Tome Tenência, Rapaz escrita por ArnaldoBBMarques


Capítulo 4
Chegada




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Caíque sentiu o cheiro de relva molhada quando o carro parou diante do portão da fazenda de tia Rita. Ela esperava-os de braços cruzados e um sorriso inescrutável, que denotava simpatia, mas também um ar de superioridade. Era uma mulher madura, mas que esbanjava saúde, pele tisnada de sol contrastando com os olhos verdes. Caíque saltou meio sem jeito. Olhou os campos adiante, o lugar lhe lembrava brincadeiras que fazia com os primos quando ia ali de férias, tempos bons, mas agora apenas lembrança, havia muito que ele não ligava mais para coisas da roça, e de qualquer maneira sabia que não estava ali para brincadeiras.

— Eu quero que você bote esse garoto para ralar bastante, nada de moleza, tem toda minha licença!

A mãe parecia meio envergonhada, mas tia Rita sorriu mais condescendente e tratou de coloca-la à vontade.

— Não se preocupe, Joana, você sabe que eu tenho prática nisso...

— E se precisar dar uns tabefes, está autorizada!

— Deixa comigo. Vamos entrar.

Caminharam até a grande sala da casa da fazenda. Tia Rita até o momento só havia dirigido a palavra à mãe, e Caíque sentiu-se meio deslocado, sentado em uma poltrona de palhinha e olhando pela porta os empregados que passavam daqui para ali, e alguns rostos que lhe parecia ter conhecido na infância.

— Veio aqui para tomar tenência, rapaz!

Caíque empertigou-se na cadeira quando pela primeira vez a tia lhe dirigiu a palavra, e procurou ficar bem sério. Achava engraçado aquele jeito de falar do povo antigo, isso de tomar tenência, mas seja lá o que significasse, sabia que não tinha escolha. A tia ainda insistiu para que a mãe se demorasse mais tempo, mas ela estava com pressa para retornar. Disse as últimas recomendações e saiu pela porta. Tia Rita olhou longamente Caíque com aquele mesmo sorriso inescrutável do portão, meneou a cabeça e comandou:

— Vamos lá para o quarto dar uma olhada nessa bagagem!

Dirigiram-se até os fundos onde Caíque foi apresentado a um quartinho pequeno mas bem arejado, com uma janela que dava vista para o pasto lá longe. Na cama, um lençol limpo, e ao lado uma mesinha e uma cadeira. A tia abriu a mala e começou a inspecionar o que ele trazia, com ar de quem não estava achando a maioria das roupas apropriada.

— Vou ter que arrumar mais umas coisas para você. Espera um instante que eu vou ver.

A tia saiu e retornou trazendo algumas peças de jeans surrados e adequados ao trabalho na roça. Mas Caíque franziu o cenho ao ver o chapéu de palha e a botina grande. A tia sorriu, como se lesse seus pensamentos, e prosseguiu:

— Eu vou deixar algumas coisas com você, o resto vai para o meu armário! Eu vou te dar o que você vai vestir.

Deixou um pijama, umas camisetas e umas cuecas, e fechou o restante na mala. Caíque sabia que era assim que as coisas iam ser dali por diante.

— E eu vou te dar o celular quando você precisar. Passa ele para cá!

Caíque entregou o aparelho nas mãos da tia. De qualquer maneira não sentia vontade de ligar para ninguém.

— Você deve estar com fome. Vem comer alguma coisa!

Sentaram-se na mesa da cozinha, onde havia uma variedade de pães, broas, bolinhos e quitutes variados, que Caíque achou bem saborosos. Enquanto comia, a tia fazia-lhe perguntas sobre as coisas erradas que havia feito em casa, e Caíque respondia sem ocultar nada. Não queria mesmo saber daquela vida antiga. A noite caiu, e Caíque foi para o quarto, impressionado com o silêncio. Não tardou a pegar no sono.


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