The Phantom Agony escrita por Yuma Ashihara


Capítulo 2
Reencontrando Kim Taehyung


Notas iniciais do capítulo

Eu estava ansioso para trazer o segundo capítulo desse projeto maravilhoso!

Eu disse que seriam apenas 3 capítulos né? Pois eu mudei de ideia rsrsrs Ainda não estimei quantos capítulos teremos aqui, mas vai ficar legal, prometo.

Boa leitura!



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Passei os dias que se seguiram àquele evento tentando entender o que de fato havia acontecido naquele momento, às vezes perdendo-me no meu próprio reflexo no espelho enquanto observava o meu rosto e corpo, agora cobertos por aquela roupa branca que eu não fazia ideia do que significava. Pensei por tanto tempo tentando encontrar alguma resposta para aquela situação, mas no fim acabei desistindo. Afinal, não valeria a pena continuar insistindo em entender algo que aparentemente não tinha explicação, bem como tudo o que estava acontecendo após a minha morte.

Mesmo depois daquele dia as criaturas retorcidas continuavam a aparecer, acompanhando um Namjoon que chegava em casa todos os dias cansado. Ajudava-o sempre que conseguia, expulsando aquelas criaturas horrendas de dentro de casa quando ele se deitava para dormir. Ainda não conseguia entender como aquilo acontecia, ou o porquê daqueles espíritos o perseguirem.

Pelo menos naquela época.

Convivemos juntos por um bom tempo daquela forma, Namjoon sem conseguir me enxergar e eu expulsando as criaturas feias que o incomodavam à noite. Era uma rotina um tanto entediante, e até mesmo provocar Namjoon em uma tentativa de assustá-lo acabou perdendo a graça com o passar do tempo. Como estava preso dentro da minha própria casa, não tinha noção do tempo que havia se passado desde que havíamos começado a compartilhar os mesmos espaços, afinal, para mim não importava o tempo, visto que as coisas continuariam a ser do jeito que sempre foram.

Porém, fui completamente surpreendido em uma das muitas noites em que Namjoon voltava do trabalho cansado. Naquele dia eu já imaginava que ele estaria acompanhado de uma criatura retorcida, principalmente pela expressão cansada e pelas olheiras fundas abaixo dos olhos. Até mesmo rolei os olhos quando o vi se sentar de qualquer jeito sobre o sofá, passando as mãos pelos cabelos pretos e os puxando brevemente com os dedos.

Foi então que eu o vi atravessando a porta que Namjoon havia fechado momentos antes. Meus olhos se arregalaram em incredulidade e pela primeira vez em muito tempo senti todo o meu corpo tremer. Eu reconheceria aqueles olhos delineados e rosto marcado em qualquer lugar, mas eu não esperava vê-lo ali, os olhos vermelhos e inchados indicando que estava chorando há muito tempo, os lábios comprimidos e a expressão desesperada, vestido com as mesmas roupas brancas que eu.

Sequer consegui pronunciar uma palavra sequer, e depois de muito tempo seus olhos se encontraram com os meus, arregalando-se tão surpresos quanto. Separei os lábios em surpresa, porém não conseguia proferir palavra alguma, não conseguia acreditar que ele estava ali.

— Yoongi?

A voz grossa ecoou pelo cômodo, tão confusa como eu estava, e então eu apenas tive ainda mais certeza. A pessoa que eu mais detestei durante toda a minha infância e adolescência, a pessoa que foi o estopim para o meu descontrole que ocasionou no meu acidente de carro e na minha morte.

Kim Taehyung.

Ele morreu? Ele não havia debutado como um idol e não estava fazendo sucesso pela Coréia a fora? O que aconteceu para ele estar ali, diante de mim e perseguindo Kim Namjoon? Eram perguntas que eu queria fazer a ele naquele momento, porém não conseguia proferir palavra alguma. A única coisa que consegui fazer foi observar Taehyung se aproximando novamente de Namjoon, sentando-se ao seu lado e implorando para que o mesmo o ajudasse, sendo completamente ignorado. Eu queria dizer à ele que não adiantava, que ele não era capaz de nos ver, mas não conseguia.

Aquela situação continuou daquela maneira por dias e eu simplesmente não conseguia fazer nada para afastar Taehyung de um Namjoon que aparentava estar cada vez mais cansado. Primeiramente pelo choque por ver que ele estava morto, e em segundo lugar por não reconhecer aquele Taehyung, que em nada se assemelhava com o rapaz que vivia em minhas lembranças. O semblante alegre e sempre otimista deu lugar para um completamente amargurado e distorcido em expressões de preocupação e medo constantes, conseguia sentir sua insegurança de longe e seus olhos não tinham um foco em específico.

A única vez em que eu consegui me dirigir à Taehyung de forma decente foi quando, no meio da noite, enquanto Namjoon tentava desesperadamente dormir para trabalhar no outro dia, vi Taehyung lançar-se ao chão trêmulo, chorando alto e sem segurar o grito amargurado:

— Eu te imploro! Por favor me ajuda! Eu não vou conseguir salvar o Hoseok sozinho! Eu não posso deixar ele morrer!

Vi Namjoon abrir os olhos naquele momento, encarando o teto com um ar pensativo. Porém, ele apenas virou-se de costas para um Taehyung que desabou em prantos mais uma vez. Foi apenas naquele momento que eu consegui me aproximar. Eu não sabia quem era Hoseok e porque Taehyung estava daquele jeito por ele, mas eu já não aguentava mais vê-lo naquele estado e sem respostas.

Foi naquele dia que eu percebi que até a mais alegre e otimista das pessoas podem se quebrar e se tornar alguém em frangalhos como eu sempre fui. E doía vê-lo daquela forma.

Daquele dia em diante começamos a conversar e, de certa forma, a nos aproximar mais. Taehyung me explicou que Jung Hoseok era o seu namorado, um veterinário que trabalhava no centro de Seoul. Contou também sobre como era a sua vida como um idol e como a exigência de seu agente o fez cair em uma depressão profunda, onde descontava todas as suas frustrações no álcool e no cigarro.

Mas não foi aquilo que me surpreendeu e me fez querer me aproximar mais de Taehyung.

— Não adianta esconder mais, agora que estamos mortos.

Ele me disse enquanto ria triste, finalmente revelando o real motivo de ter deixado Daegu e ter se mudado para Seoul. Após anos sorrindo e tentando passar a imagem de uma pessoa otimista que tinha uma boa vida e um bom relacionamento com os pais, finalmente ele revelou que, na verdade, a vida que tinha dentro de casa era completamente diferente da que ele deixava transparecer.

Seu pai era um alcoólatra que gostava de agredir a mãe e a ele quando estava no auge de sua loucura, tanto física quanto sexualmente. Taehyung foi obrigado a crescer em um ambiente onde era mais do que comum ver sua mãe sendo brutalmente agredida pelo pai quando chegava da escola, onde mal conseguia dormir a noite com medo do pai aparecer em seu quarto para "brincar" consigo, com medo de discordar de qualquer coisa ou ação do mesmo e acabar apanhando como sua mãe.

Os únicos momentos de distração que tinha daquele ambiente tóxico era quando estava na escola ou na minha casa, e era por isso que gostava tanto de passar o máximo de tempo possível na minha casa, e que insistia tanto em ficar quando começava a dar a hora de ir embora. Sua situação piorou quando eu decidi vir para Seoul, deixando-o sozinho para lidar com os próprios problemas familiares.

Foi em um dia quando estava chegando em casa frustrado por não ter conseguido um emprego que a sua vida mudou pela primeira vez. O pai de Taehyung estava completamente bêbado enquanto ameaçava a mãe mais uma vez, e por um impulso pegou uma das inúmeras garrafas de cerveja do pai que estavam espalhadas pela sala, avançando contra o homem que foi pego desprevenido. Taehyung quebrou a garrafa na cabeça do pai, em seguida empurrando-o para o chão para subir em seu corpo, e não parou de golpeá-lo no peito com a garrafa quebrada até que sua mãe pulou em seu corpo aos prantos, dizendo que o pai já estava morto.

Sua mãe pediu que saísse de casa, que fugisse para um lugar bem longe de Daegu. Segundo ela, a polícia não acreditaria se Taehyung dissesse que havia matado o pai para ajudá-la, e que era mais provável que acreditassem que havia sido ela agindo em legítima defesa. Desta forma, e sem ter tempo para processar o que havia feito com o pai, Taehyung arrumou as suas coisas e com a ajuda do dinheiro de sua mãe, fugiu para Seoul sem saber o que o futuro o aguardava.

Teve dinheiro o suficiente para se hospedar em uma república para garotos no centro de Seoul, compartilhando o quarto com mais quatro garotos. Foi ali que conheceu Jung Hoseok, que na época ainda era um simples estudante de veterinária que trabalhava como vendedor em uma loja de roupas para conseguir custear os estudos, e que acabou ajudando Taehyung a conseguir o seu primeiro emprego, na mesma loja onde trabalhava. Tornaram-se amigos muito rapidamente e não demoraram para perceber que logo se tornariam muito mais do que isso.

Saíram da república assim que se descobriram apaixonados um pelo outro e alugaram um pequeno apartamento perto da faculdade de Hoseok. Porém, o dinheiro que recebiam não era o suficiente para que se sustentassem sozinhos e, por mais sacrifícios que fizessem, ainda passavam por dificuldades.

Foi em um dia quando estava voltando para casa que foi abordado por uma mulher desconhecida, dizendo que era de uma agência de entretenimento chamada BigHit Entertainment. A mulher explicou muito rapidamente que estavam procurando por novos rostos para fazerem parte de um novo grupo que queriam lançar em breve, e entregou um panfleto com mais informações e a data em que a audição aconteceria. Taehyung voltou para casa pensativo naquele dia, e após conversar com Hoseok sobre isso, decidiu ir a audição que aconteceria no final de semana.

Taehyung sentiu-se extremamente deslocado ao chegar na sede da BigHit, e de repente se viu envergonhado por precisar cantar na frente de tantas pessoas já que eu sotaque do interior era nítido. Após algumas apresentações e a certeza de que haviam pessoas infinitamente melhores do que si, a notícia de que havia passado para se tornar um trainee o pegou completamente desprevenido. Voltou para casa naquele dia com a excelente notícia, que deixou Hoseok feliz e orgulhoso de si.

Porém, não fazia ideia dos sacrifícios que teria que fazer se quisesse se tornar um idol. As aulas de dança, música, canto e composição tomavam tanto de seu tempo que foi obrigado a abandonar o emprego na loja de roupas, e pouco tempo depois decidiu se mudar para um dos muitos dormitórios que existiam na BigHit. Taehyung mal conseguia tempo para si mesmo e seu agente, que também cuidava dos meninos que dividiam o dormitório consigo, não era uma das pessoas mais agradáveis que já conheceu. Era um homem carrancudo que sempre exigia que seus trainees fossem além de seus limites para provar seu potencial. E Taehyung sempre ia além, esforçando-se ao máximo e por diversas vezes passando mal de exaustão, porém nunca desistia, afinal, se realmente conseguisse debutar finalmente poderia ter uma vida plena ao lado de Hoseok, e poderia até mesmo ajudar a mãe em Daegu, talvez até trazê-la para Seoul.

No fim seus esforços valeram a pena e Taehyung finalmente iria debutar como um idol, mas não mais como membro de um grupo. Seu destaque fora tamanho em comparação com os demais trainees que seu agente decidiu que debutaria como um artista solo, sob o pseudônimo de V. A notícia encheu Hoseok de alegria, que ficou sabendo por uma ligação do companheiro. Nas semanas que se antecederam ao debut de Taehyung os dois mal conseguiam se ver, limitando-se a se falarem por mensagem. Estava ocupado compondo as músicas que sairiam em seu primeiro álbum, treinando e, principalmente, exercitando-se e fazendo uma rigorosa dieta. Segundo seu agente, precisava estar em forma e dentro dos padrões o mais depressa possível para que seu debut fosse perfeito.

O que obviamente não era nem um pouco saudável para Taehyung, que passava mal constantemente no set de gravações do seu MV de debut pela desnutrição e tinha vertigens constantes sempre que fazia movimentos bruscos. Sequer percebeu que estava começando a ficar doente, engolindo algodão para encher o estômago e não sentir fome, forçando o próprio vômito escondido quando achava que comia demais, e privando-se de comer para não engordar. Precisava debutar, e tudo tinha que ser perfeito.

Então o grande dia chegou e o MV de Singularity foi lançado, seguido por uma grande campanha promocional feita pela BigHit para promover a sua carreira e o seu primeiro álbum. Propaganda esta que fez com que eu perdesse o controle quando voltava da loja de conveniência antes de morrer em meu acidente de carro. Não tive a oportunidade de ouvir, mas Taehyung falava com orgulho sobre as músicas que havia escrito para aquele que seria o seu primeiro e único álbum. Stigma, Scenery, Winter Bear, entre outras.

Taehyung era um sucesso estrondoso.

Ganhou tanto dinheiro apenas com Singularity que comprou um apartamento para morar com Hoseok em segredo para que suas fãs não soubessem e acabasse sujando sua imagem e a imagem da BigHit, conseguiu trazer sua mãe para Seoul, que agora morava com um homem que a tratava como merecia, e continuava trabalhando e dando o melhor de si para que a sua carreira continuasse em alta. Participou de vários programas e talk shows, e por mais que nunca tivesse sequer passado por algumas daquelas situações, estava conseguindo lidar bem com a situação.

Até que uma notícia sobre o seu relacionamento com Hoseok vazou na internet.

Foi em um dia em que foram jantar em um restaurante pequeno que costumavam ir desde antes de seu debut. Hoseok era um grande amigo do cozinheiro e dono do estabelecimento, que sempre os recebia bem e sempre garantia uma mesa reservada e longe dos olhares curiosos e das câmeras mal intencionadas que sempre procuravam por um furo de Taehyung. Naquele dia eles ficaram conversando com o cozinheiro até mais tarde, Hoseok tentando animar o amigo que estava nitidamente abalado por conta de uma perda recente, e foi naquele momento que eu soube de quem eles estavam falando.

Kim Seokjin.

Eu não ouvia sobre Seokjin desde o dia em que eu havia morrido, mas sabia que ele se sentia extremamente culpado por ter me emprestado o carro no dia da minha morte. E Taehyung apenas reforçou o que eu tinha em minha mente, mas, aparentemente, não sabia que o motivo da tristeza profunda de Seokjin estava bem na sua frente naquele momento.

Taehyung e Hoseok foram fotografados enquanto conversavam com Seokjin sobre mim, a imagem levemente borrada que fora tirada por um fotógrafo amador rapidamente começou a circular na internet, o twitter explodindo com as mais variadas teorias. Todo aquele burburinho não foi bom para Taehyung, que precisou aguentar os comentários preconceituosos de seu agente, que até mesmo foi capaz de agredi-lo para ensinar-lhe uma lição, segundo suas palavras.

A BigHit não demorou para tomar as devidas providências, e em pouco tempo a internet estava em paz e o assunto de seu relacionamento com Hoseok já havia caído no esquecimento. Taehyung ficou alguns dias sem voltar para casa, dormindo em seu antigo dormitório para se recuperar dos hematomas feitos pelo seu agente, que depois daquele episódio passou a ser mais violento com Taehyung, obrigando-o a participar de eventos, dar entrevistas e agir de uma forma que não queria. Quando menos percebeu, estava sendo completamente controlado pelo seu agente, sequer conseguia respirar em paz sem a permissão dele.

Acabou perdendo muito peso com aquilo, seu estado de saúde se agravando ainda mais. Taehyung começou a beber muito e passou a fumar para tentar se distrair e se esquecer das coisas que estava sendo obrigado a fazer em nome da sua carreira. Sabia que estava deixando Hoseok preocupado, mas estava em um beco sem saída naquele momento.

Foi em um dia em que estava esgotado de tanto ensaiar que seu agente perdeu completamente o controle consigo. Taehyung estava tão fraco e havia se esforçado tanto em aprender a coreografia do single que lançaria nos próximos meses que mal conseguia se manter em pé. Errava alguns passos, sentia tonturas e às vezes a visão escurecia, indicando que poderia desmaiar a qualquer instante, até o momento em que foi ao chão completamente exausto. Taehyung suava bastante e respirava forte tentando oxigenar os pulmões fracos quando o seu agente se aproximou furioso, erguendo-o do chão sem um mínimo de cuidado e o arrastando pelo braço para fora da sala de ensaios.

Não conseguiu ver para onde estava sendo levado, apenas tomando cuidado para não cair no chão enquanto seguia o homem que o puxava com raiva, até o momento em que entraram em um cômodo e foi violentamente jogado contra a parede, a dor o consumindo por inteiro naquele momento. Logo em seguida Taehyung foi ao chão, e, sob xingamentos e palavras pejorativas, começou a ser brutalmente agredido pelo seu agente que não media esforços para machucá-lo de todas as formas possíveis.

Naquele momento as imagens de sua infância tóxica se fez presente em sua mente até o momento em que acabou matando o próprio pai, mas naquele momento estava tão fraco pela desnutrição e já havia apanhado tanto que mal tinha forças para se defender. O rosto sangrava bastante, e aos poucos foi perdendo os sentidos.

Kim Taehyung morreu pelas mãos de seu agente que, mesmo após perceber que o corpo do rapaz estava sem reação, continuou a agredi-lo com raiva. Mesmo depois de morto, sentiu cada novo golpe, ouviu cada nova palavra, até o mesmo se cansar e sair.

Diferente do que aconteceu comigo, Taehyung demorou um bom tempo para sair do corpo já sem vida, fazendo isso dias depois, quando seu agente já havia inventado uma desculpa qualquer para a sua morte. Taehyung ficou olhando para o próprio corpo incrédulo antes de finalmente sair de perto, sem saber aonde estava, começando a vagar por lugares de Seoul que não conhecia. Demorou alguns dias para descobrir que a BigHit havia divulgado uma nota onde dizia que provavelmente havia cometido suicídio, quando na verdade fora brutalmente assassinado por seu agente.

Porém, apesar de tudo aquilo e do fato de ainda estar processando o fato de estar morto, a única coisa em que conseguia pensar era em como Hoseok poderia estar diante de tudo o que havia acontecido. E foi com ele em mente que Taehyung o procurou em todos os cantos da cidade de Seoul. Descobriu que após sua morte Hoseok vendeu o apartamento onde moravam e doou todo o dinheiro para ajudar as crianças do interior de Daegu a terem uma educação de qualidade, e por isso demorou para encontrá-lo novamente.

Mas Taehyung não imaginava em que estado encontraria o namorado.

Hoseok estava muito magro e deprimido, sentindo-se culpado por não ter sido capaz de ajudar o namorado, que pensava ter cometido suicídio por conta da nota divulgada pela BigHit. Afundava-se a cada dia que se passava, porém, ele não estava sozinho. Para pavor de Taehyung e meu pavor também, Hoseok estava com uma criatura disforme agarrada em seus ombros e que nitidamente sugava toda a boa energia que tinha dentro de si, dando lugar aos pensamentos depressivos e suicidas que passou a ter após a morte de Taehyung, que naquele momento decidiu que precisava fazer alguma coisa para ajudar o namorado.

Taehyung tentou tocar Hoseok, abraçá-lo e dizer que estaria tudo bem, mas apenas atravessou direto pelo corpo do companheiro enquanto chorava por não poder mais ser capaz de sentir o calor do corpo de seu amado homem, e então se sentou no chão mesmo, a angústia tomando conta de seu corpo quando ouviu uma voz ao seu lado.

— Você está bem?

Taehyung ergueu os olhos no mesmo instante, encarando com os olhos cheios de lágrimas o rosto do homem que estava agora ao seu lado com a expressão preocupada, os cabelos pretos caindo por cima do rosto em formato de coração. Em um primeiro momento eu não quis acreditar, mas conforme Taehyung continuava a descrevê-lo, eu passei a não ter mais dúvidas.

Aquele homem era Kim Namjoon.

Os olhos delineados o encaravam com sinceridade e Taehyung fungou, principalmente quando o rapaz ergueu a mão para si. Como um ato reflexo, ergueu a mão para segurar a de Namjoon, vendo como ela atravessava o corpo daquele homem que lhe parecia tão gentil. Naquele momento viu a surpresa no rosto do rapaz, que mais do que depressa mudou a postura e passou a ignorá-lo completamente. Porém, por mais que não o tivesse tocado, Taehyung sentiu algo diferente, principalmente ao constatar que as roupas que usava no dia de sua morte havia desaparecido, dando lugar ao conjunto branco que usávamos.

Taehyung começou a seguir Namjoon depois daquele momento, tentando de todas as formas se comunicar com ele novamente, porém era apenas ignorado como resposta.

Quanto a mim, estava completamente atônito e impactado com o que havia acabado de ouvir, tanto que sequer percebi a presença de Namjoon no local, que estava olhando para um ponto qualquer com uma expressão pensativa. Eu sequer podia imaginar que o Taehyung que eu detestava quando criança pudesse ter tido uma vida tão miserável quanto a minha, e que ainda conseguia se manter firme o suficiente para mostrar para as pessoas que estava bem, quando claramente não estava.

Aquilo fez surgir um grande aperto no meu peito que há muito não sentia, e me fez ficar pensativo durante os dias em que Taehyung continuava insistindo em tentar fazer contato com Namjoon. Definitivamente era muito em que pensar, mas, de alguma forma, eu gostaria de ajudá-lo com Hoseok se isso fosse tranquilizar sua mente perturbada mesmo que fosse um pouco.

Outra coisa que me chamou a atenção em seu relato extraordinário foi o fato de Namjoon ter feito o primeiro contato, e não o contrário. Aquilo me fazia pensar se ele realmente conseguia nos enxergar e nos ouvir, se ele sabia que aquelas criaturas horrendas o acompanhavam até em casa e o perturbavam todas as noites, e minhas dúvidas apenas aumentavam quando me lembrava da noite em que o ajudei pela primeira vez, e do que havia acontecido com as minhas roupas logo em seguida. E se estivesse certo, talvez Namjoon pudesse me ajudar a entender o que de fato estava acontecendo comigo, por que não conseguia sair de dentro daquela casa desde o dia em que morri, qual o sentido de tudo o que estava acontecendo.

A minha prioridade nos dias que se seguiram foi tentar sair de dentro daquela casa, afinal, se eu quisesse ajudar Taehyung precisava me locomover e no começo pensei que a súbita mudança das minhas roupas pudesse significar algo nesse sentido. Tentei sair algumas vezes quando Namjoon e Taehyung não estavam, e em todas senti aquela forte pressão na altura do estômago lançar-me violentamente para dentro de casa. Tentei quando os dois estavam em casa, até mesmo com a ajuda de Taehyung que tentava me puxar para o lado de fora, porém em todas as tentativas acontecia a mesma coisa, e eu era arremessado violentamente para dentro todas as vezes.

Houve um dia, porém, que fui arremessado com tanta força para dentro de casa que acabei atravessando o corpo de um Namjoon que passava por ali no exato momento. Minhas costas bateram contra a parede com tanta força e a dor que eu senti foi tamanha que soltei um grunhido alto dos lábios. Mas o que me espantou não foi isso, mas sim ver a expressão completamente assustada de Namjoon, que havia se virado subitamente para mim. Ele estava me olhando diretamente com os olhos arregalados, e até mesmo Taehyung parou o que fazia para encará-lo em silêncio.

Eu não sabia o que fazer além de encará-lo de volta. Ele estava me vendo? Ele sentiu quando eu o atravessei daquela forma? Aquelas perguntas não saíam da minha cabeça enquanto o observava. Namjoon voltou o olhar para a porta de entrada, que foi por onde fui arremessado, e ficou a encará-la em silêncio por mais alguns segundos, como se estivesse pensando, e então voltou os olhos para mim se novo, como se tivesse chegado a alguma conclusão.

E eu continuava sem entender o que estava acontecendo com ele.

Vi Taehyung se aproximar quando Namjoon pareceu ter recuperado a postura, retomando os passos que dava para o corredor, passando diretamente por mim, porém ignorando completamente a minha presença. Continuei a encará-lo cheio de dúvidas e iria comentar sobre isso com Taehyung se não tivesse sido interrompido.

— Se você quer sair, eu te dou permissão.

A voz grossa de Namjoon saiu baixa de seus lábios, mas consegui ouvir perfeitamente as suas palavras. Mas a única coisa que consegui pensar no momento foi:

— Mas que caralhos foi isso? - Deixei escapar em voz alta e olhei para um Taehyung que estava tão confuso como eu.

Ele me ajudou a me levantar, sentia dores por todo o meu corpo a cada movimento que fazia. Estava exigindo demais de mim mesmo nos últimos dias por causa dessa ideia de ajudar Hoseok, mas eu não desistiria assim tão fácil.

Fui até o sofá e me sentei, resmungando alto, mas Taehyung ainda me encarava confuso e levemente assustado. Ergui uma das sobrancelhas com aquilo.

— O que foi? - Perguntei, esticando levemente os braços e me arrependendo logo em seguida pela dor que senti.

Hyung... O que ele quis dizer? - Ouvi Taehyung perguntar e deixei um suspiro cansado escapar.

— Eu não faço ideia. - Mordi o lábio inferior, olhando para a porta de entrada da casa por alguns segundos em silêncio, lembrando-me das vezes em que entrei e saí por aquela porta quando trabalhava no restaurante de Seokjin. - O que me deixa mais curioso é ele dar a entender que consegue nos ver, e depois agir desse jeito.

Fechei os olhos e os apertei com os dedos, tentando organizar os meus pensamentos. Não sei por quanto tempo mais conseguiria conviver com Namjoon fazendo aquele tipo de coisa, e não adiantava confrontá-lo diretamente, pois seria completamente ignorado assim como Taehyung era.

— Hyung. - Ele me chamou novamente e eu suspirei um tanto impaciente.

— O que? - Voltei os olhos para ele, jogando os cabelos loiros para trás com uma das mãos.

— Não quer... Tentar de novo? - Ele disse e eu franzi o cenho. - Quer dizer... E se o que o Namjoon disse ajudar você a sair dessa casa?

Não acreditava que aquelas simples palavras pudessem fazer tanta mudança assim, pois simplesmente não fazia sentido. Mas acabei me levantando e indo na direção da porta de entrada para tentar mais uma vez.

Afinal, nada naquela vida após a morte fazia sentido para mim.

Com os olhos fechados e soltando um pesado suspiro, dei o primeiro passo para atravessar aquela porta, já esperando a pressão na altura do estômago me puxar para dentro de casa novamente.

Mas ela não veio.

Dei o segundo passo para frente, e ainda não senti aquela pressão na barriga. E então eu abri os olhos.

Eu estava do lado de fora, e estava bem. Não sentia dor e nada que me obrigasse a voltar para dentro de casa de forma tão súbita.

Eu consegui sair, pela primeira vez em anos eu finalmente consegui sair daquela prisão, e estava tão feliz que não consegui conter as lágrimas que começaram a escorrer dos meus olhos. Minhas pernas tremeram e fui de encontro ao chão, sem tirar os olhos da bela paisagem urbana de Seoul que sentia tanta falta de ver. Eu poderia andar livremente pelo mundo de novo, poderia finalmente ver como Seokjin estava depois de tantos anos, poderia ver meus pais em Daegu se quisesse, poderia finalmente ajudar Taehyung com Hoseok.

Taehyung logo apareceu atrás de mim com um enorme sorriso nos lábios, e me ajudou a levantar, abraçando-me feliz por ter finalmente conseguido sair de casa pela primeira vez. Eu ainda estava incrédulo, mas a alegria era tanta que eu simplesmente não conseguia me conter.

Quando me afastei para enxugar as lágrimas, meus olhos involuntariamente se voltaram para uma das janelas da casa antiga, e eu pude ver que Namjoon estava ali, olhando para mim e para Taehyung na porta com um sorriso satisfeito no rosto.

Ali eu tive a confirmação. Ele conseguia nos ver, ele sabia da minha existência e me ajudou.

Eu não sabia como ele era capaz de fazer aquilo, e nem queria pensar muito naquele momento. A única coisa que consegui fazer foi sorrir para ele de volta em gratidão.

E há muito tempo que eu não sorria daquela forma.


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Notas finais do capítulo

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