Eu e meu professor: como literatura e gramática escrita por AntonellA


Capítulo 4
Capitulo 4: You and me, Lifehouse




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— Acorda, gatinha… - disse Francisco no pé do meu ouvido – cê já tá atrasada.

— Que horas são?

— 7:50. To saindo. Hoje devo chegar mais tarde novamente. Esse balanço parece que não vai acabar nunca! Beijo! - me beijou na cabeça e saiu.

— Bom trabalho.

Quando olhei pra tela do celular, lembrei do teu e-mail e sorri. Me levantei com muito mais disposição, pensando que te veria em 20 minutos. Banhei, me vesti com um vestido longo que era a cara da sexta-feira, penteei os cabelos e passei rímel e lip tint no caminho.

Graças a Deus que eu morava no bairro universitário ao lado da universidade, ou eu só chegaria 1:30h depois.

Reli seu e-mail enquanto atravessava o patio e respondi em seguida:

 

 

 

Tonton@outemail.com para Josebchj@uema.com.br

 

O nome combina com o que?

Toda essa conversa me deixou com vontade de um nhoque ao sugo… Ai que fome.

 

Antonella Silva

 

Cheguei a porta da sala, respirei fundo e entrei.

Buon giorno!

Buon giorno— todos responderam em uníssono. Você virou e me respondeu sorrindo como sempre e me olhou dos pés a cabeça.

Un po' tardi, no? (um pouco tarde, não?) - disse-me sorrindo.

Solo un po’, ho dormito a tarda notte (só um pouco, eu dormi tarde da noite) – disse meio envergonhada, mas sorrindo. Você sabia o motivo.

Siediti (sente-se). Estamos estudando verbos irregulares. As meninas já estão na atividade. Em dez minutos respondemos.

Grazie.

Me sentei ao lado de Sabrina como sempre e pedi que me deixasse ver a atividade. Não entendi nada, como tudo de gramática que tentava aprender. Revirei os olhos me perguntando como alguém poderia entender e gostar daquilo. Eu gostava de literatura, redação, as línguas em si, seu uso. Mas essa parte do curso sempre me doía. Passava sempre arrastada.

Senti o celular vibrar na mesa e olhei. Era sua resposta.

 

 

Josebchj@uema.com.br para Tonton@outemail.com

 

Só... Combina. E somente essa resposta você vai ter. Sobre a comida… Você acha que eu não fiquei com vontade também? Tem um restaurante muito bom no Bairro de Cima, você já foi? O dono é italiano. Não tem comparação!

 

Ah, preciso deixar como lembrete mental: “não conversar ate tarde com Antonella por e-mail, para não ser culpado por seu atraso no dia seguinte.”

 

José B. Jung

Professor de Letras com Italiano,

Universidade Estadual Machado de Assis

 

 

Olhei ao redor pra ver se ninguém estava, sei la, notando alguma coisa, sentindo no ar. Em seguida, olhei pra você e respondi com a maior rapidez possível.

 

 

Tonton@outemail.com para Josebchj@uema.com.br

 

Bem complicado esse jeito do senhor de ser evasivo, kkkk. Eu só perguntei o “por que?” de algo que foi dito por ti. Não conheço pessoalmente o restaurante, mas escuto falar muito bem. Poderia haver uma “viagem de campo” pra conhecer um pouco da comida, digo, do dono do lugar e sua cultura. Isso é viver a universidade, não é? E… Realmente, eu costumo dormir bem cedo. Não é atoa que peguei no sono – por isso só respondi hoje.

 

Antonella Silva

 

 

Enviei e fiquei te olhando com cara de deboche, enquanto esperava ansiosa que o e-mail chegasse.

Você leu, sorriu e levantou os olhos pra mim rapidamente.

 

 

 

Josebchj@uema.com.br para Tonton@outemail.com

 

Com os recursos dessa universidade, acho difícil. Admito que tenho um pouco de culpa na sua vontade. Te devo um nhoque… e vai ser do Rafaello’s. Como pago?

José B. Jung

Professor de Letras com Italiano,

Universidade Estadual Machado de Assis

 

Antes que eu respondesse, você se levantou e retomou a aula. Não prestei atenção em absolutamente nada depois disso. Fiquei imaginando se você quis dizer que me levaria pra jantar… Ou pagaria pra mim? Não sei se gostava muito dessa ideia, apesar de que amaria passar mais tempo com você.

— Ragazze, estão liberadas. Quem ainda não enviou o esboço do plano que pedi, por favore, enviar ainda hoje. Bom fine settimana.

Enquanto saia da sala, peguei o celular pra responder. Você recolheu suas coisas e passou na nossa frente, dizendo tchau e que estava atrasado pra uma reunião de área.

 

 

Tonton@outemail.com para Josebchj@uema.com.br

 

Não sei o que dizer… Obrigada pelo “convite”! De qualquer forma, acho que não vou poder aceitar… Não gosto muito da ideia de um homem pagando pra mim.

 

Antonella Silva

 

— Você vai pra aula de Neide agora?

— Vou… sim! - respondi meio distraída a Sabrina.

— Você está estranhamente quieta hoje. Ta tudo bem?

— Claro que sim – olhei as tuas costas uns metros a frente e senti o rosto esquentar. Será que ela tinha percebido algo? – Só estou cansada, dormi pouco esta noite e ainda acordei atrasada.

 

Meu celular vibrou nas mãos. Olhei com expectativa, esperando ver sua resposta.

 

De: Francisco

Morena, vim dar um pulo em Rio Mar pra resolver umas coisas da loja, mas no caminho de ida e volta tá o maior engarrafamento por causa do feriado da cidade de Ribeira. Se demorar demais, pensei em dormir em meus pais e só voltar amanha, depois do pico (umas 12 horas). Tudo bem por você?

 

 

Os pais do Francisco moravam nessa cidade vizinha que ficava ha umas duas horas daqui de Lima. Eles tinham uma loja de variedades importante la e ele havia vindo pra cá cuidar da filial. Vez por outra isso acontecia. Eu sempre amei passar tempo sozinha, então não tinha problema nenhum com isso. Lhe respondi que não tinha problema nenhum.

 

— Eu ainda não acredito no que Patricia disse, sabia?

— E ela disse o que? - perguntei já sabendo que Sabrina sempre esquecia que não lemos a mente uma da outra.

— Eu não te disse?

— Você diz muitas coisas.

Ela revirou os olhos e continuou:

— Ela disse nem alto na sala hoje, antes do professor chegar, que ele tinha se interessado nela. Que eles estavam batendo o maior papo por mensagens esses dias. EU não acho que isso combina com ELE, que é superprofissional com a gente e creio que jamais ficaria de assunto com uma aluna.

 

Minhas pernas tremeram por um segundo. Não sei dizer até hoje se por medo de você ser um cretino ou pelo fato de me sentir baixa como a Patricia, que dava bola pra todo mundo – afinal, eu tava mesmo de papo com o professor.

— é, também acho improvável. Já conhecemos a língua da dita cuja.

Entramos pra aula seguinte de Sistemas do Latim e tentei afastar você do meu juízo. Já estava impossível, e ficou mais ainda quando no fim da aula, você respondeu.

 

 

 

Josebchj@uema.com.br para Tonton@outemail.com

 

Ora, donna… Não encare assim. Pense como um empréstimo. Um dia você vai ser minha colega de profissão e vai poder me retribuir. Minha missão agora é lhe levar pra provar o melhor nhoque que já provei nesse Brasil – e eu já comi muitos.

Pena estar tao encima. Hoje eles tem massa dobrada. Literalmente não me custaria nada lhe levar. E eu ganharia uma companhia, sempre vou sozinho.

 

José B. Jung

Professor de Letras com Italiano,

Universidade Estadual Machado de Assis

 

Pensei no que Sabrina disse… Ponderei… E cheguei a conclusão que aquele não era você. Além do mais, diferente de Patricia, eu não me jogaria encima de você la. Seria perfeito, já que o Francisco não estaria aqui e eu não teria que explicar isso – ele não entenderia. Ri do meu cinismo. Claro que não. Eu não entenderia se fosse o contrário e se soubesse dos sentimentos envolvidos de uma das partes.

 

 

 

Tonton@outemail.com para Josebchj@uema.com.br

 

Nesses termos eu concordaria. Na verdade, hoje seria perfeito.

 

Antonella Silva

 

 

Mais tarde…

 

Passei a tarde nervosa. Acho que minha gastrite nunca atacou tanto de uma vez só. Era ansiedade misturada com felicidade, com nervoso, com medo… Socorro! Apesar disso, eu me sentia a fada de luz mais reluzente do bosque.

Levei nada menos que meia hora pra decidir minha roupa. Sabe esse complexo feminino de “oh, vida, não tenho nada pra vestir”, tendo umas 100 peças a disposição? Então! Acabei optando por um macacão longo marsala, porque o que um macacão não faz por uma mulher que não sabe o que vestir, nada mais faz. Ele era justo na parte de cima e tinha pernas flare. Passei batom vermelho e rímel e torci pra ser o suficiente. Havia pesquisado o local no google pra ajudar, mas não tinha ficado muito claro se eu estava indo pra um restaurante 4 estrelas ou uma bodega.

Marcamos pras 19 horas, mas as 18 eu já estava pronta, sentada no sofá e suando. As 18:40 pedi o Uber e o Siena branco chegou em 5 minutos. Fui conversando banalidades com o motorista até chegarmos ao restaurante. Ele me desejou boa sorte – como se soubesse o que me esperava. Eu sorri, agradeci e desci do carro (quase caindo, por que se não, não seria eu). Levantei os olhos pra frente do lugar e admirei a beleza. Parecia uma antiga casa, nada extremamente extravagante, mas do jeito que eu imaginaria um restaurante tipicamente italiano. Algumas luzes tipo pisca-pisca cobriam algumas árvores e arbustos do lugar para anunciar o já próximo natal. A entrada era toda em pedras escuras e o nome estava estampado numa placa de madeira, pendurada por duas correntes e uma bandeira balançando orgulhosa perto do portao. Me sentiria na Itália se não soubesse onde estava. Quando olhei pra entrada – uma porta alta de madeira – você estava em pé me esperando.

Lindo. Eu não poderia achar que você estava diferente disso. Mas ali, vestido menos “professor” que o de costume, o ar era totalmente diferente.

— Boa noite, Antonella.

— Boa noite, professor.


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