The Phantom Agony escrita por Yuma Ashihara


Capítulo 1
A história de Min Yoongi


Notas iniciais do capítulo

Eu estava querendo escrever uma NamgiSugamon há tanto tempo, vocês nem imaginam há quanto rsrs' A ideia surgiu depois que eu vi o photoshoot com o Yoongi como um fantasma e eu pensei: Why not? kkk

Essa aqui será uma shortfic e acredito que não vai passar dos 4 capítulos.

Espero que gostem!!



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Morrer é fácil e rápido, como um profundo suspiro após uma longa caminhada em um fim de tarde de verão. Viver é mais difícil, como a caminhada que se dá durante a tarde que parece não ter fim e que você não tem certeza de que vai conseguir chegar no final, mas continua se forçando a continuar, mesmo cheio de dúvidas, mesmo sentindo dor, mesmo sem um real motivo para continuar caminhando.

Mas eu jamais imaginaria que fosse sentir tanta falta de estar vivo.

Não era da vida que eu realmente sentia falta, mas sim das sensações que me faziam ter a certeza de que eu de fato estava vivo. Respirar, deitar na cama todos os dias para dormir com a mente perdida em pensamentos, forçar-me a levantar no dia seguinte, conversar, comer, sentir dor. Todos os pequenos detalhes que faziam do que eu de fato me sentisse vivo.

O que eu sinto hoje não passa de um vazio constante, se é que posso dizer que de fato consigo sentir alguma coisa. As únicas coisas que tenho no momento são as memórias dos meus últimos momentos como um ser humano comum e normal que estava no auge de seu surto de ansiedade, enchendo a cara de cerveja e de qualquer coisa que tivesse álcool para se esquecer das coisas ruins da vida, mesmo que por pouco tempo.

Parando para pensar agora, minha vida não foi uma das melhores. As coisas sempre foram difíceis desde o dia em que eu nasci em uma pequena cidade em Daegu. Nunca fui uma pessoa de muitos amigos e sempre soube que era alguém de personalidade difícil, o que era útil às vezes, já que nunca tive muita paciência para lidar com certas pessoas.

E quando digo certas pessoas, quero dizer o meu vizinho Kim Taehyung, a pessoa mais positivamente irritante da face da Terra. Porém, pior do que isso com certeza era o fato dos nosso pais serem melhores amigos de infância, o que de certa forma me obrigava a conviver com ele.

Taehyung sempre foi o tipo de pessoa que conseguia ver o lado positivo em tudo, por pior que a situação fosse ele sempre nutria um sorriso amigável no rosto e dizia que tudo iria acabar bem em seu tempo certo. Já eu era o seu completo oposto, nunca me importando com o que de fato iria acontecer, mas sempre esperando o pior das pessoas o tempo inteiro. E eu tinha reais motivos para ser assim.

Bullying.

Digamos que eu nunca tenha sido o tipo de pessoa que conseguia se encaixar nos padrões aceitos pela sociedade. A começar pela minha difícil personalidade que naturalmente afastava as pessoas, o meu corpo e rosto que sempre foi diferente das demais pessoas, as roupas nada normais que tinha o costume de usar, entre outras coisas.

Eu nunca tive amigos e fazer trabalhos em grupo na escola era um verdadeiro inferno para mim. Primeiro por não conseguir me entrosar com as outras pessoas, e em segundo lugar porque eu definitivamente não suportava fazer tudo sozinho para que o grupo ganhasse a nota pelo meu trabalho. Foi então que eu passei a me isolar cada vez mais, ignorando todas as brincadeiras e músicas pejorativas à minha pessoa. E foi naquela época que eu descobri a maior das minhas paixões.

Música.

Os fones de ouvido se tornaram o meu refúgio especial. Eu passei a ouvir todos os estilos musicais que se pode imaginar e acabei aprendendo como compôr as minhas próprias músicas com o passar do tempo. Meus intervalos entre as aulas se resumiam a me deslocar até a escada mais escondida da escola, sentar-me ali com o meu caderno no colo e me perder nas minhas composições. Claro que alguns de meus "colegas" sempre me encontravam e tentavam implicar comigo e com os meus hobbies, mas não era algo que me atingia de fato.

Até aquele dia.

Eu ainda não sei o que me fez ir para a escola naquele dia. Era fim de ano e já havia passado em todas as matérias com perfeição, como sempre fazia todos os anos. Não precisava mais ir para a escola pois já sabia que havia passado, mas ainda assim fui para a última aula daquele ano. Lembro que aquele dia passou rápido demais e que tudo estava indo bem. No fim da aula guardei os meus materiais na minha mochila, peguei os meus fones de ouvido e então saí da sala de aula. Estava em uma sala de aula onde para ir até os portões de saída eu precisava passar pelo pátio principal, e no último dia de aula os monitores daquela parte em específico foram liberados mais cedo pela direção.

Quando cheguei no pátio, uma multidão me esperava. Quando percebi já estava cercado pelos garotos das turmas mais avançadas. Logo depois os outros garotos também se aproximaram, bem como uma platéia feminina que estava com os seus celulares ligados e prontos para o que estava por vir.

Apenas naquele momento que eu entendi o que eles queriam. Eles queriam encerrar o ano em grande estilo: humilhando o cara mais esquisito da escola.

Até hoje eu não sei como e nem quando começou, quando me dei por mim já estava sendo segurado por três garotos grandes enquanto uma fila se formava à minha frente. A partir daquele momento, um por um, os garotos que estavam naquela fila começaram a me bater com muita força. Eram socos e chutes em várias partes do meu corpo, mas principalmente na barriga e no rosto. Mas o que mais me assustou naquele momento, e que também me fez perder completamente a fé na humanidade, foi o sorriso orgulhoso estampado naqueles rostos doentes, completamente satisfeitos pelo feito.

Eles me soltaram quando perceberam que eu já não iria oferecer resistência e, mesmo no chão, continuaram a me espancar sem qualquer piedade com socos e chutes que me faziam vomitar sangue o tempo inteiro. Naquele momento eles pegaram a minha mochila e abriram o meu caderno de composições.

Foi quando a humilhação ficou ainda pior.

Eles liam e riam alto das minhas composições como se fosse uma grande obra de comédia. Cuspiram e em seguida atearam fogo nas palavras que havia escrito com tanto apreço. Vê-las queimarem diante de meus olhos foi uma das cenas mais traumáticas que já tive o desprazer de presenciar em toda a minha vida.

Meu sonho de seguir a carreira musical morreu naquele momento.

Foi naquele dia, também, que perdi quatro dentes quando, ainda insatisfeitos, ergueram-me e me seguraram pelos cabelos antes de lançarem a minha cabeça com toda a força contra um dos pilares de sustentação do pátio repetidas vezes. Ele já estava manchado pelo meu sangue e eles continuavam de novo e de novo, meus dentes já haviam se quebrado e eles continuavam.

Sinceramente? Pensei que fosse morrer naquele dia, porém fui salvo pelos monitores que ainda estavam na escola e que foram chamados por alguém que eu nunca soube quem fora.

Até hoje eu não sei o que houve com as pessoas que fizeram aquilo comigo, e definitivamente eu não quero saber.

Meus pais me trocaram de escola no ano seguinte e admito que consegui passar os anos que faltavam para me formar em certa paz. Mas o estrago já havia sido feito, e os anos em que passei dentro do consultório do psicólogo não ajudaram a cicatrizar as feridas daquele maldito dia. Até mesmo o inabalável Kim Taehyung pareceu desistir de tentar me ajudar, principalmente após as incessantes tentativas de suicídio.

Porém, houve um momento em que, por algum motivo, eu disse para mim mesmo que queria mudar a minha vida de alguma forma. Fazer faculdade e conseguir um emprego que ocupasse a minha mente o máximo de tempo o possível agora não pareciam ser uma má ideia. E foi com isso em mente que, mesmo contra a vontade de meus pais, eu arrumei as minhas malas e saí de casa rumo à Seoul.

Eu tinha a típica mensalidade de um adolescente do interior do país de que a capital seria extremamente acolhedora e que faria a minha vida dar uma completa reviravolta. E novamente a vida jogou a realidade na minha cara rápido demais.

Havia acertado apenas na reviravolta, afinal, estava tendo uma vida completamente diferente da que tinha em Daegu. Cheguei em Seoul com dinheiro o suficiente para pagar um hotel barato por cerca de uma semana, e eu realmente achava que iria conseguir um emprego antes disso.

Ledo engano.

Quando menos percebi, estava encolhido em um dos muitos becos escuros de uma das áreas mais pobres de Seoul, tentando inutilmente me proteger da chuva que caía incessante naquela madrugada. Meu corpo tremia violentamente por conta do frio cruel que fazia naquela época do ano e a chuva não ajudava nem um pouco a minha situação. Eu não tinha mais dinheiro para pagar o hotel e ninguém queria abrigar um falido, e então a única coisa que me sobrou foi a rua. Já estava naquela situação há cerca de um mês, vasculhando o lixo a procura de algo para comer e usando banheiros de locais públicos para tomar banho e lavar as minhas roupas. Sequer a opção de voltar para Daegu era válida, afinal, como o faria sem dinheiro?

E eu jamais pediria carona para estranhos, pois nunca se sabe o que pode acontecer.

Não me lembro ao certo por quanto tempo fiquei vivendo naquela situação, mas uma pontinha de esperança se fez presente quando eu finalmente consegui um emprego de entregador em um restaurante local. Era simples e o salário era uma miséria, mas foi o suficiente para me fazer sair das ruas e conseguir alugar um quarto de 10m² em um lugar decente em Seoul. A minha cama era quase grudada ao banheiro e o espaço para guardar os meus pertences era quase zero, mas o alívio de ter um teto para descansar me fazia esquecer esse pequeno detalhe.

O dono do estabelecimento se chamava Kim Seokjin, um recém-formado em gastronomia, um cozinheiro extremamente talentoso que estava começando o seu negócio, e foi muito bom crescer naquele restaurante junto com ele. E eu admito que uma das melhores coisas foi ele ir aumentando o meu salário conforme expandia o negócio. Mas aos poucos fomos nos aproximando e nos tornando bons amigos.

Kim Seokjin foi o primeiro amigo que eu tive em toda a minha vida, e eu sempre confiei muito nele assim como ele sempre confiou muito em mim.

Com a melhora da minha situação financeira, consegui me mudar para um lugar maior. Uma casa velha de esquina que apesar de estar caindo aos pedaços era extremamente confortável para mim. Pela primeira vez eu me sentia em casa longe de Daegu.

As coisas estavam indo bem até demais para mim. Mas nada nunca deu cem por cento certo para mim, e eu sabia já naquela época que alguma coisa ruim iria acontecer, mas sempre ignorava aquela pontinha de insegurança que passei a sentir antes de sair de casa para trabalhar todos os dias.

Afinal, nada aconteceria. Já trabalhava com isso há tanto tempo, o que poderia dar errado?

Foi em um dia em que estava voltando da minha última entrega. Já estava de noite e voltava para o restaurante de Seokjin quando passei por um caminho onde havia um canteiro de obras. Acho que estavam construindo um novo edifício residencial na época e haviam alguns trabalhadores àquela hora para adiantar o serviço do dia seguinte.

A única coisa que eu me lembro daquele momento foi de ter ouvido um barulho muito alto e de ter olhado para cima. Eu não sei o que caiu em cima de mim, apenas me lembro de estar no chão e de não sentir o meu braço esquerdo.

Logo algumas pessoas entraram no meu campo de visão, mas eu já não prestava mais atenção nelas, mas sim na dor horrenda que tomou conta do meu corpo e que estava concentrada no meu ombro esquerdo.

O restante passou rápido demais para mim, como se fossem flashes diante dos meus olhos. As luzes e a sirene da ambulância, os paramédicos, o teto branco do hospital, e em seguida o escuro completo.

Aquela foi a segunda vez em toda a minha vida que pensei que fosse morrer, e de fato eu estava aceitando a morte naquele momento. Mas então eu abri os olhos e encontrei o clarão do quarto em que estava, onde Seokjin estava ao meu lado com um semblante preocupado. Ele então me explicou o que havia acontecido e que o acidente havia esmagado o meu ombro.

Foram longos meses de cuidados e de fisioterapia para conseguir recuperar o movimento parcial do meu braço esquerdo, que conseguia levantar apenas até a altura do peito. Seokjin se mostrou um grande amigo durante todo esse tempo e nunca me negou ajuda. Acredito que esse momento apenas foi mais suportável graças à ele.

Quando me recuperei dos meus males físicos, voltei a trabalhar como entregador, a rotina voltando ao normal aos poucos. Obviamente não era nem de longe o tipo de vida que gostaria de estar vivendo, mas era o que havia conseguido apesar de todas as coisas ruins que aconteceram ao longo de todos aqueles anos. Havia construído uma bela amizade com Seokjin, e pelo menos agora não morria de fome e conseguia visitar minha família em Daegu umas duas vezes ao ano. Podia-se dizer que estava vivendo uma onda de paz, apesar de um deslize psicológico ou outro.

Aprendi a dirigir durante todo esse tempo e às vezes usava o carro de Seokjin para agilizar algumas entregas ou quando precisava fazer compras grandes para minha casa. E era o que estava fazendo naquele dia. Podia-se dizer que estava até mesmo feliz, era a primeira vez que meus pais iriam me visitar em Seoul e estava animado para recebê-los.

Apenas não esperava encontrar Taehyung antes disso.

Estava saindo de uma loja de conveniências pois tinha esquecido de comprar algumas coisas, e já estava a caminho do carro de Seokjin quando o vi. Meus olhos se arregalaram quando seu rosto definido e olhos delineados entraram em meu campo de visão, gigantes enquanto passavam em uma propaganda em um dos muitos telões espalhados pela cidade:

Assistam à Singularity no canal oficial da BigHit no YouTube!

MV de Debut de V!

Aquilo foi como um banho de água fria. O meu corpo tremia violentamente ao mesmo tempo em que estava completamente estático olhando para aquela propaganda que voltava a todo momento para o rosto bonito de Taehyung. Ele estava em Seoul? Como ele conseguiu debutar? Por que ele quis se tornar um idol? Ele também tinha esse sonho? Por que ele nunca falou antes desse sonho? Eram perguntas que simplesmente não conseguiam sair da minha cabeça e que me faziam sentir uma dor de cabeça insuportável, como lâminas sendo cravadas na minha mente.

Kim Taehyung sempre foi o tipo de pessoa que detestava, feliz demais, que sempre via o lado positivo em todas as coisas, que amava receber atenção e também dar atenção até demais. E eu admito que sentia inveja por ele conseguir as coisas tão mais fácil, tinha inveja da vida tão mais fácil que ele tinha comparada a minha. E de fato isso não chegava a me incomodar muito.

Até aquele momento.

Não era justo. Aquele deveria ser eu. Era eu quem sempre sonhava com aquela vida e que perdeu horas e mais horas da adolescência escrevendo as músicas que usaria em seu álbum de debut.

Onde que eu errei? Por que tudo na minha vida dava errado? Por que eu nunca consegui realizar nada na minha vida?

Aquela foi a primeira vez, desde que eu me entendo por gente, que eu deixei que as lágrimas descessem pelo meu rosto finalmente. Eu estava perdido, com um aperto tão grande no peito que não pensei duas vezes antes de entrar no carro de Seokjin e sair em disparada.

As lágrimas incessantes estavam borrando a minha visão e por mais que eu tentasse, simplesmente não conseguia deixar de chorar. Os anos em que contive aquilo para dentro de mim estavam transbordando naquele momento.

Eu não percebi quando afundei o pé no acelerador, não percebi que havia passado do limite de velocidade permitido para aquela área, na verdade nem sabia para onde estava indo de fato. Mas eu estava indo rápido demais.

Tão rápido que não percebi que estava me aproximando de um carro na minha frente.

Em uma tentativa de desviar, joguei o carro para a outra pista, onde um caminhão vinha na minha direção.

E eu não consegui desviar.

Tudo se passou como um filme em câmera lenta mais uma vez diante dos meus olhos arregalados para o clarão que os faróis do caminhão faziam na minha direção. E de repente o choque.

Meu corpo ficou preso nas ferragens do carro de Seokjin.

Eu não sentia as minhas pernas, minha cabeça se chocou contra o volante quando o carro foi arremessado para trás, capotando cinco vezes antes de parar de cabeça para baixo.

Meus olhos continuavam arregalados, mas minhas lágrimas haviam parado.

Eu não sentia mais dor e, em um suspiro, senti meu corpo ficar mais leve.

O ambiente ficou escuro por alguns momentos, mas então eu logo abri os olhos. Estava em pé no meio da rua, entre o caminhão e o carro de Seokjin, e estava tão em choque pelo ocorrido que simplesmente não acreditava que estava ali, são e salvo. Olhei para o meu próprio corpo e toquei a mim mesmo, não havia sequer uma gota de sangue, sequer um ferimento. Até mesmo sorri por breves momentos.

Até olhar para o carro.

Havia uma ambulância ali e uma equipe de paramédicos que estava terminando de retirar um corpo de dentro daquele carro.

O meu corpo.

Eu estava em choque novamente, tanto que me aproximei mesmo com as pernas trêmulas, olhando atentamente para o corpo que agora estava deitado no chão. O corpo pequeno, os cabelos loiros descoloridos espalhados pelo chão, as pernas esmagadas e um grande ferimento na cabeça. Havia muito sangue que apenas se espalhava mais pelo chão, os olhos pequenos abertos enquanto o resquício das lágrimas continuavam ali.

Eu finalmente havia morrido após o terceiro evento mais traumático da minha vida, e fora mais rápido e fácil do que havia imaginado que seria.

Mas eu sequer tive tempo de processar aquela informação. O mundo ao meu redor de repente começou a perder o foco e eu senti uma forte pressão na altura do meu estômago. Em seguida, tive a sensação de estar sendo puxado para trás, até que essa sensação se tornou uma violenta realidade.

Eu não conseguia enxergar mais nada, mas eu senti perfeitamente o momento em que as minhas costas se chocaram violentamente contra uma superfície dura, ao mesmo passo que uma dor lancinante tomou conta do meu corpo no mesmo momento em que eu ia ao chão. Eu não entendia mais nada.

Aos poucos levantei e então as cores e formas foram voltando aos poucos. Eu estava em casa, e tudo estava escuro, exatamente do jeito que havia deixado quando saí naquele dia. Mas eu sabia que alguma coisa estava errada.

Principalmente quando tentei abrir a porta do meu quarto e a minha mão passou direto pela maçaneta.

Demorou alguns dias até eu finalmente aceitar o fato de estar morto e de não passar de um espírito. Afinal eu nunca fui uma pessoa muito religiosa, então essa coisa de vida após a morte sempre foi uma grande baboseira para mim. Mas agora eu estava ali, presenciando as pessoas entrarem e saírem daquela casa.

A única coisa que eu nunca entendi foi o fato de não conseguir deixar aquela casa. Sempre que tentava sentia novamente aquela pressão na região do meu estômago e aquela coisa ruim me empurrando para dentro da casa. E eu tentei sair inúmeras vezes.

E foi desta forma que eu fui obrigado a assistir a tristeza dos meus pais em entrarem na minha casa para recolher os meus pertences, fui obrigado a assistir a culpa de um Seokjin que não conseguia encontrar palavras para confortar os meus pais por ter me emprestado o carro naquele dia, e, além disso, fui obrigado a passar anos enclausurado dentro daquela casa.

Solitário, sozinho, no silêncio.

As teias de aranha se acumulavam nos cantos das paredes e isso me irritava em um nível inimaginável, mas tentava ignorar aquilo pois, por mais que eu quisesse, nunca conseguiria tirá-las dali. Tive que assistir minha casa envelhecer ainda mais dia após dia.

E definitivamente comecei a acreditar que passaria o resto da minha eternidade daquele jeito, enclausurado dentro de uma casa velha sem saber o motivo.

Houve um tempo em que eu sequer me dava ao trabalho de levantar de onde estava. Fiquei anos encolhido em um canto qualquer, abraçando as minhas pernas enquanto escondia a cabeça entre as pernas, observando os dias e as noites chegarem, infinitas, ao mesmo tempo em que era diariamente torturado pelas lembranças da minha vida, de tudo o que havia passado, e refletia sobre tudo o que havia acontecido.

Qual o propósito de tudo aquilo? Por que tanto sofrimento todos os dias e para que eu me esforcei tanto todos os dias? Se eu soubesse que iria acabar daquele jeito... Mas o que eu poderia fazer para mudar aquilo? Se nem vivo eu consegui, morto então que não conseguiria.

Chorei tudo o que não havia chorado durante toda a minha vida naqueles dias em que estava ali sozinho. E xinguei, e como xinguei, e se pudesse quebraria tudo ao meu redor por conta da revolta que eu sentia, mas a realidade era esfregada na minha cara sempre que eu atravessava as paredes daquela casa.

Eu tive uma vida miserável e não tive o gosto de nada de bom que ela poderia dar, e terminei como um espírito que estava condenado à solidão eterna.

Pelo menos era o que eu pensava até ele chegar.

Foi em um dia em que estava encolhido no canto da sala de estar. Ouvi um som estranho na porta principal e levantei a cabeça para ver do que se tratava. E então um homem entrou ali, um homem alto com os cabelos pretos e seu rosto em formato de coração. Os olhos rasgados passearam pelo ambiente curiosos até que repousaram no canto em que eu estava.

Por breves momentos tive a intenção que seus olhos se perderam em mim, mas logo espantei aqueles pensamentos quando outra pessoa entrou ali.

— O que acha, senhor Kim Namjoon? - Uma voz animada se fez presente e uma mulher entrou em meu campo de visão, usando uma roupa social e carregando uma prancheta. - Posso lhe mostrar o restante da casa? Tenho certeza que ela tem muito potencial, apesar de ser uma das casas mais antigas do bairro.

— Aparentemente ela é perfeita, senhorita Manoban. - Ele respondeu, e a voz grossa ecoou pelo lugar diretamente para os meus ouvidos. - Não podia esperar menos de uma profissional como você, sabia que conseguiria encontrar uma casa para um homem tão antiquado como eu.

Então ela era uma corretora de imóveis? Minha casa estava a venda?

— Muito obrigada. Pode me acompanhar? - Ela perguntou e Namjoon assentiu, seguindo a mulher que não parava de falar sobre o potencial da casa.

Eu, obviamente, segui os dois por cada cômodo que andavam olhando atentamente para aquele homem que parecia cada vez mais maravilhado com o ambiente. Namjoon testava as luzes e abria alguns registros de água apenas para conferir se estavam funcionando perfeitamente, e depois de um tempo saíram.

Apenas soube que Namjoon havia fechado o negócio quando o caminhão da mudança estacionou logo em frente à casa, levando alguns móveis antigos e substituindo pelos móveis novos que ele havia comprado, ou aproveitado de sua antiga moradia. Sua mudança havia sido relativamente rápida, e antes que eu percebesse já estávamos compartilhando os mesmos espaços.

E, céus, como aquilo era estranho!

Eu passei tanto tempo sozinho que já estava acostumado com a minha solidão, e de repente ter que conviver com um completo desconhecido daquela forma era... Demais.

Além disso, Namjoon era muito estranho. Mais de uma vez eu pude ter a sensação de que ele estava olhando diretamente para mim. Seja pelo reflexo do espelho ou por eu estar próximo ou fazer um movimento que chamasse a sua atenção.

Mas ele nunca falava nada, o que me fazia duvidar dos meus próprios pensamentos.

De qualquer forma, a convivência era tão estranha que eu coloquei na minha cabeça que meu objetivo era tirá-lo daquela casa, que era a minha casa em primeiro lugar.

Foi então que eu comecei com o meu plano de ser a assombração perfeita para assustá-lo das formas mais criativas que eu podia. Às vezes eu ficava muito perto de seu rosto por horas, afinal eu era um espírito e nunca me cansava. Outras vezes eu apenas ficava atrás dele enquanto ele estava na frente do espelho, deitava ao seu lado na cama, e até mesmo atravessava a cabeça pela geladeira quando ele tentava abrir.

Era divertido fazer aquelas coisas, mas ao mesmo tempo frustrante por aparentemente ele não ser capaz de me ver.

Eu apenas parei de fazer aquele tipo de coisa quando comecei a perceber algo muito peculiar e que acontecia sempre que Namjoon voltava da rua: ele nunca estava sozinho.

E quando digo isso, digo que ele sempre vinha acompanhado por um espírito diferente. Alguns de aparência humana como a minha, mas alguns eram simplesmente horrendos de se ver.

Houve um dia em que eu simplesmente não consegui ficar parado olhando. Namjoon havia chegado cansado do trabalho e estava com olheiras profundas. Nas suas costas uma criatura estava agarrada à ele sussurrando palavras aleatórias em seu ouvido, mas que parecia sugar a energia dele de alguma forma.

Eu fiquei contemplando aquela criatura medonha retorcida em cima de Namjoon até o momento em que ele foi tentar dormir, e foi quando a criatura ficou mais agressiva, começando a atacá-lo e soltando gritos tão altos que estavam até mesmo me incomodando.

E Namjoon não conseguia dormir, até mesmo tentava tapar os ouvidos com o travesseiro, mas não parecia funcionar.

Eu não consegui ver aquilo sem fazer nada e, em um movimento involuntário eu me aproximei e joguei a criatura para longe, esta que atravessou a parede de uma única vez. Obviamente eu me assustei com aquela força que eu sequer sabia que tinha. Ouvi Namjoon resmungar ao meu lado, aparentemente mesmo àquela distância aquela criatura ainda conseguia fazê-lo mau.

Foi quando ela voltou, rastejando no chão ainda gritando. Eu precisava tirá-la dali.

Mais uma vez eu a segurei em meus braços e ela me atacou. Estava ferido pela primeira vez em anos, porém não saía sangue e mais do que depressa o ferimento desapareceu como se tivesse se regenerado.

Sorri de canto, e mais do que depressa eu lancei aquela criatura na direção da janela, jogando-a para fora do quarto.

Naquele mesmo instante ouvi um suspiro aliviado vindo de Namjoon e então me virei para ele, e também suspirei aliviado ao ver que ele estava deitado de barriga para cima, alisando os cabelos pretos com uma das mãos enquanto encarava o teto pensativo. Aparentemente estava bem, o que me deixava um pouco melhor.

— Espero que consiga dormir melhor essa noite, Namjoon. - Comentei, mesmo sabendo que ele não iria ouvir.

— Obrigado...

Já estava saindo do quarto quando o ouvi dizer aquilo e senti todo o meu corpo congelar mais do que depressa. Voltei o rosto para trás, incrédulo. Ele me escutou? Ele realmente me ouviu? Será possível que ele sabia que aquela criatura estava em cima dele?

Mil e uma perguntas se fizeram presentes na minha mente naquele momento. Porém, o que mais me chocou naquela noite não havia sido isso. Mas outro detalhe em especial e que chamou muito a minha atenção quando voltei os olhos para o meu próprio corpo.

As roupas que usava no dia do acidente de carro haviam desaparecido, dando lugar a um conjunto de uma calça e uma camisa, brancas.

O que diabos estava acontecendo?!


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Notas finais do capítulo

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