Amor em Tempo de Guerra escrita por TamyMilles


Capítulo 2
Olhares


Notas iniciais do capítulo

Olá!
O capítulo anterior foi para mostrar como os dois se conheceram e explicando o porquê o romance deles é proibido. Nesse se passa quase 3 anos depois do prólogo, Emilly já está completando 18 anos e Dilan já vai estar com 22 anos.
A forma de narração mudou também, para mostrar as situações pelos olhos da Emilly, e sempre que precisar colocar em terceira pessoa a narração será em itálico.
Desejo a todos uma boa leitura e um abraço.



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3 anos depois...

— Parabéns, belíssima senhorita. 

O tom de voz íntimo demais e o olhar do Sr. Erinckson passeando pelo meu rosto e pescoço fazem o meu estômago revirar. Ele está bêbado e cheio de más intenções.

— Obrigada, Sr. Erinckson, muito gentil. – Digo tentando ser educada enquanto cruzo os braços, mas sem esboçar nenhuma expressão.

— Quantos anos a senhorita está completando? - pergunta o grisalho novamente sem entender que não quero conversa, ele é o nono homem da noite querendo puxar assunto comigo.

Sei onde ele quer chegar, mas não pretendo dar espaço a ele.

Respiro fundo e olho para uma outra direção, cruzando com os olhos atentos e observadores de minha mãe que mandam indiretamente que eu o trate bem. Minha mãe é a responsável pela ideia do baile comemorando meu aniversário, e seu objetivo é exibir suas filhas debutantes, principalmente a mais velha, que sou eu, para que casemos o mais rápido possível.

— 18 anos. - digo entre os dentes, não querendo responder.

— Tem 18 anos e ainda solteira? – Ele me olha da cabeça aos pés como se buscasse um motivo para isso. Sei bem que não é comum uma jovem com o status social e com a minha aparência que tanto exaltam ficar debutando por 3 anos. Isso porque estou há 2 anos e 5 meses namorando em segredo com o herdeiro. –  Perdoe-me, senhorita, mas só as menos agraciada em aparência demoram a casar, e a senhorita é dona de uma beleza tão rara! E de uma família excepcional.

Bufo impaciente e fecho os olhos para ele não me ver revira-los. Ele vai até o meu pai.

— Sr. Ryans! Porque a senhorita Ryans mais velha ainda não se casou? Deve haver uma explicação plausível!

Prefiro me distanciar pra não ouvir. Com certeza Sr. Erinckson vai propor casamento, ou vai querer ajudar o meu pai a arranjar um noivo para mim.

Mesmo assim sou grata aos céus pelo Sr. Erinckson ter chamado meu pai, pois se fosse minha mãe logo alimentaria esperanças no homem que me visitaria no dia seguinte.

Mas meu pai não. Ele respeita o fato do meu coração já ter dono, e tudo o que puder fazer para dar o tempo que Dilan precisa para enfim renunciar ele faz. Já recusou diversas propostas de casamento, casamentos que seriam bons, afim de me deixar livre para me casar com o homem que amo.

Só de pensar nele a saudade aperta no peito. Mal lembro da última vez que o tive de tanto tempo que faz.

Vou passando gentilmente por entre os convidados do baile e me aproximo do meu tio Alfred, que já entendeu o porquê saí de perto do Sr. Erinckson. 

— Parece que surgiu outro pretendente. – Diz ele sorrindo depois de tomar um gole de vinho.

— Nem me fale, meu tio. – Digo cruzando os braços, sinal claro que estou chateada ou frustrada. – Falei a minha mãe que era uma péssima ideia esse baile, mas ela o fez justamente para mostrar que ainda estou solteira aos homens do reino!

— Sua mãe não está errada Emilly. – Diz meu tio defendendo a cunhada. – ela está preocupada em arrumar um bom esposo a você. O que ela tem em mente a respeito do seu rapaz é que ele não quer compromisso. Não a culpe por pensar no teu futuro, ela não quer que você vire uma solteirona solitária.

Ela pensa tanto no futuro da filha que convidou quase todos homens do Reino que tem algum bem ou título para esse baile de aniversário, são poucos os casados e também poucas mulheres. Maioria são homens solteiros, e minha mãe só se importou com o status para convidar, e esqueceu da idade e aparência.

— Sim, meu tio... Eu sei que ela quer meu bem. – Digo ainda de braços cruzados. – Só queria que ela entendesse que ele não é qualquer pessoa que pode simplesmente jogar tudo para o alto e se casar comigo.

Falar disso é doloroso, pois todos os que sabem duvidam do amor dele por mim.

— Mas é o único jeito dele se casar com você. - diz ele, me fazendo respirar fundo. Minha paciência está muito curta hoje. 

— Meu tio, não comece, por favor... Já basta esses homens me olhando como se eu fosse uma mercadoria. - digo chateada dando uma breve olhada ao redor, e logo confirmando minhas palavras ao cruzar olhares com 3 cavalheiros solteiros olhando diretamente para mim. Eles estão sorridentes e acenam para mim, e logo aceno de volta por educação.

— Tudo bem, não está mais aqui quem falou... - diz ele abrindo um sorriso ao me ver bufar depois que acenei. - E quando irão se ver de novo? – Pergunta ele. 

Em uma semana será aniversário do reino, todos estarão presentes para homenagear a família real, que é a família descendente do fundador. É a oportunidade perfeita.

— Semana que vem nas festividades do aniversário do reino. – sussurro sorridente. – Não sei se vamos nos falar, mas de certo o verei na passeata.

Meu coração até acelera com a expectativa. Irei ver o amor da minha vida, e apesar de não ser o suficiente para matar a saudade, vê-lo é melhor que nada.

— Só tome cuidado. – Diz meu tio Alfred. – Se alguém perceber, isso pode denegrir a sua imagem, e as pessoas já esqueceram das fofocas entre você e ele. E você é muito bonita pra ficar mal falada na boca do povo... Sejam expertos, tá bom minha linda? – Diz ele esboçando um sorriso sincero, enquanto se aproxima para me dar um abraço. 

— Tá bom, meu tio. – Digo o abraçando. Sua barba mal feita espeta a minha testa, mas tudo bem, continuo aqui. Meu tio é um grande amigo para mim. 

Meu pai, James Ryans vem se aproximando sorridente. Ele deve ter despistado o Sr. Erinckson.

— O homem é insistente, mas disse que não. – Diz ele.

Respiro aliviada, ainda bem que meu pai é meu aliado.

— Obrigada pai! – Digo o abraçando também. – O senhor é o meu herói. 

A noite passa dando lugar a madrugada, e enfim estou livre daquele bando de desesperados por carne pura e nova. Me deito em minha cama alegre, sabendo que em alguns dias verei o meu amor. 

— Emilly, – me chama Laila, minha irmã mais nova de 15 anos e também debutante, da outra cama. Apesar de ter outros quartos na casa, gostamos de dividir o quarto. – Promete-me que vai tomar cuidado? Sei que pretende ver ele no aniversário de Alldales.

— Prometo. Não vou deixar a mamãe perceber desta vez. – Digo confiante.

— Emilly... Evite problemas. Da última vez a mamãe te brigou feio, que você quase foi morar com nossos tios da roça, então por favor...

— Não se preocupe. Tudo vai dar certo.

Ajeito-me no travesseiro, sem saber se vou conseguir dormir. Não estou com sono, pois meu coração está agitado. Minha mente já está planejando a roupa que irei vestir, em como estará o meu cabelo... Quero estar linda para ele, mesmo sabendo que não poderemos falar.


 

(...)

Os dias custam passar, mas enfim chegou o dia. Enquanto todos de minha casa ainda estão acordando, eu já estou pronta e linda para o meu amado.

Arrumo em mim os mínimos detalhes, e fico lembrando o sabor do beijo de dele. Dos abraços, das caricias... Tudo. E eu sei que da mesma forma que eu penso nele, ele pensa em mim.

— Bom dia filhas, estão decentes? – Diz meu pai me trazendo de volta à realidade ao bater na porta do quarto. Após a minha confirmação ele põe a cabeça para dentro do quarto, e percebe que Laila ainda dorme. – porque está acordada tão cedo? Você conseguiu dormir bem?

— Dormi sim, meu pai. - Mentira, fiquei pensando nas possibilidades em falar com ele.

— Sei. - diz ele com os olhos semicerrados como se desconfiasse de mim. - Sua mãe não irá, pois a Shelly não está bem. Quer ir cedo e pegar os melhores lugares?

— Quero sim!!! – Digo dando um pulo de felicidade. – Partiremos agora?

Meu pai põe as mãos na cintura e me reprova com a cabeça. Ele sabe que estou animada porque verei ele.

— Calma aí mocinha. – Diz ele. – Já comeu alguma coisa?

— já sim. – Mentira novamente, quero logo partir.

— Não foi isso que Linda disse. Vá já pra mesa tomar o café. - diz ele. - E acorde a sua irmã, porque como você mentiu agora vamos aguardar todos se arrumarem para irmos juntos. - Ele fecha a porta e vai embora.

— tá bom... - respondo bufando.

Acordo Laila e mando ela se ajeitar o mais rápido possível. Não quero perder tempo.

Vamos para a mesa, Laila está com raiva de mim porque não deixei ela terminar de se arrumar, mas faz parte. Ela sabe o porquê tenho pressa.

A mesa já foi servida por Linda. Me sirvo logo e vou colocando tudo o que cabe na boca. Acho que nunca comi tão rápido na minha vida, até engasgo.

— Come devagar Emilly! Pare com todo esse desespero, você não vai sair do meu lado! – Diz meu pai me olhando feio.

— Pronto, pronto, pronto senhorita, passou. – Diz Linda, uma de nossas servas e minha melhor amiga nas horas vagas, me dando tapinhas de leve nas costas para me ajudar.

Meus outros irmãos vêm chegando à mesa e começam a rir de mim. Tenho 4 irmãos: Laila, Taylor, Luke e Shelly que é a nossa bebê.

— “Preciso comer rápido para ver o príncipe dos meus sonhos...” – Diz Taylor de 12 anos, como se estivesse me imitando fazendo voz fina.

— “não vou nem mastigar... COF COF COF, socorro, me engasguei” – Diz o meu outro irmão Luke de 10 anos também me imitando de uma forma ridícula.

Laila, minha irmã de 15 anos começa a rir que chora.

— Seus “cof cof” bastardos! – Digo com raiva tossindo e me levantando da cadeira pra correr atrás deles. Eles começam a rodear a mesa para eu não os alcançar. E eu realmente não os alcanço.

— Emilly, Taylor e Luke! Parem já! - diz meu pai bravo espalmando a mesa.

Na hora paro, respiro fundo e volto para o meu lugar. Não vale a pena correr atrás desses bastardos, não quero desmanchar o penteado que fiz, e nem amarrotar o meu lindo vestido rosa. 

E depois que todos acabamos de comer, meu pai, eu e os meus irmãos fomos para a passeata. Linda ficou para cuidar de minha mãe e de Shelly, a caçula.

Quando chegamos já tem uma multidão, não adiantou nada eu ter me arrumado tão cedo.

Mas respiro fundo e me acalmo, vou tentar ver ele. Ouso até procura-lo entre a multidão, mas sei que ele não está aqui agora.

E depois de alguns minutos, enfim irá começar a passeata da família real, para dar início as festividades da nosso querido reino. A música toca alto.

A passeata começa com algumas crianças dançando, jogando flores. Todos estão muito alegres e acenam para as crianças. E depois vem pessoas fantasiadas com as profissões que são comuns aqui no nosso reino, como o minério e marcenaria. Hoje é um dia especial, muita gente traz consigo a nossa bandeira.

Depois, por hierarquia, vem o Barão  Joseph Sallas do Reino com sua família e escolta, depois vem o Visconde Heathcleaff Linchester, em seguida o Conde John Williams, após vem o sucessor do Marquês Crawford, o novo Marquês Vladmir Crawford, e o Duque Edward Dowell com sua família. Duque Edward é o dono das terras onde moram as famílias mais ricas do Reino, e o Barão Joseph é dono das terras das famílias mais pobres.

As trombetas soam indicando a presença dos donos do topo da hierarquia, que é da família real e todos os reverenciam. A família real vem em carroceria abertas separadas. As carrocerias são puxadas por cavalos e tem um cocheiro os guiando.

Na primeira carruagem vem o príncipe mais novo, o príncipe Daniel. Ele usa trajes reais e uma coroa discreta. Ele está em pé ao lado do cocheiro, acenando. Não sei quase nada sobre ele, mas ele é bonitinho.

E na segunda carruagem vem o príncipe que sucederá ao trono para a minha alegria. É Dilan, o príncipe dos meus sonhos, o amor da vida. Ele sorri e acena, tão lindo e majestoso, parece até brilhar, irradiar a sua luz própria. Ele também usa trajes reais e sua coroa parece ser maior que a de seu irmão mais novo.

Antes nos víamos com um pouco mais de frequência indo para lugares em comum, não nos beijávamos na frente de todos e mantínhamos distância, mas ficava obvio o nosso amor somente pelos olhos, e as pessoas começaram a falar mal. E ficar com má fama foi péssimo tanto pro nome da minha família, quanto para a família real. Por isso eles fazem de tudo para restringir o nosso contato um com o outro, o que nos obrigou a só nos vermos escondidos. Se a missão deles é fazer a gente se esquecer, eles estão falhando e muito, pois cada dia que passa mais cresce o meu amor por ele.

Ah o sorriso dele é tão lindo!

Meu coração se alegra de tal forma que até falha algumas batidas na ânsia de ao menos trocar olhares com ele. Ele está tão lindo de azul, combina perfeitamente com a sua pele alva e os seus lindos olhos.

Meu pai fala algo, mas não entendo.

Meu coração quer sair pela boca, e sei que assim como eu, ele também quer me ver, então preciso aparecer para ele. Saio rapidamente de perto do meu pai e vou passando por entre a multidão para fica mais visível a ele, mas sua carruagem já está passando por mim.

Não.

Hoje não será um dia normal. Não será como da última vez que nos vimos, que tivemos que fingir que não nos conhecíamos.

Vou passando por entre as pessoas, saindo do povo da nossa classe e entrando nos das classes mais pobres, muitas delas resmungando, mandando eu ficar quieta, ter respeito pela realeza, mas meus olhos só tem um foco: o meu Dilan.

Estou mais adiantada que a sua carruagem, e me debruço no cercado. E ele vem se aproximando. Tento ficar o mais alta possível, mas todos querem ver a família real e me pressionam.

— Ei, saia da minha frente, magricela. - diz alguém.

Sinto um puxão que me arranca do cercado. À medida que ele se aproxima, mais as pessoas se apertam para vê-lo. E tudo o que eu vejo é que estou cercada por pessoas que me impedem de ver o meu amor, não consigo me locomover. 

A saudade no meu peito me faz sentir uma explosão de sentimentos. Tudo o que eu queria era apenas um olhar. Pelo menos um olhar. Todos gritam o seu nome, querendo receber um aceno de volta.

Sua carruagem está ainda mais próxima de onde estou, e meio que sem pensar puxo todo o ar dos meus pulmões:

— Príncipe DILAN – Grito o seu nome com todas as forças. Meus pulmões ficam ardidos pois utilizei todo o ar.

Consigo passar por brechas entre as pessoas e chego a frente.

Ele está olhando para a minha direção, e quando nossos olhos se cruzam, ele sorrir. Em meio a toda multidão, ele reconheceu a minha voz.

Todo o barulho se torna em silencio, nada mais importa. Somente ele.

Ele suspira forte, deve estar sentindo o mesmo que eu. Tudo o que eu quero é ir correndo até ele, senti-lo em meus braços.

Meus pulmões começam a arder ainda mais e lembro de puxar ar, pois até de respirar eu esqueci. Sinto que sem eu perceber meus olhos estão lagrimejando de tanta emoção ao vê-lo. Meu coração está tão acelerado que acho que Dilan o ouve.

Começo a ficar para trás dele, mas meus olhos não querem desgrudar dele, nem o dele dos meus. Só paramos de nos olharmos quando não foi mais possível.

Ponho a mão no coração, pois arde muito de saudade, ele está tão inquieto, que respiro ofegante. Como pode alguém sentir tanta saudade de alguém como eu sinto dele?

A saudade é tanta que começa transbordar pelos meus olhos sem qualquer esforço meu. Ainda bem que as festividades só estão começando, vou ter outras chances de vê-lo, ou até falar com ele.

A passeata continua. Após a carruagem dele, vem a carruagem vazia do príncipe nascido rei Ethan, que era o irmão mais velho de Dilan e faleceu anos atrás. A carruagem dele está em todos as passeatas como uma homenagem. Ele era como o nosso herói.

A carruagem do falecido príncipe passou e agora as pessoas estão eufóricas ao meu redor, pois está passando a carruagem mais importante: o do rei e da rainha.

O rei acena para as pessoas, mas a rainha olha diretamente para mim, como se eu fosse um problema. É ela juntamente com a minha mãe que lutam com garras e dentes para nos separar.

Continuo a olhando firme, não tenho medo. E pela a intensidade do seu olhar, sei que ela vai ficar bem atenta com o Dilan hoje. Mas não tem problemas, estou tão determinada a estar ao lado dele quanto ela.


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Notas finais do capítulo

Oi de novo!
Percebi que não descrevi a aparência da Emilly, então vou descrever por aqui: Ela é branca de cabelos e olhos castanhos, magra e meio baixinha.
Gostaram do capítulo? Sintam -se a vontade para comentar, estarei postando em breve novos capítulos. Beijos.



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