Tome Tenência, Rapaz escrita por ArnaldoBBMarques


Capítulo 17
Sozinho entre dois mundos




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Na escola, Caíque falava pouco, pois andava na dúvida sobre com quem fazer amizade. A velha turma não o interessava mais. Às vezes alguns colegas vinham com gracinhas lembrando os velhos tempos, mas Caíque não ligava. Ficava orgulhoso quando alguns professores vinham felicita-lo pela melhora nas notas, a mãe também estava satisfeita com ele, a parentada sorria contente quando o via, mas a verdade é que ainda estava com a cabeça muito ligada às lides da fazenda, que aprendera a gostar. Sentia-se dividido entre dois mundos. E sobretudo solitário entre dois mundos.

Em casa, conversava com a prima Márcia e com Katinha. Eram conversas diferentes. Márcia era bem centrada, e transitava com desenvoltura entre os dois mundos. Katinha trazia um pouco da ingenuidade do interior, mas o risinho malicioso deixava entrever que ela não era tão boba assim. Caíque estava gostando dela, volta e meia pegava-se com os olhos acompanhando os volteios do corpo moreno dela pela sala, as coxas roliças saindo do vestidinho, os cabelos negros caindo sobre os ombros juntos com as alcinhas do vestido, os pés descalços roçando o assoalho. Mas estava na dúvida sobre a real natureza daqueles sentimentos.

— Caíque, você fala com a tia para ver se ela me libera para sair esse sábado?

O pedido pegou Caíque meio de surpresa. Ele respondeu que podia tentar falar com a mãe, mas Katinha já tinha um argumento:

— Eu estava a fim de ir na apresentação daquela banda que você vai ver. Como eu vou com você, a tia deve deixar. Vai, tenta!

Caíque achou boa a ideia, e conseguiu convencer a mãe, apesar do ar contrafeito dela. No sábado à noite saíram ele e Katinha rumo ao clube onde ocorria o evento. Era um clube bem grande, com uma fauna de gente bem variada. Katinha foi para o meio de uma turma com cara de funkeiros, e Caíque pôs-se a procurar Isabela, uma colega que ele estava a fim e que havia dito que viria.

Encontrou Isabela sozinha, e puseram-se a conversar. Ela era alta, loura, educada, e Caíque bem pensou que podia rolar alguma coisa. Mas quando achava que já estava maduro o primeiro beijo, ela viu uma turma de amigos e foi para o meio deles. Caíque disfarçou a decepção e deu um tempo dizendo umas abobrinhas com os recém-chegados, mas logo se afastou. Andou de um lado a outro, meio ressabiado, tentando entender o que havia de errado com ele. Será que a antiga má fama ainda pesava? Ou será que pensavam que ele havia se tornado um caipira?

Foi tomar uns tragos para ver se melhorava, aproveitando que não estavam verificando quem era de maior na hora de vender bebida, quando viu Katinha sozinha. Sem inibição, foi ao encontro dela e chamou-a para dançar. Ela pareceu receptiva. As mãos de Caíque foram descendo pela cintura dela até embaixo, e ela sacudiu os quadris com mais força. Depois foram sentar em um banco, e rolou o primeiro beijo. A risadinha que ela deu em seguida misturava malícia com inocência, mas Caíque não se preocupou, e partiu para o segundo beijo. Ficaram um bom tempo ali trocando carícias e conversando por sussurros, e a volta para casa foi com mãozinha dada. Mas lá chegando, a mãe estava zangada e informou que Katinha estava de castigo por não haver respeitado o horário de voltar.

Caíque nem sabia deste horário, que Katinha não lhe informara, mas achou melhor ir dormir sem discutir. Na manhã seguinte, contudo, a mãe veio falar com ele.

— A Katinha está usando você como passe livre para sair de casa! Não bobeia não! Eu me comprometi a botar um olho nessa menina, e você tem que me ajudar nisso. Ela é muito safada, muito piriguete, não dá para deixar solta não!

Caíque procurou contemporizar, mas a verdade é que estava com as mesmas dúvidas da mãe. Katinha andava com uma porção de caras lá na cidade dela, será que ela gostava dele, ou estaria apenas usando-o? Achou melhor dar um tempo.


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