— Eu ainda não acredito que você vai embora — resmungou Elaine, sentada na ponta da cama. — Essa casa não será a mesma sem você.

Celine encarou o rosto triste da irmã mais nova. Seu voo partiria na manhã seguinte e o clima de despedida nublava os humores.

— Você pode me ligar a qualquer hora — garantiu. — Se precisar de mim, eu volto correndo.

Elaine fungou, os olhos perigosamente úmidos. Ao seu lado, largada sobre o colchão, Rebeca reclamou:

— Pra que tanto drama? Celine já tem vinte e três anos, está mais do que na hora dela sair de casa. — A caçula voltou a lixar as unhas da mão. — Queria eu passar uns tempos nas praias da Califórnia.

— Nem sabemos quando veremos ela de novo e você fala em praia? — retrucou Elaine. — Insensível!

A declaração foi o estopim para mais uma discussão entre as duas. A missão de Celine como irmã mais velha era equilibrar seus gênios fortes. Dessa vez, entretanto, apenas sorriu ao ver o bate e rebate de acusações. Elaine e Rebeca teriam que aprender a se entenderem sozinhas.

Doía pensar que não teria mais a terça do cinema com as irmãs; ou os sábados de balada, nem as manhãs de corrida no parque... Ah, mas o que mais sentiria falta seria dessas horas que passavam conversando, pintando as unhas e curtindo a presença uma da outra.

No fim, Celine também teria que aprender a viver sem elas.

— Ah, mas eu amo tanto vocês! — exclamou e, sem aviso, lançou-se para um abraço. — Vou morrer de saudade.

As três acabaram emboladas sobre a cama. Elaine retribuiu o gesto com carinho, Rebeca resmungou:

— Estão me sufocando.

O momento foi interrompido quando o celular de Celine tocou sobre a cabeceira. Rebeca, que estava mais perto, pegou o aparelho.

— Hum, quem é Pardo? — questionou, encarando a tela.

— Me dá aqui. — Celine tomou o celular e pediu para que as irmãs fizessem silêncio, então atendeu. — Ei! Oi, Pardo.

— E aí, Celine! — cumprimentou, a voz alta e animada. — Tudo pronto para a viagem? Que horas você deve chegar no aeroporto? Nós vamos ir te ajudar com a bagagem!

— Sério? Eu ficaria agradecida. Devo chegar por volta de meio-dia.

— Não tem de quê. Está nervosa para andar de avião? Eu viajei uma vez e sentei ao lado do Todd Águia. Já viu algum filme dele? São demais!

— Todd Águia dos Caras da Ação?! Claro que já vi! Tenho até... — Suas irmãs a fitaram com olhos atentos. Aquelas eram suas últimas horas juntas e prometeu não desperdiçar nenhum minuto. — Olha, Pardo, estou um pouquinho ocupada agora. Posso te ligar mais tarde?

— Sem problemas. A gente se fala depois!

Tão logo a chamada foi encerrada, Rebeca disparou:

— Esse é o cara do site de namoro?

— Tem certeza que confia nele? — indagou Elaine. — Pode ser um lunático sequestrador que só quer roubar as suas malas.

— Se o alvo for as malas, ele é um ladrão, não sequestrador — argumentou a caçula.

— Foco, meninas! — pediu Celine. — Sim, tecnicamente, ele é o cara do site. E, sim, confio nele. Estamos nos falando há alguns dias e...

Seu celular tocou novamente. Dessa vez, eram mensagens do Panda. Celine não impediu que suas irmãs lessem.

Olá, Celine.

[Essa mensagem foi apagada]

[Essa mensagem foi apagada]

Tudo bem?

O Pardo esqueceu de perguntar sua plataforma de desembarque rsrs

— Quem é esse? — perguntou Elaine.

— Outro cara do site.

— Nossa, dois ao mesmo tempo? — brincou Rebeca.

— Não é o que estão pensando. Eles são apenas...

Outra notificação apitou em seu celular. Para seu espanto, era um e-mail.

De: Polar

Para: Celine

Assunto: (sem assunto)

Bon voyage, Celine.

— Pardo, Panda e Polar? — murmurou Elaine. — Parece apelido de membro de gangue.

— Qual deles é o mais bonito, Celine? — questionou Rebeca, empolgada.

— Eles são meus amigos — esclareceu ela. — Nos conhecemos no site de namoro, mas somos apenas amigos.

— Nada te impede de mudar esse status no futuro — argumentou a caçula, malícia pincelando seu sorriso.

Celine também sorriu, mas só porque a ideia era absurda.

— Os três são irmãos, e vocês sabem o meu lema, não é?

— Nada fica entre irmãos — declarou Elaine.

O sorriso de Celine aumentou.

— Isso mesmo — novamente, se jogou sobre as mais novas para um abraço —, nada fica entre irmãos.