Celine a trois escrita por lljj


Capítulo 9
Neuf




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A rotina de trabalho absorveu Celine complemente e, sem que se desse conta, semanas se passaram. Claro, sua vida não se resumia a trabalhar. Ainda tinha um apartamento para mobiliar, lugares para conhecer e amigos para lhe fazer companhia. Era fácil se perder no fluxo da agitação. Porém, naquele dia em especial, era sua folga e não tinha nenhum compromisso marcado. O entorpecimento que a sustentou desde sua chegada arrefeceu e, pela primeira vez, sentiu saudade de casa.

O silêncio do apartamento vazio a incomodou. Pensou em ligar para as irmãs, mas temeu que as emoções confusas no peito transparecessem em seu rosto. As meninas ficariam preocupadas. Decidiu sair para caminhar.

Sem rumo, andou pelas ruas do bairro. Diferente de Paramus, onde conhecia todos os moradores num raio de dois quilômetros a partir de sua casa, aqui ela mal sabia quem eram seus vizinhos de prédio. A perspectiva de conhecê-los e formar novos laços era agradável, ao mesmo tempo, soava tão cansativa.

Desejou ir mais longe, para algum lugar em que houvesse bastante gente e a solidão parecesse irrelevante. Alugou uma bicicleta e pedalou em direção a orla da Baía. Como esperado, dezenas de pessoas atulhavam as calçadas. O céu aberto era um convite para passeios, fotos e exercícios. Celine se embrenhou na multidão, e caminhou em meio ao falatório dos desconhecidos.

Por que achou que isso ajudaria? Até o vento frio que vinha do mar a deprimia.

Próximo ao Píer 7, um alvoroço chamou sua atenção. Um homem gritava horrores para uma gaivota que havia roubado o seu sorvete. A ave planou para longe, indiferente à revolta que causara. Celine também teria ignorado caso o referido homem não fosse Pardo.

Ao se aproximar, ela pôde ouvi-lo lamentar:

— Oh, casquinha dupla de floresta negra com calda de amoras, não acredito que você se foi assim!

— Pardo?

Ele a olhou por cima do ombro, genuíno pesar marcava sua expressão.

Celine sorriu.

  

— Caramba, Celine! — exclamou Pardo, minutos depois. — Valeu por me pagar outro sorvete! Tem certeza que não quer uma provinha?

— Sim, pode aproveitar. Só fica de olho nas gaivotas.

Os dois seguiram pelo piso de madeira do píer, avançando para o oceano. Ao fim da plataforma, o sorvete de Pardo já havia terminado. Em silêncio, escoraram-se na mureta de proteção e observaram o navegar gracioso de um veleiro. O vento era mais forte ali, assim como a sensação de isolamento.

De repente, Pardo perguntou:

— Está tudo bem? Você parece meio pra baixo.

Ela apertou os braços em volta de si mesma.

— Sim, é que... hoje completa um mês que estou aqui, sabia? Eu nunca fiquei tanto tempo longe de casa, da família. Acho que estou um pouco sentimental.

— Tem vontade de voltar pra Jersey?

— Não — respondeu, abrupta. — Quer dizer, um dia vou voltar, mas não agora. Eu realmente quis, e quero, estar aqui. Eu só... sinto falta das minhas irmãs, da comida da minha mãe e... — seus olhos ficaram embaçados — do lugar em que vivi a vida inteira.

O frio que a castigava desapareceu no instante em que Pardo a abraçou. Ele era grande o bastante para sufocá-la num único movimento, porém havia tanta delicadeza no gesto que tudo o que Celine sentiu foi segurança.

— Está tudo bem, põem pra fora — disse ele.

Celine se aconchegou naquele abraço, e se agarrou à ideia de que não precisava bancar a forte. Estava tudo bem sentir saudade de casa, assim como estava tudo bem derramar algumas lágrimas por isso. Quando as emoções voltaram a um nível suportável, ela encarou Pardo. Ele sorriu.

— Admiro sua resistência, Celine. Não sei se eu suportaria ficar tão longe dos meus irmãos. Mesmo assim, eu ficaria triste se você decidisse ir embora.

O castanho nos olhos dele reluziu, contando tudo o que as palavras não explicaram. Celine entendeu a mensagem, e sua resposta foi inconsciente. Colocou-se na ponta dos pés e uniu seus lábios aos de Pardo.


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