Tome Tenência, Rapaz escrita por ArnaldoBBMarques


Capítulo 5
Vida na Roça




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Caíque acordou com a luz do sol que entrava por uma fresta da janela, por onde já se podia enxergar o pasto verde lá longe. Estranhou haver despertado tão cedo e sem sono, algo que não sabia dizer a quanto tempo não acontecia, mas era a consequência natural de haver dormido cedo, sem mais nada para fazer. O galo cantou lá fora, como que anunciando a entrada de tia Rita no quarto.

— Dormiu bem? Vem comer qualquer coisa que os rapazes vão ensinar direitinho tudo o que você vai fazer. Eu já trouxe a roupa que você vai vestir.

Caíque vestiu a calça jeans velha e a camiseta listrada. Calçou as botinas que a tia lhe mostrara no dia anterior, já experimentando uma certa apreensão. Quando colocou na cabeça o chapéu de palha, sentiu-se insuportavelmente ridículo. No banheiro nem quis se olhar no espelho. Após a breve refeição, saiu com a tia em direção ao curral. Ela apresentou os rapazes peões que já estavam ali, disse seus nomes que Caíque não conseguiu memorizar de primeira, só pôde cumprimentar com um gesto. Tinha medo que eles estivessem achando graça nele, mas os rapazes se limitaram a responder os cumprimentos. A tia saiu e Caíque foi apresentado à primeira função: ordenhar as vacas.

Sentado em seu banquinho, tinha vontade de se esconder atrás da pata da vaca para que ninguém o visse. O trabalho não era pesado, mas Caíque sentia-se completamente sem jeito. Apertava os úberes, mas saía muito menos leite do que os outros ordenadores tiravam. Ao fim de algum tempo, contudo, descobriu a maneira certa, e seu rendimento equiparou-se ao dos outros. Só não conseguiu deixar de se sentir ridículo.

O capataz entrou, saudando a todos. Era um homem alto, bigode ralo e pele marcada como um campo lavrado, mas sorriso largo. Chegou para Caíque, conferiu seu serviço e anunciou:

— Agora vamos fazer serviço de homem!

O trabalho seguinte era fazer canteiros com enxada. Foi aí que Caíque sentiu canseira. O sol já havia saído e o suor escorria por sua testa. Os braços lhe doíam, mas Caíque tentava disfarçar. Os outros manobravam a enxada com indiferença e nem pareciam suar. Mas conseguiu fazer uns canteiros mais ou menos, e como recompensa todos tiveram um bom banho no córrego antes do almoço.

— O Manuel falou que você trabalhou direitinho! - Disse a tia, gentil, ao servir-lhe a refeição. Caíque sorriu, acanhado. Sabia que a tia estava sendo benevolente.

À tarde, mais trabalho duro. Faxina no chiqueiro, capinar os canteiros, cortar lenha. Mas Caíque gostou quando o ensinaram a selar os cavalos, e até deixaram-no dar uma volta. Já estava decorando o nome dos peões. De vez em quando passavam por ali uns tipos que Caíque se recordava vagamente de haver visto na infância, quando vinha ali de férias, e nem sabia dizer se eram primos ou tios, mas eles não pareciam estranhar a presença dele ali.

Chegada a noite, no jantar, tinha o corpo totalmente moído. Não conseguia pensar em mais nada. Não pensava nos amigos antigos, nem na vida antiga, sequer se lembrou de pedir o celular à tia. Caiu na cama e dormiu em seguida.


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