Em segurança escrita por Kori Hime


Capítulo 1
Em segurança


Notas iniciais do capítulo

Eu fiz esse conto ontem a noite no impulso mesmo hehe



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Inosuke não gostava de aglomeração.

Nas montanhas, os animais viviam em pequenos bandos. O barulho da floresta era composto por harmonia, diferente das cidades e dos grupos de humanos. O caçador suspirou, concentrando a respiração e tentando diminuir o barulho ao redor.

Sempre foi difícil trabalhar em grupo, mas aprendeu, ao lado de Tanjiro e Zenitsu, que trabalho em equipe era necessário em certas situações. Só que ele ainda se incomodava com aquele tanto de pessoas ao seu redor. Era diferente nas montanhas, cada animal coabitava o espaço sem incomodar o outro. Pelo menos as raposas da montanha não incomodavam quando estavam de barriga cheia.

Contudo, a mudança das últimas semanas, fez com que a rotina já rígida dos caçadores fosse resumida ao treinamento exaurido nas casas dos pilares. E uma casa era mais complicada do que a outra para passar. Não era complicado treinar, ou lutar com as pessoas, mas lidar com elas. A cada momento Inosuke ouvia uma palavra diferente (geralmente ele não entendia o significado, até porque não perguntava), descobria um código novo para agir diante de alguma situação (como o fato de que não se podia entrar nas termas com a pilar do amor). Nessa última situação, ele não tinha culpa ou ideia de que poderia gerar comentários maldosos sobre a honra da pilar. Inosuke não entendia muito bem, já que ela era uma mulher forte e incrível, não precisava se preocupar com o que as pessoas falavam.

— Idiota, não é o que falam dela, mas o que falam de você. — Zenitsu berrou com aquela voz aguda em seu ouvido. — Vão te chamar de tarado, e vão se afastar da gente. Assim eu nunca vou encontrar uma esposa bonita para me casar.

— E por que você quer se casar? — Inosuke o olhou sem muita confiança, estava com a cabeça de javali ao seu lado, enquanto ele comia a refeição, não parando de comer nem para falar.

— Não fale de boca cheia. — Zenitsu o advertiu, fazendo um bico.

— Por quê?

— É nojento, o arroz está caindo para fora da sua boca. — O loiro lamuriou-se com Tanjiro que sorria. Ele não se incomodava com o fato de Inosuke comer com a boca aberta ou fechada, também não se incomodava se ele tomava banho com outra pessoa na terma, mas não gostava de quando brigavam. Dizia que se continuassem brigando com violência, não compartilharia a comida juntos. Esse era mais um comportamento que Inosuke compreender depois ser algo agradável. Comer para ele sempre foi um ato natural para se manter forte e em pé e assim continuar lutando. E ao lado de seu colega, aprendeu que a comida compartilhada com outras pessoas tinha um gosto diferente. A comida ainda era a mesma, mas a sensação era mais calorosa e preenchia seu peito.

— Inosuke, você está mesmo se esforçando para entender os sentimentos das pessoas, não é mesmo? — Tanjirou acenou com a cabeça. — Fico feliz com isso.

— Quem liga? — Inosuke voltou a encher a boca com comida e a falar ao mesmo tempo. Zenitsu deu prosseguimento a discussão até que terminaram de comer. — Ele não respondeu minha pergunta.

Assim que deixaram a varanda, os dois caminharam pelo jardim, uma área menos movimentada, onde os demais caçadores pouco iam.

— Qual pergunta? — Tanjiro perguntou, caminhando tranquilo ao lado dele.

— Porque ele quer se casar. — Os ombros de Inosuke estavam caídos e a cabeça de javali retornou ao seu lugar de costume. — Para que arrumar uma esposa bonita?

— Oh! Isso. — Tanjiro sorriu novamente e Inosuke parou de andar, olhando em sua direção. Pensou se havia cometido mais algum tipo de comportamento inconveniente. Ele geralmente não se importava com as outras pessoas, mas considerava o que o outro caçador dizia. — Zenitsu quer constituir uma família, eu acho. Talvez seja porque ele tenha tido dificuldades na infância, quem sabe se estabilizar com uma mulher bonita e gentil, ter filhos, para protegê-los.

— É? As fêmeas na montanha que vim são fortes, elas são dominantes e ficam longe para manter a guarda. As fêmeas que ele procura são fracas assim?

— Você fala dos javalis fêmeas? — Tanjiro inclinou a cabeça, sorrindo novamente. — As javalis parecem ser incríveis, não é, Inosuke?

— São as melhores. — Inosuke fez uma pose estufando o peito. — Talvez eu o apresente para alguma fêmea forte, como a pilar que nos fez vestir aquelas roupas engraçadas.

— Ah! Kanroji-senpai. — Tanjiro balançou a cabeça, coçando o queixo. — Aquelas roupas eram mesmo engraçadas.

— E você, Kompachiro? Quer casar e ter uma família fraca para proteger?

Tanjiro ficou surpreso e depois seu olhar desviou para os arbustos.

— Eu não sei, não pensei nisso desde que minha vida mudou. Não quero colocar em risco as pessoas que amo, mas também tenho a Nezuko que vai me fazer companhia.

— E a mim. — Inosuke falou, apontando o dedo para si próprio com certa satisfação. — Eu estou aqui.

— Sim, é claro. Todos vocês. Acontece que o casamento parece ser algo muito importante, como se você tivesse certeza de que se sente bem e feliz com uma pessoa. Eu acho que o amor deve ser construído na relação. Minha mãe dizia que um completa o outro, por isso ela decidiu casar-se com meu pai, ele era uma parte sua fora do corpo. Então, quando se uniram, tornaram-se um só.

O jovem caçador das montanhas suspirou, irritado. Era uma sensação de incomodo que invadia sua barriga e o fazia querer bater a cabeça na árvore. Tanjiro Kamado era uma pessoa ao qual Inosuke não entendia por que ao mesmo tempo que lhe causava confiança, também causava dores no estômago. Deveria ser algum problema com ele?

No final daquele dia, quando os caçadores terminaram o treinamento, foram todos para os alojamentos. Eram muitas pessoas num mesmo lugar, como ele já havia percebido, e se incomodado. Principalmente para tomar banho, e por isso Inosuke decidiu ficar ali próximo da lagoa, onde pode tirar suas roupas, a cabeça de javali e os sapatos. Pulou na água e mergulhou até o fundo, onde alcançou as pedras lisinhas. Ele voltou a superfície e passou a mão nos cabelos.

— Você está aqui. — Tanjiro acenou, próximo as coisas de Inosuke sobre a grama. — Eu estava te procurando para a gente poder comer juntos e depois dormir.

— Hã? Dormir juntos?

— Sim, descansar para amanhã a gente voltar a treinar. — O caçado ergueu os braços, mostrando os punhos. — Você não está sentindo frio?

— Não, a água está boa. Entra.

— Acabei de sair do banho quente, não quero ficar doente. — Tanjiro sentou-se na grama e aguardou Inosuke sair da água.

Inosuke deixou o lago e espremeu os cabelos molhados, andando até o colega que desviava o olhar com o rosto muito vermelho. Inosuke parou em frente a Tanjiro, ele estava sem roupas, mas isso não o incomodava. Contudo, parecia divertido ver a reação de Kamado diante da sua nudez. Parece que ser o mestre das montanhas te dava o poder de tornar as pessoas vermelhas como sangue. Não era a primeira vez que aquilo acontecia, mas era a primeira vez que o deixava orgulhoso.

— Aqui, suas roupas. — Tanjiro estendeu as mãos, entregando para ele. Inosuke se vestiu, ainda molhado. — Você pode ficar doente se não secar os cabelos. Venha vou ajudar você a secar.

Eles retornaram para o alojamento dos caçadores e Tanjiro conseguiu uma toalha. Inosuke sentou-se na varanda, enquanto os cabelos eram esfregados pelo pano nas mãos de Tanjiro. Embora os movimentos fossem rápidos, o toque das mãos em sua cabeça parecia agradável. Gostava de como os dedos de Tanjiro se embrenhavam nos fios de seu cabelos, e depois ele os puxava para trás como se os dedos fosse uma escova de cabelo para pentear, igual ao que usaram quando ele se disfarçou de dama de companhia.

Quando acabou, Inosuke sentiu falta do toque. Emburrou-se imediatamente.

— Faça aquilo de novo. — Ele ordenou, sentindo o estômago revirar quando Tanjiro levou a mão à sua cabeça.

— Isso? — Tanjiro perguntou. — Você gosta que mexam no seu cabelo?

— Não, eu só quero que tenha certeza de que está bom. — Ele virou a cabeça, tentando suprir a vontade de obrigá-lo a pôr as duas mãos em sua cabeça porque era mesmo boa a sensação do toque. — Eu tomei uma decisão.

— Oh! Qual foi? — Tanjirou sentou-se ao lado dele na varanda, já era noite e os caçadores estavam muito cansados para ficarem acordados até tão tarde.

— Eu também vou me casar. — Disse, ficando de pé, mostrando-se confiante.

— Isso parece inesperado, mas eu fico feliz. — Tanjiro sorriu em sua direção. — Você conhece alguém especial?

— Sim, eu encontrei uma parte minha fora do meu corpo. Mas o que se faz quando decide isso?

— Você pede essa pessoa em casamento para ver se ela aceita. — Tanjiro ficou com uma expressão pensativa — Eu não vi muitas festas de casamento, mas dependendo das condições da família, eles até mesmo fazem muita comida e tem um cerimonialista.

— É, não parece complicado. — Inosuke colocou os dois joelhos no chão de madeira da varanda e se sentou em cima das pernas, abaixou a cabeça com uma leve reverência na direção de Tanjiro Kamado e então ele falou. — Case comigo.

— Que? — O outro caçador berrou de surpresa — Eu?

— Sim, você. — Inosuke estreitou os olhos, esperando a resposta. — Me diga logo a resposta.

— Não acho que devemos nos casar, não... por que eu?

— É como sua mãe disse, um completa o outro, e nossas lutas sempre se completam.

— Isso é verdade, mas não acho que seja certo a gente se casar. — Tanjiro depois balançou as mãos. — Eu não digo que não devemos porque somos meninos, mas... você entende?

— Não entendi nada. — Inosuke soltou os ombros rijos, esperar por uma resposta era cansativo.

— Acho que ainda somos muito jovens para pensar em casamento. — Tanjiro respirou fundo e controlou sua respiração a seguir. — Eu ainda tenho muitas coisas para fazer até me sentir pronto para esse tipo de estabilização.

— Entendi, então você não quer construir uma relação comigo? — Inosuke aproximou-se de Tanjiro, para olhá-lo bem nos olhos dele. Seu rosto era bonito e os olhos vibravam, assim como podia sentir o corpo do caçador tremer e sua pele aquecer, avermelhando-se.

— Eu, eu, eu não disse, eu não falei isso. — Tanjiro parecia confuso e gaguejava. Inosuke pousou a mão no queixo. — Não é bem assim que esse tipo de relação se constrói, geralmente os casais agem de outra forma. Dão as mãos, trocam juras de amor e se beijam.

— Então há mais regras? — Inosuke esticou a mão e pegou a de Tanjiro. Inclinou a cabeça para frente e bateu a testa na dele porque moveu-se rápido demais. Doeu, é verdade, mas a seguir ele o beijou na boca. O beijo foi um encostar de lábios que durou tempo o bastante para que Inosuke sentisse a maciez de Tanjiro e ao mesmo tempo o tremor em sua boca.

Assim que se afastou, Inosuke levantou-se novamente, o peito estufado e a cabeça de javali em mãos. Seus cabelos já estavam secos e ele enfiou a máscara na cabeça.

— Estamos casados. — Disse, por fim.

— Não, não é assim. — Tanjiro se levantou, sorrindo e tranquilo. — Vamos com calma. — Ele foi caminhando atrás de Inosuke, que entrou no alojamento.

Os dois dormiam um próximo do outro e quando se deitou no futon, Inosuke virou a cabeça, protegido pela máscara de javali. Seu rosto estava mais quente do que o normal, o coração palpitando mais rápido, alcançou a mão de Tanjiro perto da sua, e sentiu os dedos dele entrelaçarem nos seus.

Naquele aglomerado de pessoas, Inosuke sentia-se seguro quando Tanjiro estava ao seu lado.


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Notas finais do capítulo

Valeu a quem leu, podem comentar e deixar essa categoria linda de leitores maravilhosos.



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