Zaniah estava nervosa. Era véspera das férias de final de ano e ela teria seu primeiro encontro com o Clube do Slug, o qual ela foi convidada para fazer parte na segunda semana de aula.

Mas não era por isso que estava nervosa. Afinal, fazendo parte da família Black e com seu pai num cargo de alto calão no Ministério da Magia, estava acostumada com jantares pomposos que seguem a etiqueta.

Zaniah estava nervosa porque seu irmão Sirius, que por mais bagunceiro que fosse era ainda muito inteligente e o herdeiro dos Black, também estaria em tal jantar. Não via razão alguma em seu nervosismo, mas o mesmo lhe tomou conta.

Absolutamente todo seu grupo de amigos fazia parte do Clube, afinal faziam parte das famílias das Sagradas 28 e tinham uma linhagem influente. Também havia Snape, que por mais que fosse um mestiço com sobrenome trouxa, tinha muito talento em poções e merecia participar do grupo. No entanto, havia um problema: Snape era amigo da nascida-trouxa, Lily Evans, a qual James Potter, amigo de Sirius, era fascinado. Bônus: Snape e Potter se odeiam.

Zaniah não conseguia ver como aquele jantar poderia ser uma boa ideia.

Mesmo assim, colocou uma meia-calça grossa da cor preta, uma saia de lã cinza, uma blusa de malha da cor vinho, um cachecol também cinza, calçou botas pretas e se cobriu com um sobretudo preto. Deixou seus longos fios negros ondulados a solta e passou um leve brilho nos lábios. Enquanto isso, Juliet colocava um vestido branco e preto, listrado, com uma meia calça grossa da cor de sua pele e um coturno preto. Vestiu um casaco azul marinho por cima.

— Está pronta? – Zaniah a perguntou.

— Sim. Você está bem?

— Um pouco nervosa.

— Relaxa, vai ficar tudo bem. – July falou, encostando na amiga.

— Espero que sim.

As duas desceram juntas e encontraram Rodolphus, Lúcius, Andrômeda, Dolohov e Régulos já prontos.

— Cara, Cannons perdeu de 530 a 40 ontem pros Waps, - Rodolphus falou incrédulo para Lúcius.

Zaniah sorriu.

— Quando eu falo que o meu time é o melhor do mundo vocês não acreditam...

— Não vem com essa, Zaniah! – Antony falou irritado.

— Só está bravo porque o Ballycastle Bats não está se classificando pras eliminatórias! – Zaniah provocou o amigo.

— Eu odeio o fato de você entender tanto de quadribol!

— Por quê?

— Porque eu fico sem argumentos. – Dolohov revirou os olhos, fazendo o grupo, que observava a discussão, rir levemente.

— Cara, tu demoras demais pra se arrumar! – Puderam ouvir Darwin falar.

— Agora eu entendi o que o Rodolphus quis dizer quando falou que tu vaiss demorar mais que a noiva no dia do teu casamento. – Bartolomeu reclamou também.

— Parem de chorar, caralho. – Rabastan xingou. Na sua cabeça, Zaniah conseguia ver ele revirando os olhos.

Os três chegaram no Salão Comunal no instante anterior a Bellatrix e Narcisa.

— Céus, Zan, já falei que você tá linda hoje? – Bartô disse quando viu a amiga.

— Hoje não, na verdade. – Zaniah disse rindo.

— Você tá linda.

— Crouch, quer morrer? – Disse Régulos, se postando ao lado da irmã ao mesmo tempo que Bartô oferecia seu braço a ela.

Os dois se olhavam como se discutissem telepaticamente. Zaniah, ao meio, estava perdida sobre qual braço aceitar.

Foi quando um anjo apareceu.

— Senhorita Black, daria a honra de me acompanhar? – Perguntou Rabastan, lhe oferecendo a mão.

Zaniah sorriu ao dizer:

— Será um prazer, senhor Lestrange. – Zaniah segurou a mão de Rabastan.

Atrás de si, pôde ouvir Régulos e Bartolomeu reclamarem.

— Meu melhor amigo me traindo!

— Ela me abandonou.

Zaniah olhou para Rabastan, que se mostrava divertido perante a cena. Revirou os olhos para o que havia ouvido e tomaram a frente do grupo, em direção ao gabinete do professor Slughorn. Quando chegaram lá, foram recebidos com muito afeto pelo diretor de sua Casa, que amava uma festa.

Todos os sonserinos logo se reuniram e, após cumprimentar o professor, sentaram-se em uma mesa. Não demorou muito para que avistassem Severus Snape e Lily Evans entrar no recinto. Snape olhou para a mesa dos companheiros de casa e fez um gesto com a cabeça, em forma de saudação.

— Traidor de sangue... – Bellatrix resmungou.

— Qual sangue, Bella? – Zaniah indagou. – Ele é mestiço.

Bellatrix olhou nos fundos dos olhos da prima mais nova.

— Fique longe dele, Zaniah.

— Não tenho nenhuma intensão de estreitar meus laços, na verdade.

— Ótimo.

Régulos abriu sua boca para falar algo, provavelmente em defesa de Snape, mas desistiu ao olhar para a entrada da sala.

Sirius, Potter e Lupin adentravam o local como se fossem deuses.

O primeiro reflexo de Zaniah foi o de olhar o irmão, que correspondeu intensamente seu gesto. Tal ato não passou despercebido pelo grupo e Rabastan logo se adiantou para mais perto da amiga, envolvendo Zaniah com seu braço direito.

Sirius demonstrou incredulidade na mesma hora e Zaniah jurou ver que o primeiro reflexo de seu irmão havia sido se aproximar do grupo.

— Se ele vier, não prometo me controlar. – Zaniah ouviu Lúcius dizer para Dolohov. Um frio subiu pela sua espinha.

— Zan. – Rabastan falou em seu ouvido. – Venha, vamos pegar uma bebida.

Sem ter tempo para a resposta, Rabastan pegou em sua mão, fazendo Zaniah segui-lo.

— Rabs. – Ela chamou.

— Sim?

— Você acha que os rapazes seriam capazes de bater no Six?  

Rabastan respirou fundo.

— Seriam capazes sim, Zan. Mas não vão fazê-lo, ninguém quer te magoar.

Em um momento de fraqueza, Zaniah se aproximou de Rabastan, num abraço.

— Eu tenho tanto medo de perde-lo, Rabastan.

— Eu sei, Zan. Todos nós temos.

Assim, Rabastan a acolheu em um abraço onde ela poderia afundar seu rosto no pescoço do garoto.

— Fique longe da minha irmãzinha, Lestrange! – puderam ouvir alguém gritar. Zaniah ergueu a cabeça com o susto, a tempo de se virar e visualizar Sirius vindo em direção à dupla, aparentando muita raiva.

Lúcius, Rodolphus e Dolohov já estavam com as varinhas em punhos apontadas a Sirius quando esse chegou perto dos dois sonserinos.

— Se você pretende radicalizar a mente da Zaniah, transformando-a num fantoche sangue-purista, saiba, Lestrange, que eu não vou permitir. – O moreno disse olhando fixamente para os olhos do castanho.

Zaniah inflou de descontentamento.

— Ele não me influencia em nada, Sirius Orion. – Falou, chamando a atenção do irmão para si. -  Nem ele nem ninguém. Eu penso da forma que eu quero.

— Zan, não faça isso com a própria vida.

— Fique longe dela, Sirius. – Régulos disse, ficando entre Sirius e o trio de varinhas. – Estamos em maioria. E ao mesmo tempo sem vontade alguma de nos estressar.

— Ah! Fale por você. – Bella reclamou.

— Estamos bem, Black. – Lupin se meteu. – Pretendemos nos incomodar tanto quanto vocês.

— Ótimo. – Régulo disse. – E quanto a você, - falou apontando ao irmão mais velho. – fique longe da Zaniah.

— Ela é tão minha irmã quanto sua! – Sirius gritou irritado.

— Eu particularmente não acredito. – Régulo falou, puxando Zaniah para perto de si e os retirando logo em seguida.

— Vocês estão se perdendo! – Sirius gritou, os olhos começaram a marejar ao ver os dois irmãos se afastarem.

— Não, Sirius. – Narcisa disse ao primo. – Você se perdeu.

— Cissa. – Sirius falou como se suplicasse. Narcisa o olhou e virou o rosto. – Andie. – Fez o mesmo para a irmã do meio. – Por favor.

Andrômeda o olhou fixamente. Sentia uma conexão com o primo mais novo, no entanto, não poderia demonstrar tudo agora.

Todos os sonserinos se retiraram do amontoado, seguindo Régulo, Zaniah e Rabastan.

A festa acabara para todos os Black’s. Sem exceção alguma.

A mais antiga família do mundo bruxo inglês nunca deixaria de proteger um de seus componentes. Perder Sirius era perder uma parte de si mesmo.

E, para Sirius, ver sua família decair a sua frente era dolorido demais. Gostaria de poder ajuda-los.

Àquela noite, nenhum dos seis Black’s presentes em Hogwarts dormiu. Todos remoíam as felizes lembranças do passado. Passado já tão distante que por vezes parecia um delírio. Um delírio feliz, mas apenas um delírio.