O Pequeno Rei e sua coroa de espinhos escrita por crowhime


Capítulo 5
Capítulo IV




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1972

Regulus estava satisfeito. Feliz, atrevia-se a dizer. Apesar da tensão presente nos sorrisos discretos de sua mãe e seu pai durante os últimos tempos, havia finalmente recebido a carta de Hogwarts e agora ia com Walburga e Monstro fazerem compras. Sirius andava a maior parte do tempo trancado no quarto mesmo sendo férias, então iriam apenas os três. Regulus chegou a chamá-lo para ir junto ao Beco Diagonal. Ele não quis.

Já tinha comprado os livros, uma linda coruja preta, pequena e fofa com olhos gigantes marrom escuros, cujo nome não ainda não havia conseguido decidir (no começo queria um gato, mas sua mãe ficou falando como eles não serviam para nada e só tinham pulgas e acabou ficando com a coruja), pergaminhos, pena, tinta e agora estavam na loja de uniformes. Essa parte era um pouco chata, ficar parado com os braços estendidos enquanto tiravam suas medidas. Sua mãe estava folheando alguma revista de moda e Monstro aguardava ao lado das compras já feitas. Entediado, ficou a observar os clientes, a expressão séria, afinal havia aprendido a sustentar bem a imagem que deveria ter, e sempre a usava quando saía, mesmo que não acontecesse muito. Era algo simples para um Black.

Sua atenção foi tomada quando um grupo muito parecido com o seu entrou na loja. Um menino entrou entusiasmado na loja com o que deveria ser a mãe, afinal tinham os mesmos cabelos cor de palha, e uma elfa carregando algumas sacolas. O lugar em frente a ele vagou e os funcionários o encaminharam até ali, obrigando-o a também ficar de braços abertos enquanto mediam cada parte de seu corpo. Ele devia ter sua idade já que parecia estar tirando medidas para o uniforme da escola. Acabaram se encarando, o rapaz de cabelos loiros notou Regulus e sorriu amplamente, fazendo as covinhas visíveis no rosto alvo salpicado por algumas sardas, de forma que beirava a idiota, considerou o Black, que havia aprendido que não se deveria sorrir tanto. Pois fazia com que se parecesse um bobo.

Não devia estar muito errado, pois logo o menino loiro começou a fazer algumas caretas que deixaram Regulus confuso até que um jeito particular como ele havia torcido a boca e movido os olhos o fizesse soltar um riso abafado. Cobriu a boca com uma das mãos para contê-lo, porém levou uma batidinha na perna em resposta que o mandava ficar parado. Murmurou um pedido de desculpas e viu o garoto sorrir orgulhoso do feito, satisfeito como se tivesse cumprido alguma missão importante, levando Regulus a revirar os olhos, mas esboçar um sorriso contido.

Na hora que estava indo embora, o garoto ainda acenou para Regulus, recebendo uma bronca para ficar quieto e, incerto, ele apenas retribuiu com um meneio de cabeça, mal contendo a animação quando logo depois a mãe anunciou que só faltava a varinha.

Regulus havia estado ali no ano anterior enquanto Sirius escolhia sua varinha. O Sr. Ollivander até perguntou se o “rapazinho não vai olhar nada”, mas estavam esperando aquele momento, no qual oficialmente iria para Hogwarts! Era o melhor fabricante de varinhas e, logicamente, os Black sempre tinham o melhor.

A loja era estreita e abarrotada. Tirando a cadeira com a mesa no canto, próximo a escada que levava ao segundo andar, havia prateleiras por toda a loja com caixas estreitas de varinhas empilhadas até o teto e uma fina camada de poeira cobria tudo. Provavelmente Ollivander não limpava o local com frequência, mesmo que houvessem feitiços para isso, Regulus pensava enquanto entrava junto com a mãe dentro do estabelecimento. Monstro ficou do lado de fora, mas ele espiava o lado de dentro através de uma das janelas que havia na fachada da loja.

“Senhora Black! Então já faz um ano… como o tempo passa. Como está seu outro filho? Se dando bem com a varinha que vendi a ele?”

“Certamente que sim.” Walburga respondia entre o simpático e o arrogante, não entrando em maiores detalhes. Sirius certamente estava se dando bem com a varinha, utilizando-a para deixar a vida em casa mais complicada, para desespero de Walburga e do elfo doméstico dos Black. E de Regulus, já que agora o irmão ameaçava azará-lo quando alguma discussão surgia e Sirius sentia que estava perdendo. “Mas agora vamos olhar uma para meu outro filho, Regulus.”

O fabricante de varinhas se debruçou mais sobre o balcão, ajustando os óculos e baixando o olhar para fitar o menino, sorrindo docilmente.

“Sim, me lembro de você. Finalmente chegou a hora, não é? Animado?” Cheio de expectativa, Regulus assentiu e o vendedor foi buscar algumas caixas. “Aqui, sabe como funciona, não é? Experimente esta. É feita de Olmo. Núcleo de fibra de coração de dragão.”

Regulus estava maravilhado com a possibilidade de finalmente ter sua varinha, mas assim que a pegou, a varinha tremeu em seus dedos como se tentasse escapar e soltou uma faísca que atingiu o teto e rapidamente ele a largou. Ollivander o fitava como se tentasse analisá-lo, guardando a varinha.

“Definitivamente não.” Regulus se mexeu desconfortável, mas ele abriu uma nova caixa. “Vamos com essa agora. Nogueira-negra.”

“Certo…” Pegou a varinha e tentou sacudi-la no ar, mas quando na terceira vez nada aconteceu, o vendedor também a pegou de volta.

“Também não.”

Regulus começava a ficar preocupado de que não existiria uma varinha adequada para ele. Sirius havia achado rápido a dele e agora Regulus já havia passado até mesmo por uma com pelo de unicórnio - o que fez Walburga esboçar uma expressão indignada e ficar aliviada quando Regulus quebrou violentamente um vaso sem intenção e o vendedor disse que também não era - e nada de alguma se encaixar. Agora o fabricante havia subido na escada e a arrastado para o meio das prateleiras e a família Black se sobressaltou quando ouviu o barulho de várias caixas caindo, mas logo o senhor Ollivander voltava, com os cabelos meio desgrenhados, mas uma caixa fina em mãos, a qual abriu e estendeu a varinha para Regulus, com uma expressão de quem parecia ter finalmente decifrado o cliente.

“Aqui. Esta é feita de madeira de cipreste, com núcleo de pena de fênix.”

Concordando com a cabeça, Regulus pegou a varinha e nem mesmo precisou meneá-la para sentir a energia que lhe transmitia, e o senhor Ollivander soube que acertou ao observá-lo, embora um lampejo de preocupação houvesse cruzado seu olhar como se talvez não quisesse ter acertado.

Mas Regulus estava maravilhado demais para perceber e Walburga estava satisfeita observando a alegria do filho, então ela simplesmente pagou e ambos agradeceram antes de se juntarem a Monstro do lado de fora. Regulus fez questão de carregar a caixa com a varinha, quase a abraçando, alheio ao fato daquele tipo de varinha ser associado com a nobreza e, também, com atos heroicos.

À noite, era apenas ele e Sirius para o jantar. Orion e Walburga precisavam comparecer a algum jantar importante relacionado ao trabalho do patriarca no Ministério. Regulus contava para Sirius como havia sido no Beco Diagonal e pedia opiniões para o nome da coruja, mas ele não parecia muito interessado, se irritando à medida que Regulus falava sobre a mãe e a Sonserina e como estava empolgado. Sem perceber, Regulus continuou falando mesmo assim.

"Quem liga, Reg? É só uma coruja! Ela vai ficar no corujal e você nem vai ver ela."

"Mas…"

"Você fica mamãe isso, mamãe aquilo, sei que está louco pra virar o bichinho deles, mas vê se cresce."

"Eu…"

"Você ainda é um bebê chorão, aposto que não vai dar uma semana e você vai estar correndo querendo ficar comigo na Grifinória. Ou voltar pras saias da mamãe."

O mais novo mordeu o lábio inferior, querendo pedir desculpas por ter irritado o irmão, embora não entendesse o que havia feito. Sirius continuava falando em tom superior, nem mesmo dando atenção às suas tentativas de falar.

"Seu problema.” Ele começou, pausadamente. “É que você não sabe pensar. Fica querendo só agradar ao Orion e Walburga, dá nisso. Um pirralho mimado que não sabe viver fora desse casulo."

"Só porque tento não magoar mamãe e papai, diferente de você?" Franziu o cenho, começando a se irritar também.

Monstro olhava confuso para os irmãos, sem saber o que fazer, afinal nunca os vira brigando tão sérios. A tensão parecia faiscar, o ar pesado ao se respirar.

"É isso que você quer, não é? Ser o favorito. Não precisa se preocupar, você já é uma cobra mesmo! Com certeza vai parar na Sonserina sem pensar duas vezes. Sem chance de ir pra Grifinória ou qualquer outra casa!"

"E daí?! Aposto que a Sonserina é legal! Ao menos eu ligo pra minha família! Melhor que você, que foi pra essa Grifinória e agora quer fingir que não tem nada com a gente e fica agindo como se fosse o maioral!"

Regulus estava irritado. Não costumava discutir, não gostava de brigas, então preferia engolir os próprios sentimentos, mas o comportamento do irmão estava lhe dando nos nervos. Apertava com força os talheres que tinha em mãos enquanto encarava Sirius, que agia com deboche.

"Nós somos decentes. Nobres! Os Black ficam nessa de nobreza e sangue puro, mas são um lixo. A Sonserina é um lixo! E você está ficando igualzinho a eles!"

O que aconteceu foi muito rápido. Regulus não entendeu, bufava irritado e magoado e sentia vontade de chorar porque nunca Sirius havia falado daquele jeito consigo, o chamando de tantas coisas horríveis, mas se continha porque não queria ser um bebê chorão como o irmão lhe chamava. Porém as colheres postas ao lado de seu prato levitaram e voaram em direção a Sirius, que se assustou e se abaixou por reflexo, mesmo que os talheres tenham voado há mais de dois metros longe de sua cabeça. Assustado, afinal com aulas de Walburga havia aprendido a se controlar para que não saísse fazendo aquilo sem querer e há muito tempo isso não acontecia, se levantou de súbito, derrubando a cadeira, largando os talheres do peixe no chão e disparando para os andares de cima, também temendo alguma retaliação vinda da parte de Sirius, que se recuperava do choque.

"Ora, sua peste! Volte aqui!"

Não se virou para trás, ouvindo a voz de Monstro intervindo e se preocupou com o elfo, mas antes que pensasse, já havia trancado o quarto e ainda arrastou a cômoda de madeira, que ficava ao lado da grande cama, para frente da porta em um pico de adrenalina, só então desabando sentado no chão, respirando com dificuldade.

Ainda com a mente turva e o coração acelerado, Regulus resgatou a varinha, retirando-a da fina caixa que estava junto com as compras do dia, apoiando as costas contra o armário e ficando sentado no chão, apurando os ouvidos. Não ouvia mais nada, não parecia que o irmão estava atrás dele, então Sirius deveria ter se acalmado ou descontado as frustrações no elfo doméstico. Iria agradecer e pedir desculpas depois para Monstro. Mesmo que ele fosse o criado, não merecia aquilo.

Eventualmente, acabou se deitando na cama, o estômago roncando. Com a empolgação em contar sobre o dia para Sirius e depois com a briga, mal havia tocado no primeiro prato do jantar e se recusava a sair do quarto. Não que achasse que Sirius estivesse esperando para emboscá-lo, mas… bem, talvez sim. Às vezes, sentia que não conhecia mais o irmão e isso era assustador.

Regulus estava pensando em apenas se virar e tentar dormir quando ouviu batidas na porta e se sentou, imaginando que era Monstro, afinal Sirius não costumava bater antes de entrar. A maçaneta girou e a porta foi empurrada, porém foi travada pela cômoda que Regulus havia deixado ali.

“Que merda é essa?”

Era a voz de Sirius praguejando e Regulus voltou a pegar a varinha que havia deixado sobre o colchão, em uma postura defensiva, embora não soubesse direito o que poderia fazer com ela. Sabia algumas coisas na teoria, mas não havia tentado na prática.

“Reg…” O irmão respirou fundo, a voz soando calma e quase gentil. “Abre a porta, você praticamente não comeu. Trouxe a sobremesa pra você.”

“Hum.” Cruzou os braços, ainda desconfiado. “Cadê o Monstro?”

“Enxotei ele pra cozinha. Eu queria trazer.”

Ainda cauteloso, Regulus se levantou, mantendo distância da porta, porém espiando a expressão desconfortável do irmão apenas meio visível através da fresta mínima que a cômoda havia permitido que se abrisse.

“Por quê?”

“... Céus, Regulus! Só me deixa entrar! Sim?”

Ele soava constrangido. Parecia sincero, então, embora um pouco relutante, posicionou-se na lateral da cômoda, empurrando-a com as mãos. Agora, percebia como era pesada. Não entendia como havia conseguido arrastá-la, a madeira maciça e adornada lhe fazendo suar enquanto o móvel se arrastava. Quando conseguiu espaço suficiente para Sirius passar pela porta, ele entrou e deixou a mousse de chocolate que Monstro havia preparado sobre a escrivaninha, ajudando-o a empurrar o móvel de volta para o lugar. Sentaram-se então no chão para respirar e descansar, Regulus comendo a sobremesa ali mesmo, afinal estava faminto.

Sirius o fitava, parecendo querer falar algo, mas no fim não disse nada por um bom tempo, passando o braço pelo corpo do irmão quando este estava quase terminando de comer.

“Vamos juntos para Hogwarts, ok?”

Regulus o encarou, tentando decifrar se aquilo era uma espécie de pedido de desculpas. Ou se ele estava dizendo que estava tudo bem se fosse para a Sonserina. Se era um pedido para que não contasse aos pais o que houve. Encolhendo os ombros, concordou de leve, sorrindo discretamente, embora um pouco tímido, para Sirius, decidindo que aceitava o que quer que fosse.

Sirius pareceu ficar mais tranquilo nos dias que se seguiram e foi como se a briga nunca tivesse acontecido. Logo era o dia de ir para Hogwarts e os gritos de Walburga se faziam audíveis para Sirius acordar de uma vez. Regulus já estava de pé, afinal mal havia conseguido dormir de tão animado que estava, assim, quando a mãe entrou em seu quarto, já estava se vestindo em frente ao espelho.

Walburga ficava satisfeita por não ter que acordar aos berros ao menos um dos filhos. Regulus era mais responsável, porém ainda assim ela fechou a porta atrás de si, aproximando-se do menino.

“Já conferiu tudo, Regulus?”

“Sim!”

“Não está esquecendo nada?”

“Acho que não…”

Walburga foi conferir a bagagem dele mais uma vez para garantir que estava tudo nos conformes. Quando terminou, Regulus já estava vestido e com os cabelos arrumados, mas antes que saíssem, abaixou-se para ficar com o rosto no mesmo nível do filho.

“Regulus. Nos dê orgulho.”

Ele concordou com a cabeça.

“Pode deixar.”

“E…” Walburga hesitou. Ela não era de hesitar, mas abaixou o tom de voz, colocando uma das mãos no ombro do filho mais novo. “Fique de olho no seu irmão. Estou com medo de onde ele pode se meter. Você sempre foi mais sério e responsável, eu… Eu confio em você, Regulus.”

O nervosismo aumentou dentro de Regulus, que concordou rapidamente com a cabeça. Não esperava tamanha expectativa vinda dos pais, por ser o mais novo era como se eles não esperassem nada dele, de fato, então naquele momento sentiu o peso das palavras em suas costas, visto que não queria decepcioná-la. Por trás da expressão impassível e séria, Walburga estava satisfeita com a resposta e se virou para sair, chamando-o para tomar o café da manhã antes de finalmente se dirigirem à King’s Cross.

Não houveram grandes despedidas. Os pais levaram os filhos até a estação, mas mesmo quando o trem apitou para sair, o máximo que Regulus recebeu foi um aperto no ombro de Orion e o lembrete de que ele era um Black e que não deveria decepcioná-lo também. Regulus até sentiu vontade de abraçar a mãe, mas sabia que não deveria. Sentimentos eram fraqueza, afinal. Mas ao menos estava com Sirius, não precisava temer nada, afinal ele estaria consigo.

Porém, Sirius estava impaciente para entrar logo e saiu andando rápido, enquanto Regulus caminhou atrás dele, parando atrás do irmão quando ele abriu a porta de uma das cabines.

O irmão mais velho pareceu virar outra pessoa, sorrindo amplamente quando entrou, a voz animada ao cumprimentar os garotos que já estavam dentro dela.

“E aí, James!” Ele deu um meio abraço nele, contornando os ombros do tal James Potter, Regulus se lembrou do nome, ficando um pouquinho irritado porque era como Sirius geralmente o tratava, cumprimentando os outros dois a distância. “Remus, Peter! Quanto tempo! Achei que ia morrer naquela casa.”

Regulus observou, percebendo rápido que não fazia parte daquilo, mas tomou tempo para observar. James era a presença mais envolvente daquele grupo, como já desconfiava pelas cartas que Sirius lhe mandou no ano anterior. Tinha uma malícia nos olhos escuros, que ficavam escondidos por trás dos óculos, que deu a impressão a Regulus de que ele estava sempre prestes a aprontar, e os cabelos rebeldes e sorriso brilhante fazendo-o ter certeza de que Sirius estava se subjulgando a ele. O que Regulus achava um absurdo. Um Black! Se sujeitando a outra pessoa!

Os outros dois pareciam mais desprezíveis, quase sem graça. O mais baixo tinha uma cara redonda e ria de forma que lembrava um rato, tão simples e sem nada de especial que poderia passar despercebido, embora o contraste com o outro fosse engraçado e quase fez Regulus rir, afinal parecia o mais alto dos quatro. Magro e, julgou Regulus, desengonçado, a cicatriz cortando a bochecha, parecendo recente, sendo a coisa mais interessante no conjunto, deixando-o se perguntando o que aconteceu, embora ele tentasse esconder o ferimento com os cabelos castanhos. Tinha algo de familiar nele, porém não deu atenção, pois era justamente ele o primeiro a parecer notar sua presença na porta. Mesmo assim, era orgulhoso e não desviou o olhar, nem mesmo quando o recinto caiu em silêncio e os quatro pares de olhos estavam grudados em si, embora a atenção tenha lhe deixado internamente constrangido.

“O que foi, Reg? Você pode procurar outro lugar, não é?” Sirius finalmente se pronunciou, balançando a mão como se enxotasse um animal. “Tenho muito pra conversar com os meninos.”

Regulus franziu o cenho e só estalou os lábios, mantendo a expressão altiva quando se virou e fechou a porta da cabine, embora ainda escutasse as vozes lá dentro antes de se afastar completamente.

“Seu irmão?”

Se deteve com uma careta, se perguntando o que falariam dele agora.

“Sim. Mas nem liga, é só um pirralho!”

“Falou o irmão um ano mais velho…”

Os três riram, Regulus não reconheceu a voz do irmão no meio, compreensível já que estavam rindo dele, embora não conseguisse distinguir quem era quem ainda.

“Ele poderia ficar, não me incomodaria.”

“Nah, ia ficar apertado. E ele é igual meus pais, sério. A cria perfeita da Walburga.”

Regulus sabia que deveria procurar um lugar já que o trem iria sair, mas sabendo que estavam falando de sua família só fez com que permanecesse ali.

“Você parecia tão animado ano passado… dizendo que seu irmãozinho ia para Hogwarts também e você mal podia esperar.”

“É… eu sei. Mas tenho certeza que ele vai pra Sonserina.”

“Bem”, reconheceu a voz sarcástica de James, “desde que ele não ande com o Ranhoso, talvez ainda dê pra levar.”

Dessa vez, os quatro riram e Regulus não entendia de quem eles falavam, então acabou parando de escutar a conversa e indo procurar uma cabine vaga. O que havia acontecido com vamos para Hogwarts juntos? Estava um pouco irritado.

Precisou andar por alguns vagões antes de achar um espaço, entrando e fechando a porta. Havia se acostumado a ficar sozinho, então era o ideal. Sentou-se perto da janela, mal acabando de se acomodar quando a porta voltou a se abrir e reconheceu o menino loiro da loja de roupas entrando.

“Oi! Posso ficar aqui? Tá tudo cheio.”

“Anh…” Endireitou-se no assento, concordando levemente desconsertado, pois achou que teria paz e silêncio durante a viagem. “Claro.”

“Obrigado!” Ele agradeceu animado demais, guardando a bagagem de mão e, de todos os lugares restantes da cabine, sentou-se bem ao lado de Regulus, que discretamente se juntou mais à janela. “Qual seu nome? Sou Bartemius Crouch Jr., mas pode me chamar de Barty.”

“Black. Regulus Black.”

Respondeu com orgulho, arrancando um olhar surpreso do outro.

“Oh. Já ouvi meu pai falando dessa família.”

“Claro que ouviu. Somos um exemplo para qualquer família sangue puro!”

Regulus parecia satisfeito, afinal tinha orgulho de vir de uma família reconhecida e nobre, uma das poucas restantes, também tendo reconhecido o sobrenome do rapaz como um dos pertencentes aos Sagrados Vinte e Oito, embora Crouch tenha omitido a parte de seu pai chamá-los de bastardos sujos e outras... características não muito agradáveis. Não é como se concordasse ou sequer o ouvisse de todo jeito. Assim, Barty apenas riu baixinho, tirando de dentro das vestes um pacote de feijãozinho de todos os sabores e estendendo a Regulus, que educadamente recusou.

“Te vi na estação. Achei que você estaria com aquele outro garoto. É seu irmão? Ele estava com uniforme da Grifinória.”

“Sim... é o Sirius. É meu irmão mais velho.”

“Deve ser legal! Eu sou filho único.” Ele colocou um punhado das balas na boca e Regulus teve certeza de que não era assim que se comia, vendo-o fazer uma careta, porém nada comentando em relação a Sirius. “Por que não está com ele?”

Regulus bufou baixo, meio emburrado, não disfarçando o desprezo na voz.

“Ele está com os amigos da Grifinória.”

“Meu pai foi da Grifinória.”

“Hum.” Cruzou os braços. “Eu vou pra Sonserina.”

“Wow!” Barty riu, impressionado com o fato dele já estar decidido, e Regulus ficou internamente confuso porque não entendia se ele estava tirando uma com sua cara ou não. “Legal! Eu só não quero ir pra Grifinória. De resto, não sei.”

Ele deu de ombros sinceramente e agora Regulus estava visivelmente confuso.

“Mas seu pai não era…?”

“Sim. Justamente!”

Crouch Jr. dizia como se fizesse todo sentido do mundo aquela lógica, então Regulus apenas aceitou em silêncio, embora se perguntasse se havia perdido alguma coisa durante a conversa.

Bartemius era engraçado. De início, achou que ele seria irritante, na melhor das hipóteses um idiota, mas ele parecia esperto e continuava a devorar os feijãozinhos enquanto conversavam. Eventualmente, eles acabaram e quando o carrinho passou, ele comprou mais, entre outros doces, assim como Regulus que se permitiu o luxo de também escolher alguns. Eventualmente, uma menina entrou na cabine que estavam e deitou no banco da frente, tinha bonitos cachos castanhos e pele escura, mas não se dignou muito a conversar com eles.

“Vou dormir. Me acordem quando chegarmos.”

Ponderaram sobre quem ela seria, mantendo a voz baixa para não incomodar, só depois descobririam que se chamava Wilkes e conseguiram supor que também iria para o primeiro ano devido às roupas. Acabaram se calando para não acordá-la, não que devessem algo a ela, e eventualmente também caíram no sono, com Regulus escorado na janela e Barty caído em seu ombro.

Regulus foi o primeiro a acordar. O trem estava parando e ele acordou com a falta do movimento contínuo de até então e abriu os olhos somente para ver os terrenos de Hogwarts se estendendo ao longe. Percebeu então o peso no ombro e fez uma breve careta, tentando acordar Bartemius delicadamente, cutucando-lhe o ombro.

“Bartemius. Acorda. Estamos chegando.” Chamou delicadamente.

O garoto ainda estava meio zonzo enquanto se endireitava e Regulus percebeu que ele estava babando e fez uma careta de nojo, torcendo o nariz, conferindo se o uniforme estava intacto. Por sorte, ele não havia babado em suas roupas. Parecendo constrangido - e isso parecia uma surpresa para Regulus, que supunha que Barty nunca se constrangia devido a seu modo de agir - ele limpou a boca e piscou algumas vezes, finalmente acordando e caindo em si. Animado, correu até o vidro, apoiando as mãos nele e praticamente grudando o rosto contra a superfície.

“Olha! Reggie! É Hogwarts!”

Ele constatava o óbvio, mas Regulus arqueou o cenho.

“Reggie?” Não se lembrava de ter dado tal intimidade a ele, mas o outro nem parecia ligar, rindo animado. Decidindo deixar aquela passar, se juntou a ele, observando o castelo imponente ao longe, podendo sentir o coração acelerando.

Wilkes acordava com o escarcéu que ambos fizeram e se sentou de cara feia, os encarando.

“O que é isso tudo?”

“Estamos chegando!”

A garota se aproximou também da janela e seus olhos brilharam. Até ela parecia animada, apesar da expressão vazia. Todos os primeiranistas deveriam estar.

Todos desembarcaram do trem carregando apenas as bagagens de mão, o restante seria encaminhado até o castelo. Regulus chegou a erguer levemente os pés, olhando em torno em busca do irmão e dos amigos idiotas dele, porém não os encontrou em meio à multidão e ficou… levemente decepcionado. Meio chateado. Mas Crouch Jr. logo contornava seus ombros com o braço, aproveitando-se de que era alguns centímetros mais alto que Regulus, e o puxou, animado, fazendo-o esquecer-se de Sirius por enquanto.

“Nem acredito que chegamos, Reg!”

“Por que está me chamando de Reg?” Finalmente perguntou, as pessoas não costumavam fazer isso tão de imediato! “Acabamos de nos conhecer.”

“Ué.” Ele o fitou, sem entender onde o Black queria chegar. “É seu nome, não é? Digo, é um apelido, mas… somos amigos agora! Não somos?”

Barty hesitou, mas o olhar dele tinha tanta expectativa que Regulus se rendeu. E não sentiu vontade de contestar, de todo jeito. Não tinha muitos amigos, afinal. Poderia ser um bom começo para a vida nova na escola.

“S-se diz… Tudo bem. Vou ver seu amigo, Bartemius.”

“Me chame de Barty. Já disse!” Ele resmungou, cutucando-lhe as costelas e Regulus conteve a vontade de rir, limitando-se a esboçar um sorriso.

Wilkes bocejou, meio entediada enquanto os encarava.

“Vocês estão no caminho.”

“Você pode ser nossa amiga também. Qual seu nome mesmo?”

“Evelyn… Wilkes.”

“Prazer, Evelyn! Eu sou o Barty, esse é o Regulus.”

Ela concordou com a cabeça. Parecia o tipo meio quieta, mas particularmente Regulus não achava ruim. Bartemius parecia ser capaz de falar pelos três se assim quisesse.

Seguindo o fluxo dos alunos do primeiro ano, ficaram surpresos ao ver o guarda-caça de Hogwarts. Um gigante. Ou algo parecido com um. Era menor do que um, mas definitivamente mais alto que um humano comum, se destacando à frente da multidão de alunos novos, com cabelos e barba longos.

Parecia meio sujo. Lembrava Sirius com os cabelos que se recusava a cortar.

“Alunos do primeiro ano, me acompanhem! Meu nome é Hagrid e vou levar vocês até Hogwarts! Mais alguém? Todos aqui?”

A voz do meio-gigante se sobrepôs aos alunos que vibraram de animação. O trio se entreolhou e no fim Wilkes foi quem primeiro deu de ombros e seguiu na frente, seguida por Bartemius e Regulus, que discretamente fez o outro retirar o braço de seus ombros. Não era acostumado a toques excessivos, visto a criação que tivera na família Black, então estranhava aquele comportamento.

O guarda-caça começou a organizá-los. O caminho era escuro e íngreme, difícil de decifrar, então precisavam tomar cuidado onde pisavam. Não tardou, porém, a verem uma luz ao longe que pertencia ao castelo de Hogwarts, cujas janelas brilhavam quentes ao longe, os alunos soltando sons animados enquanto a voz de Hagrid voltava a se fazer presente, parando em frente às margens de um grande lago.

“Essa é Hogwarts!” Hagrid gritava para se ouvir mesmo com os alunos exaltados e parecia feliz com o trabalho. “Quatro em cada barco, nenhum a mais! Vamos, vamos, se acomodem!”

Regulus engoliu a seco com a informação de que cruzariam o Lago Negro, mesmo que as luzes do castelo mais além devessem ser animadoras. Não era um nadador muito bom, não era uma habilidade que Walburga considerava muito útil visto onde moravam e não é como se tivessem muito acesso a grandes quantidades de água, apenas quando viajavam e isso não acontecia com tanta frequência, então tinha medo de não conseguir se virar caso caísse. Provavelmente se afogaria. Mas não caíria. Ao menos era o que esperava enquanto encarava aqueles barquinhos que teriam de entrar. Eram pequenos e só tinham uma lanterna pendurada. Não gostou muito da ideia e se perguntou o motivo daquilo, não via nenhum aluno mais velho por ali afinal, então deveriam ter tomado outro trajeto. Desejou ter ido com eles, mas respirou fundo e se acomodou ao lado de Barty, que definitivamente não estava incomodado pela situação, o sorriso amplo iluminando o rosto e os olhos fixos no castelo.

Junto com eles, entrou Wilkes e um outro menino de traços familiares, mas Regulus não deu muita atenção, preocupado em não cair na água e talvez discretamente invadindo o espaço pessoal de Barty no processo, garantindo que estava o mais distante possível da borda.

Hagrid ia na frente em um barco só para ele. Todos começaram a navegar ao mesmo tempo e o funcionário lhes dava instrução do que fazer. À medida que se aproximavam, o castelo parecia ficar maior e até mesmo Regulus passou a admirá-lo, o coração batendo rápido, como não demorou a notar. Precisaram abaixar a cabeça em algum momento e desembarcaram em um cais subterrâneo após atravessarem um túnel por baixo do castelo.

Segurando a lanterna, o guarda-caça guiou os alunos após garantir que todos haviam desembarcado em segurança e sem acidentes, e subiram por uma passagem até alcançarem o gramado na frente do castelo. Hagrid se adiantou e bateu nas grandes portas de entrada, que logo se abriram, revelando uma bruxa de vestes verde musgo e chapéu pontudo, os cabelos pretos presos de modo que lembrava a Regulus sua mãe, a mesma expressão austera e postura elegante, porém usava óculos.

“Essa é a professora Minerva McGonagall.”

“Obrigada Hagrid.” Minerva agradeceu e assumiu a posição de Hagrid. Ouviam-se murmúrios à direita, porém a professora os levou para outra sala onde os alunos se apertaram. “Sejam bem-vindos à Hogwarts.”

McGonagall se colocou a explicar o que aconteceria, que antes de se sentaram, aconteceria a cerimônia de Seleção. Informou a todos sobre as casas, que haveria um banquete logo após e sobre a taça das casas. Regulus sabia as informações de antemão, afinal toda sua família frequentou Hogwarts, mas ainda estava nervoso, assim como Barty que repetidamente lambia os próprios lábios e parecia nervoso ao seu lado. Os alunos começaram a conversar quando a professora se retirou por um instante, fazendo silêncio apenas quando ela retornou e mandou que se organizassem em uma fila, levando-os de volta, atravessando o saguão até a entrada do Salão Principal.

O lugar era de tirar o fôlego. A iluminação era feita por velas que flutuavam e o teto era enfeitiçado para parecer com estrelas de verdade. Os alunos foram postos de costas para a mesa dos professores, ficando diante de todo o salão, onde as mesas das quatro casas eram dispostas, e quase por reflexo Regulus buscou o rosto do irmão na mesa que identificou sendo da Grifinória.

Minerva fez as preparações, colocando um pequeno banco com o Chapéu Seletor à frente dos alunos do primeiro ano. O Chapéu logo começou a se mover - e cantar! - e Regulus não se lembrava de um Chapéu cantante. Mas como ele falava e pensava, não era estranho de todo. Achou Sirius junto ao grupo de amigos dele (na realidade viu primeiro o tal Remus, era o mais alto afinal, e o achando achava o restante dos patetas) e guardou em sua cabeça a informação de onde ele estava, sem saber o que faria com ela, mas o simples fato de tê-la era tranquilizante.

A professora começou a chamar os nomes de uma lista que tinha em mãos. Os alunos chamados se sentavam no banquinho, colocavam o chapéu, que escolhia a casa e a respectiva mesa ovacionava, recebendo os novos integrantes. Regulus rapidamente percebeu que a lista estava em ordem alfabética e precisou segurar um gemido incomodado, pois significava que seria um dos primeiros.

“Regulus Black!”

Engoliu a seco, mas não demonstrou nervosismo enquanto ia em direção ao banco. De um lado, viu Sirius que parecia ansioso, inclinado sobre a mesa e tentando ver melhor; do outro seus olhos pousaram em Narcissa como se fosse ela um alvo. Sentou-se e o Chapéu foi posto em sua cabeça.

Imaginou que teria a casa selecionava rapidamente. Que o Chapéu mal encostaria em sua cabeça e o selecionaria para a Sonserina. Porém percebendo que isso não aconteceu, o estômago começou a se revirar em ansiedade quando os olhos foram cobertos pelo largo chapéu.

“Black, hm? Interessante…” Percebeu que ele ressoava dentro de sua cabeça, se perguntando o que seria interessante e o Chapéu, lendo sua mente, imediatamente respondeu. “Vejo grandeza em você. Ambição de se provar. Mas também… nobreza. Interessante, muito interessante. Dois seguidos… mas o outro não tive dúvidas. A coragem de um leão e a destreza de uma cobra. Mas gosto da Grifinória.” Era impressão de Regulus ou o Chapéu estava tirando sarro dele? “O que acha de ser um rei? Grifinória lhe serviria bem.”

Por um momento, a mente de Regulus se deixou sonhar. Imaginou-se vestindo as cores quentes da Grifinória, vermelho e ouro, o irmão sorrindo orgulhoso para ele, imaginou que tudo poderia voltar a ser o que era antes… mas se lembrou do estado devastado de sua mãe, a briga dos pais, de como ela não queria ser quebrada e como ele também não queria ser defeituoso, como não queria ser punido por dar a resposta errada, e como havia prometido que não iria decepcioná-los, que iria deixá-los orgulhosos, como queria ser reconhecido e foi então que Regulus quase gritou um sonoro “NÃO”, mas sua voz só ressoou em sua própria cabeça.

“Tem certeza?”

“Grifinória não! Grifinória não!” repetia mentalmente como um mantra, apertando os olhos.

Demorou mais de um minuto para a voz do Chapéu ecoar pelo Salão, minuto no qual Regulus prendeu a respiração, temendo que o Chapéu fosse contrariá-lo. Que fosse colocá-lo na Grifinória independente do que dissesse.

“SONSERINA!”

O grito também atingiu seus ouvidos, repetindo em sua mente como um eco, e rapidamente retirou o chapéu, largando-o sobre o banco e se apressou até a mesa da Sonserina que gritava alto ao receber o primeiro membro. Não estava parecendo elegante naquele momento, correr daquele jeito como se fugisse não era nada típico de um Black, mas pareceria simples animação para os olhares de fora.

Não tinha a coragem de um leão. Não se atrevia nem mesmo a olhar para o olhar decepcionado de Sirius na mesa da Grifinória! O Chapéu estaria errado se o enviasse para lá. E tentou se consolar, lembrando-se de ouvir que ele nunca errava. Se estava ali, agora, é porque era o certo.

Sua mente parecia tão nublada que cumprimentou alguns alunos e certamente não se lembraria do rosto deles depois, acomodando-se no banco e ficando a assistir o restante da seleção.

Não iria admitir, mas se sentiu um pouco solitário quando Bartemius foi selecionado, após algum tempo de ponderação do Chapéu, para a Lufa-Lufa e não Sonserina, e Wilkes terminou na Corvinal rapidamente. Tinha acabado de conhecê-los e Wilkes havia passado a maior parte do tempo dormindo, claro, mas eram rostos conhecidos e, além da prima Narcissa, que era bem mais velha que ele (agora ela já estava no sexto ano e Regulus no primeiro), não tinha ninguém por ali que de fato conhecesse. E ela parecia mais interessada em um rapaz muito loiro e muito alto que estava sentado ao lado dela na mesa para se importar com ele, embora antigamente ela até brincasse com Regulus quando eram mais novos, mesmo com a diferença de idade. Alguns rostos até pareciam familiares, mas nada que o remetesse a alguém específico. Sentia-se sozinho, mesmo rodeado de pessoas.

Mas o banquete, certamente, era deveras agradável. Ocupava-se em provar os diferentes pratos, comendo um pouquinho de tudo, quando alguém se enfiou do seu lado, apertando-o para o lado, cutucando-lhe com mais força que o necessário para chamá-lo.

“Ai!” Resmungou, franzindo o cenho na direção de quem quer que fosse.

“Oi.”

O menino que se acomodou ao seu lado disse. Regulus manteve o cenho franzido, confuso. Também era um dos alunos do primeiro ano que foram selecionados para a Sonserina, mas - envergonhado - precisava admitir que não se lembrava de quem era, tendo ficado com a mente desligada durante a maior parte da cerimônia de seleção.

“Nós somos primos. Ou algo assim.”

Continuava sem entender. Tentou analisá-lo, o cabelo escuro, olhos castanhos profundos e trejeitos meio nervosos, mas francamente não lhe remeteu a nada.

“Meu irmão casou com sua prima. Bellatrix.”

Agora entendeu porque não lhe remetia a nada. Só vira o marido de Bella umas poucas vezes: no casamento, quando estava mais interessado na mesa com os docinhos, e quando ocasionalmente apareciam na festa de Natal, embora as lembranças da última festa fossem deveras desagradáveis então preferia não pensar sobre. Mas Rodolphus era tão sério e quieto que Regulus nunca prestava muita atenção nele, especialmente quando todo mundo, cada vez mais, parecia mais preocupado com Bellatrix e exaltando sua posição como seguidora tão próxima do Lorde das Trevas.

“Ah, sim. Lembrei. Lestrange.”

Não sabia o nome dele. Nem sabia que Rodolphus tinha um irmão - da sua idade, ainda por cima! Quais as chances?

“Isso. Rabastan.”

Acabaram conversando um pouco. Ele falava mais que o irmão, porém no geral foi uma conversa casual, perguntou educadamente como a prima estava, Rabastan comentava sobre o que sabia do Lorde das Trevas através do irmão, tecendo comentários cheios de admiração, embora soassem como se estivesse só repetindo o que ouviu de terceiros, mas ajudou a fazer o jantar passar mais rápido. Durante a sobremesa, o olhar de Regulus encontrou com o de Barty, que acenou animadamente para ele da mesa da Lufa-Lufa, no que retribuiu de modo discreto. Tinha achado que ele o ignoraria totalmente agora que estavam em casas diferentes, mas não parecia o caso. Após a sobremesa e mais algumas palavras do diretor Dumbledore, o rapaz de cabelos quase brancos, se levantou ao lado de sua prima e Regulus viu um broche brilhando em seu uniforme.

“Eu sou o chefe dos monitores, Lucius Malfoy. Irei levá-los agora para o Salão Comunal da Sonserina. Alunos do primeiro ano, fiquem juntos e me sigam.”

Regulus reconheceu o sobrenome como um pertencente a uma das poucas famílias sangue-puro restantes e foi inevitável o orgulho que sentiu por estar rodeado por pessoas daquele nível, tendo certeza de que sua mãe ficaria satisfeita, embora no momento estivesse mais interessado em achar a própria cama para dormir. Estava cansado e saciado, havia comido muito mais do que o normal, então sentia o estômago pesado e o sono começava a lhe atingir à medida que seguia o grupo de alunos que ia atrás de Lucius Malfoy. Regulus ainda tentou prestar atenção no caminho, mas haviam passado por tantas passagens e escadas que já havia se perdido e não saberia voltar se mandassem.

O Salão Comunal era incrível e aconchegante, embora um pouco frio mesmo com a lareira acesa. O brilho esmeralda do lago refletia muito suavemente uma vez que já era noite e estava escuro, durante o dia certamente o efeito seria mais bonito, mas ainda assim Regulus achou encantador. Malfoy mostrou os dormitórios e logo Regulus se afundou em uma das camas macias após se preparar para dormir, uma vez que estava cansado e se preocuparia com a bagagem e arrumar os pertences no dia seguinte. Nunca que em casa sua mãe permitia aquilo… Mas era Hogwarts e acabou simplesmente fechando os olhos, percebendo que Rabastan havia escolhido a cama próxima a sua. Ele também estava nervoso, certamente. Todos deveriam estar, em algum nível, e o pensamento o relaxou. Logo, adormeceu.


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Notas finais do capítulo

Olá, pessoal!
Nesse capítulo, eu começo a tomar algumas liberdades. Barty na realidade é um ano mais novo que Regulus e acho que não teria como estarem canonicamente no mesmo ano, já que para estar só um ano abaixo de Sirius, o Reg precisaria ter nascido antes de setembro... mas pra fic tomei a liberdade de colocá-lo no mesmo ano escolar. Por quê? Porque sim. q HAUHEU
Finalmente estamos em Hogwarts! Espero que estejam gostando! Estão achando os capítulos muito grandes? Esse acabou ficando maior do que os outros, posso tentar diminui-los caso esteja demais. Me avisem!
Deixo aqui também meu desejo de feliz ano novo, espero que possamos continuar nos vendo em 2020! ♥
Beijos!



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