Então conheci você escrita por Evangeline White


Capítulo 2
Sirius e os Votos


Notas iniciais do capítulo

E maaais um capítulo fresquinho saindo. ♥ Esse particularmente me foi um pouco complicado de fazer porque, por mais que eu ame o Sirius e veja todas as camadas dele, colocar tudo isso numa cena não é tão fácil quanto parece.

Mas mesmo assim, aqui está. ♥



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Os murmúrios corriam soltos entre os convidados animados, e a ansiedade gerava uma expectativa impossível de controlar. James e Peter partilhavam o mesmo espaço ao lado do altar, enquanto Lily e Andromeda trocavam olhares significativos. Fazia poucos minutos que ocuparam seus lugares e aguardavam a chegada das estrelas da festa, e mesmo assim, James se chacoalhava nos pés como se estivesse prestes a levantar voo.

— Eu deveria estar trazendo ele, não acha? — James sussurrou para Peter. — Ou você. Quero dizer, a ideia foi legal, mas... somos uma família!

— Tenho certeza de que eles iriam preferir que estivéssemos aqui, para recebe-los.

James bateu os pés de novo, e Lily pigarreou.

— Já passou muito tempo, não acha? Será que algo deu errado?

— James...

Peter riu e Lily revirou os olhos quando James mostrou-lhe a língua. Era impossível dizer quem estava mais nervoso naquele momento: os noivos ou James. Nem mesmo Peter se agitava tanto, o que deixou Lilian feliz – Molly havia lhe dito a maravilha florida que Peter havia preparado, e o parabenizaria na festa pelo feito.

As conversas foram cortadas quando a segunda música tocou. Para a entrada dos padrinhos, a melodia era suave e alegre; para o primeiro noivo, algo mais melódico, clássico e impactante.

E, para surpresa de todos, a primeira entrada era de Sirius Black.

— Bem — Harry sorriu ao dar o braço para o padrinho. Havia sido escolhido por Sirius para o levar até o altar, e obviamente Harry não refutou o pedido. — Parece que algumas pessoas perderam a aposta de que seria o último a entrar.

Sirius estufou o peito.

— Só existem duas pessoas que podem prever minhas escolhas, Harry. E vou casar com uma delas hoje.

Harry riu, e aquilo relaxou Sirius. Desde o nascimento do afilhado, Sirius decidiu que seria o melhor padrinho do mundo; promessa que vinha cumprindo com orgulho. Graças àquele nascimento, Remus começou a ver que era possível formar família com as pessoas mais inesperadas (ninguém imaginava que Lily Evans aceitaria James Potter, afinal), e foi graças ao garoto dos Potter que Sirius se viu corajoso de chamar Remus para dividirem a mesma cama – e o mesmo teto. Devia a Harry mais do que o adolescente poderia imaginar.

O caminho vermelho se tornava cada vez menor, e o coração de Sirius disparou. Via os rostos felizes de seus convidados, o flash das câmeras e os olhares emocionados de James e Peter. Lily e Andromeda apertavam as mãos e sorriam para Sirius, mas foi nos marotos que o noivo se focou. Sirius era um homem intenso, rebelde, às vezes até mesmo difícil de se lidar; aquilo, porém, pouco lhe importava, quando sabia ter ao seu lado amigos que, por anos, se provaram ser uma família melhor do que a qual um dia chegou a pertencer. Amigos que agora lhe davam as mãos, ao recebe-lo no altar.

— Fez um bom trabalho — James sussurrou para Harry.

— Obrigado — Harry sorriu do pai para o Sirius, e depois para a mãe. — Você está ótimo, Padfoot. Remus é um cara de sorte.

— Eu sei. Ele sabe também.

E Harry riu mais uma vez, beijando o rosto do padrinho para enfim, deixa-lo no centro do arco e se colocar ao lado de Peter.

— Nervoso?

Sirius olhou de esguelha para James.

— Eu pareço nervoso?

— Completamente. Estiloso, claro. Mas ainda assim, nervoso.

Sirius levantou o dedo do meio contra os óculos de James, e depois voltou a se virar para frente. Em cinco minutos, outra música tocaria, e Remus Lupin viria a seu encontro.

Ele viria. Ele tinha de vir. Afinal, Sirius estava ali para recebe-lo. Assim como todos   os anos onde Remus o acolheu nos braços e o recebeu sem julgamentos ou preconceitos, Sirius estaria ali para ele, para mostrar que tudo valeu a pena.

Ainda se lembrava dos seus dezesseis anos. O ano em que correu direto para os braços de James, após fugir de casa. Seu melhor amigo; seu irmão. E ele o recebeu, como um igual, como um Potter. James era para Sirius a melhor definição de família, mesmo que na época, Sirius acreditasse não merecer sequer um por centro daquele amor encontrado na casa dos Potter.

E Sirius acreditou que foram os Potter a lhe abençoar a vida, pois no ano seguinte, Remus Lupin finalmente havia lhe beijado. Sem álcool, sem pressão, sem absolutamente nada além do desejo real de beijar Sirius. E nossa, como beijava bem! O garoto bonito não era só inteligente, Sirius pensou enquanto sua boca se movia suavemente sobre a de Remus; o garoto bonito sabia muito bem onde colocar as mãos.

Depois daquele dia, Sirius havia feito uma promessa pessoal: faria a vida de Remus Lupin a mais feliz que pudesse ser, em gratidão a tudo o que Remus lhe trouxe a partir do momento que aceitou a primeira aliança em seu dedo – o início de uma relação que seria eternizada no dia de hoje.

Os minutos corriam, e se antes apenas James enxergava o nervosismo do melhor amigo, agora os outros padrinhos podiam perceber o esforço de Sirius em manter a postura. Seus dedos tamborilavam na calça escura, e os pés começavam a se agitar. Já não havia se passado cinco minutos?

— Ele vai vir — Sirius murmurou, sequer percebendo a mão de James sobre seu ombro. — Ele não iria desistir agora, não é?

Se James respondeu, Sirius não prestou atenção. Remus era a melhor pessoa que conhecia, mas se tivesse de listar um único defeito no namorado, era o medo. Não o medo comum de escuro ou lugares apertados; não, o medo de Remus Lupin era mais profundo, mais triste.

Sirius ainda se lembrava do dia em que Remus tentou fugir. Sempre que uma crise vinha com força, Remus temia machucar alguém. E naquele dia, ele machucou. Machucou Peter. Machucou o amigo de infância. Sirius nunca havia presenciado tanta tristeza em um único ser humano como viu nos olhos verdes do garoto bonito e cicatrizado. As marcas físicas de Moony não doíam nada comparadas com aquelas de seu espírito.

Remus Lupin temia ele próprio.

— Talvez eu deva ir atrás. Talvez eu-

Sirius arfou quando a música começou, de repente. Era leve, bonita e calma. Era a entrada de seu noivo. Era a entrada de seu Moony.

Os convidados se levantaram, e Minerva sorriu para Remus. Havia sido escolhida para ser sua acompanhante, e não poderia estar mais orgulhosa. Desde que o recebeu na escola, soube que seria não apenas um aluno inteligente, mas alguém que se dedicaria de corpo e alma por aquilo que amava, e quando assumiu a guarda dele após o triste falecimento de seus pais, Minerva acompanhou Remus se tornar um homem gentil e um professor excepcional. Remus Lupin era o homem mais divertidamente inteligente que conhecia, e qualquer um concordaria com aquela afirmação se pudesse passar cinco minutos com ele.

— Está pronto? — ela perguntou ao tocar-lhe o braço.

Remus puxou o ar, seus olhos vidrados nos cinzas de Sirius.

— Estou.

E lá veio ele, em um terno branco e novo, com uma singela flor em seu bolso direito. Remus sempre quis se casar de branco, Sirius sabia. Todas as vezes que passavam por lojas de festas, era no branco que Remus parava. Ele era clássico, clichê; toda a magia de um casamento com padre, flores e branco enchiam de lágrimas os olhos do professor. Por isso, era de direito de Remus e apenas Remus caminhar pela passarela vermelha vestido na roupa branca que tanto desejava.

E Deus, como estava lindo.

— Obrigado, Minerva — Remus sorriu para a mulher, antes dela desejar felicidades ao casal e se colocar ao lado de Andromeda. — Obrigado por me esperar.

Sirius tomou as mãos de Remus, beijando uma de cada vez.

— Sempre estarei te esperando, Moony.

— Guarde o discurso para os votos, Padfoot.

A conversa se encerrou ali, antes de se virarem para o padre.

Sirius tentava manter seus olhos no padre, mas era difícil. Remus estava perfeito. O branco havia lhe caído muito bem, como havia imaginado. Sirius sabia que Remus se empolgaria com o terno; Sirius sabia muito sobre Remus, afinal, sua paixão vinha por ele desde os quatorze anos.

Um sorriso discreto moldou o rosto marcado pela barba rala. Lembrava-se nitidamente da primeira vez que conheceu Remus. James foi o responsável por unir o grupo, ansioso para que Sirius conhecesse seus dois colegas de acampamento, mas Sirius imediatamente estabeleceu em sua mente dramática que odiaria os “novo amigos” de Prongs. Eram uma dupla, e duplas não eram formadas por quatro pessoas.

Mas então, ele viu Remus. O menino de onze anos gentil, machucado e depressivo, e quando piscou, já o tinha nos braços e dedicava o resto de sua vida por aquela amizade. O mesmo para Peter, é claro – todos adoravam o menino baixinho com a risada fofa. E Sirius tinha um gosto particular em ressaltar os pontos positivos de Peter, o que parecia deixar Remus feliz. E ter a chance de fazer os dois felizes ao mesmo tempo era tudo para Sirius.

Quando formaram os Marotos, e os apelidos íntimos vieram, Sirius soube naquela hora que as amizades que havia formado ali, não seriam apagadas pelos anos. Se dependesse de si, os Marotos se tornariam imortais na memória de cada um.

— Agora — o padre sorriu de Remus para Sirius — Sirius irá apresentar seus votos para Remus.

Eles se viraram. Frente a frente, a beleza de Remus quase cegava Sirius, e seu sorriso era mais valioso do que todo o ouro do mundo. E Sirius diria isso àquele homem quantas vezes fossem necessárias.

Devagar, Sirius tirou do bolso um papel perfeitamente dobrado, numa folha amarelada. Quando ele o abriu, no entanto, não eram seus votos que estavam escritos, e o arregalar de olhos de Remus fez Sirius sorrir satisfeito.

Ele ainda se lembrava.

— Quando tínhamos dezesseis anos, eu fiquei quatro horas na biblioteca ao seu lado. Achei que seria a coisa mais chata da minha vida, mas nada que envolva você se torna tedioso. — Sirius acariciou o papel, o sorriso se transformando em algo infantil, carinhoso. Em algo puro. — Depois de quatro horas, você gritou com tanta felicidade, que a bibliotecária nos bateu na cabeça e ameaçou nos expulsar.

Alguns risos tomaram os convidados, em especial James e Peter. Conheciam a história em detalhes, afinal.

— Você me mostrou essa folha, tão orgulhoso. Havia sido seu primeiro poema. O primeiro poema que você realmente havia gostado de escrever. E era sobre nós. Sobre nós dois, James e Peter. Sobre nossa amizade. Sobre como isso te fazia bem. Eu sei que não é fácil, carregar o que você carrega, mas só havia percebido isso naquela hora.

Os olhos de Remus já tinham lágrimas, e mesmo Sirius sentiu a garganta querer falhar. Com um pigarreio discreto, ele continuou:

— Foi naquela hora, naquele momento, que eu percebi que queria te ver sorrir todos os dias, se pudesse ser aquele sorriso. Foi lá, naquela biblioteca velha, que eu percebi que não só gostava de você – eu realmente te amava. E Deus sabe o quanto fiquei feliz com essa descoberta, por amar um homem tão encantador, tão determinado e tão perfeito como você, Remus.

Sirius passaria então os próximos dois anos a conquistar Remus, e após o primeiro beijo, descobriria que na verdade, já havia conseguido o feito há tempos – bastava ser paciente e determinado, como havia sido.

— Eu poderia descrever tudo o que sinto por você, mas ficaria um ano aqui. E eu prefiro te enaltecer todos os dias, desde o momento em que vai acordar do meu lado, até a hora de apagar a luz para dormir, mesmo sabendo que você ainda passará mais uma ou duas horas acordado, lendo. Porque você ama ler, e adora se exaltar sobre seus livros no dia seguinte, enquanto faz o café ou queima os ovos.

Dessa vez foi Remus quem riu, murmurando algo de ter sido apenas uma vez.

— Eu não sou um homem bom, Remus. Eu tenho marcas na minha vida que nunca serão apagadas. Mas eu sei que, quando estou com você, quero ser a melhor versão de mim. Porque você faz isso com as pessoas; faz com que queiram buscar o que há de bom nelas. E eu prometo que enquanto você me aceitar do seu lado, eu vou te lembrar sempre do quanto você merece essa felicidade. E vou levar este poema comigo a vida toda, para nunca te deixar esquecer de que nós — Sirius apontou dele para James e Peter — não seríamos metade do que somos, se não fosse você.

O som que vinha dos convidados era uma sinfonia de choro contido, arfares fortes e murmúrios emocionados. Andromeda se abanava para tentar permanecer calma, mas Remus já não tinha a mesma sorte, com duas lágrimas teimosas abrindo caminho para outras. Seu sorriso trêmulo denunciava a alegria sentida por ele, e Sirius respirava em alívio ao colocar seu sentimento diante de todos para que pudessem saber a imensidão de seu amor por Remus Lupin.

— Remus — o padre mantinha o sorriso calmo — seus votos para Sirius.

Remus respirou fundo.

— Não preparei um grande discurso como o seu, mas essa é sua especialidade, dentre tantos outros talentos. Quando Peter apareceu hoje para mim, com este cravo, ele disse que era para carregar um pouco de você.

Seus dedos subiram para a flor, e Sirius percebeu como estavam trêmulos. A vontade de abraçar Remus foi quase impossível de controlar, mas apenas o fez para que o noivo dissesse as palavras dele. Sirius amava ouvir Remus falar.

— Um cravo simboliza o amor puro, a entrega da liberdade. E foi exatamente isso o que você me proporcionou, Sirius. Você me ajudou a descobrir o mundo, a perceber que eu não sou um monstro. Você me fez ver como é bom viver, e como é bom ser amado. E ano após ano, você só melhorou, e só me fez melhorar e me orgulhar de você, de nossos amigos, de nós. Você me trouxe isso, Sirius. Me trouxe liberdade através do amor. E eu não mudaria nada em minha vida, pois tudo o que passei, passaria de novo, se isso significasse ter você ao meu lado. Você tornou tudo melhor, porque você é o melhor para mim. E eu nunca vou amar tão intensamente alguém, como amo a você.

O padre não teve tempo de continuar, ou os convidados chorarem: Sirius corria seus braços pelas costas de Remus, em um abraço tão apertado, tão necessitado, que ninguém teve coragem de fazer nada além de sorrir. Era o casamento deles, o momento deles, e deveria ser exatamente como eles quisessem que fosse.

E os dois teriam pulado direto para as palavras finais, se não fosse o barulho de patas sobre o tapete. Pads II caminhava com toda a sua beleza canina, carregando uma pequena cestinha com flores e as alianças.

Peter arfou.

— Ele conseguiu! — Quando os olhares caíram sobre si, as orelhas de Peter ficaram tão vermelhas quanto o tapete de entrada. — Eu... achei que seria especial para vocês se o Pads II aparecesse e... bem, ele devia ter vindo um pouco mais tarde mas... mas ele conseguiu!

Na última cadeira, Charlie Weasley fez um sinal de desculpas a Peter, murmurando algo sobre compensar seu vacilo depois. Mais tarde explicaria que Pads II havia se soltado sozinho de seus braços e não quis correr atrás para não atrapalhar o momento bonito; mas naquela hora, Sirius e Remus riram em deleite com o carinho recebido dos amigos, e com carícias no pelo escuro do cachorro, puseram as alianças.

Naquela cerimônia, firmava-se o relacionamento tão desejado por eles. Entre os beijos e as bênçãos, Sirius e Remus riam da felicidade que jorrava de seus peitos, e de mãos dadas, comemoravam ao virar para o público, que aplaudia de pé aquela conquista.

— Podemos ir, marido? — Sirius uniu seus braços, a aliança brilhando em seu anelar esquerdo.

— Mostre o caminho, marido. — Remus riu, beijando-lhe a bochecha.

James gritou em alegria, e a chuva de arroz marcou a passagem de Remus e Sirius até a saída do altar. Anos depois, Sirius ainda se lembraria do sentimento presente naquele casamento, e do quanto Remus se assemelhava a um anjo ao seu lado. Talvez não se lembrasse de detalhes dos discursos ou das promessas trocadas debaixo do arco florido, mas jamais esqueceria as duas palavras que marcariam sua nova vida ao lado daquele homem fantástico.

“Eu aceito.”


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Notas finais do capítulo

Qualquer erro já sabem ♥

Até amanhã~



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