Love Poem escrita por godEos


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Antes de tudo, saibam que eu e JungKook amamos a IU. Depois, saibam que eu amo JiKook. Então, decidi misturar os dois e criar essa one-shot. Essa história é uma songfic baseada na música de mesmo nome da IU, Love Poem. Serviu de base para o desenvolvimento do texto e me tirou de um período longo de bloqueio.

Boa leitura!



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Love Poem

Capítulo Único

 

Esporadicamente, ele retornava para dentro de si; recolhia a magnificência de sua essência e caminhava, aos poucos, para o interior da muralha que erguera apenas para se manter distantes dos olhares alheios e dos julgamentos errôneos arraigados de más palavras cheias de ódio. Preso em sua própria fortaleza, absorto em si e, mais importante, salvo. 

Salvo de qualquer um: daqueles que o odiavam, daqueles que o amavam, dos fãs, dos haters — principalmente deles.

Jungkook, com o passar dos anos e com a ascensão estratosférica do BTS, começou a enxergar a fama bem além da glória e da exaltação; na verdade, ele a compreendeu como um conceito mais profundo, um controverso paradoxo. 

Fama e reputação eram duas palavras indissociáveis, uma não existiria sem a presença da outra. Durante o processo natural de quando ocorria a ascensão de seu nome em uma indústria pautada na imagem de pessoas, como a cinematográfica ou como a musical, era bastante comum atribuir certo prestígio a esses semblantes e, no pior dos casos, adquirir, instantaneamente, algum tipo de repulsa. 

Quando se juntou a Bighit e decidiu fazer parte do BTS, apesar da pouca idade na época, JungKook não era inocente o suficiente para pensar que a fama viria até ele somente trajando sua face mais amigável, ele sequer chegou a fantasiar isso. Decerto, era um jovem com sonhos e com aspirações, ávido pelo desejo de compartilhar seu talento, de espalhá-lo pelo mundo e conseguir ser reconhecido pela sua arte. 

Pensando bem, com todas habilidades e vocações que ele possuía, JungKook não desejava muito, apenas o bastante para fazer jus a grandiosidade de sua existência. 

Todavia, ninguém nunca lhe contou que, durante a caminhada necessária para atestar o louvor de seu sucesso, a qual seria saturada de obstáculos e lutas — individuais e coletivas —, muitos tentariam derrubá-lo e abatê-lo enquanto alçava o maior e mais belo dos vôos.   

O sentimento de cobiça frente à sua felicidade e a inveja pura e indiscreta, as faces mais podres da essência humana, romperiam para agourar a prosperidade tão merecida após os longos anos marcados por seus esforços, bem como os esforços dos seus hyungs, para sobrepujar as dificuldades de iniciar uma carreira como idol sem todas as regalias que muitos grupos desfrutavam. 

Apesar dos empecilhos, JungKook nunca desperdiçou seu tempo cobiçando a boaventura alheia, mas aprimorando o seu talento. Era um diamante raro, sendo lapidado através do seu trabalho duro. Por esse motivo, quando a fama, enfim, chegou ao mais alto nível, elevando o grupo a um artista conhecido mundialmente, ele se surpreendeu com a maneira desditosa e amarga que outros tinham para se referir a si e a qualquer outro dos meninos. 

Bem antes do sucesso estrondoso, ele nunca se permitiu extravasar demais seus sentimentos. Jungkook era alguém introvertido desde os primórdios de sua infância e, por muito tempo, não se preocupou em se projetar para além de seu íntimo. Ali, resguardado dentro de si, era onde o golden maknae existia, cercado pela exuberância de suas qualidades e transbordando de energia e vigor para ser a sua melhor versão. 

Contudo, aos poucos, impulsionado pelos momentos faustosos dos últimos anos, cheios de feitos e realizações notáveis, permitir que sua essência, pura e imaculada, se espalhasse ao seu entorno ocorreu de forma espontânea. Cada célula de seu corpo encontrava-se em um estado atípico de euforia, um entusiasmo infindável e contínuo, e seu íntimo já não era mais capaz de abrigar o otimismo e o ânimo que rugiam, impacientes. 

Só que, em meio ao júbilo e a felicidade, JungKook não se deu o direito, um minuto sequer, de se esquecer que, no fim do dia, ele era um idol e, como qualquer outro, existiam muitos olhos escrutinando-o, em busca de assisti-lo cometer um deslize, por menor que fosse. Era agonizante conviver daquela maneira, certificando-se constantemente de cada mísera atitude tomada, somente para não dar um motivo para aqueles que ansiavam tanto para vê-lo cair. O seu vôo atingiria alturas invejáveis e seria duradouro. 

Para tanto, JungKook possui completa consciência de que necessitava seguir os princípios equivocados que norteavam a comunidade de idols, de alguma maneira, ele acreditava que conseguiria seguir sua carreira e, ao mesmo tempo, ser refém de uma perspectiva antiquada alheia.

No entanto, tais preceitos obrigavam-no a esconder uma parte de si, uma fração importante de quem ele era. JungKook, desde sua adolescência, ao se aventurar em relações românticas curtas e infrutíferas, descobriu que sua existência não caberia dentro dos moldes padrões da sociedade e, mesmo sabendo da rejeição que poderia vir sofrer por ser diferente, jamais intimidou-se para perseguir seus sonhos. 

A possibilidade de que, um dia, fosse repudiado ou maltratado por reconhecer-se como alguém díspar, de certa forma, moldou traços relevantes de sua personalidade acanhada. A timidez era resultado de uma insegurança criada pelo medo e, embora fosse bastante sagaz como trainee, longe de uma sala de ensaios, JungKook encontrava-se, novamente, tomado pelo receio. 

Conforme descobria-se, ele imaginara que viveria dentro daqueles limites, subjugado por suas inseguranças. Contudo, JungKook jamais preconizara o efeito de Jimin sobre si e os inúmeros sentimentos despertos por ele. 

Ninguém poderia imaginar quanta comoção aquele corpo pequeno catalisaria em cada célula constituinte do corpo de JungKook; incontáveis emoções, tantos desejos mais.  

Tinha um sabor doce com notas de nostalgia constatar o quão longe os dois chegaram após quase uma década. Para JungKook, era uma surpresa aprazível contemplar a caminhada que percorreram juntos: de desconhecidos a amigos a amantes. Manifestava em si um sentimento aconchegante, referto de otimismo,  enxergar-se ao lado — em um futuro próximo, também em um póstero longínquo — de alguém tão iluminado quanto Jimin. 

A certeza de que estariam juntos até o prenúncio do fim de seus dias era o único consolo deixado para os dois amantes obrigados a viverem o amor que sentiam, embora imenso, de uma maneira reservada. Por mais que ambos tentassem, nem toda a prudência existente no mundo conseguiriam impedi-los de revelar uma parcela ínfima do vasto sentimento aficionado que os inundava. 

Os dois, Jimin e JungKook, eram um oceano infindo de amor e, como a vastidão azulada, aquilo que sentiam não poderia ser represado. 

Talvez, por saber que a paixão que cantava em seu sangue, entusiasmada e cálida, não poderia ser reprimida era que JungKook estava tão descontente com os últimos rumores que cercavam seu nome. 

Depois de dois longos anos estando no mais alto nível de estrelas globais, finalmente fora concedido aos membros do grupo um merecido descanso. Eram férias curtas, mas que, naquele ponto de exaustão física e mental, fariam uma diferença incalculável para os sete membros.

Seguindo-se o óbvio, no primeiro dia de dispensa das obrigações, tanto JungKook quanto os seus hyungs viajaram para destinos diferentes, inclusive ele e Jimin. Aproveitaram a oportunidade para espairecer longe da companhia um do outro, reconhecendo como a chance perfeita para respirarem um pouco sozinhos. Não havia problema algum entre eles e a relação estava estável, tratava-se apenas de um descanso merecido para ambos. 

Dessa forma, JungKook preferiu viajar para encontrar amigos antigos, os quais não encontrava há muito tempo, enquanto Jimin enveredou-se pelo mundo afora, escolhendo circundar o globo e visitar diversos países.

Por um breve instante, ambos esqueceram quem realmente eram e quantos olhares observavam-os tão de perto, ansiosos por os ver cair. 

O primeiro rumor surgiu abrupto, desestabilizando a quietude e conforto das merecidas férias. Jimin fora visto em um boate em Paris, brincando com algumas fãs que o reconheceram. Gravaram-no naquele momento de descontração e insinuaram que ele estava saindo com aquelas garotas, insinuando um comportamento e uma índole questionáveis, os quais eram impossíveis de caber dentro do caráter de alguém gentil e amável como ele. 

Ironicamente, a notícia irrompeu às vésperas do aniversário de JungKook, espalhando-se como fumaça carregada pelo vento e logo se destacando entre os boatos que envolviam nomes de famosos. Jimin, entretanto, não se importou muito com a movimentação que envolvia sua imagem pública, ele estava em paz consigo mesmo e sabia que suas ações, em momento algum, seriam motivos para que alguém as tomasse por ofensa. 

Sabendo que o objetivo de Jimin, ao viajar, era conhecer os lugares que estava visitando, ele e JungKook não mantinham nenhuma conversa durante o dia. Na verdade, informavam, em mensagens curtas, aquilo que estava fazendo ou que iriam fazer, somente para manter o companheiro informado. Era durante a noite, quando o sol escondia-se e a lua, acompanhada das estrelas, ascendia ao céu, que ele desenvolviam um diálogo consistente. 

Na maioria das vezes, ambos perdiam-se nas horas, enquanto se envolviam em ligações marcadas por conversas avulsas e assuntos sem importância. Jungkook gostava dessa dinâmica calma e serena, de caráter doméstico. Nesses pequenos detalhes, quase ínfimos, era onde enxergava a certeza de que seu futuro, ao lado de Jimin, seria esplendoroso. 

Pensando em manter a tranquilidade do único momento em que eles dedicavam-se um ao outro, no dia que o rumor surgiu, eles não conversaram sobre o que havia ocorrido naquela boate em Paris. Jimin tentara explicar, ao menos um pouco, mas JungKook declinou todas as investidas para se adentrar nesse tópico em questão. 

Dessa forma, discorreram as horas com Jimin falando os detalhes sobre os lugares que visitara em Paris, provocando um riso divertido em JungKook ao falar sobre um vinho em específico que experimentara na noite anterior. A empolgação em sua voz era notável ao descrever as notas de sabores que a bebida manifestara em seu paladar. 

A felicidade de Jimin era singela e, sendo assim, a felicidade de JungKook também era simples em demasia. Por esse motivo, os dois riram, tomados pelo júbilo, até as barrigas doerem e o ar faltar em seus pulmões. 

JungKook ansiava para si um futuro leve, sem a densidade dos dias atuais, mas que ainda possuísse a suntuosidade dardejada pela presença de Jimin. 

As horas desmancharam-se ao decorrer da ligação e o dia que antecedia o aniversário do JungKook rapidamente esmaeceu. 

— JungKook-ah — a voz rouca e pesada devido ao sono chamou o nome do aniversariante de modo arrastado —, parabéns! Saranghaeyo!

Embora fosse uma chamada de áudio, JungKook conseguiu visualizar, com perfeição, cada detalhe do rosto de Jimin ao pronunciar aquela última palavra. Os olhos semi abertos sendo engolidos pelo eye smile que brotava em seu semblantes todas as vezes em que ele sorria e o jeito tímido, levemente envergonhado, com qual escondia o rosto no travesseiro branco da cama do hotel. 

Por conseguir imaginá-lo desse modo tão tangível, quase sentindo o conforto do calor emanado pela presença dele ao seu lado, JungKook não procurou por explicações sobre os rumores acerca da boate em Paris. Palavras eram desnecessárias quando suas almas se reconheciam e, acima disso, se amavam. 

— Jimin-ssi, kansahamnida — o agradecimento, marcado pelo timbre salpicado de felicidade, fora enunciado em plena exaltação, arrebatando o companheiro que se encontrava no outro lado da linha de seu estado de letargia. 

— Ei! — Bradou, desfazendo o tom irritado para desmanchar-se em um riso cândido e divertido, sendo seguido pelo JungKook. 

As risadas mantiveram-se por um certo ínterim, perdendo intensidade à medida que as respirações eufóricas tornavam-se graduais e calmas e o sono sobrepujava ambos. A ligação permaneceu ativa e os dois dormiram embalados pela sonoridade plácida de suas respirações. 

Na manhã do dia seguinte, JungKook acordou com um vídeo postado por Jimin na conta oficial do twitter do grupo, no qual o mais velho o parabenizou, ostentando o melhor e mais alegre dos sorrisos. 

Na gravação, além dos pedidos sinceros, desejando prosperidade para o maknae, Jimin prometera que, mais tarde, o visitaria. No entanto, perdido na alegria e na gentileza das palavras de seu hyung, JungKook não se atentara às últimas palavras dita por ele e, assim, à noite, surpreendeu-se da melhor maneira ao vê-lo. 

A primeira coisa que notara ao se deparar com ele, que retornara para a Coréia unicamente para comemorar o aniversário de JungKook, fora um embrulho enorme nos braços dele, provavelmente um presente para si. Somente depois seu olhar registrou a presença de Hoseok e de mais um outro alguém, um staff que estava acompanhando Jimin. 

Hoseok saltou para frente, tomando a dianteira e correndo para abraçar JungKook, conforme murmurava uma série de desejos, tantos que o mais novo perdeu-se entre eles, limitando-se a agradecê-lo e a retribuir o abraço. Estar envolto dentro dos braços de Hobi era sempre um sensação aprazível, era quente e reconfortante. 

O staff também se aproximou quando Hoseok libertou JungKook do abraço e estendeu-lhe a mão, felicitando-o. Ele se curvou uma última vez antes de sair, abrindo caminho para que, enfim, o último presente ali, se aproximasse e parabenizasse o aniversariante. 

Jimin já não possuía mais em mãos a grande caixa coberta com papel de presente como outrora, mas, desta vez, um pacote pequeno e discreto ocupava a palma esquerda. 

— JungKookie, feliz aniversário! — Antes que as palavras terminasse de ser proferidas, seus braços esguios envolveram o corpo definido de JungKook, puxando-o para perto. 

Ambos eram incapazes de definir quanto tempo mantiveram-se atados naquele abraço. Um segundo, um minuto, uma hora. Em todo caso, o tempo, quando dizia respeito a eles, de fato, não importava, porque o andamento do fluxo do relógio abandonava qualquer caráter fundamental que possuía ao deparar-se com a reverência imutável do amor que nutriam. 

Teriam permanecido daquele jeito, desatentos ao tempo e absortos na figura um do outro, caso Hoseok não interrompesse o momento, fingindo uma tosse seca. Alguns risos fracos foram derramados no ar ao se separaram, demonstrando um pouco de acanhamento com a situação levemente constrangedora. 

 — Para você — Jimin então oferecera o presente que tinha em mãos. 

Os olhos negros alternaram entre a palma que lhe fora estendida e o rosto do homem que o estava presenteando, antes de pegar o pacote para si. Sem fingir timidez, rasgou o embrulho às pressas, ávido para descobrir qual seria o presente que Jimin escolhera esse ano. 

No aniversário passado, ganhara uma mochila para carregar seus equipamentos de filmagem. Jimin, ao entregar-lhe o presente naquele dia, falara que a bolsa que JungKook usava estava velha e surrada. Ele merecia e precisava de uma nova. 

Decerto, os olhos de Jimin sempre estavam buscando JungKook, quer fosse por amar olhá-lo, quer fosse para se certificar que estava tudo bem com ele e que não havia nada faltando. 

Esse esmero desmedido, na concepção de JungKook, tornava-o o melhor no quesito presentes. Por esse motivo, Jimin era uma fada dos presentes, um ser dotado de bondade e belo, que estava atento às suas necessidades, cuidando de si. 

Dessa vez, JungKook fora presenteado com uma camiseta regata de tons pastéis, com gola e punhos pretos. Existia um bordado na parte central da frente, fazendo referência a uma bola de basquete. Jimin não lhe deu tempo de reagir propriamente, enchendo-o de preguntas.

— Gostou? É o tamanho certo, não é? Não vai ficar grande em você, acredito. Eu experimentei antes de comprar e ficou um pouco folgada em mim, mas suas roupas sempre ficam folgadas. JungKookie é um homem forte —  comentou, passando devagar a mão sobre o peitoral definido alheio. — Vamos, experimente! 

Empolgado, Jimin ajudara o maknae a retirar a camisa larga e de tons acinzentados que descansava sobre a pele dele, sentindo-se embriagar de uma felicidade incontestável ao assistir JungKook vestir a nova peça e constatar que cabia perfeitamente. 

— Muito bom — comentara mais para si do que para qualquer outro presente naquele cômodo espaçoso. 

JungKook deslizou as mãos algumas vezes sobre o tecido macio da camiseta, alisando desde o peitoral e descendo pelo resto do tronco. Os dedos perpassavam sobre o material de consistência tenra e ele sentia a maciez envolvê-lo em um abraço atípico. Era como estar entre os braços de Jimin, agradável.  

Ao se familiarizar com o contato afável do tecido sobre sua pele, JungKook apressou-se para agradecer a Jimin pelo presente, contudo assustou-se um pouco ao vê-lo, novamente, com a caixa de presente enorme em mãos. Por um ínterim, esquecera-se da existência do outro embrulho. 

— Aqui, ainda tem esse — dissera, ainda ostentando um sorriso gigante, ao oferecer a caixa a JungKook. 

Diferente do presente anterior, que tinha um embrulho mais requintado e mais discreto, o da vez possuía aqueles papéis típicos, cheio de cor e inúmeras ilustrações referentes à aniversario. JungKook não mentiria, estava mais ansioso por esse, sua criança interior estava tremendo de expectativa para descobrir o que estava escondido por trás daqueles adornos. 

O tratamento de Jimin também mudara em relação ao presente passado. Ele ainda estava exaltado pelo momento, mas tentava se controlar e se certificar de que não pousaria a Caixa de forma brusca. Pelo zelo desmedido, JungKook julgara que era algo de certo valor monetário e, além disso, também parecia pesado. 

Quando Jimin colocou a caixa no chão e se afastou para que JungKook se aproximasse e tivesse a liberdade e o espaço necessário para abrir seu presente, o mais novo cedeu o comando de seu corpo para a criança eufórica que estava dando cambalhotas dentro de si, rasgando, com avidez, o papel colorido. 

Jimin se divertira ao vê-lo tão animado, deixando escapar um riso baixo e sendo acompanhado pelos demais que estava ali; todos estavam felizes pela satisfação inegável de JungKook. 

Embebidos de expectativas, seus olhos brilharam, satisfeitos, ao descobrir a surpresa que se estivera mantida escusa dentro daquela caixa chamativa. Desviara o olhar em direção a Jimin, descobrindo que estava sendo igualmente observado. Embora palavras não fossem ditas, a dúvida notável em sua fisionomia clamava por um resposta sobre aquilo que estava bem à sua frente.

— É realmente ela — respondera ao questionamento mudo de JungKook, ainda esbanjando um sorriso. — Vamos, JungKook-ah, você pode tocá-la. 

Todas as palavras de JungKook morriam em sua boca e seu corpo estava inerte, paralisado. De alguma forma, ele parecia estar com medo de, ao se mexer, aquele momento se dissolvesse, quebrando as expectativas que o inundavam.

O olhar deixara de se concentrar na figura de Jimin e, mais uma vez, retornaram a contemplar o presente que recebera, tomando um cuidado exacerbado ao se mexer para não causar algum estrago à medida que se curvava para contemplar cada mero detalhe com maior atenção.

Existiam muitas cores, era uma celebração colorida para os olhos de qualquer pessoa e, para JungKook em especial, além de qualquer pigmento, haviam formas, na verdade, personagens bastantes conhecidos. 

E Jack fora o primeiro a capturar sua atenção.

Sem dificuldades, ele conseguiu reconhecer o presente que Jimin havia lhe dado. Era uma caixa de música de O Estranho Mundo de Jack, um filme que possuía um significado de extrema importância para ambos e, também para o seu relacionamento. 

Logo no início do relacionamento, em 2017, quando de fato oficializaram o que tinham, JungKook presenteara Jimin com uma viagem para a cidade de Tóquio somente para os dois, uma vez que, durante muitas entrevistas, ao longo do ano, o mais velho possuía o costume de enfatizar que desejava viajar sozinho com seu dongsaeng.

Em Tóquio, enquanto visitavam a Disney, todo o parque estava enfeitado com ornamentos e adornos que remetiam a O Estranho Mundo de Jack. Dessa forma, o filme, naturalmente, tornou-se algo especial para eles, transmitindo bons sentimentos e se evidenciando como um símbolo otimista acerca do futuro que ansiavam para criar juntos. 

 Tóquio era um prenúncio de uma vida regada de alegrias e Jack, espalhado em todo parque, estava lá para testemunhar o amor deles, expresso em cada gesto, em cada sorriso. 

Ainda tomado pela admiração, os dedos tatearam, cuidadosos, cada um dos personagens do filme, sentindo o júbilo que cantava dentro de si se intensificar. Em um certo instante, os dígitos detiveram-se sobre o papai noel que ornava o centro, sobrelevando-se aos demais.

 — Oh! — Surpreendeu-se ao sentir o papai noel deslizar para dentro, acionando a música da caixinha, buscando o olhar de Jimin para descobrir se ele ainda mantinha o escrutínio sobre si. 

Uma melodia doce e suave preenchera o ambiente do cômodo em que estavam, enquanto JungKook reconhecia cada nota tocada, rememorando a música do filme que assistira tantas vezes em companhia de Jimin. Os olhos fecharam-se e o corpo mexeu-se involuntariamente, seguindo o ritmo da composição instrumental que ressoava conforme um sorriso brando despontava no seu rosto. 

Sentira as notas deslizarem sobre sua pele lisa, imergindo-se na sinfonia ao desfrutar da tranquilidade singular daquele momento. Suas memórias, sem demora, levaram-o novamente para Tóquio, para a primeira noite que passara lá e, junto com Jimin, assistira a O Estranho Mundo de Jack, rejuvenescendo o momento em que abandonaram a cama larga e uniram seus corpos, aproveitando a música do filme para dançar uma valsa desajeitada e improvisada, embrulhando o ambiente do quarto com o ruído túrbido de seus risos. 

Caso permitessem, JungKook passaria a noite inteira ali, alheio ao mundo, enquanto rememorava sua ida a Tóquio e a significação que essa viagem possuía para si. No entanto, seus devaneios foram interrompidos ao sentir a mão pequena e macia de Jimin em seu ombro, abrindo os olhos para observá-lo e se deparar com o rosto dele dominado por um enorme sorriso, pleno, referto de contentamento.

JungKook estava perdido. 

Perdido entre os acordes harmoniosos que soavam, acendendo memórias antigas. 

Perdido no amor avassalador que nutria por Jimin. 

Controverso, embora perdido, JungKook sabia exatamente onde se encontrava. Ele estava no único lugar possível para estar: ao lado do homem que amava, ao lado de Jimin. E dessa maneira desejava continuar. 

Instantes depois, a melodia cessou, abolindo quaisquer perturbações sonoras daquele cômodo, exceto pelo som extasiado das respirações deles. Os olhares mantinham-se encaixados, duas imensidões negras encontrando-se no vazio do ar, convergindo para a gênese de uma nova galáxia; um universo inteiramente deles e onde só eles existiam. 

Estavam à deriva, governados pelos sentimentos, guiados pelo amor que sentiam e pela necessidade inarredável de se doarem a cada segundo. 

Provavelmente, o olhar perduraria por bem mais que um minuto, porque, quando se tratava de Jimin e de JungKook e da relação deles, o tempo era impedido de seguir seu fluxo; no entanto, Hoseok ainda estava ali, observando-os e, apesar de amar vê-los apaixonados, com a afeição incontestável fervendo em seus olhares, aquela situação estava um pouco constrangedora. 

— Céus! — Exclamara, chamando a atenção de ambos para si. — Arrumem um quarto, existem mais duas pessoas nessa sala além de vocês, sabiam?

Constrangidos, riram e Hoseok, junto ao staff, os seguiram. 

Hobi aproveitara a oportunidade de que eles, finalmente, não estavam mais envecilhados no olhar um do outro e dera continuidade às comemorações. Ao chegarem, JungKook não registrara o bolo que o staff carregava em mãos antes de colocá-lo sobre a mesa.

Em virtude disso, surpreendeu-se quando as mãos de Hoseok agarraram-se aos seus ombros, forçando-o a se sentar no chão em frente à mesa em que se encontrava o bolo, notando um cordão amarrado na janela com a frase “Feliz Aniversário”. A vela fora acesa e uma salva de palmas soara, seguida de um parabéns enérgico. 

JungKook juntou-se também aos demais, acompanhando as batidas e cantarolando, em um tom mais baixo, a música entoada. Os olhos descansavam no bolo branco com um smurff na parte dianteira, além de um mini-letreiro desejando “Feliz Aniversário”, permitindo que um sorriso despontasse em seu rosto.

Soprara a vela antes que a última palavra da música fosse enunciada, acelerando a frequência das palmas para simbolizar o fim das felicitações cantadas. Fugindo à sua percepção, ouvira o barulho de uma câmera e não se chocara por ser Jimin. 

— JungKookie está muito bonito hoje com esse sorriso, vamos, me deixe tirar outras fotos — pediu, sinalizando com gestos para que JungKook olhasse para câmera de seu celular. 

Sem pensar demais, JungKook apoiara a mão esquerda atrás de seu corpo e na mesa, a direita, sustentando um leve repuxar de lábios que a nada faria jus a felicidade que sentia. 

Jimin batera a foto, essa e tantas outras mais, e JungKook sequer negou-se a ser capturado em uma quantidade exorbitantes de fotografias. Na verdade, agradava-lhe saber que, para sempre, estaria registrado a alegria de seus dias ao lado do único homem que amava e amaria. 

A comemoração seguira, Hoseok serviu bebidas para todos e Jimin acomodara-se ao lado de JungKook quando o maknae serviu-lhe o primeiro pedaço de bolo. 

— Obrigado — JungKook agradecera no momento que Jimin aceitara o bolo que ofereceu-lhe. — Por tudo, Jimin-ssi, por tudo! 

Com um gesto corporal, Jimin balançara as mãos em discordância, sinalizando que não existia necessidade nenhuma de agradecê-lo. A cabeça repousava no ombro de JungKook e o nariz apertou-se contra a pele cálida da região do pescoço alheio, cheirando-a. Aquele era seu aroma favorito. 

Sarangheyo — sussurara, tão baixo que, por um segundo, duvidara que JungKook o ouvira.

Sarangheyo — respondera. 

JungKook sempre estava prestando atenção a Jimin, em toda e qualquer ocasião, principalmente naquela em que ele estava se confessando para si.

Ambos sorriram e novamente estavam presos em seu próprio universo. 

O restante da noite seguira-se sem acontecimentos extraordinários, somente comeram e beberam enquanto divertiam-se na companhia vibrante de Hoseok. Vez ou outra, os olhos de JungKook prendiam-se a figura de Jimin, que ocupava o espaço ao seu lado, admirando-o. Jamais acostumaria-se com a beleza do tom de pele que ele possuía e, muito menos, com os traços finos e bem desenhados do rosto dele. 

Esperaram o álcool surtir efeito sobre Hoseok, assistindo, gradualmente, a energia do corpo dele desvanecer à medida que um humor enfadonho e cansado dominava-o. No instante em que notaram o estado que o hyung encontrava-se, souberam que deveriam parar com as comemorações por ali. 

O staff levara Hoseok para seu quarto e Jimin e JungKook responsabilizaram-se por arrumar a bagunça que haviam feito no cômodo da sala. Ausentaram-se em direção ao quarto apenas quando não existiam mais vestígios ali da reunião que acabara de acontecer. 

Resguardados no interior do quarto de JungKook, com os corpos enrolados nos lençóis brancos e finos, com as respirações desreguladas e com suor escorrendo pelas têmporas, amaram-se, fundiram-se em um. Cada poro das peles suadas cantavam de desejo e paixão e eles seguiram dançando aquela música cálida, misturando os murmúrios que escavam de seus lábios, tomados por afeição e sofreguidão, ao som da fricção dos movimentos impacientes de seus corpos. 

Aquela orquestra de desejo findara-se longos minutos depois, quando Jimin atingira a maior das notas, sendo seguido por JungKook, que harmonizara consigo, sôfrego. 

O silêncio chegara no exato instante em que as respirações normalizaram-se. Os dedos pequenos de Jimin dançavam sobre o mar de fios negros de JungKook, em um gesto cândido de puro carinho. O quanto permaneceram naquele estado letárgico era impossível de se orçar, mas toda aquela quietude fora maculada quando JungKook jogou-se para fora da cama. 

— Banho? —  Perguntara ao olhar para Jimin e sentir o escrutínio alheio perpassar seu corpo desnudo, analisando. 

— Tentador — respondera, oferecendo um sorriso sacana de canto. — Mas, dessa vez, aceito apenas o banho. 

JungKook lançara sobre ele um olhar interrogador, perguntando-lhe qual era a possibilidade de ele estar sendo rejeitado ao fazer um convite completamente pelado. Empertigara-se, fingindo uma falsa ofensa. 

— Estou indo viajar amanhã novamente — Jimin dissera. 

A postura altiva do semblante de JungKook desmoronara-se ao ouvir as palavras que deixaram a boca do outro. Jimin estivera longe por dias e, apesar de chegar naquele mesmo dia, partiria na manhã seguinte. 

— Acho que terei de cancelar meus planos de passar o dia com você na cama amanhã — fora tudo que respondera. 

— Desculpas, Kookie — o pedido fora feito com uma voz aveludada, doce, conforme abandonava a maciez dos lençóis e se colocava ao lado de JungKook.

— Não se preocupe — balançara a cabeça algumas vezes, declinando o pedido. — Você estar aqui hoje já foi uma surpresa que estava além de qualquer expectativa e todo o resto, os presentes e os significados que carregam — o olhar buscou pelo íris alheias, desejava vê-las —, Jimin, obrigado!

Jimin oferecera um sorriso discreto em resposta às palavras amáveis de JungKook e, em seguida, agarrara a mão dele, puxando-o em direção ao banheiro. Ao contrário do que dissera antes, não contentara-se somente com um banho e, mais uma vez, naquela noite, a sinfonia de seus corpos sooara, alta e quente.

JungKook chegara a acreditar que, após aquela noite, as férias seguiriam ainda acometidas pela quietude e calmaria dos dias passados, dando-lhe tempo para rememorar, com mais esmero, as lembranças que criara e compartilhara com Jimin no dia de seu aniversário. No entanto, o sossego provara-se momentâneo e, rapidamente, ele estava preso dentro do olho de um furacão, coagido por uma ventania violenta e repentina. 

Alguns dias depois que Jimin o visitara, JungKook aproveitara a falta de compromissos em sua agenda para se reencontrar com alguns amigos que trabalhavam em um estúdio de tatuagem e que há tempos não os via. Além disso, era uma ótima oportunidade para conseguir fazer algumas das tatuagens que tanto queria, mas que só conseguira liberação da empresa recentemente.

Cada mínimo detalhe de sua vida, naquele momento, estava nos eixos, exatamente onde deveriam estar. Havia muito tempo desde que JungKook sentira o corpo descansado e estivera com o sono em dia, foram longos anos trabalhando arduamente para provar o seu valor, o valor do BTS. 

Desse modo, a chance para rever os amigos o fez vibrar de expectativa e, quando o dia de reencontrá-los chegara, JungKook não se contivera. Antes de tudo, pedira para Mi Joo, uma das amigas que trabalhavam no estúdio, tatuar algo que havia rabiscado em casa e trouxera como um esboço para guiá-la. 

A folha de papel amassada estava maculada por linhas negras e grossas que traçavam uma mão — a sua mão — e, próximos às juntas de cada dedo, haviam letras desenhadas, as quais se uniam para formar o nome ARMY. Indo além do óbvio, a tatuagem representava mais do que somente o carinho que JungKook nutria pelo fandom, mas, também, pelos membros do grupo.

O “A” fora desenhado a partir de um “V” em sentido oposto; era a declaração mais enigmática, mais misteriosa entre as demais, e, pensando bem, encaixava-se, com perfeição, no Taehyung. O “R’ e o “Y” aludiam ao Namjoon e ao Yoongi e, de modo semelhante, o “J”, alojado no seu dedo anelar, remetia ao Jin, ao Hoseok e ao Jimin. 

No entanto, existia uma outra maneira de se ler e compreender a tatuagem, tão clara e óbvia quanto qualquer outra. Talvez, por esse motivo, poucos conseguissem enxergá-la a partir dessa perspectiva translúcida, que saltava aos olhos e não deixava incertezas para aquilo que estava sendo dito às escusas. Não por mera casualidade, o “J” estava situado acima do “M”, formando uma coluna com a designação representativa do nome de Jimin, “JM”. 

Haviam lendas e mais lendas sobre o dedo anelar. Para a mitologia chinesa, era o dedo que representava o seu companheiro, onde o seu fio vermelho estaria atado. Também tinha a narrativa da Vena Amoris, a veia do amor. Anéis de casamentos e de noivados eram colocados nos dedos anelares, porque, na idade média, longe da luz da medicina, acreditava-se que era o único dedo que possuía uma veia que estava ligada ao coração, a veia do amor.

Ainda na antiguidade grega, os esotéricos defendiam que o dedo anelar era um canal de afeto e positividade e, assim, ao usar um anel no anelar direito significava o anseio inconsciente e impronunciado de experienciar a vida com mais leveza, buscando sobrepor o pessimismo dos dias ruins. 

E Jimin era, tomado pela luminosidade incandescente de sua aura, o maior prenúncio de otimismo que JungKook já conhecera. 

Poderiam existir teorias infindas a fim de explicar por qual razão JungKook optara por essa disposição das letras e, por mais que todas tivessem sentido e fossem tangíveis, a verdade era que, ao escolher tatuar a abreviação do nome Jimin no alinhamento de seu dedo anelar, ele desejava marcar, perpetuamente, sobre a sua veia do amor, a afeição exacerbada que o inundava sempre que o semblante do companheiro chegasse à mente.

JungKook queria gritar, a plenos pulmões, que amava Jimin. 

Ficara feliz, lembrava-se bem da sensação de plena satisfação que sentira quando olhou para sua mão e enxergou a tinta preta marcando sua pele. Haviam outros detalhes, como simples cruzes ornadas entre as juntas dos dedos e coroa situada no seu mindinho. 

Então, subitamente, a felicidade que se apossava dele esvaiu-se, afugentada por rumores espalhados por pessoas de más índoles e pouco caráter. 

Lembrava que acordara, nessa manhã, com diversas ligações de alguns staff que trabalhavam com a função de contornar escândalos e crises de reputação. JungKook não recordava-se se, algum dia, necessitara da ajuda deles, porque não recorria-lhe à memória algum evento em que esteve envolvido com polêmicas e, por isso, surpreendeu-se. 

Incontáveis pensamentos perpassavam por sua mente enquanto retornava uma das ligações. Buscava encontrar algo que justificasse aquelas ligações e, mesmo assim, não achava justificativas plausíveis. Revisara as últimas atitudes que tomara, sendo que nada, no seu ponto de vista, classificava-se como razão suficiente para estar metido em um escândalo. A ação mais problemática seria, talvez, as tatuagens que fizera, mas a empresa tinha dado-lhe permissão. 

Somente quando a ligação fora, enfim, atendida, as dúvidas de JungKook conseguiram ser sanadas. Aparentemente, existia, de fato, um rumor envolvendo seu nome, no entanto o modo baixo e descabido acerca do surgimento dessa falácia mal contada deixava-o frustrado consigo próprio. 

Mais cedo naquela manhã, começara a circular uma foto de JungKook, em um restaurante, junto de seus amigos. Se não houvesse mais nada daí em diante, não haveria problemas, JungKook acreditava. Todavia, na mesma fotografia, ele estava com seu braço envolto na cintura de Mi Joo, a sua colega tatuadora. 

De verdade, fugia à compreensão de JungKook a razão para fazerem tanto caso de uma simples fotografia. Seus braços poderiam circundar os quadris da garota ao seu lado, mas isso não significava muita coisa. Contudo fora o bastante para fazer novos rumores surgirem. Logo, na internet, começaram a circular falsas informações sobre o seu provável envolvimento com a garota, desde de tatuagens conjuntas até rumores de uma relação séria. 

Todos queriam opinar sobre a vida de JungKook, ninguém estava interessado na verdade.

Por recomendações dos staffs que falaram com ele, JungKook não viria à público se explicar sobre os ocorridos, entretanto a Bighit se responsabilizaria por emitir uma nota oficial desmentindo qualquer um dos rumores que estavam circulando. 

JungKook não ousara colocar os pés para fora do quarto durante todo o dia, evitando esbarrar com alguns dos meninos que estivesse em casa. Ele também não respondera nenhuma das mensagens de Jimin perguntando se ele estava bem, a fim de se esquivar de qualquer situação estranha naquele momento. Sabia que o companheiro não cobraria satisfações, mas estava decepcionado consigo por se encontrar preso em um boato de namoro enquanto estava, de fato, em um relacionamento sério por anos. Era constrangedor. 

Além da vergonha e do vexame, JungKook encontrava-se acometido pelo sentimento desmedido de descontentamento consigo próprio, insatisfeito pela maneira como cometera um pequeno deslize, deixando sua imagem associada a um rumor daquele tipo. Ele dera abertura para que o julgassem segundo algo que não era sua música, seu talento. 

Para tentar lidar com aquela frustração desmesurada que o acometia, ele isolou-se, voltou os olhos para dentro de si e se deixou ser absorvido pelos incontáveis pensamentos que lhe afloravam à mente. Nenhum dos membros, sequer Jimin, seria capaz de retirá-lo daquela introversão. 

Passara o dia na cama, revirando-se em busca de um posição confortável para voltar a dormir, todavia reconhecendo que a falta de comodidade sentida nada tinha a ver com a parte física, mas com o desconsolo que o envolvia. Não jogara vídeo game para relaxar, muito menos comera algo. JungKook somente existira em si e na consternação que envolvia sua alma, melancólico e sozinho. 

A manhã tornou-se tarde, a qual logo tornou-se noite, dando oportunidade para lua abrilhantar o céu com seus tons pálidos e tristes. 

Assim, deixou a cama apenas quando a lua enfeitara o céu, contemplando Seul com o seu brilho ameno. Sentara-se próximo à janela, no chão de seu quarto, escrutinando a solidão do globo iluminado que sobrepunha o mar escuro da noite. Nem sempre JungKook associava aquelas tonalidades tênues do luar a melancolia, mas ali, consternado, não conseguira fugir dessa reflexão sombria. 

Continuara, por um certo tempo, contemplando a lua, perdido um pouco mais na solidão e tristeza do satélite do que na sua própria. Pela primeira vez naquele dia, o seu olhar não estava afogado dentro de si e, apenas naquele momento efêmero, conseguiu desvencilhar-se do pessimismo que sentia, ajudou-o a respirar aliviado. Ele não percebera, mas, desde quando acordara, sua respiração estivera pesada, um tanto penosa. 

Provavelmente, permanceria naquele mesmo local, sentado no chão, observando a lua até não conseguir mais enxergá-la através do campo de visão limitado pela janela. No entanto, a quietude de seu quarto e de seus pensamentos fora maculada pelo som estridente de seu celular, arrancando-lhe dos devaneios em que estava. 

A tela revelava que a ligação era de Jimin e, após ignorá-lo durante o dia inteiro, resolveu que deveria respondê-lo propriamente. No fim, ele merecia explicações sobre o ocorrido, JungKook não tinha o direito de negá-lo. 

— Oi — a voz de JungKook soou calma, embora seu âmago estivesse preso em uma guerra civil de sentimentos conflituosos. 

— JungKookie — chamou pelo mais novo, usando aquela entonação que denunciava estar pisando em ovos, cheios de dúvidas. — Você atendeu, acho que é um bom sinal — brincou depois.

— Passei o dia te ignorando, não queria te deixar mais preocupado — explicou-se, o olhar a ermo, perdido no céu noturno. 

— Te importunei demais? — A pergunta veio atrelada a um riso um pouco forçado. — Ah, quem diria, estou me tornando cansativo para meu JungKookie. 

— Não é isso — negou, permitindo-se rir pela primeira vez no dia, em virtude do tom de falsa indignação usado por Jimin. — Que horas são aí? 

— Madrugada de segunda, acho que por volta das 03:00 horas. E aí?

— Noite de segunda, umas 22:00 horas. Oh, estamos quase em dias diferentes, interessante. 

— JungKookie está no futuro, sabe o porquê? — O outro negou, não tinha uma resposta para a pergunta feita. — Porque você é meu futuro — respondeu a sua própria indagação, antes de cair em um riso desconcertado.

Mesmo estando longe, JungKook conseguia visualizar o jeito envergonhado com o qual Jimin falou aquilo, as mãos indo em encontro ao rosto para escondê-lo, conforme um riso tímido soava, evidenciando o acanhamento. As bochechas proeminentes deveriam estar rubras, coradas. 

Não se conteve, inspirou-se pela leveza alheia, unindo seu riso ao dele. Em um instante, estava melancólico e, no outro, tomado por um sentimento único de júbilo e otimismo. Esse era o efeito que Jimin tinha sobre si, esse era o efeito de amar Park Jimin.  

Jimin, certamente, desejaria rir por horas seguidas se isso significasse colocar um fim à tristeza de JungKook, no entanto tinha plena consciência que não poderiam ignorar o motivo que roubara o sossego do maknae. Dessa forma, não chocou-se quando, enfim, ele foi trago à tona.  

— Aquela foto — começou, ainda normalizando a respiração após a euforia do riso. — Não foi tirada no contexto que estão comentando. Mi Joo não tem esse papel na minha vida. 

— Eu sei — respondeu rápido e resoluto. — Não te liguei para cobrar explicações, jamais te cobraria isso. 

— Você mandou tantas mensagens, eu pensei…. — JungKook não concluiu a frase, mas Jimin subentendeu o que não fora proferido.

— No episódio da boate de Paris, quando aqueles inúmeros rumores sobre mim surgiram, você acreditou em algum deles?

— Não. 

— Do mesmo jeito, não acreditei no que falavam sobre você — enunciou calmo, um pouco preocupado que suas palavras soassem como indignação. — Durante todo o dia, a única coisa que senti foi preocupação, eu estava preocupado, JungKook-ah.

Apenas ao ouvir as últimas sentenças ditas pelo homem do outro lado da linha fora que JungKook conseguiu enxergar o panorama da situação dessa perspectiva. Recordava-se de se sentir apreensivo por Jimin no dia que surgiram boatos distorcidos sobre ele em Paris, mas nunca chegara a duvidar da integridade moral dele. 

— Eu te deixei preocupado — falou, constatando o óbvio. 

— Deixou — afirmou incisivo —, mas não estou falando isso para que se sinta culpado, só para que você saiba que, ao decorrer do dia, eu sabia exatamente a forma como você estava se sentindo. 

— Como eu estive? — Questionou, interessado pela resposta alheia. 

— Emburrecido com a situação, frustrado consigo, com vergonha de mim. 

— Oh.... — JungKook ficou boquiaberto pela precisão de Jimin, admirado.

 — Sempre que você está assim, isso me preocupa. 

— Por quê? — Perguntou demonstrando interesse.

— Porque, de todas as pessoas que conheço, JungKook, você é o mais rico de emoções — respondeu, sincero. — Sentimentos transbordam de ti e, por mais que você tente, não consegue contê-los, silenciá-los. 

— Sentir demais é ruim? — A voz manifestava surpresa. JungKook era introspectivo naturalmente e, desde que se recordava, aqueles que estavam em seu entorno tentavam tirá-lo desse estado de imersão em si mesmo. 

— Não é. Mas, no seu caso, é um pouco preocupante, já que, quando você sente algo, seu corpo fala por você, suas feições mudam, sua postura também. É fácil de perceber se existe alguma coisa errada, te incomodando. 

JungKook ainda era incapaz de enxergar onde estava o problema em ser tão transparente e, assim, as palavras de Jimin não estavam fazendo o menor sentido dentro de sua cabeça. 

 — Ainda não entendo porque isso é preocupante. 

— Calma — Jimin sorriu —, vou chegar nessa parte ainda. JungKook-ah, não seja apressado  — Jimin pensava em cada palavra dita, tomando cuidado para que não pudessem ofender JungKook. —  Por algum motivo, sempre que você percebe que está em uma situação vulnerável e suas emoções estão visíveis para qualquer um, você se esconde dentro de si, fecha-se para o mundo e retorna para sua concha. É nesse ponto que reside a preocupação. 

Os olhos de JungKook ainda estavam agarrados ao céu noturno, presos à solidão da lua. A imensidão escura estava estática, salvo pela movimentação morosa das poucas nuvens que ornavam entre as estrelas. Era um cenário bonito, salpicado de tristeza, mas ainda passível de admiração. 

Conseguiam ouvir as respirações pesadas um do outro, evidenciando que ainda estavam na chamada, todavia, nada mais foi pronunciado por nenhum deles após a última frase de Jimin. 

JungKook estava fragilizado devido os acontecimentos recentes, decepcionado com si próprio e, ao decorrer do dia, enquanto manteve-se enclausurado dentro do seu quarto, afogara a vontade incontrolável de chorar, de dar voz às dores que o corroíam. Entretanto, tocado pela sinceridade das palavras de Jimin, parou de se reprimir.

Bem ali, olhando através de sua janela, JungKook assistiu uma estrela, pequena e solitária, cair do céu, sem rumo. E ele, vendo-a decair sozinha, simpatizou-se, dando permissão para que suas lágrimas vertessem silenciosamente pelo seu rosto e fluíssem, perseguindo a estrela cadente.

As lágrimas derramadas caíram serenas, desacompanhadas de choro ou de lamentações. JungKook esforçava-se para que os ruídos lastimosos não escapassem pelos seus lábios finos. Era difícil sustentar a pose enquanto a  vergonha queimava em seus olhos e a frustração ardia em sua garganta. 

Do outro lado da linha, Jimin escutava os barulhos controlados do choro alheio, sentido-se apreensivo por JungKook continuar represando os sentimentos ruins que sentia. Naquele momento, estava impotente frente à impossibilidade de não conseguir confortá-lo em seu abraço. Fechou os olhos e mentalizou o rosto alegre e doce de seu maknae, mais que nunca, ansiou para vê-lo feliz. 

Embora não estivessem pronunciando uma única palavra sequer, JungKook poderia dizer, com facilidade, que Jimin estava angustiado com aquela ligação, com aquela quantidade desmesurada de emoções ruins e com seu choro que não eclodia. Pensou que deveria findar a chamada para dar-lhe paz, mas, antes que pudesse fazê-lo, fora surpreendido pelo toar terno da voz dele. 

Jimin não tinha plena consciência do que estava fazendo quando decidiu cantar as primeiras estrofes de Serendipity, apenas pareceu adequado. Bem mais que sua música solo, aquela canção, naquele momento de angústia, era uma oração, uma reza para que o coração turbulento de JungKook acalmasse ao menos um pouco. 

Um poema de amor recitado na esperança de que pudesse salvá-lo, ceder-lhe conforto. Jimin ansiava que a melodia de sua voz alcançasse JungKook, reparando as máculas que insistiam em lhe roubar o sorriso. 

Durante toda a ligação, Jimin estava deitado na cama do quarto do hotel em que estivera hospedado nos últimos dias. No entanto, sentou-se sobre o colchão e encolheu as pernas para que conseguisse apoiar a cabeça sobre os joelhos segundos antes de começar a cantar. Seu corpo demonstrava insegurança, por isso, estava tão encolhido, acometido pelo incerto. 

A postura mudou rapidamente depois que se sentiu livre de receios acerca de sua atitude. Abandonou a cama e os lençóis macios e caminhou pelo quarto até se aproximar da janela. A madrugada já havia esvaído-se e a manhã já despontava, banhando a cidade com os tons amarelados do sol que emergia.  

Não se permitiu parar de emitir a sua voz por nenhum instante, seguiu cantando ao passo que se maravilhava com o resplandecer do nascer do sol. Jimin desejava dar voz ao coração silencioso de JungKook, que perdera todas as palavras e sofria, calado. As memórias que o machucavam ecoavam dentro dele e, embora conseguisse ouvi-las, queria assisti-las perturbar o mundo ao entorno conforme eram extravasadas. 

Cantou, tão calmo e tão brando como nunca. Elevou o tom para que JungKook sentisse, mesmo com a distância, abraçado pela ternura de sua voz. Estava pedindo, às surdinas, para que o coração inquieto não se preocupasse mais em conter tudo que o afligia. Estava implorando, com sua música, para que respirasse fundo e deixasse fluir o choro e a dor. 

Jimin estava cantando para JungKook, que esqueceu como era chorar bem alto.

E JungKook ouviu Jimin cantar, também escutou todos os seus pedidos escusos. Então, chorou, deixou fluir. 

Diferente das primeiras lágrimas, que correram silenciosas sobre sua face, as seguintes não conseguiram eclodir na mesma calmaria, atreladas a um pranto existencial que consumia o interior consternado de JungKook. O líquido salgado vertia licencioso por suas bochechas, deflagrando o choro triste que estivera preso em sua garganta.   

A frustração estava sendo arrancada de suas entranhas e posta para fora, abrindo espaço para sensações mais leves, sentimentos melhores. O pranto descontrolado engolia o timbre angelical que cantava para si do outro lado da linha, mas que não demonstrava esmorecimento por não estar sendo propriamente ouvido. 

A música chegou a sua última estrofe, mas o choro de JungKook não parecia estar próximo de acabar. Jimin não se desanimou, seguiu cantando a canção, como se ela não tivesse fim, fosse eterna. 

Sem demonstrar cansaço, Jimin persistiria cantando, sinalizando que estaria, em qualquer situação ao lado de JungKook, até mesmo quando ele acreditasse estar sozinho. Embora não pudesse confortá-lo presencialmente, esperava que seu canto oferecesse o mínimo de conforto. 

Se JungKook se permitisse ouvir, apenas por um minuto, Jimin cantaria para ele, que estava caminhando sozinho por uma noite especialmente longa. Logo atrás dele, estaria lá sempre e assim o fez.

Por minutos que ninguém se deu o trabalho de contar, JungKook chorou e expurgou suas dores. Ao mesmo tempo, Jimin continuou cantando Serendipity, permitindo que os versos da lírica doce embalassem o coração machucado alheio, dando-lhe oportunidade de se curar. 

Quando as lágrimas secaram e o chorou findou-se, JungKook afirmaria, com uma certeza inabalável, que era a pessoa mais leve na face da terra. A frustração, a angústia, o desapontamento, tudo desvaneceu. Estava limpo, seu espírito encontrava-se asseado. 

A voz de Jimin, todavia, não cessou. Ele continuava cantando, por mais que não ouvisse mais o barulho do choro de JungKook. 

— Jimin-ssi, você já pode parar — informou, usando as costas da mão para limpar o nariz melado. —  Já estou melhor. 

— Oh, tão rápido? JungKookie é realmente um homem forte —  brincou, a fim de mudar atmosfera. — Eu não me importaria de cantar mais, enjoou de minha voz?

— Não precisa se esforçar tanto — respondeu enquanto cedia ao riso despertado pelos gracejos de Jimin. — Agora, eu estou bem. 

— Se precisar me ouvir cantar novamente, algum dia, é só chamar. Ficarei feliz. 

— Você supostamente não deveria me falar para não me permitir mais me abalar por coisas desse tipo? — Questionou, a cabeça tombando para o lado, interessado pela resposta. 

— Não enxergo vantagens em te pedir para ser mais forte, JungKookie já é forte o bastante — explicou-se. — Suas fraquezas, as fragilidades que residem em você, são elas que te tornam alguém poderoso, grandioso de espírito. Por favor, me mostre mais de sua força, me deixe ver seus pontos fracos, eu vou te ajudar a superá-los. 

— Jimin, eu…

— Me escute — pediu, interrompendo aquilo que ele iria falar. — Não hesite em me chamar quando estiver triste. Não importa o motivo, estarei cantando até o fim se for preciso para que, quando sua longa noite chegar ao fim, você possa levantar sua cabeça e, assim perceber que eu sempre estive exatamente lá, ao seu lado. 

— Mas não quero que você se sobrecarregue cuidando de...

— JungKook-ssi, seu moleque! — Gritou, a falsa ofensa salpicada na voz. — Não interrompa os mais velhos — concluiu, dessa vez, sem gritarias, retornando para aquilo que falara antes. —  Eu farei tudo isso e não irei reclamar durante um mero segundo sequer, porque, no fim, o que se sobressai é que você sou eu.

— E eu sou você —  completou a letra de Serendipity, misturando o som de seu riso acanhado ao de Jimin. — Estaremos juntos — prometeu. 

Jimin e JungKook eram um poema de amor que não possuía fim, que deveria ser recitado para sempre, eternizado.

 

 


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham amado a leitura e se apaixonado um pouco mais por esses dois. Enfim, Jikook casados e quem discorda está errado.



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