Gato por lebre escrita por Aislyn


Capítulo 1
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Capítulo 1 de 3.
Boa leitura!



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Dois toques na porta chamaram a atenção do veterinário, que levou um instante para lembrar que já havia fechado a clínica. Sua irmã sempre invadia a sala sem se preocupar, os pais não costumavam aparecer quando estava trabalhando, então só restava uma pessoa, que mesmo sendo seu namorado, ainda mantinha aquele nível de profissionalismo e educação.

 

— Entra. – Kurosaki não podia abrir a porta, já que estava com as mãos ocupadas, mas sua liberação foi ouvida. Viu Mikaru entrar no cômodo e fechar a porta atrás de si, deixando a mochila que levava consigo apoiada próxima à entrada – Não vai passar o fim de semana aqui?

 

— Não… estou querendo um pouco de privacidade e silêncio. – o rapaz sentou num banco livre próximo à mesa de trabalho, afastando os fios loiros do rosto cansado – Aceito sua companhia, caso esteja livre.

 

— Eu vou estar. – mesmo que precisasse passar na clínica durante sua folga, não ia perder a oportunidade de ficar com Mikaru. Morava com os pais no andar superior e algumas coisas precisavam ser evitadas na frente do casal e, principalmente, na frente de sua irmãzinha. Por isso ia aproveitar a oferta de bom grado para terem um momento só dos dois, na casa que dividia com Mikaru. Ter dois lares era bem conveniente.

 

A conversa cessou enquanto Katsuya se concentrava no trabalho, cuidando para não errar a dose do remédio que ministrava, mas quando largou a seringa na mesa, a cena ao lado atraiu totalmente sua atenção, obrigando-o a pegar o celular no bolso e tirar uma foto.

 

Mikaru acariciava a ponta da orelha de um dos coelhos na gaiola, a expressão tranquila como raramente se via e um pequeno sorriso adornando os lábios.

 

— Você leva jeito com animais. – o tom, mesmo sendo leve, despertou Mikaru para a realidade, que voltou à uma postura mais profissional.

 

— Eles não costumam gostar muito de mim. Sempre fico arranhado…

 

— Você está tomando o gato de Shiroyama-san como base, não é? – Katsuya riu ao receber um aceno positivo – Ele também não gosta de mim. Parece que sabe que sou o responsável por remédios ruins e cortes de garras. Izumi-san acha que ele tem medo de ser devolvido.

 

— Isso não muda o fato que sabe lidar com eles e fazer o que é necessário.

 

— Bom, sim… mas eu estudei pra isso. E mesmo assim, os gatos sempre fogem quando vou visitar, mesmo que não seja a trabalho. – devolvendo o coelho em mãos para a gaiola, Katsuya retirou outro, estendendo-o para o namorado – Eu fiquei o dia todo com eles, me aproximando aos poucos pra poder cuidar no final do dia. Você está aqui há cinco minutos. Eles costumam ser desconfiados e assustadiços. Ele gostou de você.

 

Mikaru não queria ser pessimista, desacreditando daquelas palavras, então estendeu as mãos para aceitar o filhote, acomodando-o no colo. Katsuya não fez questão de esconder a alegria ao notar o namorado sorrindo de novo. Conversavam a respeito do trabalho de ambos, mas Mikaru nunca comentou sobre gostar ou não de algum animal. E pensar que ainda tinha tanto para conhecer a respeito do empresário…

 

— Eu nunca tive um… – o comentário veio num sussurro, como se não quisesse assustar o pequeno animal, mas surpreendeu o veterinário.

 

— Coelho ou…?

 

— Geral. Nenhum mascote. Nada.

 

— Ah… – isso explicava muita coisa, principalmente o motivo de Mikaru pensar que não levava jeito. Era apenas um pouco de falta de prática – Eu vou ficar com eles até final da semana que vem. Por que não cuida desse pra ver como é?

 

— O que?

 

— Leva ele pra casa. Eu te ensino o básico, te empresto o que for preciso, não vai ser difícil. Eu passo lá pra dar a medicação e verificar como está, então não tem perigo fazer algo errado.

 

— Melhor não. Não tenho tempo, não vai dar certo. – e se o bicho morresse quando estivesse aos seus cuidados? Ia se sentir mal, principalmente porque o namorado ficaria magoado.

 

— Só quatro dias, então. O que acha? – Katsuya ajoelhou à frente de Mikaru, apoiando os braços em sua perna enquanto acariciava o coelho – Você pode desistir a qualquer hora e eu trago ele de volta. Se tiver problemas pode me ligar e eu te ajudo. É só brincar um pouco, dar comida e água, limpar a gaiola. Vai ser uma experiência nova. – Mikaru ia responder com outra negativa, mas Katsuya se afastou, decidido a não deixá-lo desistir – Pense com calma. Eu levo ele comigo mais tarde.

 

— Tsc… tudo bem. Vai jantar por aqui? – Mikaru ergueu-se também, fazendo um último carinho no coelho antes de devolvê-lo para a gaiola.

 

— Acho que sim, ainda tenho algumas coisas pra ajeitar e preciso separar as roupas pra levar.

 

— Devia levar suas coisas e deixar por lá de novo.

 

Muita coisa aconteceu entre o período que Katsuya foi morar com o namorado e a situação que se encontravam atualmente, dividindo o tempo entre duas casas. Mikaru perdeu a casa numa época em que Katsuya estava ficando mais com os pais do que com ele devido ao excesso de trabalho e, depois da queda da empresa, Mikaru foi convidado a morar com eles. Agora que havia recuperado uma boa parte, preferia voltar à sua privacidade e rotina, mas não era pouco o tempo que passava com Katsuya e os sogros. Já se consideravam uma família e aquilo não o desagradava de forma alguma.

 

— Vou fazer uma mala grande. – aquilo resolvia a questão. Katsuya gostava de morar com os pais, amava seu trabalho na clínica, principalmente por permitir ficar perto de todos ali, mas amava o tempo que passava a sós com o namorado.

 

— E apague aquela foto. – Mikaru se afastou, pegando a mochila e passando uma das alças pelo ombro.

 

— Ah… você notou… – Katsuya pareceu murchar quando Mikaru se aproximou, guardando o celular no bolso, longe das mãos do outro – Ela ficou boa…

 

— Não vai mostrar pra ninguém? – aquilo não era só um pedido. Mikaru não gostava de se expor, mesmo com algo tão inocente. Resmungou satisfeito ao ouvir um ‘prometo’, colando os lábios num beijo casto, para surpresa de Katsuya – Te espero em casa.

 

* * *

 

Mesmo sem negar ou confirmar se queria, Katsuya apareceu na casa de Mikaru horas depois, levando consigo a gaiola com o coelho, além de outros itens necessários. Seria bom tirar o namorado da rotina, ver como ele se adaptava com novas situações. Não queria irritá-lo e sabia do trabalho que estava colocando em suas mãos, mas se a companhia o agradasse, quem sabe o empresário não pensaria a respeito de adotar um?

 

— Onde pretende deixá-lo? É bom escolher um local que possa ser fixo, pra não assustá-lo com mudanças.

 

— Que tal no jardim? – Mikaru ainda não tinha certeza sobre ficar com o animal ali, mas como Katsuya passaria o final de semana, teria tempo para mudar de ideia.

 

— Seria preferível um local com sombra e ali bate sol durante a tarde, não é? – Katsuya olhou o terreno, procurando o melhor espaço – A lavanderia seria uma boa opção. Só precisamos tirar do alcance os produtos de limpeza, fios e qualquer coisa que ele possa roer. Você pode levá-lo para brincar no jardim quando estiver em casa, mas precisa ficar de olho pra não ficar preso em espaços pequenos.

 

— Ou seja, nada de trazer trabalho pra fazer em casa… – Mikaru suspirou fundo, mas tomou a frente para guiar o namorado até a lavanderia – Eu quase não venho aqui… quais as chances de eu esquecer de cuidar?

 

— Eu sei que você anota o que precisa na agenda ou no celular, vou acrescentar desenhos de coelho pra não esquecer – Katsuya sugeriu com um sorriso, depositando a gaiola num espaço livre, pegando o material de limpeza para armazenar no alto, abrindo também a janela para ventilar o espaço. Depois pegou a mochila, retirando alguns potes e vasilhas, começando as instruções, dessa vez com um ar mais sério – Talvez essa seja a parte do cuidado que vai te dar trabalho, mas precisa limpar a caixa de areia, dar comida e água todo dia, mesmo que você pule suas refeições, não esqueça as dele. Entendeu?

 

— Entendi. – Mikaru confirmou em tom baixo, aproveitando que o namorado estava distraído para sorrir da situação. Gostava demais daquele ar profissional de Kurosaki. Ele parecia tão maduro.

 

— Deixe-o tomar um pouco de sol pela manhã, antes de sair para trabalhar. Se puder brincar com ele, seria bom. – Katsuya pareceu satisfeito com a disposição dos objetos, voltando a se erguer, entregando um pacote nas mãos de Mikaru – Trouxe a ração e o medidor, não tem como errar a quantidade. Você vai precisar de alguns legumes também.

 

— Estou me sentindo uma babá.

 

— Espero que seja uma responsável. – o aviso final ainda foi com uma expressão séria, e então Katsuya sorriu – Eu vou te ajudar, não se preocupe.

 

— Você realmente gosta do que faz.

 

— Deduziu isso porque te expliquei bem e com um brilho no olhar? – o rapaz riu, guiando o namorado para o interior da casa, tirando a ração de sua mão e deixando sobre a mesa.

 

— Algo assim… – Mikaru apenas acompanhou, praticamente revirando os olhos com o termo escolhido.

 

— Você também fica empolgado quando fala do seu trabalho, mesmo que eu não entenda nenhum dos termos técnicos.

 

— Mas eu não peço pra você fazer meu trabalho. Eu só comento como funciona.

 

— Verdade… mas não estou te pedindo pra fazer o meu. Estou mostrando como cuidar bem de um animalzinho. Não tenho culpa se você e o coelho se entenderam.

 

— Isso é coisa da sua cabeça.

 

— Tenho provas. – Katsuya pegou o celular no bolso, mostrando a foto que tirou mais cedo e agora usava como papel de parede – Viu? Vocês ficam bem juntos. Adote um!

 

— Isso é uma intimação? – Mikaru pareceu incrédulo, afastando o aparelho de perto – Apague isso. Fora de cogitação, você sabe que não tenho tempo e não levo jeito.

 

— Você só não tem prática. Eu acabei de fazer o básico, tenho certeza que consegue. Agora ele vai dormir, vamos deixá-lo quietinho e aproveitar a noite.

 

— Senti suas segundas intenções daqui.

 

* * *

 

O primeiro pequeno susto aconteceu na manhã seguinte, enquanto Mikaru preparava o café e ouviu um barulho vindo da lavanderia, cogitando que ratos estivessem invadindo a casa, mas era apenas seu novo convidado comendo a ração.

 

— Tinha esquecido de você… – confessou num murmúrio, se abaixando próximo à gaiola e estendendo um dedo em direção à bolinha peluda, que aceitou o carinho de bom grado – Espero que tenha noção que é temporário. Não pode ficar aqui muito tempo.

 

Quando notou o que fazia, Mikaru ergueu-se rapidamente, virando as costas e negando com um aceno. Estava falando com o coelho!


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Notas finais do capítulo

Continua!



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