu amigo, será sua parte preferida. – O velocista passou o braço pelos ombros de Cisco e ambos sumiram por um corredor.

— De onde o Allen tira dinheiro para manter esse padrão de vida? – Ralph afastou uma cortina, olhando o lado de fora desconfiadamente. Era um inconveniente na maior parte do tempo, mas um tanto paranóico quanto a segurança deles.

— Ele recebeu uma herança.

Deu de ombros e seguiu pela escada, onde havia outro corredor, com várias portas. Passou por alguns quartos de hóspedes, então o quarto de Barry, pois havia algumas coisas dele e, então, um último quarto, perto do principal, onde móveis específicos ainda se encontravam embalados. Sorriu de forma pequena, verificando o formato de um berço antiquado, armários, cômodas, tapete, cortina e diversos objetos de decoração.

Olhou ao redor, imaginando o quarto, menor do que os outros, completamente pronto para receber Nora. Ela seria tão feliz ali. Ainda que seu lugar fosse com Iris no início, já podia imaginar um bebê habitando aquele quarto. Talvez fosse o lugar, não poderia combinar mais com Barry e sua personalidade cada vez mais reclusa, pois estava claramente buscando fugir dos problemas.

— Então... – Virou-se para a porta de duas folhas, de onde ele a encarava com expectativa, as duas mãos no bolso e os olhos brilhantes. – O que achou?

— Isso é perfeito, Barry.

—Você pode vir sempre que quiser. – Levantou as sobrancelhas, sorrindo, no que ele pareceu desconcertado. – Quer dizer, todos podem, é que eu... 

— Eu sei. – Aproximou-se, segurando seu pulso, acariciando de leve sob a camisa verde escura. – Estarei aqui sempre que precisar.

— Eu estava pensando...

— Barry, estamos te requisitando para fazer o jantar!

Ralph gritou do andar inferior, o que fez Caitlin sorrir. Passado aquele mês, Barry parecia ter se acostumado com o fato de que iria ser pai de uma menina, a despeito do que havia acontecido com Nora no tempo deles. Ele estava mais leve e parecia realmente feliz com aquela casa. Por isso, simplesmente sorriu revirando os olhos.

— Considerando que Ralph e Cisco não sabem cozinhar qualquer coisa que não tenha quilos de conservantes...

— Acho que é melhor para todos. – Caitlin completou, passando por ele, ainda segurando seu pulso. – Vamos, eu vou te ajudar.  

Horas depois, quando a casa já estava silenciosa, pois todos estavam dormindo em seus respectivos quartos, jogou os cobertores para o lado e seguiu pelo corredor escuro até a entrada da casa, abrindo a porta com cuidado para que não acordasse ou preocupasse ninguém. Sem pressa, encaminhou-se a uma das espreguiçadeiras que havia na varanda e acomodou-se, cruzando as pernas sobre o corpo, enquanto tentava relaxar.

As coisas estavam estranhas. Entre ela e Barry. Não exatamente pisavam em ovos, pois se sentia à vontade com ele como nunca, mas parecia diferente o jeito como vinham se tratando e cuidando um do outro. Ele não costumava encará-la da forma como a encarara durante todo o jantar nem buscava qualquer tipo de contato, como vinha fazendo. Agora, ele a tocava sempre que possível e lhe sorria de forma calma, prolongando esses momentos. Ainda eram eles, mas estava diferente e sabia que isso não estava apenas em sua mente.

Suspirou, cansada. Talvez apenas não queria que estivesse projetando essas coisas em sua mente, pois já passara por isso certa vez. No entanto, não gostava da incerteza, de como às vezes não sabia como reagir a algo que Barry dizia. A insegurança era seu precipício, por isso, sempre tentava agir como se estivesse muito certa sobre seus passos, como se soubesse tudo que viria a seguir. E, nesse caso, não sabia, porque ele lhe diria algo quando fora interrompido por Ralph e não voltara ao assunto. Fingira que não, esse era seu forte, mas passara todo o jantar pensando o que Barry poderia querer dizer quando estavam no quarto que seria de Nora.

— Jesus! – A voz conhecida murmurou, subindo as escadas lentamente. Caitlin quase jogou a cabeça para trás em frustração, mas os olhos dele estavam sobre ela, somente indignados que não vestisse qualquer roupa mais quente enquanto trajava um conjunto de moletom grosso, que não parecia ajudá-lo em nada. – Você não está com frio?

— Eu tenho Frost comigo. – Deu de ombros, acompanhando-o se acomodar contra parapeito da janela, a concentração lá fora na escuridão e o cenho um pouco franzido. – Está sem sono?

— Não durmo muito bem desde que Nora se foi. – Ele não levantou o olhar e Caitlin somente meneou a cabeça. – Fui dar uma volta pelo lago.

— Deveria ter me contado, isso afeta seu desempenho como Flash.

— Estou me acostumando. – O olhou de maneira insistente, alimentando o silêncio da noite, até que Barry a encarasse de volta, sob a pouca luz do pequeno lampião a alguns metros dali. – Eu só não queria deixá-la mais preocupada, okay? Sei que estou uma droga desde o divórcio e depois que Iris contou sobre o bebê, mas é que...

— Está com medo. – Barry expirou e deu de ombros.

— Em algum momento da história, não serei suficiente para essa criança, não estarei lá por ela e... – Ele cruzou os braços, encontrando algo interessante para encarar em seus pés. – Queria poder encontrar uma maneira de mudar isso.

— E eu não o deixo ver o jornal do futuro. – O homem apenas sorriu minimamente, negando com a cabeça e deixando o parapeito para sentar-se ao lado dela na espreguiçadeira espaçosa e confortável.

— Não, é que... – Analisou o perfil de Barry, observando-o encarar a escuridão lá fora, completamente à vontade com aquele lugar. Perguntou-se há quanto tempo tinha essa ideia em mente, mas não era o momento para questionar. – Não há nem um plano concreto, eu só... Não quero que essa seja minha história. Não quero desaparecer no futuro, seja qual for o motivo.

Seus olhos marejaram, vendo-o somente considerar a possibilidade. De repente, sentiu-se superficial por estar considerando como estavam estranhos um com o outro quando Barry tinha todo esse peso para carregar: seu possível desaparecimento, a ausência durante o crescimento de Nora e, consequentemente, a morte dela após a viagem para o passado. A história estava se “repetindo”, como em uma reprise de programa de TV, sem que pudesse fazer qualquer coisa.

— Ah, Barry.

Descansou a testa contra o ombro dele, entrelaçando seus braços. Sentia certo tipo de vazio dolorido em seu peito sempre que pensava nisso e tentava se convencer de que, quando chegasse a hora, iriam dar um jeito. No entanto, quando percebessem, poderia ser tarde demais, porque o destino de Barry estava fadado a se concretizar daquela maneira, em qualquer linha do tempo.

Assim, ficaram em silêncio por muito tempo, sentados juntos na espreguiçadeira, seus corpos se apoiando mutuamente em tensão e amargura. Deus, era como se, mesmo ali, naquele lugar que Barry pensara especificamente para que tivessem paz, não a merecessem; como se fosse exigir muito para as pessoas que eram. No entanto, era melhor sentir sua não paz no silêncio daquela casa no lago, no meio das montanhas, longe de Central City, do que enquanto lidavam com seguidos problemas que surgiam ao longo da semana. No fim das contas, mesmo Ralph e Cisco pareciam mais relaxados.

— Você está fria. – A mão dele se fechou sobre seu braço, deslizando para conferir se aquela era sua temperatura realmente.

— Eu sou assim quase que o tempo todo. – Disse com uma pequena risadinha. – Mas está sentindo essa temperatura no meu corpo porque aqui fora deve estar fazendo uns doze graus.

— Provavelmente. – Os dedos deslizaram por seu braço por algum tempo, parecendo familiarizado. E, por mais que detestasse admitir, gostava daquela sensação. – Ei, vou deixar a chave reserva daqui com você.

— Por quê? – Perguntou distraidamente.

— Para poder vir quando quiser. Sei que adorou esse lugar. Será bom quando...

Franziu o cenho, ligeiramente, sentindo o rápido dar de ombros do corpo tenso dele. Estava sempre tenso nos últimos tempos. Então, respirou fundo, levantando a cabeça para encará-lo incisivamente.

— Barry, nós vamos dar um jeito no que quer que seja. – Não sabia se havia dito para confortá-lo ou confortar a si mesma, mas o viu concordar mesmo assim, anuindo em um murmúrio.

— Eu sei. 

A cabeça dele tombou contra a sua, suavemente, como se estivesse cansado – o que era provável, embora não fisicamente. Seu lado médico considerou que deveriam fazer exames psicológicos assim que voltassem ao S.T.A.R. Labs, mas seu lado não profissional concentrou-se apenas no quão próximos se encontravam naquele exato momento. Podia sentir a respiração cadenciada contra seu rosto, os dedos ainda passeando por seus braços gelados e seu próprio coração descompassado.

Droga.

Barry também notara, mas não se importara, pois, de forma lenta, aproximou-se, depositando beijos hesitantes a partir de sua bochecha, passando por sua mandíbula, seu queixo e, finalmente, chegando ao canto dos lábios, onde Caitlin já respirava rapidamente. Em todo aquele tempo de amizade, esse nunca fora um contato que tiveram. Em todo aquele tempo, não havia acontecido nada como aquilo e, por isso, só conseguia concentrar-se no perfume característico e na própria respiração dele contra a sua, também hesitante.

— Barry. – Sussurrou apertando o moletom dele na altura do peito, seus olhos já fechados, seus narizes se escovando. – Iremos nos beijar.

— Iremos.

Antes que pudesse retrucar, ele fechou a pequena distância que os separava, juntando seus lábios enquanto seu cérebro lentamente processava que estava o beijando. Sua boca se abriu sem pressa, no ritmo dos dedos dele que rodeavam seu pescoço, e seu corpo reagiu mais rápido quando o sentiu deslizar a língua pela sua, massageando-a, não conseguindo impedir-se de ofegar baixo contra ele.

Droga, novamente, não esperava toda essa camada de sensações! Respirou fundo, esquecendo-se de qualquer possível conseqüência em suas vidas terrivelmente instáveis, exceto que estava beijando Barry Allen, pois a barba que ainda mantinha fazia cócegas em seu rosto, excitando-a. Suas mãos subiram do peito à nuca dele, soltando o moletom, incentivando-o a continuar, entrelaçando os cabelos curtos aos seus dedos quando deixou seus lábios brevemente, mantendo-se próximo o suficiente para ter a respiração contra seu rosto.

Ofegante, Caitlin percebeu pela luz baixa do lampião a um dos cantos a varanda, que ele analisava toda a extensão de seu rosto concentradamente. Talvez esperasse que se afastasse, talvez estivesse lhe dando essa escolha, mas momentos depois, quando já podia sentir a vermelhidão subindo por seu pescoço sob os olhos claros dele, cravou os lábios nos dele novamente. Ali estava a decisão, que deveria ter tomado há muito tempo, considerou ao respirar fundo sentindo a boca dedicar-se ao seu pescoço, que provavelmente estaria marcado no dia seguinte.

Com facilidade, Barry passou o braço por sua cintura, colocando-a sobre seu colo, uma perna de cada lado de seu corpo. Seus olhos se encontraram brevemente, enquanto ajeitava-se, o que a fez hesitar, ainda que toda ela estivesse fisicamente dependente do toque calmo, mas firme. Ele era tenso o tempo todo, mas, de alguma forma, não havia tensão ali entre eles, não naquele momento. Os olhos esverdeados desviaram-se à sua boca inchada, só então notando que a mordiscava avidamente, esperando o próximo passo.

Então, o viu separá-los com o indicador e, logo em seguida, beijá-la novamente. Ofegou ao senti-lo mais uma vez em seu pescoço, as mãos quentes em sua cintura gelada, sob a blusa, testando-a, obrigando-a a entrelaçar os fios macios dos cabelos dele em seus dedos, mais uma vez, antes de cravar as unhas num lugar muito próximo à nuca. Ouviu-o chiar baixo contra seu ouvido, resmungando algo. Gostava que o toque dele se mostrasse tão distinto do dela nesse aspecto, da maneira como parecia aconchegante, mesmo que não inocente.

Ponderou que o moletom dele parecia grosso demais sob sua mão, não deixando que pudesse aprofundar o toque com facilidade. E ela gostaria de sentir a textura da pele contra seus dedos, sem pensar na frigidez dos mesmos. No entanto, o ruído de algo caindo em um estalo seco dentro da casa, fez com que interrompessem toda a atividade, olhando diretamente para o local de onde veio o som, acima deles. Alguém xingou e Caitlin estreitou os olhos, meneando a cabeça.

— Ralph.

— Sim.  

Encararam-se novamente, situando-se na realidade de quem eram e do que estavam fazendo perfeitamente bem. Não queria dar o braço a torcer e parar justamente no instante em que conhecia o sabor da boca dele e como ele poderia trabalhar em seu corpo, junto com ela. No entanto, se não parasse naquele momento, as coisas fugiriam completamente do controle. Por isso, molhou os lábios, respirando fundo e, calmamente, deixando os cabelos dele ao deslizar as mãos por seus ombros e braços.

— Eu vou subir.

Barry concordou, ajeitando a blusa dela, embora não deixasse de encarar seus lábios. Não fizeram qualquer movimento para se afastarem de verdade, no entanto, continuando a conversar aos sussurros, mais do que nunca. Não é como se quisessem que Cisco ou Ralph soubessem o que acabara de acontecer, pois ainda tinham prioridades maiores do que uma vida romântica complicada.

— Ei, não vamos deixar as coisas ficarem estranhas, não é?

Sorriu pequenamente, selando seus lábios tranquilamente ao perceber que ele parecia realmente preocupado sobre a questão. Não estava realmente tranquila sobre o que acabara de acontecer, mas não queria colocar isso acima do que eram no dia a dia.

— Seremos os mesmos de sempre amanhã. – Ele concordou, sem ressalvas e a puxou para outro beijo rápido, obrigando-a a reunir toda a vontade que não possuía no momento para afastar-se e se levantar. – Boa noite, Barry.

— Boa noite, Cait.

Deus, o sorriso dele sempre seria seu ponto fraco! Barry a fizera sorrir, quando pontuara que não sorria muito, justamente porque encantava demais com seu próprio sorriso. Então, enquanto subia para seu quarto, tendo os pés no chão de madeira e os braços cruzados contra o corpo, pela primeira vez em muito tempo sentiu frio. Um tipo de frio físico, complementado pelo que estava dentro dela, algo que Barry remediara somente com apenas alguns beijos.

*

— Você disse que nada mudaria.

Barry acusou em tom baixo assim que adentrou seu laboratório naquela tarde. Depois de anos, se acostumara às entradas repentinas e, por isso, nada voava para fora do lugar, exceto seus cabelos. Fechando os olhos em um suspiro, tentou pensar em uma resposta adequada, afinal sabia que o momento em que ele a questionaria estava próximo. Haviam voltado na Casa no Lago há uma semana, de forma inacreditavelmente silenciosa, se estivesse comparando a Cisco e Ralph no domingo. Eles passaram a viagem toda de bom humor, enquanto Barry e Caitlin só falavam o estritamente necessário e se evitavam.

Ele tentara remediar isso nos dias subsequentes, no entanto. Falava com ela, a encarava demais, a incluía nos planos, ainda que não quisesse estar neles, sempre encontrava uma brecha para tocá-la. Caitlin somente permitia, mas não o tratava da mesma forma de antes, pois antes tudo isso era natural e agora... Bem, não sabia como reagir àquele tipo de atenção por parte de Barry.

Estava acostumada com o fato de ele estar sempre atrás de Iris, de ser apaixonado pela mulher desde sempre, ainda que isso fosse completamente estranho, de não enxergar um palmo à sua frente no que dizia respeito às outras chances. Não sabia reagir, entretanto, a um Barry que não condizia com nenhuma dessas coisas. Principalmente, após um beijo que nem deveria acontecer.

— Eu sei, mas... – Ele aproximou-se, pois não se afastara da bancada onde estava concentrada em algumas amostras de pele meta para análise. Arrependeu-se no instante em que o encarou, percebendo os cabelos bagunçados ao tirar a máscara do traje, pois eles ficaram praticamente daquela forma sob o efeito de seus dedos, naquela madrugada.  – Não devia ter dito.

— Não podemos fingir que nada aconteceu naquela noite. – Abaixou os olhos, os dedos ansiosos sob as luvas cirúrgicas brancas.

— Não estamos fingindo, estamos... Deixando para trás, voluntariamente. – Encarou-o novamente, mais firme, vendo-o franzir o cenho hesitante. – Não devíamos ter feito aquilo.

— Sim, mas fizemos e... – Ele sorriu amargo, enquanto Caitlin engolia em seco. Parecia-lhe o mesmo tipo de inconformidade que vira nele após o divórcio, mas... Jamais seria, era o que deveria ter em mente. – Qual é, Caitlin, não somos nada um sem o outro!

— Eu disse que estaria aqui sempre que precisasse e isso continua sendo verdade. – Defendeu-se, sentindo-se encolher-se por dentro, sem qualquer coragem para encará-lo. – Não irei a lugar nenhum, Barry.

O silêncio pesou no laboratório como há muito não fazia. Quando as coisas ainda não estavam ditas era desconfortável, mas não passava disso, embora soubesse que seria temporário. Entretanto, encarar a realidade era mais dolorido do que poderia mensurar. Respirou fundo, finalmente afastando-se da bancada, afinal um deles deveria. Apertou as mãos em punho, concentrando-se em segurar sua respiração linear enquanto estivesse ali ao mesmo tempo em que sentia tudo desmoronar dentro de si.

— Não consigo parar de pensar naquela noite. Em você. – Afirmou Barry, do lugar onde o deixara. Sentiu os lábios tremerem. – Durante toda aquela madrugada, eu esperei chegar o arrependimento e o medo de estragar tudo o que temos, mas... Não chegaram. Não me arrependo nem por um segundo de tê-la beijado e... Se não estivesse agindo assim, continuaria a fazer isso por muito tempo.

Apoiou-se contra o portal de vidro do laboratório, sentindo os olhos marejando, mas fechando-os para se controlar. Caitlin também não se arrependera, nem mesmo enquanto sentia-se quebrar voltando à realidade. Nada poderia continuar a acontecer, pois seria a única que sairia machucada no final. Não queria sacrificar-se e nem sua amizade com ele. Deus, nunca deveriam ter se beijado!

— Eu gostaria que pudesse beijá-lo sempre que quisesse, mas você... Você não é meu para cobiçar, Barry. Nunca será.

— Cait... – A voz dele soou mais próxima, mas não conseguiria seguir em frente se o encarasse.

— Seu destino é Iris. – Continuou, sentindo o frio instalar-se no ambiente, subindo pelo vidro em que apoiava uma das mãos. – Está amarrado a ela, em todas as linhas de tempo alternativas possíveis, em todos os mundos, em todas essas realidades paralelas. Isso nunca vai mudar e eu não estou disposta a... Competir com alguém que sempre sairá ganhando, independente do que aconteça.

Não deu tempo para que ele retrucasse e saiu do laboratório, seguindo pelo córtex em direção a saída enquanto o ruído de seus saltos ecoavam contra o chão mascarando a respiração fora de controle e as lágrimas que já desciam quase silenciosamente por seu rosto. Ralph passou por ela, perguntando o que acontecera, mas somente levantou uma das mãos, dispensando qualquer cuidado e seguiu em direção à saída. Trabalhar pelo resto daquele dia seria impossível, só queria estar embaixo de seu edredom na versão mais escura de seu quarto.


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Notas finais do capítulo

Ei, finalmente aconteceu!
Essa cena do beijo foi uma das mais difíceis de toda a fic, porque eu não queria que fugisse às personalidades dos dois, então espero muito que tenham gostado!
Para além do beijo, Barry continua em suas agonias e ele só quer um lugar melhor pra Nora e ele pelo tempo que puder :( E, como sempre, ele pensa menos nas consequências do que todos, o que os leva a cena final. O que acharam? Quebrou meu coração escrever Cait sofrendo, mas eu não a vejo simplesmente aproveitando isso, sabendo tudo que sabem.

Me deixem saber se gostaram porque eu sei que tão por aí heim!
Até!



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