RACHEL POV

RACHEL POV

Permanecia no quarto de Quinn, que estava completamente ansiosa com a mais nova notícia. A garota de cabelos rosa checava-se com frequência no espelho, abrindo e fechando o zíper da sua jaqueta, o olhar confuso e elétrico.

— Beth está vindo, se acalme.- Pronunciei, após ler uma mensagem de Shelby no celular.

Eu fiquei sentada na mesinha de centro, esperando minha mãe chegar para a inauguração do auditório, meu mais novo orgulho. Acompanhava todo o desespero ao meu redor com certa angústia, a verdade é que também estava nervosa com esse encontro. Shelby, Judy e Beth juntas...era muito para mim.

— Estou tentando não surtar. Eu não vou surtar, eu não vou surtar...- Vi Quinn dizer, as mãos bagunçando o cabelo com certa fúria. Suspirei.

— Que isso, tá doida garota?- Disse Santana, chegando no quarto, a pose indiferente à óbvia tensão do ambiente. Seus olhos correram por todo o local.-Quarto bonitinho o seu, Q, cama grande...O Puck sabe disso né? Assim...Só dizendo, já que passaram tanto tempo juntos pra ensaiar o número de hoje.- Um brilho malicioso surgiu por todo o seu rosto. Senti meu sangue ferver de leve.

"Sinceramente, ninguém merece".

Em reflexo, meus olhos passaram a analisar qualquer sinal de que Quinn realmente concordava com o que foi dito, mas a ex-cheerio só olhava para Santana com certa diversão e deboche.

Tentei arrumar minha posição e bufei, cruzando as pernas e braços. Esperei que minhas acompanhantes percebessem meu desconforto, mas Quinn disse somente:

— Vou te matar.

As duas se desafiaram com um sorriso e olhos cerrados, bufei.

— Você me ama, Quinn, não adianta negar.

Santana teve um revirar de olhos como resposta.

— De qualquer forma, - a latina continuou- cheguei até aqui pra avisar que é pra vocês duas irem para o auditório. Estão esperando por vocês. Melhor do que ficar cochichando que nem uma louca em um quarto fechado.- Finalizou, mandando beijinhos para Quinn, bufei com mais veemência.- Vê se arruma alguma coisa pra essa asma aí, Berry.- Gritou, já atravessando o corredor, os passos firmes ecoando.

O olhar cor de avelã me observou.

— Acho que está tão nervosa quanto eu.-Havia certa cumplicidade em seu tom, a roupa escura, as leves cicatrizes em seu rosto e a jaqueta completando seu aspecto rebelde. Fechei os olhos com força, tentando não me deixar levar por minha análise.

— Você não tem ideia.- Tomei uma respiração prolongada.- Vou mostrar meu projeto para Shelby, Beth e Judy. Além de que os meninos estão aqui, tenho certeza de que eles colocam muita fé em mim, apesar de não dizerem abertamente. Dá pra ver nos olhos deles, sabe?

Quinn concordou, me observando com delicadeza, percebi a mão dela se aproximar do meu rosto, fazendo um carinho na minha bochecha. Calmo e lentamente, como se aproveitasse cada momento, o toque continuava. Eu não sabia como responder a isso, então só a encarei, vermelha, e aproveitei a sensação. Um calor grande foi projetado por todo o meu corpo e uma energia louca se alastrou, me dando vontade de cantar e dançar por todos os corredores da casa. Seus olhos caíram em meus lábios, arrastando-se por toda a região com um brilho dourado e feliz, era impossível não se afetar e sorrir com a cena.

— Tenho certeza de que vai dar tudo certo, Rachel. Cada parte do seu projeto.

Suspirei, inevitávelmente.

— Obrigada.
...

Quando chegamos no auditório, Quinn correu para dar um abraço apertado em Kurt, Sam e Artie. Seu sorriso iluminou todos da sala, que animaram-se instantaneamente. Além das risadas felizes, expressões surpresas preencheram o recinto, visto as mudanças da amiga. Não existia repulsa ou maldade, apenas admiração e nostalgia. O Glee estava quase completo e percebi quando a ansiedade e nervosismo dissolveram-se no ar alegre dos garotos.

Eu esperava perto da porta do auditório e vi quando Quinn cruzou-se com Puck, indo para o palco, lhe dando um leve susto e brincando com seu moicano. Tranquei a mandíbula e cruzei os braços novamente, escutando passos atrás de mim.

Finn deu um sorriso tímido para mim, sussurrando um "oi" com o fundo de sua garganta. Devolvi o gesto com falsa animação e abracei sua cintura. Do outro lado, Quinn ria da expressão de algo que o garoto marrento havia feito.

— Elas chegaram.- Finn anunciou, sua voz sondo por todo o local. Pensei escutar algum som surpreso vir de Lucy.

Cruzando a porta à minha frente, três figuras estonteantes apareceram, olhando meu auditório com animação. A pequena Beth brincava com os cordões da blusa roxa da minha mãe, a qual sorriu para mim, o orgulho transbordando em seus movimentos. Aproximei-me animada, dei um abraço delicado em Shelby e um beijinho na testa de Beth, que usava lindos lacinhos azuis no cabelo loiro. Judy não conseguia parar de olhar a neta, com curiosidade e aconchego, dedicada a absorver todos os seus movimentos.

— Hey.- Disse uma voz rouca atrás de mim, carregada de emoção. Não precisei de muito para adivinhar quem era, um arrepio alastrou-se pelo meu pescoço.

— Olá, Quinn.- Mamãe disse, centrada em analisá-la.- Bom te ver em tão bom estado.

— Agradeço.- Sabia que a garota não havia escutado nada, perdida demais na imagem de sua filha. Seus passos chagavam delicadamente até seu destino, como se pedissem uma permissão já concedida e ansiada.

Beth era tão parecida com Quinn. Nunca pareceram tanto: os olhares brilhantes, o cabelo meio bagunçado, o rosto totalmente expressivo...Era ótimo de se ver.

Lucy não perdeu tempo, aproximou-se da mais nova, fazendo pequenos e profundos carinhos, o rosto banhado por algumas lágrimas, mostrando seu alívio para quem quisesse ver, sua mão junta com a de Judy, que quase imitava sua reação. Finn suspirou audivelmente com a cena, a garotinha também era especial para ele.

— A outra está...- Começou minha mãe, provavelmente se referindo à C-3PO.

— Guardada, sim.- Respondeu Lucy.- Preferi que fosse assim por hoje.

— Você fez um ótimo trabalho nesse auditório, Rachel, realmente fez. Parabéns.- Ela parecia muito orgulhosa por mim e, por mais que tentasse esconder, a opinião de Shelby era importante.

— Parabéns, minha querida.- Judy disse, lançando-me um olhar sincero.

— Obrigada, significa muito.

— Olá! - Uma voz falou, atrás de nós, chamando nossa atenção- Temos uma pequena coisa para vocês.- Puck revelou do palco, com Mercedes feliz ao seu lado, o violão entre suas mãos e semblante tranquilo.- É para você, Beth. Sua mãe disse o quanto você gosta dessa música.

O início de uma melodia foi escutado das caixas de som. Quinn deu uma rápido abraço na mãe, lançando-me um olhar intenso e agradecido. Os arrepios retornaram.

Agarrei a mão de Finn e o puxei para nos sentarmos nas poltronas vermelhas, juntamente com as recém-chegadas e amigos. Escutei Brittany e Sam falarem com Beth imitando uma criança.

Puck cantou enquanto Quinn subia o palco, animadamente. Lado a lado, os microfones foram distribuídos para todos os três, a ex-cheerio no meio, fazendo movimentos de dança com Mercedes, nos olhando com um sorriso imenso que aquecia minha veias. Um grande coração foi feito pelas duas amigas na direção de Beth, que ria de toda a performance no colo de Judy.

Passaram-se 24 horas, preciso de mais horas com você

Você passou o final de semana se vingando, ooh

Nós passamos as últimas noites tentando melhorar as coisas entre nós

Mas agora está tudo bem, querida

Enrole esse charuto, querida

E fique perto de mim

Puck e Quinn:

Porque garotas como você passam tempo com caras como eu

Até o sol se pôr, quando eu chegar

Eu preciso de uma garota como você, yeah yeah

Garotas como você amam diversão, e sim, eu também

O que eu quero quando eu chegar

Eu preciso de uma garota como você, yeah yeah

Quinn começou seu solo e senti seus olhos em mim por um momento. Sua cabeça virou-se para o lado e a vi tendo uma risada envergonhada, que fiz questão de repetir. Senti um leve toque no minha mão, virei-me para Shelby, que me encarava com curiosidade. Ignorei o momento e continuei vendo a apresentação.

Eu passei a noite passada no último voo para te ver

Levei um dia todo tentando chegar até você, uuh

Nós passamos o nascer do Sol tentando melhorar as coisas entre nós

Mas agora está tudo bem, amor

Enrole esse charuto, amor

E fique comigo por perto

Puck assumiu a música, puxando Quinn delicadamente para si, seus rostos quase se encontrando. Ele parecia cantar para a garota, mantendo seus olhares sustentados e criando uma atmosfera mais séria para a música. Vi quando o sorriso de Quinn morreu e uma respiração profunda bateu contra o microfone, toda a sua atenção parecia ter sido tomada.

"Era impressão minha ou eles estavam próximos demais?"

Meu coração falhou no peito, me mexi com desconforto na cadeira.

Talvez sejam 6:45 da manhã

Talvez eu mal esteja vivo

Talvez você tenha suportado minhas merdas pela última vez, sim

Talvez eu saiba que estou bêbado

Talvez eu saiba que você é a garota certa

Talvez você esteja pensando que é melhor você dirigir

Assim que os dois se separaram, Mercedes começou a cantar seu rap, dividindo uma dança com Quinn e apontando divertida para Kurt, o qual se levantou para curtir a música com Artie.

Pouco tempo atrás, eu dançava por dinheiro

Sabia que era pra valer se deixasse você conhecer minha mãe

Você não quer uma garota como eu, sou muito louca

Mas toda garota que você conhece é falsa

Tenho certeza que as outras garotas eram boazinhas

Mas você precisa de alguém que apimente as coisas

Então, quem você chama? Cardi, Cardi

Chegue e me acelere como uma Harley, Harley

Por que o melhor fruto é sempre proibido?

Estou indo até você agora, 20 km/h acima do limite

O sinal vermelho, vermelho, pare 

Eu não brinco com o meu coração 

Eu não quero um cavalo branco e uma carruagem

Gosto mais de Porsches brancos e quilates

Preciso de você aqui, pois toda vez que você me liga

Eu toco essa gatinha como você toca sua guitarra

O refrão recomeçou uma última vez, cantado somente por Quinn. A garota era observada por Puck, ambos dançando felizes em nossa direção.

Brittany se levantou rapidamente e foi até o palco, batendo um hight five com Artie no caminho, que a seguia pela rampa. A loira parou em frente ao piano e começou uma melodia profunda e animada que todos no auditório conheciam.

Assim que a música foi soada pelas caixas de som, Finn me levou até o palco, junto com todos os colegas do Glee, o sorriso no rosto reaparecendo sinceramente depois de tanto tempo.

Kurt e Brittany se juntarem no centro, fazendo o primeiro plano, os microfones pararam rapidamente na mão dos dois. Institivamente, me afastei de Finn e fui até Quinn, que falava algo com Sam, iluminada como nunca. A garota me viu e segurou minha mão, girando-me rapidamente e rindo, mas foi quando o giro parou e olhei em seus olhos que me senti mais perdida.

"Como poderia me sentir tão feliz em estar perdida?"

Brittany e Kurt começaram a cantar, desviando-me do meu raciocínio. Na plateia, pude ver os olhares de Judy e Shelby presos em nós, a pequena Beth atenta a outras coisas. Afastei-me um pouco e olhei para Finn, que fazia uma dança desengonçada junto com Puck. Eu não queria ir até eles.

Vi que todos começaram a bater palmas no ritmo da música e os acompanhei meio confusa.

Podemos fingir que os aviões no céu à noite são

Como estrelas cadentes

Eu poderia fazer um desejo, um desejo

Agora, um desejo agora

Podemos fingir que os aviões no céu à noite são

Como estrelas cadentes

Eu poderia fazer um desejo agora, um desejo

Agora, um desejo agora

Artie apareceu cantando entre os dois, com um movimento sincronizados de mãos para complementar seu rap. As palmas pararam e nos sentamos na beirada do palco, com Quinn e uma encantada Santana ao meu lado, enquanto os três cantavam acima de nós.

Eu poderia usar um sonho ou um gênio ou um desejo

Para voltar a um lugar muito mais simples que esse

Porque depois de toda a festa e esmagamento e

Falhas

E todo o brilho e glamour e moda

E todo pandemônio e toda as loucuras

Chega uma hora que você se some na escuridão

Enquanto você está olhando o telefone em seu colo

E você espera, mas aquelas pessoas nunca te ligam de volta

Mas isso é apenas como a história se desenrola

Você consegue outra mão logo após que você recua

E quando seus planos se desfazem na areia

O que você desejaria se você tivesse uma chance?

Então, avião, avião, desculpe, estou atrasado

Estou no meu caminho, então não feche esse portão

Se eu não conseguir, então vou mudar meu voo e

Estarei bem de volta no fim da noite

Sim, alguém me leve de volta aos dias

Antes de isso ser um emprego, antes de eu ser pago

Antes de até mesmo de importar o que tinha no meu banco

Sim, voltar para quando eu estava tentando entrar no metrô

E voltar para quando eu estava fazendo rap apenas pela a droga de fazer

Mas atualmente nós estamos fazendo rap para ficar relevante

Estou achando que se nós pudéssemos fazer alguns desejos ou usar

Aviões

Assim talvez, talvez, eu voltaria para os dias

Antes das políticas, que chamamos de o jogo do rap

E voltar quando ninguém escutava minhas fitas

Antes de quando eu tentei esconder minha gíria

Mas isso é para o Decatur, e aí Bobby Ray?

Então eu posso fazer um desejo de acabar com as políticas

E voltar para a música que começou essa merda

Então aqui estou e de novo eu digo

Espero que possamos fazer alguns pedidos ao avião

A última melodia foi cantada em um coro. Grupos de dois foram formados, Brittany se aproximou de Santana e elas cantaram juntas ao meu lado. Mercedes e Sam fizeram o mesmo, cantando enquanto riam. Vi Artie se juntar com Kurt no centro do palco. Virei-me para Quinn, mas encontrei Puck perto da garota, a levantando delicadamente e pulando no ritmo da música, acompanhado sem pensar duas vezes, um beijo na bochecha foi trocado. Finn surgiu ao meu lado, tocando a minha mão, com a expressão carinhosa, tentei devolvê-la, mas minha mente ainda estava presa no casal próximo.

As vozes se juntaram em uma e o último refrão foi proferido.

Escutei risadas serem transmitidas do microfone, seguidas por duas vozes de origem conhecida:

— Eu te amo, Beth!

Fiquei feliz pela pequena, mas um sentimento esquecido queimou dentro do meu corpo. Segurei a mão de Finn com mais força para estabilizar o meu...

"Ciúmes".