Uma Canção de Sakura e Tomoyo: Finalmente Juntas escrita por Braunjakga


Capítulo 9
Você perdeu sua vida, meu irmão!




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Capítulo 7

Você perdeu sua vida, meu irmão! 

 

"Nota: essa fanfic não pretende dar lições de história ou ser fiel à historiografia oficial. Ela apenas faz uso de alguns fatos históricos para compor a trama. Não houve uma 'guerra civil basca' nos anos oitenta, mas os atentados do grupo separatista armado ETA se tornaram mais frequentes a partir dessa década. Mais de 800 pessoas foram mortas por causa dos atentados do grupo, visando a separação da região da Espanha e da França."

 

Prédio da Audiência Nacional, Madrid, Espanha

20 de março de 2015

 

I

 

Um homem de cerca de sessenta anos estava sentado diante da promotoria. Dentro daquela sala fechada, vestia camisa preta de botões, calça preta e sapatos pretos, por pura escolha pessoal. No seu braço, havia uma tatuagem grande bem destacada, contrastando com a pele branca. Um dos promotores olhava-a atentamente. 

O desenho da tatuagem era uma árvore cercada por um círculo de palavras que dizia “Nazioa suntsitu aurretik ikuspegi batua. - 14 Infanteria Brigada Guernica.” (A união da visão antes da destruição da nação. - 14 Brigada de infantaria Guernica). Havia um escudo no tronco da árvore com dois fuzis se cruzando. 

— Senhor Oskar Urnieta, o senhor é basco, natural de Landarbaso, não?

— Sim. Da mesma forma que o senhor, promotor Antxon Aguirre, veio de lá.

— As perguntas não são sobre a minha origem, tenente. As perguntas são sobre os crimes brutais que a décima quarta brigada de infantaria de Guernica fez na guerra civil basca dos anos 80. O senhor confirma esse depoimento?   

O homem de cabelos brancos baixou a cabeça e sua mente voltou para o passado. 

 

II 

Alsasua, Navarra

Dois meses antes… 

 

Estavam no topo de uma colina. Dava para ver os prédios da cidade do topo. Sentado num pedregulho, estava um homem de armadura vermelha como sangue com uma caixa nas mãos. Havia uma capa escarlate nas costas com o escudo da Catalunha estampado. 

— Miserável! Deve ser mais um daqueles separatistas! Quem acaba com cobra, acaba com ninhada! — disse Oskar, observando o homem escondido numa moita. Ele apontou uma pistola prateada contra ela, esperando a melhor hora para atirar. Suas mãos começaram a tremer e ele perdeu o alvo. Estava tão nervoso que pegou uma carta de dentro do bolso e leu-a novamente.

“Eu sei o que você fez na guerra civil. Você é um dos violadores de Arantxa Onãti e eu sei disso. Quer que todo mundo descubra? Os parentes dela ainda esperam por justiça, sabia? Se não quiser ter seus segredos revelados, me encontre na colina de frente para Alsasua. Você sabe qual é e você vai saber quem eu sou quando chegar lá”

Ler aquela carta novamente encheu o espírito do homem com mais ódio ainda. Ele amassou a carta e tornou a colocar a mão na pistola, dessa vez, as duas mãos para que não tremesse. Quando ia pressionar o gatilho, o homem de armadura vermelha disse:

— Não adianta, Oskar. Seus tiros não vão fazer efeito em mim…

— Maldito! — Oskar disparou um, dois três tiros. Os tiros pararam no capacete e ficaram flutuando no ar. O homem de armadura vermelha colocou a caixa de lado e se levantou do banco. O tenente arregalou os olhos de espanto. 

— Eu disse que esses tiros não iam fazer efeito em mim… — O homem de armadura vermelha como sangue fez os tiros voarem na direção de Oskar. As três balas passaram de raspão pelos ombros, pela testa e pela coxa do homem, rasgando suas roupas. O soldado se ajoelhou com a dor e com o calor das balas. 

— Mas que merda é você? Como é que você sabe da minha vida?

— Eu sou um homem que tem contas a acertar… — O homem de armadura vermelha como sangue tirou uma fita VHS de dentro da caixa e colocou-a numa câmera velha. Ele deu “play” e as imagens de um Oskar mais novo, colocando gasolina numa igreja, começaram a rodar. O tenente ficou branco como neve.

— Miserável, como você conseguiu isso? 

— O que eu quero, eu consigo! Não se esqueça disso… 

— O que você quer de mim?

— A sua fidelidade. 

— Hã?

— Qual o preço da sua fidelidade para o Rei da Espanha? 

Oskar entendeu onde ele queria chegar.

— A minha fidelidade é total!

— Será? Ele atuou na sua brigada, não foi? Ele também tem a mesma ficha suja… Imagina se isso para na mão do juiz… 

— Se você está pensando que vai me fazer entregar meus companheiros de guerra, pensou errado! Aqui não tem dedo-duro não! 

— Veremos, veremos até que ponto o senhor vai morrer engolindo essa fidelidade… Arrastalde On, Tenientea! (boa tarde, tenente!), Você perdeu sua vida, meu irmão!

O homem de armadura vermelha como sangue pegou a caixa e deu um salto no ar.

 

III

 

— Senhor Oskar, eu estou falando com o senhor… O senhor confirma esse depoimento? — perguntou o promotor Aguirre. Hesitante, Oskar respondeu:

— Sim… Excelência. 

Tudo o que veio na mente de Oskar foram as notícias do jornal “El Correo” que dizia “Encontrado culpado do crime de Zumaia. Oskar Urnieta, tenente da 14° Brigada de infantaria de Guernica, é apontado em vídeo como um dos comandantes do massacre da guerra civil que matou 53 bascos”. 

Nunca mais a vida da família dele foi a mesma. Suas duas filhas sentiram nojo do pai e sua esposa pediu o divórcio. Ninguém da 14° Brigada apareceu para lhe apoiar. Ele não foi o único a participar daquilo e se sentia, no fundo, tentado a delatar todos que o ajudaram, mesmo que tivesse feito votos de fidelidade com a brigada de não contar nada do que aconteceu naquela guerra para ninguém. O que mais magoava Oskar era que ninguém foi fazer uma visita para ele na prisão militar, nem mesmo advogado mandaram para ele. Teve que recorrer à defensoria pública e nenhum deles foi gentil com ele. Todos lhe recomendaram confessar e arcar com as consequências do crime sozinho.   

— Quem mais participou desse crime, tenente? — perguntou Antxon.

— El Rey. O rei Felipe VII lutou na nossa brigada. 

Os promotores e juízes ficaram espantados com a denúncia que ele fez. 

— O senhor tem provas do que está dizendo? — perguntou Antxon.

— Sim. Pode confirmar com o Iker Undurraga, o Andoni Azkoitia. Eles foram os comandantes da operação toda. Não só dessas, mas de outras também. 

— O coronel Iker e o General Andoni já estão mortos, tenente. Por favor, não me faça rir! O senhor está acusando o chefe de estado de crimes de guerra graves. 

— Eu sei e a minha acusação é verdadeira! Se não vale eles, eles tem filhos! 

— Sim, mas os filhos não participaram da luta… Se não tiver outros… 

— Tem outros, sim!… Tem o Xabi Andoain, ele era meu superior e ainda tá vivo. O Eneko Gorka, ele era outro superior meu. Pode chamar eles aqui! Eles vão dizer a verdade! O rei Felipe sétimo é basco por parte de mãe e se envolveu nisso também. O nome dele é Felipe Ferrer de Bourbon e Lecuauribe! — disse Oskar, desesperado. 

O promotor Antxon ficou tão sobrecarregado com as revelações que fez uma petição ao juiz:

— Meretíssimo. Sem mais perguntas. Recomendo levantar a sessão e chamar os outros suspeitos para depoimento.

O juiz bateu o martelo e todos se levantaram. Oskar já havia recebido ameaças de morte na cadeia caso desse com a língua nos dentes. Ele não se importava, a vida dele já tinha acabado a partir do momento que foi rejeitado pela família. Nem sua esposa, nem suas filhas apareceram para ver o pai ser acusado por crimes de guerra bárbaros. O homem ficou tão abalado que não demorou muito e a vida dele acabou mesmo. Dez dias depois do depoimento, quando fazia a limpeza do telhado da prisão militar, foi empurrado de uma altura de doze metros e caiu no chão. Ninguém descobriu o culpado e o caso foi tratado, até o momento, como acidente. 

 

Continua… 




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