Celine a trois escrita por lljj


Capítulo 12
Douze




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— Pan-pan — chamou Pardo —, tem certeza que a Celine não vem?

Era a terceira vez que ele perguntou isso. Há vinte minutos a TV estava pausada na abertura da série. A sala, limpa até reluzir, estava repleta de travesseiros, pacotes de salgadinho e bacias de pipoca. Os três irmãos encontravam-se sentados no sofá, esperando alguém que não viria. Ou melhor, dois deles esperavam. Panda mexia no celular para se distrair da raiva crescente.

— Ela não vem — resmungou.

Ele preferia assim. Após as revelações de Celine no restaurante chinês, a última coisa que queria era vê-la interagir com seus irmãos. Já era horrível o bastante testemunhar todo o alvoroço que eles faziam por ela. Engraçado como só agora ele reconheceu os sinais.

Polar tinha o dobro de cuidado na preparação da casa e da comida sempre que Celine os visitava. Pardo atingia um nível alarmante de empolgação ao falar dela, como se pronunciar seu nome já o energizasse.

Traidores!

Todo aquele papo de serem apenas amigos foi uma mentira. Pelas costas de Panda, ganharam terreno e conquistaram a garota que devia ser dele.

— Manos, preciso contar uma coisa — murmurou Pardo. — Acho que sei porque a Celine está evitando a gente.

Panda enrijeceu.

— Eu não quero saber — disparou. Na verdade, sabia muito bem ao que o irmão se referia, entrar naquele assunto tornaria a situação mais real. — Celine não está evitando a gente — argumentou. — Ela só está ocupada com o trabalho.

— Hum, tá legal então... — disse Pardo. — Espero que seja só isso mesmo, porque vou pedir ela em namoro.

O celular escorregou das mãos de Panda. Uma imagem nítida invadiu sua mente: Pardo e Celine andando de mãos dadas, rindo um para o outro como se fossem o casal perfeito.

— Você não pode fazer isso! — exclamou, levantando-se do sofá.

— Tem razão — concordou Polar, colocando-se de pé. Panda se sentiu apoiado... até o irmão tirar uma caixinha do bolso. — Polar já comprou anéis de compromisso para Celine.

O queixo de Panda bateu no chão. Outra imagem surgiu: Polar e Celine na cozinha, fazendo comida juntos, alianças gêmeas brilhando em seus dedos anelares.

— Não, não, não! Vocês não podem fazer isso!

— Segura sua onda, Pan-pan! — avisou Pardo, em seguida, encarou Polar. — Eu e a Celine temos um lance, nem adianta você tentar.

As sobrancelhas loiras franziram em contrariedade.

— Polar e Celine também tem um lance.

Antagonismo saturou o ar entre os dois. Panda ficou de fora, como se sua presença não tivesse relevância alguma para a situação.

— Nenhum de vocês pode ficar com ela — declarou, irado. — Eu vi primeiro!

Num impulso, puxou a caixinha de veludo das mãos de Polar e correu em direção a janela da sala. Teria jogado os anéis longe caso o irmão não houvesse pulado em suas costas. Rolaram pelo chão, lutando pela posse da caixinha. Pardo se aproximou, talvez para separar a briga, porém acabou no centro da contenda, se atracando com os outros dois.

Os golpes e empurrões não eram para machucar. Era mais uma questão de dominância do que força e, por enquanto, Panda prevaleceu. A caixinha continuou apertada em seus dedos.

Preocupado em manter a vantagem, não deu atenção aos gritos que mandavam parar. Os irmãos também não ligaram. Pardo avançou em cima dele e, com um tapa em sua mão, lançou a caixinha para o outro lado da sala.

Ela caiu aos pés de Celine.

— Que porra vocês estão fazendo? — questionou ela, horrorizada. — Dá pra ouvir a bagunça lá de fora.

Panda se tornou consciente do quão pavorosa era a visão de três homens se estapeando no chão. Empurrou Pardo para longe de si, Polar o libertou do mata-leão. Alinharam-se diante de Celine, as cabeças baixas.

— Digam o que aconteceu — exigiu ela. — Por que estavam brigando como animais?

Nenhum deles respondeu, a vergonha era palpável.

Celine suspirou, segurava uma imensa caixa de pizza nas mãos. Provavelmente, decidira participar da maratona na última hora. Panda torceu para que ela não tivesse notado a caixinha de veludo.

A sorte nunca ficava ao lado dele...

— Era por isso que estavam brigando? — perguntou ela, e abaixou-se para pegar o objeto. Abriu-o e se encolheu. — De quem é isso?

Polar pigarreou.

— É do Polar — disse. — Para você.

A luz que iluminava Celine esmaeceu. Sua pele ficou pálida, seus olhos, opacos. Até sua voz perdeu a força ao sussurrar:

— Brigaram por minha causa?

— Não! — apressou-se Pardo, e gaguejou atrás de uma explicação.

Celine era esperta demais para não ver a verdade.

— Acho melhor eu ir embora — afirmou, colocando tanto a caixa de pizza quanto a de anéis na mesinha de centro. — Me desculpe por causar problemas.

— Você não causou problema nenhum — declarou Pardo —, nós que... perdemos a cabeça.

— Polar está envergonhado com suas atitudes — lamentou Polar.

Celine torceu os dedos das mãos uns nos outros.

— É claro que a culpa é minha. Eu... — desviou o olhar. — É melhor nos afastarmos daqui pra frente.

— O que?!

— O amor entre irmãos é importante — disse ela, caminhando para trás. — Vocês são um ótimo trio. Não serei eu a estragar tudo. Se cuidem!

— Espera! — O grito de Pardo deteve a fuga dela. — Celine, nós... não sei, podemos... — Olhou para Polar pedindo ajuda.

— Podemos conversar — completou o irmão.

Por um segundo, a expressão dela foi tomada por dúvidas. Então, uma camada inconfundível daquela determinação ferrenha engessou os seus traços.

— Agradeço por terem sido bons amigos até hoje — falou, séria. — Mas, por favor, não me procurem mais.

Virou as costas e saiu.

Panda, que ficou como um expectador durante toda a conversa, assistiu como a partida de Celine trouxe desolação aos seus irmãos. Um pedaço dele se agradou em saber que nem Pardo, nem Polar teriam chance com ela. Sua parte racional entendia que aquilo era puro egoísmo.


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