Girassol escrita por they call me hell


Capítulo 10
Mistérios


Notas iniciais do capítulo

Mais um capítulo para terminarmos a semana bem. :)



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— 10 —

 

A quarta-feira já não me assusta, ainda que eu não tenha deixado de me sentir totalmente apreensiva. Este será meu terceiro encontro com Calliope e ainda que esteja mais confiante, me lembro de que também me senti mais confiante no segundo. De qualquer forma, decidi que não vou desistir. Enquanto ela me der chances eu as aproveitarei.

Encontro Ron e Harry no Departamento de Aurores para o nosso café habitual. Eles me dão palavras de incentivo e me colocam para cima, exatamente como eu preciso. Sou grata a eles por isso.

— Mamãe está acampada na casa de Gui, acho que nunca mais vai voltar — Ron choraminga quando mudamos de assunto. — Tenho comido ovos mexidos há dias.

— Você pode ir comer lá em casa — Harry sugere.

— Graças a Merlin!

Oh-ou. Olho para o meu amigo, sabendo que oferecer isso sem consultar Ginevra foi um erro. Se Molly demorar mais uma semana ou duas para voltar, Gina vai jogar os dois pela janela. Ele sabe disso, mas agora já é tarde.

Nossos olhares apreensivos são interrompidos por alguém que bate na porta. Ela está aberta, mas o rapaz não entra, aguardando por nós.

— Ah... — ele pega um papel do bolso da camisa e o lê. — Srta. Hermione Granger?

Olho para meus amigos, sem entender, mas enfim, só pode ser eu.

— Sim?

O homem pede licença e caminha até nós, colocando um grande buquê de girassóis sobre a mesa.

— Isso é para você.

Ele me entrega um pequeno cartão e me deixa ali, completamente sem rumo.

— O que diz? — Harry pergunta curioso.

— Boa sorte com a entrevista — leio, levando uma das mãos até a testa.

Deixo minha cabeça descansar ali e volto a olhar as flores. Fred, só pode ser Fred. Pensar isso me deixa em pânico e eu pareço não ser a única a constatar tal obviedade.

— Por que um dos meus irmãos te mandou flores? — Ron me pergunta com um tom que me lembra advogados de acusação nos tribunais. Essa é a pergunta que vale mil galeões.

— Poderia ser Gina ou Fleur, como agradecimento pelos biscoitos. Sua mãe com certeza comentou sobre a entrevista com ela — Harry dá de ombros, por mais que saiba que Ron está correto.

— Fleur não teria como mandar flores para ninguém, mamãe a está marcando com mais firmeza do que um batedor da liga profissional. E se Gina tivesse mandado, você provavelmente saberia disso.

— Ok — eu suspiro, calculando minhas palavras. — Suponho que seja do Fred.

Não quero entregar mais do que isso e não vou. Se ele não se importou em me mandar flores no trabalho, que não se importe em explicar por que o fez para o irmão.

— E existe alguma razão específica para isso?

Sinto os olhos de Ron cravados em mim. Ele está apenas esperando que eu vacile.

— Terá que perguntar a ele — termino meu café, apressada. — Espero que não se importe em guardá-las para mim até o final do dia. Ainda não tenho uma sala.

Ele resmunga, infeliz pela minha resposta e pelo meu pedido.

— Aliás, o que há com esses girassóis?

Os dois me olham sem entender.

— Girassóis. São sempre girassóis. Gina os escolheu para o seu buquê de casamento. George deu um buquê para sua mãe no almoço — movo minhas mãos como que buscando algum sentido. — Por que girassóis sempre? O que significam?

Ron se levanta da sua cadeira, caminha até a janela e apoia um dos ombros ali. Sem as flores no caminho, ele me olha mais calmo.

— Papai nunca teve dinheiro. Sua família sempre foi muito humilde — começa ele, olhando ora para mim, ora para a janela. — Ele diz que se apaixonou por mamãe assim que a viu em Hogwarts, mas ela estava sempre acompanhada dos irmãos mais velhos e eles eram bem intimidantes quando queriam. Queriam sempre que se tratava da mamãe, aparentemente.

Dou risada ao ouvi-lo. Parece ser algo que todos eles tem em comum, pois Harry sofreu um bocado ao se declarar para Gina mesmo sendo amigo de todos há anos.

— Quando saíram de Hogwarts, ele quis se aproximar aos poucos. Então mandava-lhe um girassol todos os dias. Eram roubados do jardim do vizinho — ele ri dessa vez. — Até que um dia a esposa do vizinho o pegou no pulo. Ele contou para que eram as flores e ela lhe deu um grande buquê de girassóis. Também lhe disse para criar coragem e entregá-los pessoalmente. Papai o fez, pediu mamãe em namoro e ela aceitou.

Acho uma bela história e fico comovida com ela.

— Quando preparávamos as coisas do casamento, Gina não aceitou quaisquer outras flores. Ela disse que girassóis são as flores de quando queremos muito que alguém seja feliz — Harry diz com um sorriso bobo no rosto. Ele está sempre lá quando fala do casamento e eu acho isso muito doce.

Sinto meu rosto aquecer ao pensar nisso. Não sei se Fred o teria feito normalmente ou se apenas o fez porque o beijei na noite anterior e me questiono se agi mal, ainda que tenha parecido que ele levou tudo como uma brincadeira.

— O que é muito curioso, aliás — Ron ergue suas sobrancelhas para mim. Ele sabe que escondo algo, mas eu não vou me entregar fácil.

— Bem, peço licença aos senhores pois tenho que ver Calliope agora — me levando da cadeira ao dizer, pronta para sair. — Volto mais tarde para buscar as flores, obrigada.

Não deixo que digam nada, partindo para o corredor o mais rápido que posso. Fred poderia ter mandado flores para a minha casa ou tê-las entregado à noite. Quase me faz pensar que ele quer que todos saibam e isso me deixa desconsertada. Porém, não posso pensar nisso agora. Tenho algo importante para fazer.

 

Quando a câmara do Departamento de Mistérios está diante de mim, estreito meus olhos e começo a ver as coisas de uma forma diferente. Abro uma das portas e vejo o hall diante de mim. Está exatamente igual. Rumo para o escritório de Calliope, onde a vejo escrever algo em um pergaminho. Ela me pede para entrar e sentar, mas não me olha. Quando termina de escrever, amarra o pergaminho em uma das patas da sua coruja e a deixa ir.

— Desculpe por isso, assuntos inadiáveis — diz, agora me olhando com sua usual expressão desafiadora. — Olá, Granger. Por onde começaremos hoje?

Respiro fundo. Esse é o momento para o qual estive ansiosa toda a vida. Não quero perder essa oportunidade, batalhei muito por ela. Eu tenho o que é necessário. Sei disso. Estou disposta a tentar quantas vezes for preciso.

— Pela câmara — digo e, pela primeira vez, posso ver que lá no fundo dos seus olhos há algo novo. — Você me espera. Sabe que não desistirei e virei. Todos os dias. Pontualmente. Você sabe que eu levo um instante antes de escolher uma das maçanetas, me questionando se tenho a certa em mente — me endireito na cadeira e cruzo minhas pernas, fazendo uma breve pausa. — Não há porta certa. Todas elas, qualquer uma delas, me trará aqui porque você me quer aqui.

Ela curva os lábios e se levanta do seu lugar, começando sua habitual caminhada lenta pela sala. Dessa vez, porém, sinto que para atrás de mim.

— Suposição interessante. O que mais temos?

— Esse hall não existe. Ela sala não existe. Nem mesmo você existe.

Fecho meus olhos por um milésimo de segundo, um simples piscar de olhos. Quando os abro outra vez, nada mais está ali. É tudo negro e me sinto desesperada, ainda que haja alívio por estar certa.

— Bem vinda, Granger — ouço uma voz dizer. É a mesma voz de Calliope, ecoando de tal forma que pareço estar em um grande espaço. — Você pode continuar.

Sou apenas eu e a cadeira onde estou sentada. Nada mais existe. Eu não sei para onde continuar. Me levanto devagar e olho o infinito atrás de mim. Dou um passo adiante e, sem esperar, caio. É uma queda longa que me faz sentir como Alice no País das Maravilhas, eu também não sei onde o coelho branco está. Meu corpo fica leve e, de repente, me sinto flutuando em água. Minha mente faz com que eu prenda minha respiração automaticamente. Estou afundando e preciso sair. Não tenho muito tempo.

Não consigo me deslocar como gostaria. Há matéria densa me envolvendo. Meus pés estão pesados, meus braços não respondem como eu gostaria, estou perdendo a razão. Eu só quero uma porta. Nunca senti tamanho desespero dentro de mim. Com uso de toda a minha força, consigo virar meu corpo no lugar e ali está. Talvez tenha estado atrás de mim o tempo todo, nunca saberei.

A cadeira flutua entre eu e a porta. Seu movimento me faz entender como essa ilusão funciona. Consigo me deslocar, ainda que isso envolva grande sofrimento. Estou apagando, mas vou conseguir. Quando a ponta dos meus dedos toca a maçaneta, ela gira e eu vejo a luz das tochas do corredor. Estou livre. Me sento no chão e desmorono. Minha respiração é furiosa e faz meu peito queimar.

— Consegui — é tudo que consigo dizer.

Ouso tomar um minuto para me recompor e depois dele, vejo que estou no corredor inicial. Terei que cruzar a câmara novamente e espero não ter feito a coisa errada. Quando me levanto, é como se nada tivesse acontecido. Abro a porta com os dedos trêmulos. Há apenas uma única porta na câmara. Fecho meus olhos, peço aos deuses que tudo dê certo e a atravesso.

Calliope está de pé diante de mim e a porta bate atrás das minhas costas.

— Você conseguiu — ela me dá um grande sorriso e se aproxima. — Sei que deve ter muitas perguntas e eu responderei todas elas ao seu tempo, mas, primeiro, me acompanhe.

Ela me solta e começa a me guiar para dentro do que eu espero ser o departamento. Passamos por dois corredores iluminados por tochas e uma porta. Estou novamente em um escritório, mas esse é totalmente diferente do outro.

— Sente-se, você ainda se sentirá atordoada por um tempo.

Faço o que ela diz e a vejo ocupar a cadeira diante de mim. Olho a sala com desconfiança e ela o percebe.

— Sinto muito por não poder tornar as coisas mais fáceis, mas não se preocupe, isso é real. Você já passou pelo teste.

Ouvir isso me deixa tão aliviada que eu poderia chorar.

— Espero que entenda que foi necessário. Nosso departamento trabalha com coisas que estão, muitas vezes, além da compreensão humana. Não podemos permitir que qualquer pessoa interessada se junte a nós — ela me olha de forma solidária e sinto que está fazendo o melhor uso de suas palavras. — Você está convidada a unir-se ao departamento, mas se não quiser fazê-lo, sentimos muito pelo inconveniente. Precisarei tirar essa lembrança de você, então quaisquer problemas serão evitados, eu garanto.

Ela está brincando? Eu não desistiria de forma alguma. Principalmente agora que passei em seu teste.

— Eu quero a vaga — digo com a maior certeza que já senti em minha vida.

Ela sorri e pega alguns papéis na gaveta da sua mesa. Os entrega a mim para que possa lê-los e se levanta em seguida.

— Leia com atenção, mais de uma vez se preciso. Estarei de volta em um momento e se você concordar com todas as normas, providenciarei sua adesão.

Estou sozinha outra vez, mas já não sinto mais medo.

Meus olhos começam a passear pela página assim que escuto a porta se fechar. É uma apresentação do departamento. Suas numerosas linhas contam como este foi o primeiro entre todos os departamentos do Ministério, mais antigo do que o próprio Ministério, e como sua importância é vital para a manutenção da nossa sociedade. O DDM, como é chamado, é – junto ao Departamento de Execução das Leis da Magia – um dos maiores núcleos do Mistério e o único que está isento de responder a qualquer outro. Nem mesmo o Ministro é capaz de meter-se com seus assuntos ou de interromper seu funcionamento.

Ao final do documento, sou informada de que não poderei falar sobre o meu trabalho ou o trabalho dos meus colegas para pessoas de fora do departamento sob nenhuma hipótese, podendo ser punida por isso. Estarei lidando com diferentes tipos de natureza e o DDM se responsabiliza por quaisquer eventualidades que ocorram, inclusive se propondo a me oferecer auxilio em qualquer circunstância. Por fim, devo me comprometer a proteger o estatuto do sigilo acima de todas as coisas, mesmo que meu trabalho de campo possa envolver os trouxas e sua sociedade.

Parece bem razoável.

Pouco depois de ter concluído minha leitura, Calliope retorna. Ela tem um frasco vazio em mãos e sei que ele é para armazenar minha memória caso ela precise me obliviar. 

— Pode me passar o tinteiro e a pena? — peço ao vê-la sentar outra vez.

Ela não hesita em fazê-lo e eu assino cada uma das páginas, selando meu destino.

— Que bom que não tem perguntas, isso nos poupa tempo — diz ela, pegando os papéis e os guardando em sua gaveta outra vez. — Vou te mostrar algumas áreas no mapa, te explicar algumas coisas importantes e te indicar ao seu posto.

Concordo com um aceno de cabeça. Ela abre outra gaveta em sua mesa e retira algumas coisas dela, então se vira para mim.

— Seja bem vinda ao Departamento de Mistérios, Granger — sua mão aperta a minha com firmeza por um instante. — Sou Calliope Dawlish, chefe do departamento, e você pode se dirigir a mim sempre que necessário. Como nossa área é vasta, você pode nem sempre me encontrar aqui, mas temos outros meios de comunicação.

Vejo uma das suas mãos apanhar o que parece ser um relógio de bolso não muito convencional. Ao invés de números e ponteiros, quando ele se abre posso ver que possui planetas e outros símbolos gravados.

— O ensinarei a usá-lo mais tarde, assim que estiver na sua sala.

O guardo em minha pasta, atenta a tudo que ela possa me ensinar.

— Você já conhece algumas áreas do departamento, como o Hall das Profecias — ela diz, abrindo um grande mapa sobre a mesa. — Porém, é importante que entenda que nós não utilizamos esses nomes. Cada área possui seu código e é importante que eles sejam memorizados e utilizados.

Ela apanha sua varinha e sussurra um feitiço que eu não compreendo, fazendo com que o papel em branco comece a revelar seu conteúdo. Vejo a tinta traçando linhas que formam corredores e salas.

— Você receberá um cartão como este que autorizará sua entrada nas áreas que precisar. Não serão todas, de imediato, apenas aquelas ligadas ao seu trabalho — ela me mostra o seu próprio cartão, o qual traz seu nome escrito. — Quando entrar em uma área, certifique-se de ser discreta. Não interrompa outros funcionários a menos que seja necessário. Para coleta de informações, você pode utilizar o seu cartão da mesma forma. Ele será seu passe aqui dentro.

Seus olhos voltam para o mapa, agora completamente traçado, e eu a sigo. Posso contar pelo menos doze grandes áreas, fora os pequenos escritórios espalhados. Nunca imaginei que esse departamento seria tão vasto.

— Haverá um mapa desses na sua sala, então não precisa se preocupar em decorar todas as rotas nesse momento. Isso leva tempo — ela leva um dos seus dedos até a uma marcação específica no mapa. — Cada área tem seu código, símbolo e finalidade. Pode parecer muita coisa, mas, lembre-se, você não precisará estar familiarizada com todas essas áreas.

Posso ler o nome de algumas com facilidade. Hydra, Swan, Flame, Orchid. São nomes que não me dão grandes pistas sobre o que se tratam, apenas aumentando minha curiosidade.

— Você trabalhará aqui.

O lugar para onde ela aponta está marcado com o nome de Pearl. Pérola.

— Durante o seu turno, você verificará nos monitores tudo o que acontece em uma outra área onde está ocorrendo um experimento. Sua tarefa é anotar tudo o que ver — explica, voltando a olhar para mim. — Pode parecer algo simples e talvez até um pouco tedioso, mas não se preocupe. Faz parte do processo e quando você concluir isso, haverá outras coisas que poderá fazer.

Concordo com um aceno de cabeça, absorvendo cada detalhe.

— Vamos, vou te levar até lá.

O caminho é mais simples do que eu poderia prever e o decoro com tranquilidade. Calliope me mostra como funcionam os monitores, onde posso fazer as anotações e me explica o protocolo básico de emergências caso eu precise fazê-lo, ainda que me garanta que essa área é muito tranquila. Ela também me mostra onde colocar meus relatórios assim que conclui-los.

— Alguma pergunta?

— Não, estou bem por hora — respondo confiante, já tomando meu lugar.

— Certo, me diga caso precise de algo.

E então ela sai, me deixando sozinha com minha nova função. Por mais simples que seja, é animadora. Espero entender sobre o que esse experimento se trata apenas observando-o. Apanho um conjunto de pergaminhos, me endireito na cadeira e apanho de dentro da minha pasta a pena de repetição rápida que Fred me deu presente. A partir disso, me concentro nos monitores que mostram diferentes ângulos de uma sala onde duas pessoas parecem revezar o trabalho de apertar um botão de tempos em tempos. Não posso ouvi-las e não faço a menor ideia do que esteja acontecendo, mas narro cada pequeno movimento que eu vejo, fazendo a pena anotar minhas palavras no pergaminho.

Finalmente me sinto útil.

 

A hora do almoço chega rápido e faço meu caminho entre os corredores até o refeitório comum do Ministério. Finalmente entendo porque ninguém ali parece ser do DDM. Eles possuem seu próprio refeitório para não precisar de tamanha caminhada apenas para o almoço. Felizmente, eu não me importo com isso. Quero continuar almoçando com meus amigos.

— E então, o que nos conta hoje? — Harry me pergunta, servindo-se.

— Consegui a vaga — digo sorridente.

Os dois explodem em comemorações e parabenizações, me deixando orgulhosa.

— Finalmente alguém poderá nos contar o que acontece dentro daquele lugar. Ele me dá arrepios.

Movo minha cabeça em negação.

— Não estou autorizada a dizer nada sobre isso.

— Eu já imaginava — Harry dá de ombros.

— Não seja ruim, Hermione. Quem vai saber se você contar algo?

Rolo os olhos para ele.

— Eu assinei um termo, Ronald. E fiz uma promessa — aponto meu garfo para ele ameaçadoramente. — Não insista, pois não vou dizer nada. Posso ser punida por isso.

Ele se rende, resmungando.

— Agora você tem uma mesa para as suas flores?

— Oficialmente, Harry — dou risada.

— Ótimo, porque elas estão atrapalhando na minha sala.

Ron ainda está zangado comigo e o máximo de esforço que eu faço para resolver isso é apertar suas bochechas.

— Elas ficarão lindas na minha mesa.

Harry e eu nos olhamos cúmplices. Adoramos perturbar Ron quando ele se sente contrariado, é quase um esporte.

No fim das contas, devo dizer que as coisas estão indo muito bem agora. Passo o resto do meu expediente sendo orientada por Calliope que me apresenta os locais que preciso conhecer, a minha sala - que agora tem um belo girassol a decorando - e os procedimentos que deverei seguir. Não começo de imediato, pois ela quer garantir que eu esteja familiarizada o suficiente antes de colocar a mão na massa.

Ela me diz que existem vários experimentos sendo realizados no departamento e eu provavelmente acompanharei alguns deles ao longo do tempo, me deixando ciente de que o trabalho ali é dinâmico, o que me agrada muito. 

Anoto tudo que posso, sabendo que essas anotações serão úteis no futuro e tendo minhas curiosidades parcialmente sanadas, o dia passa voando. 

 

Quando estou chegando em casa, vejo meu vizinho outra vez e decido cumprimentá-lo devidamente, me apresentando. Ele não é muito mais velho do que eu, talvez dois ou três anos apenas, e descubro que é filho da senhora que me alugou a casa em que vivo agora. Seu nome é Zachary, mas insiste para que eu o chame de Zach.

— Hoje o dia foi mais tranquilo. Ontem acabei chegando tarde do trabalho, na hora em que te vi quando seu namorado ia embora — ele diz em um tom leve e divertido. Parece ser uma boa pessoa.

— Oh, não. Ele não é meu namorado, é apenas um amigo, irmão mais velho da minha melhor amiga. Cresci junto da sua família e ele veio me desejar boa sorte na entrevista que faria hoje.

Ele compreende, sorrindo para mim.

— E ocorreu tudo bem com a entrevista?

— Sim, fui aprovada — falo com orgulho, recebendo os seus parabéns.

— Se você estiver livre, vou apenas me trocar e ir até o café na outra quadra. Podemos comer algo para celebrar sua conquista.

Não vejo razão para não fazer isso, visto que ele diz que não demorará muito. Ele entra em sua casa para se vestir e eu sigo para a minha fazendo o mesmo, e enviando uma coruja para agradecer Fred pelas flores e dizer que deu tudo certo. Quando saio outra vez, Zach está me esperando e vamos andando até o café, onde peço um cappuccino e um bolinho de caldeirão.

— O trabalho no Ministério deve ser interessante, mas também muito exaustivo, suponho.

— Por hora ainda estou em uma posição confortável, mas acredito que no futuro isso se torne real — comento, bebericando minha xícara. — O que você faz?

Ele limpa os lábios com um guardanapo antes de prosseguir.

— Trabalho em Saint Mungus — diz, percebendo que fico surpresa e alegre por isso. Nunca conheci ninguém que trabalhasse lá e não sei muito sobre medibruxaria, então tenho várias perguntas. — Sou mestre de poções na ala de acidentes mágicos.

— O seu trabalho também deve ser interessante e exaustivo, então.

Ele ri, concordando. Me sinto confortável em sua presença, ainda que não o conheça direito. Ele passa a mesma sensação de calma que sua mãe me passou quando a conheci, o que fez com que eu desistisse imediatamente de ver qualquer outra casa para alugar a sua.

— Não posso mentir dizendo que não o é, mas felizmente tenho bons colegas que tornam as coisas mais fáceis.

Penso em perguntar se ele conhece Draco Malfoy, mas sei que o hospital é grande e ele não tem obrigação de saber quem ele é apenas por trabalhar lá. Além do mais, se Malfoy optou por uma vida mais discreta, não quero ser a pessoa que vai ajudar os demais a ficarem cientes sobre ele. Todos merecem um recomeço digno.

Zach e eu conversamos sobre trabalho e viver sozinhos, e aprecio sua companhia. Terminamos pouco depois e voltamos cada um para sua respectiva casa, nos despedindo e agradecendo um ao outro pelo café. Tomo um banho ao entrar e depois chamo Gina pelo espelho, contando as novidades. Ela sugere que nos encontremos no Três Vassouras na sexta-feira para comemorar e eu concordo, então nos despedimos. 

Com a cabeça a mil, mas satisfeita, durmo como uma criança.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenha gostado. Deixe um review me dizendo o que mais gostou, ficarei feliz em respondê-lo. :)



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