O Pequeno Rei e sua coroa de espinhos escrita por crowhime


Capítulo 3
Capítulo II




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1971

 

Apenas Regulus e a mãe voltaram para casa. Orion foi direto ao trabalho; não que precisasse trabalhar com toda a fortuna que havia no cofre em Gringotes, mas ele gostava de se ocupar então, com as conexões dos Black, facilmente arrumou um emprego agradável - e que pagava muito bem.

Assim que chegaram, o almoço que Monstro preparou já estava servido e comeram juntos silenciosamente. Após a refeição, Walburga mandou Regulus revisar os estudos, pois no dia seguinte já teria aulas com o tutor. Mesmo sem muito ânimo, o mais novo dos Black foi até a biblioteca. Era um cômodo amplo, com prateleiras cheias de livros do chão ao teto, as estantes cobrindo toda uma meia lua do cômodo circular. Além dos livros e estantes, havia uma escrivaninha com papeis e tinta, uma poltrona confortável com uma mesa redonda pequena ao lado, sobre a qual havia um candelabro, assim como no centro da grande mesa retangular de estudo, onde geralmente tinham as lições, que ficava em frente à janela, cujas pesadas cortinas Regulus abriu para deixar o ambiente mais iluminado.  Após fazê-lo, ele subiu na escada que possibilitava alcançar as prateleiras mais altas, cujas extremidades possuíam rodas para poder ser levada por toda a extensão da prateleira - afinal, não podia ter uma varinha ainda, e Sirius também não, ao menos até agora - para pegar um livro de Geografia antes de ir sentar-se à mesa de estudo do cômodo. Tentou ler o conteúdo, mas a cadeira estava incômoda. Incapaz de se sentir confortável, se levantou e tentou a escrivaninha. Nada também. Foi até a poltrona, na qual se sentou com os pés sobre o assento e o livro no colo, mas também não conseguiu se concentrar. Levou-o então para o chão, deitando-se de barriga para baixo sobre o tapete no centro da sala com o livro em frente a si.

Leu dois parágrafos, as pernas balançando no ar, antes de suspirar pesadamente e desistir, rolando para o lado e ficando a encarar o teto familiar. A casa realmente ficava silenciosa sem Sirius ali: mesmo sabendo que sua mãe e Monstro estavam ali em algum lugar, tudo que podia ouvir era o próprio coração batendo, sem nem precisar de muito esforço, enquanto inspirava e expirava, ficando bastante consciente da própria respiração também. Era estranha a ausência de som, se prestasse atenção poderia ouvir até mesmo a madeira do piso da casa estalando, bem como o relógio antigo da parede fazendo tique-taque, tique-taque, o pêndulo balançando suave à medida que os segundos passavam. Regulus não tinha opinião formada sobre a mudança e em algum momento pegou no sono enquanto se perguntava se Sirius já havia chegado em Hogwarts e como ele estaria.

Regulus acordou assustado, a biblioteca quase completamente mergulhada em escuridão, afinal as luzes e velas estavam apagadas e do lado de fora, o céu estava nublado, porém os ponteiros do relógio indicavam que logo seria o chá da tarde, como descobriu após um tempo tentando decifrá-lo. Esfregou os olhos, sonolento. Nem mesmo sua mãe viera verificar se estava estudando… Fazia algum sentido, o irmão mais velho quem geralmente deixava de forma perceptível que burlava o cronograma de estudos da mãe; embora também o fizesse, sempre tomava o cuidado de ser discreto, afinal odiava levar bronca.

Fechando o livro que jazia ali ao lado, abandonado, se levantou, percebendo que a casa continuava em silêncio. Walburga não estava na sala de estar e nem na de jantar, o que o fez soltar um ruído chateado, afinal significava que provavelmente ela estava no quarto ou no ateliê dela e não deveria incomodá-la.

A cozinha, para onde se dirigiu em busca do elfo doméstico da família, pegando a escada estreita que havia no fundo do corredor de entrada, era cavernosa e sombria, mesmo que reluzisse com a limpeza diária que Monstro sempre fazia. Tomava a maior parte do porão, o piso branco de mármore lhe dava um aspecto frio, o que era deveras agradável nos dias mais quentes de verão (Regulus e Sirius gostavam de deitar lá escondidos nesses dias) e nem tanto em outras épocas do ano, embora uma lareira na extremidade contrária da segunda porta que dava acesso ao lugar garantisse calor se necessário. No momento, estava apagada, porém as tochas em cima da mesma estavam acesas, bem como as luzes que haviam penduradas sobre a bancada de madeira no centro da cozinha que possuía cadeiras de ambos os lados, com capacidade fácil para uma dúzia de pessoas se acomodarem ali para comer. Havia duas janelas: uma mais no alto da lareira que dava vista para os fundos da casa, alta demais para se apreciar a vista, e outra para a lateral da residência, próxima da qual uma poltrona de descanso de estofado claro com detalhes em vermelho escuro ficava junto às madeiras empilhadas, permitia que a luz solar entrasse, porém no momento não era muita, então Monstro havia acendido as luzes do cômodo. As paredes, que possuíam um bonito e vivo tom de bordô, eram revestidas por armários e cômodas, também de madeira, algumas com porta de vidro, nas quais era guardado utensílios de cozinha e a louça geralmente utilizada nas refeições, embora um dos aparadores fosse de metal combinando com os fogões - havia dois por ali, um perto da lareira e outro mais na entrada do cômodo. Além da cozinha, uma porta dava uma pequena dispensa, na qual caberia apenas duas pessoas ao mesmo tempo, e um outro cômodo para a caldeira da casa, assim como os aposentos do elfo, que decorava com fotografias da família Black além dos cobertores e trapos sujos.

Assim que abriu a porta e desceu os três degraus que levavam até a cozinha após o pequeno corredor de acesso, Monstro encarou Regulus com uma careta.

“Mestre Regulus! Não pode entrar aqui… Sabe que a senhora Walburga não gosta. Não, não. Saia!” Disse o elfo, afastando-se após fechar a porta do forno, enxotando-o com uma colher de madeira que estava na mão. Regulus recuou, embora soubesse que ele não iria atingi-lo.

“Ah, só um pouquinho, Monstro! Por favor!” Pediu, juntando as mãos com sua melhor expressão obediente. “Estou entediado, brinca comigo.”

Monstro bufou, mas abaixou a colher, compadecido.

“Não posso agora, Mestre Regulus. Monstro está preparando o chá da tarde.”

Foi a vez de Regulus bufar, emburrado, mas subiu em uma das cadeiras próximas a mesa e se sentou ali, ficando a observar o elfo doméstico.

“Mestre Regulus…”

“Eu vou ficar quietinho, prometo!”

“Mas a senhora Walburga…”

“Ela só vai saber se você contar. Por favor, Monstrooo…”

O menino arrastou as sílabas do nome do elfo que acabou derrotado, embora resmungando.

“Se ela perguntar a Monstro, Monstro não vai mentir. Monstro não mente pra sua senhora. Mas se Mestre Regulus quer ficar, Monstro não pode fazer nada.”

“Isso mesmo! Não pode.” Falava satisfeito, torcendo para que sua mãe não questionasse o elfo. “Ela não vai perguntar, acho que está trancada no ateliê. Mamãe sempre se distrai lá, acho que vai ter que chamar ela quando o chá estiver servido. O que vamos ter?”

Regulus engatou uma conversa com o elfo, metade o perguntando aleatoriedades como chá da tarde e a magia que ele usava para fazer flutuar os utensílios, e a outra metade ponderando sobre como estaria o irmão e se Hogwarts também tinha elfos domésticos e como seria a escola e como estava ansioso para ir também.

No geral, Monstro era bastante paciente com Regulus, afinal ele não puxava suas orelhas ou nariz e o tratava com dignidade, então deixava que o menino tagarelasse sem resmungar, porém quando estava quase terminando de preparar o chá da tarde, voltou a enxotá-lo da cozinha, dessa vez sem discussão, mandando-o se lavar enquanto ele chamaria Walburga. Logo depois, o elfo também foi a Regulus, avisando que a senhora Black havia decidido ter o chá na área externa da casa.

A varanda era de madeira e havia uma pequena mesa redonda na mesma com quatro cadeiras a rodeando, dando vista para o quintal da casa, o qual era bastante extenso e rodeado por árvores. Às vezes, quando queriam fazer reuniões e festas mais informais, era ali que reuniam os amigos e parentes, armando uma longa mesa na grama, na qual ficariam os comes e bebes e retirando a mesa de chá, porém no momento tudo que havia era a paz e tranquilidade e a brisa suave de fim de verão, o calor começando a dar lugar a um clima mais suave.

Walburga havia acabado de sentar e Regulus pediu licença para fazer o mesmo, acomodando-se, e só então Monstro serviu a ambos, ficando parado ali, à postos para cumprir qualquer ordem que pudesse vir.

Regulus se sentia um pouco nervoso. Não costumava ficar sozinho com a mãe. Desde que nascera - não que se lembrasse dessa época - Sirius estava por perto, não conhecia uma vida sem o irmão, então não sabia ao certo o que falar com Walburga, embora tivesse vontade de conversar.

“Como foram os estudos hoje, Regulus?” Walburga quem quebrou o silêncio, sobressaltando o mais novo dos Black.

“A-ah, sim. Eu revi… Geografia.”

Respondeu, sabendo que era uma pequena mentira, mas não muito já que havia aberto o livro. Walburga o encarou como se enxergasse através de si enquanto dava um gole no chá com leite que tinha na xícara, mas se ela sabia da mentira, nada comentou.

“Bom. Você pode não ser o herdeiro oficial, mas você deve manter os níveis da família.” Dizia com a arrogância típica dos Black. “Vocês precisam ser tão bons quanto sua prima Bellatrix.”

Regulus se mexeu e concordou, sentindo o peso daquelas palavras. Aquilo queria dizer que sua mãe também esperava coisas grandes dele, mesmo que fosse o segundo filho… O que lhe deixava um pouquinho feliz. Sirius sempre recebia mais atenção, afinal ele era o herdeiro, o primogênito, e Regulus compreendia os papéis, quietamente aceitando que o irmão era mais importante e alvo de todas as expectativas e desejos dos pais. Não questionava. Entendia e tudo que podia fazer era se esforçar para não ficar para trás e ser um Black minimamente aceitável. Também queria dar orgulho a Walburga e Orion… embora não esperassem nada dele. Não racionalizava muito sobre: era um desejo simples de que eles o vissem também.

“Sim, mãe… é verdade que ela está com o Lorde das Trevas?”

Percebeu uma ruga de irritação se formar brevemente entre as sobrancelhas de Walburga, porém ela manteve a compostura.

“Sim. Imagino se Druella não está exagerando, porém parece que ela já está nos rankings mais altos dos seguidores do Lorde das Trevas! É uma honra servi-lo, ele é um líder que reconhece a importância do sangue-puro, por isso a família Black o apoia. Mas tenho certeza que vocês têm tanta capacidade quanto Bella. Não se preocupe agora com isso, Regulus. Sua hora virá também.”

Os olhos castanho escuros das mãe brilhavam esperançosos, orgulhosos. Mesmo discreto, o sorriso de canto de satisfação de Walburga lhe deixou maravilhado, afinal era raro ela demonstrar sentimento tão positivo no rosto fino, elegante, bem visível pois os cabelos pretos, típicos dos Black, ficavam presos em um coque, uma mecha desenhando o rosto. Regulus concordava, sem entender muito, mas movido pela expressão da mãe. Voldemort deveria ser importante e realmente digno para arrancar aquele tipo de reação de Walburga Black. Talvez se fosse como Bellatrix, pudesse deixar os pais orgulhosos mesmo sem ser o herdeiro. Os olhos deles também poderiam brilhar de expectativa com ele. Talvez… Só talvez.

O dia passou estranhamente tranquilo e tedioso. Não havia ninguém para brigar quem iria tomar banho primeiro e a luz do quarto de Sirius permanecia apagada, simbolizando o vazio. Durante o jantar a única conversa era de Walburga e Orion, às vezes participava, e não tinha Sirius para fazê-lo rir em momentos inconvenientes enquanto os pais conversavam. E também não havia Sirius escapulindo para seu quarto ou o contrário.

No dia seguinte, bem cedo, antes mesmo do desjejum, Regulus foi em busca das correspondências entregues, mas nenhuma carta de Sirius.

A primeira notícia veio através de Druella. Regulus havia se despedido de seu tutor e viu a tia chegando, uma mulher bonita e elegante, com cabelos castanhos muito claros que destoavam da família Black, porém ela era originalmente uma Rosier. Monstro guiou a para encontrar Walburga na sala de estar, onde ele serviu chá para sua senhora e a convidada.

Entediado, Regulus seguiu silenciosamente e se colocou a espreitar as mulheres, sabendo que era errado, mas parecia algo mais divertido a se fazer do que continuar lendo livros - especialmente porque era proibido escutar conversas atrás da porta.

“Walburga! Você não vai acreditar.” Druella dizia, sua voz animada, embora sarcástica. “Recebi notícias de Cissa.”

“E…?” Walburga não parecia interessada.

Narcissa estava no quinto ano de Hogwarts e era a filha mais nova de Druella, que teve três meninas. Walburga tinha um quê de rancor, talvez inveja, de Druella ter engravidado três vezes antes que Walburga sequer conseguisse ter o primeiro filho, porém se orgulhava de ao menos dar dois filhos homens para Orion, enquanto Druella não conseguiu nenhum para seu irmão para dar continuidade ao nome da família.

“Não recebeu notícias de Sirius ainda?”

“...”

“Adivinha? Ele foi selecionado para a Grifinória!”

As vozes soavam abafadas devido à madeira da porta, porém o “o quê” de Walburga soou tão alto que doeu os ouvidos de Regulus, que se afastou da porta com o susto.

“É sério! A Cissa viu a cerimônia de entrada… O Chapéu Seletor colocou seu querido primogênito na Grifinória!” Druella ria como se estivesse se divertindo como nunca.

“Esse Chapéu está caduco! É impossível!”

“Ah, querida Walburga. É bem possível. Você sabe que o Chapéu não erra… ela ainda disse que Sirius foi todo feliz para a mesa daqueles... “ O insulto ficou no ar enquanto Druella sorvia um gole do chá. “Não podia ser pior! Não acha? Me pergunto qual seu problema, custa a ter filhos, e quando tem, vem com defeito…”

“Saia.”

Só então a cunhada parou de rir, a voz soando confusa.

“O quê?”

“Saia. Eu disse: SAIA! SAIA DA MINHA CASA. AGORA!”

Regulus nunca havia ouvido sua mãe tão irritada. Assustado e temendo ser descoberto, saiu o mais rápido possível do corredor que levava até a sala de estar, tão rápido quanto o cuidado de não fazer barulho no assoalho de madeira deixava, porém Druella nunca saiu. Surpresa e a contragosto, ela desaparatou de dentro da casa, deixando Walburga sozinha, bufando de raiva, e Regulus ainda ouviu o barulho de louça quebrando antes de seu nome ser gritado.

“Regulus! REGULUS!”

O rosto do mais novo ficou pálido, mas como a mãe gritava o chamando, apressou-se novamente até a sala de estar, abrindo a porta com cuidado, temendo irritá-la mais.

“S-sim, mãe?”

“Você recebeu notícias do seu irmão?!”

“Não, senhora…”

Walburga rosnou, andando de um lado para o outro, mas parou em frente a janela que dava vista para o lado de fora da casa e bufou, passando os dedos pelos cabelos, atrapalhando os fios sempre bem arrumados, antes de se apoiar no batente. A respiração dela estava acelerada e Regulus engolia a seco, os ombros encolhidos, sem saber se deveria ir embora ou falar alguma coisa. Resolveu ficar quieto onde estava, afinal não poderia sair sem permissão da mãe e também não poderia demonstrar que havia ouvido a conversa. Abaixou o olhar, vendo o chá manchando o tapete onde a xícara se espatifou no chão, os cacos espalhados.

“Regulus.” Chamou, agora mais calma, sentando-se na poltrona e estendendo a mão para que o filho se aproximava.

Ele hesitou por um instante, mas se aproximou da mulher que de imediato segurou-lhe os ombros com mais força que o necessário, fazendo com que ele a fitasse nos olhos.

“O problema não sou eu. Certo? Você não vai me decepcionar. Vai, Regulus?”

Tinha algo fundo nos olhos dela que o assustou, algo que não conseguiu identificar. Não conseguiu achar a própria voz, balançando a cabeça em uma negativa enfática, mas por sorte Walburga aceitou sua resposta e o largou.

“Ótimo.” Ela então levou um cigarro até a boca, acendendo-o com a varinha, e movimentando a mão para afastá-lo. “Agora vai embora. Quero ficar sozinha.”

Lívido, não esperou duas vezes e logo fez uma reverência por reflexo antes de sair do cômodo. Acabou correndo até Monstro, atravessando a cozinha e indo até o quartinho do elfo, não queria ficar sozinho no momento, e pelos gemidos tristes do elfo doméstico pode perceber que naquele meio tempo que não ficou escutando escondido, ele provavelmente havia recebido uma bronca ao ir verificar Walburga, e agora estava encolhido em cima das cobertas sujas que usava para dormir.

Monstro se assustou com a chegada repentina de Regulus e se levantou em um salto.

“M-mestre Regulus! O que está fazendo? Não pode vir no quarto de Monstro!”

Regulus sentia um pouco de nojo daquele lugar, diferente do resto da casa, não era tão limpo, e seus pais haviam proibido-o de ir até ali. Sirius não tinha interesse, mas Regulus gostava de brincar com Monstro então às vezes ia ali em busca do elfo doméstico. Sabia que não era um lugar adequado, porém esperava que os pais não descobrissem, e duvidava que sua mãe fosse verificá-lo tão cedo depois do que aconteceu.

“Monstro”, chamou em um sussurro, abaixando-se como se contasse um segredo. “Mamãe é... quebrada?”

“Do que está falando, Mestre Regulus?!”

“Tia Druella disse que ela tem… tem… pro…” Hesitou, não conseguindo se lembrar da palavra exata. Mas disse que Sirius tinha… “… defeito.”

“Minha senhora não tem defeitos! Senhora Walburga não é quebrada!” Monstro exaltou-se, começando a ficar agitado.

“Shh! Calma, Monstro!” Puxou o elfo pelo braço, forçando-o a ficar quieto. “Eu sei disso! Não tem como mamãe ser isso…!” Disse, na defensiva, mordendo nervosamente o lábio inferior. Tia Druella não sabia do que estava falando. “Mas por que tia Druella falaria isso? Achei que ela e mamãe fossem amigas...”

Monstro estremeceu.

“Senhora Druella sempre se gabou. Sim, sim… se gabava para minha senhora. De conseguir ter filhos… e minha senhora não, minha senhora os perdia. O corpo dela os expulsava… sim, sim, e então veio seu irmão, senhor Sirius. E depois Mestre Regulus, ela achou que iria perder também, mas Mestre Regulus nasceu também...Minha senhora ficou feliz, muito, muito feliz, mas senhora Druella ficou com inveja da minha senhora! Só sei disso!”

Regulus só entendeu metade do que Monstro dizia, talvez nem isso, em meio à fala apressada e assustada do elfo. Tentou pedir explicações, mas o elfo choramingava e repetia que só sabia daquilo, fazendo-o desistir, afinal quando Monstro ficava tão nervoso era difícil que ele fizesse sentido, mas ordenou a ele não contar para Walburga o que havia perguntado, só por via das dúvidas. Monstro nunca ia contra as ordens da família Black e gostava de Regulus mais do que os outros. Seria um segredo entre eles.

Durante o jantar, Walburga perguntou se Orion sabia que Sirius havia ido para a Grifinória, e a tensão na mesa foi palpável com o silêncio que se seguiu. Regulus nem mesmo se atreveu a mover os talheres, achando que o assunto seria encerrado tranquilamente com a resposta de seu pai:

“É mesmo?”

Em sua ingenuidade infantil, Regulus ficou aliviado. Sirius não estava na Sonserina, mas não podia ser tão ruim assim. Ele ainda era um Black. Seu irmão. E Sirius não abandonaria a família.

Foi na hora de dormir que percebeu que as coisas eram um pouco mais complexas. Já estava pronto, de pijama, e procurava os pais para dar boa noite, afinal não os vira no quarto, quando sem querer os ouviu.

“Isso aconteceu porque você pega muito leve com esses meninos! Se os criasse como nós fomos criados, não aconteceria isso!”

“Talvez se você fosse fosse mais presente, ajudaria. A culpa é sua por ser frouxo.”

“Frouxo? Há! Não sabe educar seus filhos e quer passar o dever para mim. Claro.”

“Eles também são seus filhos, Orion Black.”

Walburga disse entredentes. Regulus reconheceu que ela estava se irritando, com a mão a meio caminho da maçaneta, hesitou, porém tomando coragem bateu à porta. Fez-se silêncio do lado de dentro e só então Regulus abriu timidamente a porta, colocando a cabeça para dentro através da fresta.

“Eu… vou dormir. Mãe, pai.”

Anunciou, os interrompendo porque não queria que os pais brigassem. Walburga já havia brigado mais cedo com Druella. Não queria que acontecesse com eles.

“Claro, Regulus. Boa noite.” A voz dela era mais suave quando se dirigiu a ele.

“Boa noite, filho.”

Orion disse sem olhá-lo, bebendo em seguida do copo de bebida alcoólica que tinha em mãos, e Regulus assentiu de leve antes de sair. Estava preocupado, porém voltou ao quarto, onde Monstro já esperava para garantir que ele estava confortável e não precisava de mais nada antes de apagar as luzes.

“Monstro.”

“Sim, Mestre Regulus?”

Não sabia o que falar.

“... Boa noite.”

“Boa noite, Mestre Regulus.”

O elfo lhe reverenciou exageradamente, fechando a porta e o deixando sozinho com os ruídos da casa de fundo, encarando no escuro o teto tão familiar de seu quarto, mas agora tão opressor.


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Notas finais do capítulo

Muito obrigada a quem está acompanhando! O que estão achando? ♥
Semana que vem teremos um capítulo bem natalino para comemorar o Natal!
Aguardem ansiosos~
Até a próxima!



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