Tome Tenência, Rapaz escrita por ArnaldoBBMarques


Capítulo 10
Tomando Tenência




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No dia seguinte Caíque acordou meio ressabiado, mas na mesa do café tia Rita estava com a mesma cara de sempre, sinalizando que tudo voltara à normalidade. Olhou para os outros rapazes, e pensou, será que eles sabiam o que acontecera na véspera? Mas essas preocupações logo se esvaneceram quando Caíque foi com eles para fora começar o trabalho, pois ninguém comentava nada, e eles decerto sabiam, mas nada daquilo parecia-lhes fora do normal ou motivo para zoarem com ele. Quando recebeu a ligação da mãe no celular, ela tampouco fez algum comentário, limitando-se a fazer as perguntas de sempre, e Caíque felicitou-se pela tia não haver contado à mãe. Sentia crescer no peito o respeito que tinha por tia Rita, e concentrou-se no serviço, pensando no futuro.

Mas a tia proibiu-o de ir à cidade por tempo indeterminado, e Caíque ficou sem ter o que fazer. Percebendo o tédio dele, tia Rita sugeriu:

— Vai acompanhar o Gregório lá buscar os bois no banhado, melhor do que ficar de vagabundagem na cidade!

Gregório era um peão antigo de barba longa e fala mansa, sempre com casos engraçados para contar. Caíque gostou da ideia de ir com ele até o banhado, que era um grande pasto comum das fazendas da redondeza, onde se costumava deixar os bois antes de recolhe-los para a engorda. No dia seguinte, bem cedo, Caíque partiu montado a cavalo em companhia de Gregório e outros vaqueiros. Foram dar em uma grande várzea, onde os bois pastavam livremente, e era um considerável trabalho pega-los um por um, reconhecendo os que pertenciam a tia Rita pela marca do ferro. Fizeram um acampamento improvisado, e Caíque ajudou-os a cortar madeira e montar um cercado. Não era um trabalho leve, mas Caíque não queria ficar atrás.

Em seguida, a captura dos bois propriamente dita, que tinha que ser feita a laço. Caíque sentiu-se bem sem jeito ao manobrar o laço pela primeira vez, mas ninguém riu dele, e Caíque ficou todo satisfeito quando finalmente conseguiu laçar um novilho. Correram pela relva montados em seus cavalos, localizando os bois e laçando um por um, para depois conduzi-los ao cercado. Era cansativo, mas divertido. Quando a tarde caiu, voltaram ao acampamento. Caíque estava imundo, mas um banho no riacho resolveu  problema. Depois, uma fogueira para cozinhar o arroz-de-carreteiro, e Caíque dormiu embalado pelo canto dos bacuraus, o coaxar dos sapos e o ronco dos vaqueiros.

Na manhã seguinte, faltavam ainda uma dezena de bois. Puseram-se a procura-los nos cantos mais ocultos da mata, sempre atentos à marca do ferro, até que recolheram o último. Rindo felizes, tocaram a boiada pelo caminho de volta. Ao desfilar a cavalo, banhado pelo sol poente ante o olhar de tia Rita no alpendre, Caíque sentiu-se como um herói em uma parada. Agora estava gostando do que fazia.


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