Tome Tenência, Rapaz escrita por ArnaldoBBMarques


Capítulo 8
Experimentando Coisas




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Caíque bateu forte com a enxada na pedra que obstruía o canteiro que escavava. Procurou disfarçar o mau humor ficando em silêncio. Não tinha mais aparecido na cidade depois do fiasco do baile, e para distrair-se procurava se concentrar no serviço da fazenda.

Olhou ao redor, havia ali uns três ou quatro peões da idade dele, uns ele tinha vaga ideia de serem primos distantes, outros eram filhos de moradores da região. Será que já estava igual a eles? Caíque fazia o possível para parecer, não queria ser taxado de menino da cidade ali, mas bem que já vinha sentindo falta de umas farras. E também já tinha comprovado que o pessoal ali era bem menos inocente do que ele supusera de início.

Um dos garotos, o Rosivaldo, parecia haver percebido seu estado de espírito, a julgar pela maneira como olhava para ele. Caíque tentou disfarçar fazendo uma expressão rude de roceiro, mas quando terminaram o serviço, ouviu o convite de Rosivaldo:

— Quer vir com a gente fumar uns cigarrinhos?

Caíque topou. Entrou no mato com mais uns dois garotos e foram até uma clareira onde havia mais uns três ou quatros rapazes sentados na relva, conversando entre risadas. Caíque reconheceu alguns que havia visto no baile. Um deles tirou o papel embrulhado da mochila onde havia um punhado de fumo e pôs-se a confeccionar cigarros para os recém-chegados.

— É paraguaio! - Informou.

Caíque sentou-se à sombra de uma árvore e tragou fundo. Estava mesmo com saudades de uns cigarrinhos de maconha, e achou aqueles bem especiais, talvez porque fossem paraguaios, como o garoto havia dito. Era a primeira vez que experimentava fumar no meio do mato, e a primeira coisa que notou foi que o canto dos passarinhos parecia haver ficado mais alto. Olhou para o alto e a copa das árvores parecia girar. Logo estava rindo como os demais, e dizendo coisas de que nem se lembrava um instante depois.

— Vamos pegar uns cavalos?

A sugestão de Rosivaldo foi aceita entre risadas. Ele e mais uns dois foram até a estrebaria, e sem pedir licença selaram uns cavalos. Fizeram-nos correr bastante de um lado para o outro, até que a euforia de Caíque foi cortada pela visão de tia Rita de mãos à cintura, junto à porta da cozinha.

— Já para casa!

Os cavalos foram devolvidos à estrebaria, e Caíque apresentou-se à tia, preocupado. Mas ela limitou-se a repreende-lo dizendo que deveria ter pedido licença antes de selar os cavalos, que tudo ali na fazenda estava à disposição dele, mas que ele deveria pedir licença sempre. Depois mandou-o ir lavar-se para o almoço.

Caíque felicitou-se da tia não haver percebido o que ele andara fumando, e ao lavar-se tratou de jogar bastante água nos olhos, para disfarçar a vermelhidão.

Nos dias seguintes, Caíque andou bastante com a turma de Rosivaldo. Podiam ir a alguns lugares escondidos no mato apreciar os cigarrinhos, apostar corrida com os cavalos, roubar frutas dos vizinhos, mas também na cidade havia locais interessantes frequentados pela turma maconheira do local. Caíque estava sentindo que fazia parte de uma turma, e que era aceito. Bem, já que estava lá, o negócio é aproveitar, pensou. Não deixava de achar uma certa graça na ingenuidade da mãe, que o enviara para ali crente de que estaria livre de más companhias. Já havia aprendido a testar os limites impostos por tia Rita, e fazia de tudo sem que ela suspeitasse de nada. Pegava umas menininhas no baile, mas nada de sério, eram todas regateiras como a prima as chamava.


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