Girassol escrita por they call me hell


Capítulo 5
Novo Lar




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— 5 —

 

Depois de fazer as compras com minha mãe e enviar as corujas avisando sobre o almoço de domingo, fecho a última caixa e olho ao redor do meu quarto. Ele está... vazio. As estantes estão vazias, a cama desmontada para doação, as roupas em caixas. É difícil dizer o que sinto com isso. Se a pontada no meu peito for considerada, eu diria que isso tudo me deixa triste. Esse foi o meu quarto nos últimos anos. Sinto a mesma angústia de quando deixei a casa em que nasci e cresci. Me reorganizei aqui, após tantos momentos difíceis. Aprendi a me esconder do mundo aqui.

 

Agora, tudo o que resta dele são as caixas no chão. Estou pronta para me mudar essa tarde. A Sra. Bennett, que me alugara a nova casa, já me anunciara que tudo estava de acordo para me receber. Gina fora muito adorável ao dizer que nas primeiras semanas poderia correr até a sua casa se precisasse de algo, até estar com todos os móveis e utensílios em mãos. Harry, junto com os Weasley, me dera uma porção de presentes para o lar, incluindo muitos utensílios de cozinha e um livro de feitiços úteis para a manutenção do lar. Eu insistira em retribuí-los, mas Ron recusara com um "se quer nos agradecer, apenas fique feliz". E concordei.

 

A inspeção final no quarto revela uma última coisa: meu pôster do Johnny Depp ainda está colado na parte interna da porta do guarda-roupas. Ele é embutido, não irá comigo para a nova casa. E, depois de tantos anos, parece improvável que possa retirar esse pôster sem rasgá-lo. Na verdade, eu preciso mesmo levá-lo? Vamos lá, Hermione. Ele teve uma boa vida. Preciso deixá-lo ir.

 

Me aproximando, olho os olhos de Johnny pelo que suponho ser a última vez e respiro fundo.

 

— Eu sinto muito. Você foi um ótimo namorado imaginário, mas eu sou uma adulta agora. Não há espaço na minha vida para um namorado. Sequer um imaginário.

 

Ele continua ali, belíssimo.

 

— Não faça isso ser mais difícil do que deve. Acabou, Johnny.

 

O puxo para fora da madeira e o coloco na sacola de lixo, levando-a para a cozinha. Minha mãe surge pelo corredor e me olha, rindo.

 

— Já era hora.

 

Ela está certa e, assim, deixo ir o meu primeiro amor.

 

Volto ao quarto e começo a levar as caixas para o quintal. Algumas estão pesadas, cheias de livros e outras coisas, enquanto outras são mais leves, apenas com alguns casacos de frio. São oito ao total e meu pai parece já sentir suas costas na segunda caixa. Minha mãe está mais interessada no almoço, cortando cenouras para a sua sopa. Eu amo essa sopa e estou feliz por ser a minha refeição de despedida, ainda que tenhamos comido uma semelhante na semana anterior.

 

Procuro ajeitar as coisas da melhor forma possível, já que Harry e os outros virão me ajudar com a mudança. Quero dar a eles o menor trabalho que eu puder e já me sinto grata ao mesmo tempo que culpada por ter que tirá-los de suas casas na tarde de sábado.

 

Depois que tudo é levado para fora, nós sentamos à mesa e comemos. Nesse pequeno momento, não parece que eu estou indo embora. Meu pai pede para que eu passe o suco, minha mãe faz uma careta por ele comer sopa quente bebendo suco gelado e eu apenas dou risada. Encho minha sopa com pequenas torradas crocantes. Fica muito bom e isso me faz sorrir.

 

— Posso embalar um pouco para viagem — minha mãe diz, me lembrando de que, sim, essa é a minha despedida.

 

— Seria ótimo, mãe. 

 

Meu pai tem os olhos tristes fixos na sua sopa. Ele está fazendo o seu melhor para não sugerir que eu fique, sei disso.

 

— Você cozinhará pouco, eu suponho. Talvez possa pegar algo pronto aqui nos finais de semana.

 

As pessoas costumam dizer "a Sra. Granger é mesmo uma mulher muito prática" e eles tem razão. Ela parece ver tudo como algo natural da vida e isso evita que sofra por bobagens. Eu gostaria de ser assim como ela, mas acabei puxando meu pai e nos dias mais difíceis do mês, choro até se derrubar um biscoito no chão. É triste demais para mim. Talvez isso ocorra agora porque reprimi minhas fraquezas por muito tempo, quem sabe?

 

Terminamos de comer e damos nossas mãos. É um momento muito bonito e eu aproveito para agradecê-los por tudo o que fizeram por mim. Deixo claro que os visitarei sempre que possível, mas que não sei como serão as coisas a partir de agora e talvez possa ficar muito atarefada nos primeiros meses até pegar o jeito. Minha mãe me faz prometer que não vou levar trabalho para casa e eu prometo, ainda que com dor no peito. Meu pai me dá uma guirlanda de ramos frescos que ele mesmo fez para decorar a porta da nova casa e eu desabo. Pareço estar no casamento de Gina outra vez. Felizmente, minha mãe está aqui e o choro logo passa.

 

— Seus amigos devem chegar a qualquer momento. Não queremos que eles vejam você chorando por ter ganho galhos para pendurar na porta, não é mesmo?

 

Seu olhar é muito claro e, de repente, sinto vergonha. Ela pode parecer estar sendo muito dura, mas, na verdade, sei que é apenas o seu jeito de me fazer mais forte. Me lembrar do que ela diria foi extremamente importante nos momentos mais difíceis da minha vida.

 

Enquanto ela retira a mesa, escovo os dentes, tomo um banho e começo a olhar para o relógio. Ela e meu pai agora estão na sala e eu me junto à eles, mas estou desconfortável e não quero assistir programas na televisão. Não posso mais me conter. Minhas meias deslizam pelo piso da cozinha e abro o armário sob a pia, escavando o saco de recicláveis até o encontrar. Pego Johnny e o seguro contra meu peito, feliz.

 

— Eu achei que podia fazer isso, mas aparentemente é mais forte do que eu.

 

Meu pai acha que estou falando com ele e grita um "o que?". O ignoro.

 

— Sinto muito, Johnny. Nunca mais brigaremos de novo.

 

O levo até o quintal e abro uma das caixas, o deixando descansar ali.

 

 

 

Gina e Harry chegam, me abraçando sorridentes. Estão animados e isso me anima também, contrastando com a tristeza que sentira até então. São eles que me fazem rir, contando histórias sobre como fizeram vários erros em sua mudança, mas jurando que agora são profissionais nisso. Ron é o próximo a chegar. Ele se aproxima de nós, pergunta algo sobre as caixas achando absurdo que eu só tenha isso para carregar. Sirvo suco a todos e nos sentamos nos degraus da cozinha para o quintal. Então um dos gêmeos aparecem e estamos prontos. Ainda assim, o convido para sentar e beber algo antes de começarmos o trabalho, e ele parece grato por isso.

 

— George teve que ficar tomando conta da loja, pois Verity está de licença.

 

Uma luz parece se acender dentro da cabeça de Gina.

 

— Oh, é mesmo! — suas mãos agarram a camisa de Harry e o chacoalha. — O bebê dela nasce em breve, não é?

 

Ron estreita os olhos e balança a cabeça, sem entender nada.

 

— Quem é Verity? — ele pergunta claramente confuso. — George será pai?

 

Fred bate com a mão livre na testa dele e eu dou risada.

 

— Ela é nossa funcionária, cuida da loja na nossa ausência ou nos ajuda quando o movimento está grande — ele ergue os ombros por um instante. — O bebê nasceu ontem, então ficaremos dividindo a loja entre nós dois por algum tempo.

 

— Deve ser complicado, com tantos clientes — eu comento, apenas para participar da conversa.

 

A loja dos gêmeos é um grande sucesso. É impossível passar por ela e não ver as crianças correndo para dentro, enlouquecidas. Eu nunca entrei nela em todos esses anos e esse pensamento é um tanto estranho agora. Anoto mentalmente que preciso conhecê-la, ainda que logros não façam parte da minha lista de compras usuais.

 

— Vocês deveriam contratar mais uma pessoa — sugere Harry.

 

— Sim, estamos pensando nisso, mas é difícil encontrar alguém de confiança assim de última hora — Fred resmunga, virando para mim em seguida. — Você ainda está trabalhando só meio período, Mione?

 

Eu travo por um instante, imaginando como seria trabalhar na loja de logros dos gêmeos.

 

— Ela foi promovida, por isso está se mudando.

 

Fred abre um sorriso, ainda olhando para mim.

 

— Isso é ótimo, meus parabéns — ele dá um tapinha em meu braço. — Uma pena pelo meu lado, já que seria uma excelente escolha para a loja, mas fico feliz por você.

 

Eu agradeço e desvio o olhar apenas para encontrar Gina com uma expressão sugestiva em seu rosto. Eu a ignoro da melhor forma e me levanto com pressa.

 

— Bem, vamos começar?

 

A partir disso, cada um pega sua caixa e se reúnem no quintal dos fundos. Minha mãe para na porta e ri para mim.

 

— Eu nunca vou me acostumar com isso, definitivamente.

 

Ela se refere à aparatação e eu a entendo e complemento sua risada.

 

— Acho que nem eu, mãe.

 

Ela se senta no degrau onde eu estivera até então e coloca o pano de secar pratos sobre o colo. Seu cotovelo é apoiado em uma das coxas e o queixo passa a descansar sobre a mão com seu rosto sereno.

 

— Eu nunca vi os irmãos de Gina, com exceção de Ronald — comenta ela, enquanto esperamos que todos voltem. — Aparentemente, são todos rapazes muito bonitos.

 

Concordo com a cabeça, mas então me lembro de algo.

 

— Menos Percy. Ele definitivamente não puxou as melhores qualidades da família.

 

— Mas ainda assim se casou, não é?

 

A pergunta me faz rir de novo. É, ainda assim ele se casou. Falo tanto sobre os Weasley que mesmo que nunca os tenha visto, minha família sabe tudo sobre eles.

 

— Fico feliz que você tenha amigos tão bons. É difícil ver uma amizade que dure por toda a vida, ainda mais uma tão próxima.

 

Às vezes me pego pensando nisso, mas não consigo formular nada, pois logo todos estão de volta. Meu pai se une a nós e me abraça apertado. É hora de ir. Abraço minha mãe também e pego minha caixa, me preparando para aparatar com os outros. Ver meu pai enlaçar minha mãe com um dos braços, parados ali na entrada da cozinha, me faz querer chorar. Porém, sou forte. Aparatamos juntos e atravesso a área frontal para abrir a porta, entrando. Coloco minha caixa no chão da sala e logo sou seguida pelos demais. Desempacotamos tudo e vou guiando cada um sobre onde colocar as coisas até que esteja mais ou menos tudo no lugar. Quando vejo, já é fim de tarde lá fora. Gina me abraça e me leva para fora do quarto, onde estávamos colocando as roupas dobradas enquanto ainda não tenho guarda-roupas.

 

— Surpresa!

 

As luzes da sala se acendem e vejo que há algumas pizzas e cervejas no chão. Sem um sofá nós sentamos no chão ao redor delas como quando éramos crianças e fazíamos piqueniques no quintal da Toca. Eu pego uma cerveja e a ergo acima da minha cabeça.

 

— Ao meu novo lar.

 

Nós brindamos felizes, pegando fatias de pizza e relaxando, enquanto eu começo a me sentir realmente em casa. Porém, não posso negar que algo me atormenta.

 

— O que foi, Hermione?

 

Gina, é claro, percebe que há algo. Tento deixar para lá, balançando a cabeça em negação e fazendo um gesto com a mão livre, mas ela insiste e logo todos estão me encarando curiosos. Me sinto boba por não dizer algo aos meus amigos, principalmente quando eles estão sendo ótimos comigo, então crio coragem.

 

— Há algo que me incomoda muito nisso tudo e eu não consigo simplesmente ignorar — começo a dizer, dando outro gole em minha cerveja. — Eu sempre estive rodeada de pessoas. Muitas pessoas. Em casa com meus pais, tios e primos. Em Hogwarts com alunos e professores. Na Toca, com vocês. A ideia de ficar completamente sozinha aqui me assusta um pouco agora que é real.

 

Ron ri e passa um dos braços ao meu redor, encostando sua cabeça em meu ombro.

 

— Não se preocupe com isso, Mione. Gina e Harry moram aqui perto e você pode visitar todos os outros sempre que quiser.

 

Ele tem razão, mas ainda assim não é a mesma coisa.

 

— Eu sei disso — rebato, colocando os pés no sofá e vendo ele se endireitar. — Mas... a casa ainda estará vazia. Silenciosa. Isso é uma novidade para mim agora.

 

Gina me olha com certa tristeza. Ela imagina como deve ser, mas não entende esse sentimento de fato, já que se mudou da casa dos pais para viver com Harry.

 

— Eu sei como se sente — Fred quebra o silêncio, surpreendentemente. — Quando George e eu mudamos para o apartamento em cima da loja foi incrível. Nosso próprio espaço, as coisas do nosso jeito. Só que hoje em dia eu passo a maior parte do tempo sozinho, já que ele dorme fora muitas noites.

 

De todas as pessoas que eu poderia imaginar que entendessem como me sinto sobre algo, Fred era a última opção que eu poderia considerar. Ele pega outro pedaço de pizza, franze o cenho por um momento e depois volta a sorrir, como se tudo já tivesse passado.

 

— É estranho, às vezes solitário, mas você acaba se acostumando. E não é de todo ruim se você souber usar isso a seu favor, aproveitando o silêncio para se concentrar em coisas que gosta de fazer.

 

— Fred tem razão — foi Harry quem disse dessa vez. Antes de morar com Gina ele havia passado um longo tempo sozinho na antiga casa de Sirius e imagino o quão difícil tenha sido, principalmente pelas lembranças do padrinho. — Você pode ler seus livros, escrever suas anotações ou o que quer que seja sem se preocupar se será interrompida ou não. Além do mais, como o Ron disse, você também pode nos visitar.

 

— E sair um pouco de casa, ver o mundo lá fora — Gina completou. Dava para sentir sua ansiedade sobre a minha vida social de longe. — Você finalmente vai ter uma vida além do trabalho e dos seus pais, Hermione. Faça bom uso dela, não desanime.

 

Eu olho para todos os rostos, um a um, e concordo.

 

— Vocês tem razão — termino minha cerveja, pegando um pedaço de pizza. — Hoje é só o primeiro dia, por isso me assusta tanto. Com o tempo vou me sentir melhor sobre isso.

 

Dou um beliscão em Ron que come com a boca aberta e Harry ri do outro lado.

 

— Já que você e Fred têm esse problema em comum, talvez possam fazer companhia um ao outro às vezes.

 

Fuzilo Ginevra com os olhos enquanto ela sorri como uma linda e inocente criança antes de dizer aos pais o que quer ganhar de natal.

 

— Claro, seria divertido — Fred responde e eu não sei se ele está falando sério ou só concorda por educação. — Agora que George anda tão aéreo, talvez você possa me dar uma ajudinha com alguns feitiços para os logros.

 

Ele pisca para mim ao dizer isso e eu sei que é um gesto completamente sem intenção, mas meu coração flutua um pouco dentro do peito. Estamos sentados com Ronald entre nós, bem como Harry e Gina ao lado, porém, eu sinto como se houvesse algo magnético me puxando para ele.

 

— Posso te dar uma mão com isso — respondo de forma muito natural, afinal, não tenho mais quinze anos e sei conter esse tipo de coisa.

 

Ginevra bate palmas do seu lugar, provavelmente se sentindo realizada. Harry ri, mas eu sei que ele não entendeu nada da motivação da sua nova esposa.

 

— Bom, a pizza e a cerveja estavam excelentes, mas amanhã eu tenho algumas coisas para fazer amanhã cedo antes do almoço, então já vou indo — diz Ron, se levantando do chão.

 

Ele bate as mãos nas calças e me puxa para um abraço, depois se despedindo dos irmãos e cunhado, e saindo pela porta da frente para poder aparatar.

 

— Ron é muito estranho — Harry comenta enquanto todos nós ainda olhamos para a porta recém fechada. Isso não é o tipo de coisa que eu o imagino dizendo do seu melhor amigo e parece que todos pensam o mesmo.

 

— Por que diz isso?

 

Ele limpa a garganta, se ajeita no lugar e nós esperamos.

 

— Vocês não notaram nada diferente no comportamento dele? — questiona em resposta para Gina. — O modo como ele se ofereceu com tanta proatividade para nos ajudar na mudança quando todos sabemos que ele evita fazer esforço sempre que pode. O encontro repentino com uma garota. Algo para fazer amanhã cedo, sendo que ele detesta acordar pela manhã aos domingos. Todos esses abraços...

 

Fred fez uma careta real de nojo.

 

— Pelas unhas de Morgana, Harry! — Gina estava boquiaberta. — Você tem razão, esse não é o comportamento habitual dele.

 

— Vocês estão dizendo que Ron está interessado na Hermione de novo?

 

Eu viro minha cabeça de um lado para o outro da conversa, em choque.

 

— Gente, não...

 

— Hermione, faz sentido!

 

Gina aponta o dedo para mim.

 

— Você sabe muito bem que ele nunca superou o fato de vocês não ficarem juntos, não é?

 

— Não, vocês estão exagerando. Ele só quis ajudar.

 

Fred começa a rir do seu lugar, me deixando constrangida.

 

— Anotem o que eu digo, Ron tem algo em mente e está começando a agir sorrateiramente. Eu conheço o meu melhor amigo.

 

Fred então me belisca as costelas e, quando me viro em sua direção, ele parece muito mais curioso sobre mim do que o normal.

 

— A questão é: você também está interessada nele, Granger?

 

Todos me olham novamente e eu congelo. Na verdade, eu nunca soube lidar direito com isso. Quando tive de dizer que não daríamos certo, enrolei Ronald por dias, me escondendo pelos corredores e fugindo apressada. Por mais que não achasse que fosse o caso, isso era assustador.

 

— Eu não sei o que fazer — confessei.

 

— Não! Você sente algo por ele também! — Fred gritou, se contorcendo no chão. Ele achava tudo isso extremamente engraçado e nojento.

 

— Não, ela não gosta dele! — gritou Gina dessa vez.

 

— E como você pode dizer isso? Talvez ela goste, lá no fundo...

 

Levo uma das mãos até a testa, incrédula. Como minha vida se tornou isso? Todo mundo, de repente, acha que pode debater minha falta de relacionamentos ou a oportunidade de ter algum.

 

— Vamos deixar algumas coisas bem claras — eu falo, me levantando e parando em frente aos três. — Eu não gosto do Ron, nunca gostei dele dessa forma. Tinha medo de magoá-lo e estragar nossa amizade, então adiei ao máximo dizer isso a ele, fugindo de todas as formas possíveis para ver se ele notava sozinho — meu dedo indicador começa a apontar para Fred, Gina e Harry de forma aleatória. — Em segundo lugar, eu não estou procurando por um relacionamento. Eu estou muito feliz com a minha promoção no Ministério e ela é a minha prioridade — vejo Gina se ajeitar no sofá, mas me adianto antes que ela queira dizer qualquer coisa. — E, por último, por que diabos vocês resolveram se importar tanto com o fato de eu estar sozinha ou com alguém desde o casamento? Vocês dois se amam há tempos e se casaram, que ótimo. Parem de achar que eu preciso me casar também.

 

Harry e Gina parecem sem reação. Fred é quem quebra o silêncio novamente, batendo palmas.

 

— Bravo! Bravo, Mione! — ele também se levanta do chão, mas apenas para me puxar para sentar de novo. — Você disse exatamente tudo o que eu queria dizer quando começam a fazer o mesmo comigo — sua voz então muda para um tom engraçado enquanto ele imita alguém. — "Por que não arranja uma namorada, Fred?", "você fica muito sozinho, Fred", "fulana é muito legal, Fred".

 

Gina o olha com uma expressão ameaçadora e fica claro que a pessoa que ele imita é ela.

 

— Você gosta do Harry desde que era criança, Gina — ele continua, fazendo com que ela vá de irritada para envergonhada. — Nós todos achamos maravilhoso quando anunciaram o casamento, mas Hermione está certa. Vocês se casaram porque esse era o momento de vocês. Ainda não é o nosso. E você não pode fazer com que seja.

 

Percebo que, aparentemente, Fred entende mais sobre como me sinto do que eu poderia imaginar. Me questiono se Gina alguma vez também tentou empurrá-lo para mim, isso é muito provável. Ela gagueja brevemente, suas bochechas avermelhando.

 

— Eu entendo isso, ok? Não falo por mal — diz ela e sei que isso é verdade. — Eu só... Me sinto tão feliz em ter alguém com quem posso compartilhar meus dias que gostaria de ver vocês sentindo o mesmo. E não quero que deixem de estar conosco porque somos um casal e isso pode parecer chato. 

 

Eu a entendo, pois já conversamos sobre isso várias vezes. Gina me fez prometer muitas vezes que eu não deixaria de estar com ela e Harry, e me questionou o que poderia fazer para que nossas saídas não fossem desconfortáveis para mim. "Eu não quero que você sinta que está incomodando ou segurando vela", me dissera. "Nós sempre vamos amar a sua companhia". E, de fato, vivíamos juntos por aí porque eu não me sentia um peso.

 

— Talvez isso aconteça alguma hora. Ou não e tudo bem — respondeu Fred, sorrindo para ela. — Mas o importante é que aconteça naturalmente e não por termos planejado. Criar expectativas demais nunca é bom.

 

Não era comum ouvir Fred falando sobre relacionamentos, isso era mais a cara de George. Desde os tempos em Hogwarts Fred parecia mais interessado em aprontar do que em sair com as garotas, enquanto seu gêmeo colecionava namoros adolescentes. Eu sabia por Gina que ele tivera algumas namoradas, algumas até por longo prazo, mas ele costumava dizer que namoros atrapalhavam o seu "fluxo criativo". O fato de que Gina me dissera que ele sempre escolhia garotas muito ciumentas e que exigiam mais do que ele estava disposto a dar provavelmente explicava a razão disso.

 

Ouvindo o que ele disse, ergo minha cerveja mais uma vez.

 

— Que aconteça quando tiver que acontecer — digo, propondo mais um brinde. — Se tiver que acontecer.

 

Todos se juntam a mim e brindamos novamente. O resto da conversa segue mais leve, relembrando bobagens e falando sobre o almoço que acontecerá no dia seguinte. Quando eles partem para suas casas, estico um lençol sobre o colchão no chão do quarto e me deito. 

 

Me sinto ótima, de repente.


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