Tome Tenência, Rapaz escrita por ArnaldoBBMarques


Capítulo 16
De Volta ao Ninho




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/784548/chapter/16

De volta ao lar, Caíque foi parar direto na festa de casamento da irmã mais velha, onde recebeu, orgulhoso, os cumprimentos da família pela boa mudança de comportamento que se operara em sua estadia na fazenda de tia Rita. Mas ao acordar no dia seguinte, a casa pareceu-lhe estranhamente vazia. Sentiu nos músculos o impulso imperioso de colocar as botas e partir para o trabalho no campo, mas ali não havia vacas a ordenhar nem canteiros e escavar.

Procurou o que fazer. Tinha que voltar à escola, e pegou um livro para ler, mas experimentou uma enorme sensação de esforço ao ler uma página. Estava desacostumado. Mas uma coisa que ele aprendera na fazenda de tia Rita fora disciplina, então concentrou-se, e logo vieram-lhe à memória as lições que havia tido com aquele livro no último ano de escola. A mãe passou pelo quarto e sorriu orgulhosa ao vê-lo lendo.

Mas enquanto as aulas não começavam, os dias corriam vazios. Caíque não se dava com mais ninguém ali da velha turminha braba, não tinha mais nada a ver com eles, e a toda hora lhe vinham lembranças da fazenda e da cidadezinha, como se houvesse passado a vida inteira lá. Mas os dias se iluminaram quando chegou a prima Márcia para ocupar o quarto que fora da irmã mais velha e fazer faculdade ali, conforme combinado com a família. A casa se encheu da animação e dos risos da prima, Caíque batia longos papos e pedia conselhos a ela, que mostrava uma ligação cada vez mais forte com ele. O problema era que a prima também lhe evocava lembranças da temporada na fazenda e da conversa divertida na pensão de tia Judite.

Pouco antes de começarem as aulas, Caíque ficou sabendo que a casa teria mais um morador. A mãe vinha se queixando de que precisava de alguém para o trabalho doméstico, e consoante com os costumes da família, quis saber com a parentada do interior se havia alguma regateira para mudar de casa a fim de ser punida. Caíque sabia que a mãe não teria dificuldade, a julgar pela quantidade de regateiras que vira na cidadezinha, mas ficou surpreso ao ver saindo do carro da mãe ninguém menos que Katinha. Ela cumprimentou-o com um olhar malicioso, e Caíque devolveu um sorriso tímido, lembrando a boa que Katinha lhe havia aprontado.

Caíque ficou sabendo que Katinha era filha da prima de outra prima que ele mal conhecia, dos muitos ramos de sua família que se espraiavam pelo interior, e os comentários trocados entre a mãe e a prima Márcia davam conta do muito que ela já havia aprontado com os rapazes da cidadezinha. Katinha foi incontinenti enquadrada no esquema que a família reservava aos adolescentes que mudavam para a casa de parentes: sua bagagem ficou sob a guarda da mãe de Caíque, tal como a bagagem dele próprio ficara sob a guarda de tia Rita, e ela foi apresentada à rotina que deveria cumprir: ir à escola que a mãe havia arranjado, depois fazer as tarefas que ficaram acordadas. Sair, só quando autorizada. A mãe cumpria à risca a receita que Caíque observara na pensão de tia Judite com as três regateiras: Katinha devia obedecer aos mais velhos, chamar todo o mundo de senhor e senhora, bem humilde, e tinha que estar descalça ao fazer as tarefas.

Boa parte dos dias de Caíque eram agora passados na companhia de Katinha. Enquanto ele acompanhava a faina dela para lá e para cá, varrendo, arrumando e passando roupas, conversava algumas abobrinhas, mas sem lhe dar muita abertura, pois não queria ser feito de bobo novamente. Os olhares da prima Márcia também sinalizavam que ele devia tomar cuidado. Apesar da vigilância da mãe, Katinha parecia feliz por estar ali, e a toda hora perguntava a Caíque o que havia de balada, ansiosa pela licença para sair. Com certeza ali havia muito mais garotos do que na cidadezinha, e Caíque tinha a impressão de que era esse pensamento que a animava.

Mas ele também vinha sentindo qualquer coisa por ela. Alguma coisa que tinha a ver com as origens remotas da família no interior, que ele vinha despertando dentro de si.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Tome Tenência, Rapaz" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.