Havia algo dentro dele, uma constante tempestade que nenhum raio de Sol conseguiria quebrar, um mar revolto de memórias de sua longa existência completo de pequenos flashs de todos seus piores momentos andando pelo mundo, seja ele o novo ou o velho.

É claro que reconhecia ter tido também seus bons momentos, algumas vezes permitiu-se aproveitar a boa companhia de uma bela mulher ou de um belo rapaz, ou dos dois quando deixava-se consumir pela luxúria, algumas vezes também permitiu que seus irmãos passassem mais tempo ao seu lado, controlou sua paranoia e aquietou seus medos para que a ilusão de que poderiam ser um família apesar de tudo pudesse parecer mais real, nesses momentos diria que foi inundado pela esperança.

Nenhum destes durava muito, ou permanecia em seu ser como constante. Nenhum outro pecado ou sentimento puro conseguia marcar o seu ser.

Niklaus é a ira. Imparável e incontrolável. Impulsionando a destruição até do que jura amar.

Por muitas vezes disse, gritou, que o tinham ensinado tal forma de viver, mas a verdade, é que julgava ter nascido desta forma, deduziu há muito tempo que ser o fruto de nada mais que a raiva de uma mulher gananciosa e a vontade de um ser muito mais animal que homem era a razão pela qual tal pecado estava atado ao seu dna, à estrutura de sua própria alma, ser logo depois criado por alguém que o enxergava como o produto desprezível de tal ato não deixava escapatórias em como sua linha de vida seria tecida ao resto do pano da história.

Um monstro. A imagem era tão fortemente pintada quando qualquer um de seus quadros. A lenda criada no meio sobrenatural, um nome passado de boca em boca até que sua existência se tornasse mitológica, um pesadelo que poderia se tornar realidade à qualquer momento.

Tudo sobre ele deveria ser feio, assustador, mas a realidade era bem diferente da imaginação popular, e mais vezes que não, era comum que a chapeuzinho se apaixonasse pelas características estranhas do lobo mal. Presenciar algum momento de Klaus em ira era algo além do fascinante, de forma superficial, o homem tinha um dos mais belos rostos já vistos, uma das mais belas vozes já escutadas e seus olhos, Deus, seus olhos eram universos azuis, com pequenas estrelas castanhas e sua pupila um buraco negro, sugando tudo ao seu redor até que restasse somente o vácuo. E então ele se movia, depositando toda sua raiva em movimentos tão fluídos e revoltos que muitas mentes poderiam se prender num loop eterno de tal momento, o sangue de seu alvo respingava em seu rosto, cobria suas mãos e tudo isso era terrivelmente lindo.

Niklaus é a ira. E a ira é uma chama forte que nunca poderá ser apagada, que pode aquecer alguns e queimar de forma instantânea à outros e que mesmo quando sabemos da polaridade do efeito ainda queremos nos aproximar, ainda queremos transformar o calor na fonte de energia para algo mais. Que nunca se realizará, talvez então reste-nos aceitar apenas um pouco de tal pecado em nossa alma, assumir o fardo de carregar parte de algo que compõe o ser mais poderoso do universo e reconhecer a necessidade de tal na existência.

Se você for sortudo o suficiente talvez saía vivo do olho da tempestade.