O Pequeno Rei e sua coroa de espinhos escrita por crowhime


Capítulo 7
Capítulo VI




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1972

 

Regulus havia pensado em chamar Lucinda, mas Barty parecia que não iria chamar mais ninguém e resolveu que então também não o faria, afinal haviam dito que iriam juntos. Encontraram-se no corredor que levava até aos aposentos do professor Slughorn, onde seria realizado o jantar de Halloween.

Uma pequena festa parecia eufemismo agora. Quando entraram, já havia muita gente andando pelo lugar que certamente era maior do que Regulus esperava. Havia uma grande mesa posta com comidas e bebidas e tinha alunos de todos os anos e todas as casas, embora algumas com menor presença, e acabou ajeitando nervosamente a gravata para garantir que estava apresentável, também penteando a franja para o lado com os dedos, embora ela não tivesse se movido do lugar. Slughorn logo os viu e se aproximou para cumprimentá-los como um bom anfitrião, com um sorriso amplo e uma taça de vinho em uma das mãos.

“Regulus! Bartemius! Vieram juntos? Não sabia que se conheciam. Espero que aproveitem a festa. Sintam-se à vontade, temos comida e bebida. Não se acanhem!”

“Tá bem! Vamos, Reg.”

“S-sim. Obrigado, professor.”

Barty certamente não se acanhava. Mal se despediram do anfitrião e enlaçou seu braço, puxando-o até a mesa de comida.

“Olha, eles tem tortinhas de abóbora! Puxa, eu amo elas.” Os olhos de Bartemius brilhavam, animado com a variedade de comidas. “Reg! Chocolates que explodem na boca. Esses são caros.”

“Você não deveria comer doce antes de algo salgado.”

Murmurou, franzindo o cenho mediante os modos do amigo. Aquilo com certeza estava errado! Ao menos foi o que havia aprendido. Embora fosse tentador, afinal quem nunca sonhou em comer a sobremesa antes de tudo?

Claramente ignorando o sermão, Bartemius pegou outro tablete de cima da pilha e Regulus já revirava os olhos esperando que ele fosse encher a boca, mas ele segurou seu rosto com a mão livre, apertando-o e enfiando o doce em sua boca no momento que a abriu para reclamar.

“Quem tem a boca cheia não fica reclamando!”

Ele riu e, apesar da careta, Regulus começou a apreciar o gosto doce do chocolate que derretia ao entrar em contato com sua língua. Logo sentiu pequenos pontos parecendo explodir na boca e se distraiu. Barty estava certo - e não é como se tivesse Walburga ou Orion ali para brigarem por conta de seu comportamento inadequado. Embora se sentisse um pouco culpado.

“Relaxa, Reg! É Halloween!”

Ele parecia ler sua mente e acabou deixando-se levar pelo clima da festa, até mesmo se deixando sorrir. Sentiu que era uma escolha certa ter o chamado, embora quando Barty se afastou em busca de bebidas começou a se sentir acuado. Acabou voltando-se aos cantos do cômodo, ficando próximo a parede enquanto observava o restante das pessoas que conversavam animadas entre si e a sensação de deslocamento o invadiu como se não devesse, de fato, estar ali. Como se não devesse relaxar. Parecia errado.

Balançou a cabeça, tentando afastar o pensamento, percebendo então que não era o único parecendo que queria se fundir à parede. Reconheceu o garoto do outro dia, que Sirius chamou de Ranhoso. E de maricas. O que não parecia algo legal de se falar dos outros. Não viu a menina ruiva em lugar nenhum, mas era fácil reconhecê-lo: era apenas um ano mais velho, então já havia o visto por aí, embora não houvesse conversado propriamente com ele. Vestindo o melhor sorriso simpático que conseguiu, se aproximou.

“Ei… Queria agradecer pelo outro dia. Por me ajudar com os livros. Sou Regulus Black.”

Estendeu a mão, imaginando se estava conseguindo soar casual o suficiente. Barty havia dito que parecia engraçado quando se apresentava, dizia que era pomposo demais, embora fosse inevitável transparecer o orgulho que tinha de seu sobrenome.

Não soube bem no que errou, mas ele olhou com desprezo para sua mão, fazendo com que ficasse constrangido. Quis conferir se ela estava limpa, mas tinha certeza que sim, afinal havia usado um guardanapo para comer o que queria dos petiscos sobre a mesa. Quando os olhos escuros ergueram-se e o fitou como se fosse matá-lo, acabou se encolhendo.

“Eu sei. Conheço gente da sua laia.”

Regulus piscou, a confusão visível nas íris. Recolheu a mão e transferiu o peso de um pé para o outro, o sorriso vacilando.

“... Desculpe?”

“Você não me engana, Black. Já tive o desprazer de conhecer seu adorável irmão. Não vou cair nessa.”

O veneno escorria de cada palavra e, aos poucos, Regulus entendia o que estava acontecendo, ao menos achava que sim. Ele também achava que era um traidor? Como Sirius era? Franziu o cenho e cruzou os braços.

“Eu não sou meu irmão.”

Resmungou, irritado, apesar da expressão fria. Por que todo mundo ficava o comparando a Sirius? Nunca havia pensado muito sobre, havia aceitado seu papel como segundo filho na família, mas aquilo estava se provando muito irritante agora que estava rodeado de outras pessoas que haviam conhecido Sirius primeiro.

“Claro, vossa excelência sr. Black. Peço perdão por não ter percebido mais cedo. Claro que não é, muito diferentes, eu vejo.”

Regulus não era idiota e o outro não fazia a mínima questão de esconder a ironia e o desprezo, quase acusação, em seu tom de voz. Mordendo o canto do lábio inferior, precisou se controlar, o nervosismo e irritação tornando difícil encontrar uma resposta. Por sorte, não precisou, pois Barty se aproximou de ambos, o mirando com estranhamento e preocupação.

“Tudo bem por aqui, Reg…?”

“Sim.” Mentiu, sem tirar os olhos do colega de casa, como se fosse perder caso os desviasse, embora encontrasse dificuldade em sustentá-lo.

Barty percebeu que tinha algo acontecendo, afinal era praticamente visível a tensão no ar, e instintivamente franziu o cenho apesar de estar confuso. Eles pareciam que iam se matar a qualquer momento e Barty estava pronto para intervir (ou nem tanto, já que tinha ambas as mãos ocupadas carregando as bebidas), quando uma menina de cabelos vermelhos agarrou o braço do outro rapaz e ele finalmente desviou o olhar do de Regulus.

“Severus! Por que está aí no canto?”

“Você está com sua amiga, não quero incomodar.”

“Oh, céus, a Marlene não vai se incomodar, vamos…” Ela o puxou e só então pareceu reparar na presença de Barty e Regulus, que se entreolharam sem entender o que estava acontecendo. “Ah! Você não é o irmãozinho do Black? Como está? Ele tenta fingir que não e se fazer de machão, mas parece que gosta muito de você.”

Regulus sentiu-se desconsertado com a revelação, mas esboçou um sorriso leve. Era fácil reconhecer aqueles cabelos, não eram de uma cor muito comum.

“Ah, sim. Sou Regulus. Esse é o Barty.”

Barty sorriu e tentou acenar, mas acabou derrubando o conteúdo de um dos copos no chão e fez uma careta enquanto a garota ria da cena e Regulus continha a vontade de também fazê-lo.

“Meu nome é Lilian, esse é o Severus. Não ligue pra cara dele, ele é um amor, na realidade.”

O rosto do rapaz se avermelhou e ele empurrou de leve o ombro de Lilian, chamando-lhe a atenção enquanto Regulus abria um meio sorriso entre o altivo e o divertido.

“O que foi? Eu falei algo errado?” Severus a arrastava agora sob a desculpa que Marlene estava esperando e ela se voltou para os meninos, acenando. “Tchau, Regulus, Barty! Foi um prazer!”

“O que foi isso?”

Barty perguntou quando os outros dois sumiram de vista e Regulus deu de ombros.

“Não sei.”

Acabou explicando o que havia acontecido enquanto iam buscar mais bebidas, dessa vez Regulus foi junto porque não queria ficar sozinho. Barty ficou indignado com o tratamento que Regulus recebeu, mas no fim perguntou o que seu irmão havia feito para causar tamanha comoção e Regulus não soube responder, já que percebia, com certa melancolia, que não conhecia mais tão bem o irmão mais velho.

A noite transcorreu sem maiores preocupações, embora Regulus não conseguisse tirar da cabeça o olhar de ódio de Severus, e logo voltaram aos dormitórios, pois na noite seguinte haveria a típica comemoração de Halloween de Hogwarts. Mais uma vez, Regulus se sentiu um pouco deslocado, mas ao menos tinha mais pessoas que conhecia ali além de Barty, então quando uma menina da Corvinal o puxou para dançar e ele lhe pediu desculpas, não tardou a encontrar algum conhecido. Viu Lucinda também nos cantos do salão principal, cuja decoração agora era típica para o Dia das Bruxas, com teias de aranha e abóboras iluminadas espalhadas pelo teto. Aproximou-se sem pensar muito, se perguntando se deveria chamá-la para dançar também, mas os olhos dela brilharam quando o viu e ela logo se adiantou.

“Vamos sair daqui? Não aguento mais esses sapatos.”

Regulus olhou para os pés dela e viu uma sandália com um pequeno salto e, embora preocupado com Bartemius, afinal disse que iria esperar, acabou sendo arrastado em direção a uma das saídas laterais, porém se deteve e a segurou, olhando para uma discreta roda formada na parte fora da luz do salão.

“Hey. O que é aquilo?”

Confusa, Lucinda olhou na direção que Regulus observava e deu de ombros.

“Não sei. Vamos ver.”

Aproximando-se, era perceptível que não se tratava de uma roda, parecia mais um cerco. Alguns alunos curiosos observavam de fora, porém longe suficiente para não se envolver, no centro estava Sirius e os amigos dele rodeando Severus Snape que acabara de ser empurrado por James Potter em direção ao chão. Além dele, Sirius e Peter estavam com as varinhas em mãos e Remus era o único mais atrás e não parecia estar a empunhando, mas quando os olhos se cruzaram com os de Regulus, ele os desviou. Distraiu-se com o ato, não conseguindo entender o que estava acontecendo. Por que eles estavam fazendo aquilo? Viu Sirius rir junto com os outros dois e ele usou a varinha para tirar o conteúdo do copo de uma das pessoas por perto e o jato caiu direto sobre a cabeça de Severus, que fechou os olhos com uma expressão azeda enquanto aceitava o banho. Lembrou-se do empurrão que levou no corredor e de como Mulciber e Avery outra vez esconderam seus livros em outra ocasião até que Lucius Malfoy deu uma bronca nos dois e eles os devolveram alegando que haviam se confundido. Regulus sabia que não pelo sorrisinho malvado dos dois e evitava cruzar caminhos ou ficar sozinho com eles.

De algum jeito, sentiu-se traído e decepcionado, mas foi Lucinda quem o puxou para mais perto, a expressão dela não estava muito contente. As risadas ficaram mais altas, contudo, antes que interviessem, Lilian Evans quem passou por eles como um furacão, empurrando-os assim como a outras pessoas no caminho, e o empurrão que deu em Sirius para longe de Snape foi o que teve mais força na noite, fazendo o Black recuar alguns passos, o rosto tão vermelho quanto os cabelos. Mesmo com a luz suave do salão, era perceptível.

“O que pensa que está fazendo, Black?! Potter! Seus…”

Peter já havia recuado, assustado, nem parecendo que há dois segundos tinha uma expressão convencida no rosto.

“Não seja dramática, Evans. Você sabe que ele merece.” Sirius respondeu com cinismo.

“Não sei porquê anda com um perdedor como ele.” Potter completou, o sorriso malicioso presente no canto dos lábios. “Ele é da Sonserina, se não percebeu.”

Lucinda soltou seu braço e se aproximou de Severus para ajudá-lo a se levantar, Regulus acabou indo atrás embora estivesse com os ouvidos mais atentos à conversa, mas ele recusou a ajuda de quem quer que fosse e ficou de pé sozinho, disparando em direção à saída do Salão.

“É meu amigo, idiota! Bem melhor que vocês! O que vocês fazem não é diferente de Você-Sabe-Quem.”

O sorriso de Potter vacilou por um momento.

“Você sabe que é brincadeira, Evans. Só queremos ajudá-lo a virar homem de verdade. Faz bem, forma o caráter.”

Ele tomou uma postura defensiva, mas Sirius não levou tão tranquilamente, sua expressão se tornando irritada e ele se aproximou como se fosse atacá-la, mas parou há um passo de distância.

“Não nos compare a ele! Tem uma diferença, Evans: nós somos os bonzinhos.”

Ouviu a garota grunhindo e ela sacou a própria varinha, mas James passou o braço pelo peito de Sirius, puxando-o para recuar.

“Deixa pra lá, Sirius. Ela não entende. É uma garota.”

“Vocês são desprezíveis!”

As palavras saíram com tanta frieza que Regulus não reconheceu a menina gentil do dia anterior. Percebendo que Severus não estava ali, ela saiu apressada em busca dele. O burburinho se desfez quando as pessoas perceberam que não haveria nenhuma briga, embora Regulus continuasse atônito. Agora entendia a hostilidade que recebeu de Severus. Não poderia culpá-lo, se ele realmente achava que Regulus era igual a Sirius.

Mas Sirius, parecendo estar mais calmo, finalmente o notou e sorriu ao vê-lo, aproximando-se como se não fosse nada.

“E aí, Reg! Quem é essa? Sua namorada?”

“Namorada?” Repetiu, confuso. Por que ele estava falando tão casualmente depois de ter feito aquilo? Ele não estava… incomodado? Se sentindo culpado?

Lucinda foi mais rápida. O olhar dela para Sirius era cortante e mal sentiu quando ela segurou sua mão e o puxou.

“Vamos sair daqui, Regulus.”

Não deu chance para ele ou Sirius falar o que quer que fosse, embora tenha o ouvido resmungar um “o que há com essa garota” com ares de indignação antes de eles sumirem de seu campo de visão.

“Era seu irmão?”

Ela perguntou e fez com que ele se encolhesse, envergonhado, assentindo com a cabeça.

“Ele é um babaca.”

“N-não… não é tanto assim. Deve ter tido um motivo.”

“Não me parecia ter um motivo. Eram quatro contra um, Regulus! Não tem desculpa.”

Por mais que não gostasse de admitir, ela estava certa. Por mais que fosse seu irmão e quisesse defendê-lo, afinal, apesar de todos os problemas dos últimos tempos, sempre havia gostado dele e o admirado, não encontrou palavras para fazê-lo.

Percebeu que ainda estava tendo a mão segurada e discretamente a recolheu, um pouco envergonhado embora Lucinda parecesse nem reparar, o cenho franzido ainda denotando irritação. Talvez fosse simples desconforto pelos últimos acontecimentos, mas não sabia o que falar.

“Reggieee!” Por sorte Bartemius parecia ter um radar e a voz lhe alcançou antes que ele se jogasse em seus ombros, aproveitando-se dos centímetros mais alto. “Onde estava? Por que me largou?”

“Você quem me largou primeiro.” Resmungou baixo, puxando os braços do amigo para tentar se livrar do enlace. “Se não lembra.”

“Mas aquela menina…! Era muito chata! Só sabia falar do meu pai e perguntar disso e daquilo e não sei o quê.” Torceu o nariz com irritação, então percebendo Lucinda ali e só então o soltou. “Oi, Lucinda!”

“Ei, Barty.” Ela ria, parecendo ter se esquecido do que presenciou, e ironizou. “Era aquela do quarto ano? As meninas não perdem tempo, devem te ver como um bom alvo por causa da sua família. Tome cuidado.”

“Não estou interessado nelas! Meninas são chatas. Não você, você é legal. Mas por que não posso dançar com o Reg? Eu nem quero dançar pra começar!”

Regulus suspirou paciente enquanto Lucinda ria. Entendia Bartemius de algum jeito. Estava mais interessado em brincar e estudar do que em garotas, mas acabou explicando como se fosse óbvio.

“Porque meninos não podem dançar com meninos. É óbvio.”

Ao menos, era o que parecia normal. Nunca havia visto meninos juntos, afinal.

“Quem inventou isso? É idiota.”

Regulus franziu o cenho. Isso ele não saberia responder, mas Lucinda só parecia achar graça dos dois.

“Meninos são tão bobos. São crianças mesmo.”

“Você tem nossa idade.” Regulus retrucou.

“Sim, mas todos sabem que meninas são mais inteligentes e tudo mais.”

Ela sorriu com orgulho, fazendo Regulus revirar os olhos. Barty fez uma careta, mas deu de ombros.

“Não sei nada sobre isso, mas estou com sede.”

Regulus não viu mais Sirius ou seus amigos pelo resto da festa. Na realidade, não sabia se queria vê-lo tão cedo, ainda digerindo o que havia visto, porém foi ele quem o abordou. De início, Regulus se assustou quando, na segunda-feira seguinte, um braço lhe envolveu pelo ombro, achando que poderia ser Mulciber voltando a uma abordagem mais direta, mas foi a voz de Sirius que soou próximo a seu ouvido.

“Então, Reg. Já arrumou uma namoradinha e nem conta pro seu irmão aqui?”

“Namorada?”

“Sim. Aquela menina da festa.” Sorriu, sugestivo, e apertou-lhe o pescoço. “Já deu uns pegas nela? Como foi?”

“A Lucinda?” Franziu o cenho, afastando com cuidado o braço de Sirius. “Ela é minha amiga.”

“Vai, Reg, não precisa ficar com vergonha do seu irmão. Todo mundo sabe que não existe isso de amizade de homem e mulher. Só se o cara for tipo… você sabe.” Deu de ombros, cínico, e voltou a envolvê-lo pelos ombros. “Me conta. Beijou ela?”

Horrorizado, Regulus se afastou, o rosto ficando vermelho.

“Eca! Não! P-para com isso!”

Sirius balançou a cabeça negativamente, a expressão convencida.

“É mesmo um bebê. Logo você vai entender, irmãozinho. Logo vai entender.”

Deu dois tapinhas condolentes em seu ombro e Regulus afastou sua mão.

“E você já beijou uma menina por acaso?”

Disparou, vendo Sirius perdendo momentaneamente a pose e pigarreando, porém foi salvo de uma situação constrangedora por Peter que vinha correndo atrás dele, os outros dois vindo atrás. Andavam sempre em bando. James estava despreocupado e Remus suspirava como se cansado. Peter sorria como um idiota.

“Sirius! A bomba ficou pronta, vamos.” Chamou, voltando-se para Regulus e ele fez o movimento de colocar a mão em seu ombro. “E aí, irmãozinho.”

Regulus fechou a cara e recuou, fugindo do toque e cruzando os braços. Peter se encolheu com o olhar fulminante do mais novo.

“Não. Encoste. Em. Mim.”

“S-sim…?”

“Não liga, Pete. Ele está de mau humor porque não beijou a namorada. Não precisa mijar nas calças.”

Rindo, Sirius tirou sarro do amigo. Peter resmungou que não fazia aquilo, envergonhado, mas James os apressou.

“Vamos logo, gente. Se não o Remus aqui vai surtar.”

“Vamos nos atrasar pra aula…” Remus resmungou, parecendo de mau humor, recebendo uma resposta positiva arrastada de Peter e Sirius, de quem realmente não ligava para perder aula.

“Até depois, irmãozinho.”

Sirius despediu-se e foi atrás de James. Peter não olhou para Regulus duas vezes, como se estivesse assustado, enquanto Remus soltava o ar com alguma irritação. Regulus não deixou de notar nas olheiras que ele tinha sob os olhos quando ele se voltou para si e forçou um sorriso quando acenou para cumprimentá-lo.

“Regulus.”

“Lupin.” Ele lhe deu as costas, mas Regulus, de súbito, acabou se adiantando, agarrando o tecido da capa da Grifinória que esvoaçava. “Espera.”

Remus respirou fundo e se virou para fitá-lo novamente.

“Posso ajudar?”

Regulus recolheu a mão, hesitando, procurando as palavras certas para perguntar o que queria. Abraçou o livro que carregava com os dois braços, mordiscando o lábio inferior.

“Aquilo… na festa. O que foi aquilo?”

Remus precisou de um momento para ponderar, respondendo com indiferença.

“Com o Ranhoso? É normal. Não tem que se preocupar.”

“Normal?” Fez uma breve careta ao vê-lo dando de ombros. “Você concorda com aquilo? Você estava mais atrás. Você não acha isso normal de verdade. Acha?”

Ele respirou mais forte, se movendo incomodado, mas tentou soar paciente e Regulus se sentiu como uma criança.

“O que quer, Regulus?”

“Você acha normal?”

“O que quer que eu faça?” A voz ganhava um quê irritadiço. “Não sou babá deles.”

“Você podia tentar pará-los. Você parece ser o mais… sensato.”

“Não vou brigar com meus únicos amigos por causa de um ninguém!”

O cinismo assustou a Regulus, que ficou sem fala. Não parecia combinar com Remus aquele tipo de comportamento, embora não tivessem interagido muito. Acabou encolhendo os ombros e, de algum modo, entendeu porque ele era amigo de Sirius. Ou porque Sirius estava agindo daquele jeito estranho nos últimos tempos: todo o grupo deveria ser daquele jeito.

Parecendo cair em si, Remus se retraiu e nervosamente se afastou.

“Estou atrasado! Tchau!”

Foi inevitável ficar ruminando sobre o que aconteceu. Únicos amigos ele disse, mas por mais que estivesse chateado, no fim não conseguiu culpá-lo. Nem todo mundo conseguia ser como Sirius, que brigava e discutia quando não concordava com algo. O próprio Regulus vivia tentando atender as expectativas dos pais por medo de decepcioná-los, porque era seu lugar seguro, apesar de tudo. Talvez Remus sentisse algo parecido.

Tentou procurá-lo mais tarde naquela semana, mas quando encontrou o quarteto, era apenas um trio. Aproximou-se do irmão que, distraído, jogava bola passando entre os outros dois.

“Onde está Lupin?”

“Remus? Ele precisou ir pra casa. A mãe dele passou mal.”

“Oh…”

“Pois é!” Peter pegou a bola no ar e atirou na direção de James. “A mãe dele tem saúde frágil. Parece que ele puxou isso dela. Volta e meia ou ele vai parar no hospital ou ele tem que ir pra casa ver ela.”

“Hm…”           

“Fico com dó dele.” James falava, mas ria quando atirou com força na direção de Sirius, fazendo Regulus recuar por reflexo. “Antes de saber, a gente brincava que era TPM, mas nunca mais. Achei que ele ia nos matar!”

Eles não pareciam estar prestando muita atenção nele então Regulus acabou deixando para lá e desistido de falar com o irmão e os idiotas. Havia decidido também que não era de sua conta e não ficaria pensando sobre, mas era difícil quando via Snape pelo salão comunal da Sonserina e também nos encontros do Clube do Slug. Ele lhe ignorava categoricamente e não gostava da sensação, mas não achava que podia fazer algo sobre.

Era a décima vez que suspirava e isso fez com que Barty voltasse a erguer o olhar para fitá-lo, o cenho franzido em preocupação. Deixou o próprio livro sobre a barriga e cutucou a bochecha de Regulus, passando o braço na frente do livro dele já que estava deitado em seu colo.

“O que foi, Reg? Você não é de suspirar assim.”

Mordeu a parte interna da boca, discutindo internamente se deveria falar ou não com Bartemius sobre.

“É… é que eu acho que não gostam muito de mim… na Sonserina.”

Barty franziu o cenho e se sentou de súbito, fitando-o atentamente.

“Por quê?”

“Por causa do meu irmão.”

“Mas você não é ele.”

Sorriu fracamente, desejando que outras pessoas pensassem assim.

“Alguns colegas meus não pensam assim. Acham que sou igual a ele.”

“Então eles são cegos ou idiotas. Você é muito melhor que ele! Não tem que ficar provando nada a ninguém!”

Agradeceu baixinho, sentindo um pouco de inveja de Barty. Queria ser daquele jeito. Mais como ele ou como Sirius, despreocupado, sem se importar com o que os outros pensavam. Mas precisava sempre se provar, provar que estava à altura e, enquanto construía uma imagem para si, lhe incomodava saber das rachaduras que havia nela. Não bastava Mulciber e Avery que ainda não haviam enjoado das brincadeiras, ainda tinha o desprezo de Severus. Era frustrante não conseguia atingir o padrão exigente ao qual havia se acostumado. Mas logo viriam as férias de fim de ano e poderia relaxar um pouco.

Antes das férias e das provas, entretanto, vinha o primeiro jogo da temporada de quadribol. Como de praxe, havia descoberto, seria Sonserina versus Grifinória e Lucinda foi quem lhe arrastou para assistir. Mas iria de qualquer jeito, essa era a verdade.

“Vamos juntos, Reg! Você sabia que o novo capitão do time da Sonserina é uma menina? Isso é demais!”

Regulus não achava estranho o fato de ela ser mulher. Na sua família, apesar de por fora o chefe ser Orion, Walburga quem realmente mandava nas coisas, então achava natural. O mais estranho era que não bastava Emma Vanity estar apenas no terceiro ano, ela era trouxa. Não tinha muitos na Sonserina, mas quando a viu voando, entendeu porque ela conseguiu a posição e porque os colegas a respeitavam. Mesmo Mulciber não abria a boca para falar nada e até mesmo torcia enfaticamente, tinha antes imaginado que era por ela ser mais velha e ele só incomodava alunos mais fracos, mas Vanity voava com maestria e tinha uma expressão feroz e decidida, de quem mataria qualquer um que entrasse em seu caminho, e, mesmo que não conseguisse ouvir, via que os outros acatavam suas ordens sem pensar duas vezes, confiando cegamente em seu julgamento, até mesmo Evan Rosier (que inicialmente Regulus pensou que seria o capitão, se fosse ser sincero), afinal ela tinha uma ótima visão de jogo e protegia os aros com perfeição mesmo enquanto gritando instruções para os colegas. Lucinda não tirava os olhos dela e sempre gritava quando ela evitava que a Grifinória marcasse algum ponto.

Teria se incomodado com os gritos estridentes, mas também estava focado no jogo. Se sobressaltou quando Rosier quase foi atingido por um balaço que desviou no último momento e só respirou aliviado quando ele o rebateu, por um momento achando que o coração iria sair pela boca. Mas durante todo o tempo, ele sorria imponente e pode ver a risada que o aluno do quinto ano soltou quando atingiu o apanhador do outro time, o que permitiu que o da Sonserina apanhasse o pomo. Ele não era muito bom, constatou Regulus com alguma parte de sua mente, sequer registrando o nome do rapaz mesmo que agora toda a arquibancada vibrasse seu nome e o de Rosier, ainda concentrado no sorriso ferino de Evan que agora batia as mãos com Vanity, comemorando a vitória e ficou os acompanhando sobrevoando o estádio, os olhos fixos no rapaz, mesmo por entre os cabelos de Lucinda, que havia o abraçado e começado a pular comemorando a vitória.


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Notas finais do capítulo

Personagens novos, novas dinâmicas, espero que tenham gostado do capítulo! O que estão achando?
Obrigada a quem está lendo, agradeço de coração se quiserem mandar um review hehe ♥
Beijos!



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