Eu e meu professor: como literatura e gramática escrita por AntonellA


Capítulo 2
(They long to be) close to you – Carpenters


Notas iniciais do capítulo

Oiiii! ♥ Boa leitura.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/784035/chapter/2

(They long to be) close to you – Carpenters

 

Sonhei com você. Acordei e não podia dividir com ninguém. Imagina o que meu noivo deitado ao lado diria? Ou minhas colegas de sala? Minhas amigas? Imagina só!

Acordei, me levantei, escolhi meu vestido longo com fenda na perna, passei um gloss e um rímel e fui pra aula. Cheguei na sala e você estava lá, pontual como sempre. Sabe como isso é raro nas universidades? Eu sempre chegava dez minutos depois do horário e tinha a oportunidade de te ver olhando pra trás, pra mim e responder com seu polido “bom dia”.

— Bom dia!

Buon giorno!

Sentei na primeira carteira de sempre e esperei pra ouvir você falando mais um pouco de italiano pra mim – ou melhor, pra turma inteira. Sua voz já era bonita, em outro idioma então, homem!

— Então vocês vão trabalhar em duplas para construir esse material didático…

— Ei bonita! Bom dia. Alguma novidade até agora? - me virei e sussurrei pra Sabrina, atrás de mim

— Não sei, não tava prestando muita atenção na fala dele, só na boquinha. É alguma coisa sobre um filme que vamos assistir e...

Antonella e Sabrina? Posso interromper? - chamou nossa atenção com aquela cara de seriedade amistosa que passei a gostar tanto.

Sì, signore— respondi envergonhada, olhando em teus olhos.

— Vocês devem lembrar que os filmes devem ser de origem italiana e que estejam no idioma ou em último caso, que retratem bem a cultura, esatto? Agora já podem formar e reunir as duplas para pesquisar e pensar como vocês gostariam de fazer. Vou passando pra ajudar e ver o andamento.

— Não vai começar a rir sem parar novamente, né? - perguntei a Sabrina.

— Eu até diria que não, mas ele me deixa nervosa e a gente ainda tem que falar em italiano com ele, aí pronto.

Le ragazze já terminaram?

— Depende do ponto de vista, maestro— falei – acabamos… de começar.

Você sorriu de canto e perguntou quais eram as ideias e eu olhei pra teus lábios finos e lembrei do meu sonho. Eles não pareciam tão finos lá, afinal. Talvez fosse sua barba que os fazia parecer mais estreitos. Nos meus sonhos você não estava com barba. Ou estava? Não é incrível e triste como vamos esquecendo boa parte dos sonhos durante o dia?

Contamos as ideias pra você.

Meraviglioso. Antonella pensou em algo mais? - eu amava quando você falava meu nome italiano com aquele sotaque lindo que tinha, ainda mais porque sempre falava com a gente olhando nos olhos. Parecia que pararia o mundo pra ouvir o que tínhamos a falar.

— Hmmm, na verdade, não, só o que anotamos até aqui mesmo.

Va bene, me enviem o esboço por e-mail quando pronto. Antonella tem o meu, ?

Assolutamente.

Terminamos e adiantamos o que podíamos e saímos da aula – depois do horário. Numa turma formada apenas por meninas, não surpreendia que nenhuma se incomodasse de passar da hora, julgando pelo professor que “causava” o atraso. Eu tinha (ainda tenho) essa louca impressão que, mesmo as garotas compromissadas, tinham uma queda do penhasco por você.

Não que você fosse o homem mais lindo do universo, ou tivesse o padrãozinho de cara forte e alto que encantava le ragazze – você era quase o oposto com sua altura mediana e corpo mais pra esguio que pra forte. Era seu jeito, sua educação, dedicação… E seu sorriso. Sua pele branca, seu sotaque suavemente sulista, cabelo quase preto e barba média eram detalhes a mais. Pelo menos pra mim.

Saímos da sala e fiquei um pouco pra trás puxando assunto contigo.

— E aí, se acostumando a cidade pequena e à saudade da família?

— Na verdade, não sinto muito isso da cidade “pequena” - você fez um sinal de aspas com as mãos – cresci numa cidade 10x menor que essa. Aquele tipo de cidade que todo mundo se conhece, sabe? Minha mãe tem uma venda local, então aí mesmo eu conhecia todo mundo. Tanto que pra fazer universidade, tive que mudar pra fora.

— Ah sim! Nunca ia imaginar isso sobre o senhor. Não mesmo!

— Acho que ninguém pensa, deve ter sido o tempo que morei fora na capital estudando que fez isso - falou meio desconcertado.

— Antonella, esqueceu que temos a próxima aula no módulo mais distante possível? Adianta! - falou Sabrina com aos meninas por perto.

— E eu estou super atrasado pra minha próxima turma. Ciao!

— Ciao – dissemos em coro.

As meninas seguiram conversando amenidades, enquanto eu só tentava imaginar você mais novo, vivendo numa cidade assim e logo depois, mais velho e se mudando pra uma capital pra estudar.

 

Mais tarde

Cheguei em casa lá pelas 18hs e Francisco não havia chegado ainda. Lembrei que hoje era seu dia de chegar mais tarde do trabalho. Estava faminta e não encontrei nada pronto na geladeira. Amava cozinhar, mas isso era tudo que eu não queria agora. Abri meu cofrinho e encontrei a nota de R$100 que teria que durar mais duas semanas… Pensei - como boa gastadeira que sou - “10 reais a menos gastos numa lasanha congelada não vão me matar”. Estava de jeans meio curto e parecendo uma doida com uma blusa furada e o cabelo loucamente preso com uma caneta, mas não imaginei que fosse encontrar alguém conhecido, o mercado era ao lado – rá, coitada.

Saí pela rua toda confiante, pensando na lasanha congelada de quatro queijos que eu amava mais que tudo, até parar triste na frente do mercado – que estava fechado. Olhei ao redor sem esperança, até que vi uma barraquinha de coxinha, oh glória!

— Boa noite! Tudo bem? Tem coxinha de quê?

— O cardápio tá aqui querida, fica á vontade!

Olhei pra ele e não consegui me decidir – zero novidade.

— Qual a maior de todas?

— A de mistão é enorme, ragazza! — meu coração bateu acelerado ao ouvir aquela voz. Virei bem devagar.

— Não acredito! - falei num susto assustado até demais - Boa noite, professor José.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Até o próximo! Obrigada por chegar até aqui ♥



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Eu e meu professor: como literatura e gramática" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.