Celine a trois escrita por lljj


Capítulo 16
Seize




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Chegamos agora

Vamos entrar

Celine repassou a mensagem pelo rádio, depois comunicou aos convidados que a hora chegara. Todos aguardaram na entrada da cafeteria aos sussurros e risadinhas. Um rapaz atravessou a porta e seu rosto foi tomado pelo espanto quando a multidão explodiu em gritos, confetes e serpentinas.

— Feliz aniversário, Heitor!

Heitor espalmou o coração. Logo atrás, suas duas mães, as contratantes da festa, entraram sorrindo. Abraços, exclamações e gargalhadas se desenrolaram. Por um segundo, Celine apenas assistiu a alegria da reunião. Aquele momento era único e especial, ficaria marcado nas lembranças de Heitor e sua família. Nada poderia manchar essa experiência, por isso, enquanto o aniversariante era absorvido pelo espírito de comemoração, ela questionou pelo rádio:

— O que houve com o bolo?

Estática estalou antes que o chefe da cozinha respondesse.

— Estão levando para a mesa.

— E como ficou?

— É melhor ver por si mesma.

O comentário a fez estremecer. Teria corrido até a mesa do bolo para conferir o resultado caso uma das mães não estivesse vindo em sua direção. Celine colou um sorriso imperturbável no rosto ao cumprimentá-la. Repassou a programação, deu algumas informações e pediu que ela aproveitasse, afinal:

— Está tudo sob controle — garantiu.

A mulher agradeceu e se encaminhou de volta para sua esposa e filho. Celine segurou a respiração ao vê-los irem direto para a decorada mesa do bolo. Não havia para onde correr, então apenas os seguiu. Se achassem tudo uma porcaria, ofereceria uma troca imediatamente — alguma confeitaria teria um bolo de anime disponível para pronta entrega?

O aniversariante arquejou ao parar diante da mesa, suas mãos voaram para cobrir a boca aberta. Suas mães franziram as sobrancelhas em clara confusão. Celine esticou o pescoço para ver melhor.

O bolo continuou uma bagunça.

Resignada, ela listou na mente todas as confeitarias para as quais poderia ligar — duas, no total. Aproximou-se para explicar a situação e ouviu Heitor exclamar:

— A batalha pela terra sagrada! Eu amo essa cena! Como vocês adivinharam?

As mães compartilharam um olhar incerto. Por sorte, o jovem não esperou respostas: sacou o celular e se pôs a tirar selfies. Se ele gostou daquilo, não haveria necessidade de troca.

Celine sentiu os primeiros sinais de alívio a inundarem. Quando avistou Panda do outro lado do salão, na área reservada aos garçons, apressou-se até ele.

— O aniversariante adorou o bolo — comentou, ainda estupefata.

Panda sorriu.

— Eu falei: qualquer fã conhece essa cena. O pessoal da cozinha conseguiu fazer ficar bem parecido.

Ela também sorriu.

— Obrigada, não sei o que faria se você não estivesse aqui.

Panda desviou o olhar e gaguejou ao dispensar agradecimentos. O coração dela amoleceu. Estava com saudade desse jeitinho tímido. Passou as últimas semanas torcendo para que o sentimento diminuísse, mas bastou encontrá-lo para lembrar de tudo o que perdeu ao virar as costas para essa amizade. Sem contar com Pardo e Polar, que só de pensar já triplicava o vazio em seu peito.

— Ainda posso ser seu auxiliar essa noite? — perguntou Panda, o tom inseguro.

Foi a vez dela de desviar os olhos. A imagem da briga entre os irmãos saltou em suas lembranças, trazendo de volta o mal-estar. Sentiu-se uma intrusa cuja simples existência era nociva para o relacionamento deles. Foi tão constrangedor e horrível. Não queria repetir aquilo jamais. Para o seu bem e o deles, era melhor...

— Celine, a culpa foi toda minha — declarou Panda, como se soubesse o caminho que a mente dela percorria. — Pardo e Polar estão apaixonados por você, eles queriam te pedir em namoro e eu... eu fiquei com ciúme e causei a briga. — O rosto dele assumiu um alarmante avermelhado. — Achei que... talvez, ainda tivesse chances de... sermos mais que amigos...

O entendimento a acertou em cheio.

— Panda, eu... não percebi. — Desde o início o enxergou apenas como um amigo. Diferente da confusão de emoções que Pardo e Polar causaram com o passar do tempo, Panda sempre lhe trouxe tranquilidade. Droga, ela até contou a ele que estava apaixonada por seus irmãos. Segredos entre amigos, na época. Agora, Celine pensou em como isso devia tê-lo machucado. — Me desculpa, eu... me desculpa.

— Não, não. Sou eu que peço desculpas. Estraguei tudo. O Pardo e o Polar estão como zumbis lá em casa e eu... perdi a sua companhia. — A expressão dele tornou-se pensativa. — Queria tanto que você gostasse de mim que ignorei os seus sentimentos e os dos meus irmãos. Até os meus, eu acho. Não sei se gosto de você, romanticamente falando, ou se gosto apenas da ideia de estar com você. Você é tipo a namorada perfeita, entende?

O que ela não entendia era como aquela conversa estava acontecendo naquele lugar. A música que encheu o ambiente era animada; pessoas dançavam, comiam e brincavam a sua frente. A animação gerou um triste contraste com o que ela sentia por dentro.

— Estou longe de ser perfeita, Panda — murmurou. — Na verdade, sou um mar de imperfeições.

— É, percebi isso também — concordou, prontamente.

Celine ricocheteou a cabeça na direção dele.

— Como assim?

— Sem ofensas, mas você é muito cabeça-dura. E autoritária. Não deu a miníma chance de conversa desde que saiu lá de casa. Eu ia querer uma namorada mais de boa — o final foi dito como um levíssimo sussurro.

Ela ficou entre rir e xingar.

— Eu estava tentando facilitar as coisas — defendeu-se. — Ficar entre Pardo e Polar sabendo que eles estão me disputando seria horrível. Principalmente, porque... eu não quero ter que escolher um deles.

Ambos eram diferentes e ela gostava deles por motivos diferentes, porém a conexão era a mesma. Ela desejava as longas conversas com Pardo tanto quanto os silêncios confortáveis com Polar. Ter os beijos de um e perder o toque do outro era desolador. Preferia não ter nada.

— Converse com eles e se entendam — disse Panda. — Seja como amigos ou... qualquer outra coisa.

— Isso não te incomodaria?

Ele sorriu timidamente.

— Agora eu só quero que todo mundo fique bem. — Estendeu uma das mãos para ela. — Amigos?

Celine respirou fundo antes de selar o aperto de mãos.

— Amigos.


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