Uma Canção de Sakura e Tomoyo: Finalmente Juntas escrita por Braunjakga


Capítulo 58
Agora eu sinto o mesmo que você




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Capítulo 55/20

Agora eu sinto o mesmo que você! 

 

I

Madrid, Espanha

28 de julho de 2016

 

— Syaoran, você acredita ainda que pode voltar a ser feliz com a Sakura? — perguntou Tomoyo. 

Era fim de tarde.

Os dois estavam numa unidade do Starbucks do bairro mais nobre de Madrid, bebendo um copo de café e comendo alguns pãezinhos. O chinês tinha acabado de chegar na Espanha de sua turnê com o Real Madrid pela “International Champions Cup” e soube que os seus três filhos estavam na Catalunya. Além disso, soube da confusão que os gêmeos aprontaram com Sophia e riu de tudo. 

— Sempre e quando a Sakura quiser me entender é possível a gente se sentar e conversar. Agora, se ninguém quiser se entender, não tem como a gente ter diálogo, entende Tomoyo? — explicou Syaoran. 

— E a sua disposição? 

— Total. — disse Syaoran, tomando um gole de café — Mas eu nunca recebi um telefonema dela além dos pedidos pra ver o Chitatsu… Mas também, nunca tive muita vontade de ligar… Sabe, parece aquela coisa de a gente querer aproveitar um pouco esse espaço que aparece se repente na nossa vida — Syaoran tomou mais um gole de café e Tomoyo sorriu.

—  Te entendo… Não tem uma hora que você chega e pensa "puxa vida, foram 14 anos juntos e acabaram assim tão rápido e…"

— Pensar, eu até penso, Tomoyo. Entendo o que você quer dizer. Se fosse com você, com certeza você não gostaria. Mas então, eu paro pra colocar todos esses anos na balança e a gente vê que não foi uma decisão tão ruim assim… Na verdade, a nossa separação era um processo em andamento. Eu não só falo só de sexo, falo de outras coisas, como convívio, companheirismo e por aí vai… — disse Syaoran, resignado, tomando um último gole de café.  

— Sei… 

— Acho que a Sakura não estava pronta pra se casar comigo naquela época. Não sei se a história hoje seria diferente, mas… Eu sinto que, enquanto a Sakura ainda tivesse em dúvidas se era isso que ela queria mesmo, a dúvida ia continuar e a gente nunca ia ser feliz juntos.  

— Eu fico triste com isso, Syaoran, de verdade mesmo… 

— Tomoyo… O que você filmou, imaginou de nós dois não passava de uma impressão na lente da sua câmera. A realidade é muito maior que qualquer tecnologia possa captar… Eu não vou mentir e dizer que eu não fui feliz com a Sakura por um tempo, porque eu fui feliz sim enquanto durou. Agora, essa coisa do “felizes para sempre” não se encaixa na realidade. A felicidade não é uma coisa que se alcança num único momento e fica por isso mesmo. É um trabalho constante pra se manter feliz… Algum dia, quero poder conversar com ela sobre isso… — disse Syaoran. Tomoyo sorria melancólica para ele.   

De repente, Sonomi aparece na janela fosca do restaurante, chamando os dois. 

— Bem, já deu a nossa hora… Vamos lá! — disse Syaoran, sorrindo um pouco.

— Vamos… — disse Tomoyo.

 

II

Barcelona, Catalunya, Espanha

Noite de 29 de julho de 2016

 

Tomoyo levou Sakura para um dos restaurantes de mais alto padrão da capital catalã. Sakura queria uma coisa mais simples, mas Tomoyo insistiu numa pedida mais requintada, pois aquele era o restaurante de reuniões executivas do Barça e precisava conhecê-lo. Segundo ela, era por causa dos “privilégios” que agora tinha como secretária executiva de projetos. Por causa disso, muita coisa começava a mudar na sua vida, até mesmo o Toyota Etios que tinha ganhado da mãe há anos dava lugar à um Corolla 2016. 

Tomoyo só usava saia ou vestidos discretos, que não chamassem muito a atenção. Raramente ou nunca usava calças, exceto se fosse a trabalho. Para o encontro com Sakura, colocou um de seus melhores vestidos para essa “reunião” com Sakura, um vestido azul marinho com um leve decote, feito para momentos como aquele. Colocou um salto alto e uma meia calça também.  

Sakura, pelo contrário, gostava de usar roupas leves e calças. Colocou uma camisa curta de alças e sem mangas, que mostrava levemente o umbigo. Por cima dela, vestiu uma camisa de botões que preferiu deixar aberta. Como acessório, seu colar inseparável da chave do lacre, sua esperança de rever as suas cartas, algum dia. Terminou a produção com uma sapatilha e uma calça executiva que ganhou de Tomoyo anos antes. Era de uma marca tão cara que resolveu guardar para uma ocasião especial.      

Sentaram-se na mesa e olhando os menus. 

— Tomoyo, me desculpa se os meninos deram trabalho! Obrigada por ter levado eles de volta! — disse Sakura. — Espero que não tenham dado trabalho na viagem também… — disse Sakura, se lamentando. 

— Crianças são assim, Sakura, são curiosas e gostam de ficar fuçando tudo pra conhecer o mundo. Já estou acostumada com as artes da Sophia! — disse Tomoyo, sorrindo. Sakura ficou vermelha com o sorriso dela e as duas se envergonharam uma com a outra. — Acho que você não tá acostumada com bagunça porque o Chi é muito quietinho…

— Ah, Tomoyo, eu não aguento, sabe? Fico pensando se não seria melhor umas palmadinhas pra eles aprenderem! — disse Sakura. 

— Sakura, palmada nunca é a solução para nada. Eu nunca vou encostar a mão na Sophia porque não tem nada que diz que palmada resolve! Agora, puxar a orelha dela e cortar algumas coisas eu vou fazer sim, para que ela sinta que o que ela fez foi errado. É assim que a vida funciona, Sakura. As coisas não funcionam só na base da porrada. Tem criança que fica mais malcriada depois disso, sabia? Agora isso é sério…   

— Bem… Como os outros dois não são meu filhos mesmo, deixo que a mãe deles resolva pra lá! Não mexendo com o meu, tá bom! 

— Já parou para se colocar no lugar da Gotzone, Sakura? — perguntou Tomoyo. 

— Eu não tenho que me colocar no lugar daquela biscate! 

— Deveria. Vocês duas são mães… Vocês duas nasceram em abril… São de Áries e isso é muito importante em magia… 

— Maravilha! — disse Sakura, ironica. — Vou ser amiga dela porque ela tem o mesmo signo que o meu? 

— Você tem que tentar entender ela porque é a coisa mais certa a se fazer, do ponto de vista humano. Se ela não quiser te ouvir, bate as sandálias no tapete e deixa na mão de Deus… — disse Tomoyo. Sakura estava incrédula com aquele diálogo e quis retrucar, mas o garçom apareceu.

— Já fizeram o pedido, senhoras?

— Sim, eu vou querer esse aqui, moço. — disse Sakura, apontando seu pedido.

— E eu, esse aqui! — disse Tomoyo entregando o cardápio. 



O garçom colocou uma garrafa de vinho branco na mesa delas com algumas taças e as duas voltaram a se olhar. Sakura não se aguentou e mostrou sua insatisfação com Tomoyo.

— Tirou da bíblia isso daí, Tomoyo? Quando é que você vai ter ideia própria, hein? Acho que você tem que passar por algumas coisas pra entender como eu me sinto… 

— Tirei sim, Sakura. A Bíblia me ajuda a evitar alguns problemas, entender algumas coisas. Trato ela como um livro de conselhos que eu tento seguir. Eu meio que tento chegar numa realidade além dessa que está ao nosso alcance, sabe? Para não sofrer tanto… Mas dou muito valor para o que você passou, Sakura… — explicou Tomoyo, sorrindo.   

— Você não era assim, Tomoyo. Cadê aquela Tomoyo que saia por aí badalando, bebendo e não ligava com nada disso, hein? Cadê a Tomoyo que queria sair curtindo a vida adoidado?

— Estacionei essa vida quando eu decidi virar uma mulher mais responsável. Entrei pra igreja e agora moça direita. — Sakura gargalhou com o que ela disse — Sabe tem uma hora que uma vida dessa cansa, Sakura. Então, resolvi virar uma mulher de igreja, só para saber como é… Essa vida que eu tive antes também é passar por algumas coisas, não é, Sakura?

— Sei… Só sei que você tá arrastando meu filho com você nessa loucura de Igreja! Você deu um rosário pra ele! Ele pode se enforcar com isso, sabia? Ele fica rezando todo dia! Meu filho já era estranho, agora ficou mais estranho ainda… Por sua causa! — disse Sakura. Tomoyo sorria.

— Foi ele quem me pediu. Eu não forcei ele a nada não. Ele é tão inteligente que toma suas próprias decisões. Me pede pra levar na igreja, me pede pra ensinar como se reza… Dom Miquel Tossel foi quem deu o rosário para ele, nem fui eu… 

 

Sakura abriu a garrafa de vinho branco e serviu uma taça para si e para Tomoyo, entornando tudo em um gole. 

— Você é tão “perfeitinha”, Tomoyo! Não se mete com nada, não se envolve com nada… Sempre tem uma resposta na ponta da língua pra tudo! Sabia que eu odeio isso em você?

— Oras! É você quem me enxerga assim! Nunca quis ser perfeita! Só digo que agora, me oriento muito pelo que eu escuto na igreja, pelo que eu leio na Bíblia, pelo que eu peço a Deus… Sabe, Sakura, se é para falar de coisas que eu não gosto, eu também não gosto das suas bermudas curtas… 

— Ah, não gosta, é? Você me conheceu assim! Bom saber disso! 

— Você usa umas blusas tão curtas que só falta sair de sutiã pela rua! Aliás, você já sai de sutiã na rua quando vai correr com aquele top esportivo. E ainda tenta jogar charme com aquela calça legging apertada, que nem valoriza direito o pouco traseiro que você tem! — disse Tomoyo rindo de Sakura. 

— Você não gosta que eu use, mas você gosta de me ver assim, né? Até tirou foto minha esses dias! — disse Sakura, com raiva. Tomoyo só sorria. A cardcaptor quis devolver mais a provocação, mas não conseguiu juntar nada contra ela. 



O garçom chegou e entregou os pratos para as duas. 

— Eu não entendo, Tomoyo, eu não entendo… Tem tanta coisa que a gente não gosta uma da outra e, mesmo assim, a gente se entende, né? Como pode… — disse Sakura. 

 — Eu acho que é porque a gente tenta se entender de alguma forma… Quando a gente para pra entender o lado do outro e tenta enxergar o que o outro está passando, conseguimos resolver muitos problemas, não é?

— Lá vem você dando uma de sabichona de novo! — disse Sakura, envergonhada. Dessa vez, ela não batia de frente com Tomoyo, mas fazia um elogio silencioso para a amiga. 

— Mas não é só isso, Sakura. Isso se chama respeito. Você pode não gostar de muitas coisas que eu faço, mas você me respeita, e tenta, de alguma forma, entender o que acontece comigo, não é?

— Bem… 

— Você não tirou o rosário da mão do Chitatsu. Ou tirou? — disse Tomoyo, segurando as mãos da cardcaptor. As duas entrelaçaram os dedos. 

— Se ele se sente bem indo na missa com você, não tem razão de eu tirar isso dele. Tem horas na vida de uma mãe que eu tenho que entender as escolhas que o meu filho faz… Desde que não machuque ele mais tarde, é claro! — disse Sakura, aquecida pelo vinho branco. Tomoyo pegou a mão de Sakura e de um terno beijo nas costas dela. Sakura ficou mais vermelha ainda.

— No final, a vida é isso mesmo, né, Sakura? Lidar e entender as nossas escolhas… Desde que não prejudiquem a gente, não? — disse Tomoyo. Sakura ficava mais trêmula a cada segundo que se passava.

— Pra isso, a gente precisa gostar, né? Gostar muito das pessoas, de alguma coisa das pessoas. Quando a gente gosta, não tem nada que bloqueie a gente, mas… Se a gente não gosta, como é que a gente pode entender e respeitar o outro? — disse Sakura.

— Esse é o dilema dos seres humanos… Esse negócio do gostar, quando é que ele começa, quando é que ele toma conta da gente a ponto de a gente fazer coisas fora da razão… — disse Tomoyo, desviando os olhares de Sakura. Depois que a costureira começou a falar do “gostar”, a cardcaptor ganhou mais coragem para dizer o que sentia.

 — Tomoyo… Eu preciso contar uma coisa pra você… Eu preciso ser sincera com você a respeito de uma coisa que tá acontecendo comigo… — disse Sakura. 

— Eu também preciso te contar uma coisa, Sakura… Quero que você seja a primeira a saber… — disse Tomoyo.

Sakura olhou ao redor e disse:

— Aqui não, aqui não é o melhor lugar, vamos voltar pro seu apê. 

Tomoyo concordou com a cabeça. 

 

III

 

Já era tarde da noite.

Sakura e Tomoyo chegaram no apartamento das Daidouji e estranharam. Não havia ninguém mesmo. A arquiteta encontrou uma carta em cima da mesa que dizia:

 

“Estamos com Dom Miquel Tossel na casa paroquial e vamos participar de um trabalho de caridade com os moradores de rua de Barcelona. Não temos previsão de voltar, mas acho que vai durar a noite toda. Até amanhã, meninas

 

de Sonomi, Rika, Naoko e Chitatsu”

 

— Ai, ai, ai, ai! Levaram meu filho! — disse Sakura. 

— Acho que… Isso foi armado pela minha mãe faz um tempo… — disse Tomoyo. — Agora a casa está vazia, só para a gente, Sakura. Anda, me diz o que você quer me dizer… — disse Tomoyo, com um olhar sério e melancólico no rosto. 

— Bem, se a casa está vazia… — disse Sakura, completando o que disse com um gesto. Ela agarrou o pescoço de Tomoyo e deu um belo de um beijo na boca dela. A morena nem arregalou os olhos e já foi logo se entregando às sensações daquele beijo, deixando que a parceira envolvesse os braços dela em sua cintura, em seu traseiro. Tomoyo gentilmente abraçou as costas de Sakura, fazendo os dois corpos se aproximarem mais e mais. Nenhuma das duas sabia dizer quanto aquilo durou e quando começou. E nem queriam saber. Foi tudo tão natural e livre como respirar. Quando terminaram, Tomoyo foi a primeira a fazer um não com a cabeça, sem entender direito o que aconteceu.

— Sakura, por que… 

— Agora, eu sinto o mesmo que você… O mesmo amor não correspondido que você um dia me deu… Eu só fui entender ele agora, com cada presente que eu te dava, com cada pequena coisa que você fez por mim durante essas férias, pelos momentos em família que você me deu… As suas pequenas preocupações comigo… Por tudo o que você fez pelo Chi… Eu não sei quando isso cresceu dentro de mim e se tornou… Esse sentimento, esse desejo por você… Agora eu posso dizer que eu te amo de corpo e alma e… — disse Sakura. Ela mal terminou de explicar e foi Tomoyo quem beijou-a dessa vez, com um beijo mais profundo e fatal do que ela tinha dado. Um beijo profundamente apaixonado que tardou muito a ser entregue ao destinatário. 

A pegada de Tomoyo na nuca da cardcaptor foi duas vezes mais intensa do que a que Sakura tinha feito nela. Sem pedir permissão, Tomoyo foi descendo as mãos pelos ombros, pelos pequenos seios dela até encontrar a outra mão, que já estava rodeando a cintura. Foi então que agarrou aquele quadril com força e apertou o traseiro dela, massageando-o, mostrando até onde estava disposta a ir com aquilo. 

Sakura não se importava. Abraçava-a ainda mais, fazendo um leve carinho nas costas dela, demonstrando todo seu consentimento, dizendo que não tinha medo daquilo mais. No fundo, talvez estivesse procurando saber onde ficava o zíper daquele vestido. 

 Desgrudaram-se, olhando-se tão perto que nem mesmo qualquer pensamento era capaz de interpretar com segurança aqueles olhares trêmulos, aquela respiração forte. Tomoyo beijou Sakura mais uma vez, dessa vez, deitando-a devagar no tapete da sala, sem descolar os lábios e os braços dela uma vez sequer. Quando terminou, deitou-se por cima dela e abriu levemente as pernas dela, buscando seu lugar naquele corpo. Sakura nem se importou com a mão boba dela por cima de suas partes mais íntimas, mas não podia negar que tremia de ansiedade, com o coração pulsava com violência. 

“Então… Esse é todo o amor que você tinha guardado por mim, Tomoyo? Ele não diminuiu nadinha desde que a gente se beijou, né? Aquela primeira vez, há mais de 14 anos… Só ficou… Mais adulto? Mais sem vergonha, quem sabe?”, pensou Sakura. 

Tomoyo começou a ficar mais ousada e colocou a mão sob a blusa de alça que vestia, sob o sutiã dela, chegando até a acariciar e apertar o bico do mamilo dela. Ela segurava com vontade e desejo aquela zona erógena. Sakura não resistia, pelo contrário, queria saber até que ponto ela mesma aguentaria aquilo. Já sentia sua calcinha úmida de desejo, e queria ir até o fim. A morena talvez sentisse a mesma coisa, pensava Sakura. 

De repente, Tomoyo virou Sakura de costas e o traseiro da cardcaptor ficou levantado para ela. A arquiteta desafivelou o cinto dela, desabotoou o botão da calça e agarrou forte a cintura. Já estava preparada para tirar a calça e a calcinha ao mesmo tempo, mas parou. Em vez disso, deitou-se sobre as costas dela e começou a mordiscar o lóbulo da orelha dela, agarrando com as duas mãos os seios da cardcaptor sob a blusa.

— Você sabe o que eu vou fazer com você, não é, Sakura? — sussurou Tomoyo, lambendo e mordiscando com mais intensidade ainda a orelha dela. Sakura não se segurou mais e gemeu.   

— Sei sim… 

— Não sabe não… — disse Tomoyo. Ela agarrou com mais força a cintura de Sakura e grudou em seu quadril. — Só falta eu baixar suas calças, Sakura… É isso que você quer mesmo?

— Então… Seja gentil… Faz quase um ano que eu não faço amor com ninguém mesmo… Eu tenho minhas vontades e… Eu estou pronta pra fazer isso com você… Deve ser esquisito, mas… Vamos, né? — disse Sakura.

 

Tomoyo era quem não estava. Do nada, a costureira tirou suas mãos da cintura de Sakura. Levantou-se e sentou-se na mesa, chorando. Sakura não entendeu nada, só se deu conta quando escutou as lágrimas. Ajeitou-se, arrumou a calça e foi ver o que estava acontecendo. 

— Tomoyo? Tomoyo? 

Ela não respondeu. Sakura se sentou na mesa do lado dela e começou a fazer carinho nos cabelos dela.  

— O que foi? Você não queria fazer "aquilo" comigo? Agora que eu tô pronta, você… 

Tomoyo levantou a cabeça e seus olhos estavam tão vermelhos quantos os pimentões que tanto odiava comer.  

— É um pouco tarde, Sakura… 

— Nunca é tarde, Tomoyo. Eu acho que não… Eu sei que você ainda gosta muito de mim… 

— Durante todos esses anos, eu tentei fugir de você. Fugi pra Catalunya só pra isso… Um povo novo, gente nova… Sabe o pior? Eu me peguei tentando te encontrar nessa terra! Todas as meninas que eu fiquei até agora, eu buscava um pedaço seu… Seus seios, seu cabelo, seus olhos, seu corpo… Eu nunca ia te encontrar aqui… Por que nenhuma seria como você… Nenhuma… — disse Tomoyo, voltando a chorar. Sakura começou a sentir a mesma dor que ela sentia no peito.      

— Me desculpa então, Tomoyo. Me desculpa por não te corresponder na época… Me desculpa, mas eu também tenho direito a ficar com dúvidas… Depois daquele beijo que você me deu, há 14 anos… Eu sempre tive dúvidas se gostava realmente de homens ou… Se eu também sentia a mesma coisa com mulheres… Mas entendi que eu posso gostar dos dois e fui, de certa forma, feliz com um homem… Acho que eu também posso ser feliz com você, quem sabe até mais feliz… — disse Sakura. Tomoyo levantou a cabeça com um sorriso irônico nos lábios. 

— Sempre sonhei com essa declaração sua. Eu nunca poderia forçar você a nada, só transmitir minhas pequenas indiretas à você. Eu tentei parar com isso, mas não consegui fazer nada, não consigo fazer nada para você que não tenha esse imenso amor que eu sempre senti por você. Nunca imaginei que esse conto de fada fosse virar realidade um dia… 

— Mas as coisas mudam, né, Tomoyo? O que não foi possível antes, pode ser possível agora… 

— Sim… Pode sim… O bom de a vida mudar é isso… — disse Tomoyo. 



As duas se beijaram por mais uma vez, entrelaçando os dedos. Um beijo terno, puro, sem erotismos demasiados, sem violência, sem pressa. Um beijo contendo o puro amor de duas almas que se amavam sob qualquer condição. Um beijo repleto de saudades, solidão e felicidade de um reencontro há muito tempo esperado. Depois de um tempo, separaram-se.

— Sakura… Como eu disse, já é tarde. 

— Como tarde? Você fala do Felipe? Você não só tinha um rolo com ele?

— São seis anos que a gente vive juntos, que a gente se conhece, que a gente compartilha a Sophia. Seis anos. Você entende? — disse Tomoyo, voltando a chorar. Sakura arregalou os olhos como se uma lâmpada tivesse acendido em sua cabeça. Seu semblante alegre começou a entristecer. 

— Sei… Então… 

— Não foi a primeira vez que ele me propôs em casamento. Eu nunca quis ser rainha de nada, só rainha da minha casa… A sua rainha, Sakura! Vamos falar a verdade… Nunca gostei do irmão Jordi e da irmã Maitê dele, nem desse passado do Felipe que está vindo à tona, nem de pompa real, nem de nem poder mais trabalhar com desenho e arquitetura, só viver sustentada por ele, mas… Eu preciso ficar do lado dele. Eu preciso ficar com ele e a Sophia nesse momento difícil que eles estão passando. Eu sinto esse impulso dentro de mim, ele também… Ele acha que não vai durar muito como rei, sabe? — disse Tomoyo, sorrindo triste. Sakura também sorriu triste. A cardcaptor pegou as mãos dela e beijou as costas dela como se de uma rainha fosse, por um longo e demorado tempo.

— Felipe é um homem de sorte… Um homem de muita sorte… Ele tem uma pessoa muito especial do lado dele. Muito especial mesmo… Me desculpa, Tomoyo, se eu não enxerguei antes o quão especial você era… pra mim… — disse Sakura. Ela levantou-se da mesa e saiu do apartamento. Tomoyo saiu da cadeira e tentou ir para o sofá, mas tropeçou e começou a chorar no chão mesmo. 

— Por quê? Por que você faz isso comigo, vida? — disse Tomoyo, abraçando uma almofada quando Sakura saiu.  

 

IV

 

Sentada no meio fio da calçada do apartamento, Sakura pegou o telefone no bolso da calça. Ela buscou o número da professora Begoña e discou para ela. 

— Alô, professora? Você tem um tempo? 

— Sakura! Ah, sim, claro que tenho! Então, como foi?

— Vergonhoso… Vergonhoso… Nunca pensei que pudesse sentir uma vergonha dessas dentro de mim… — disse Sakura.

— Que vergonha, Sakura? Você não precisa sentir vergonha nenhuma… Nem ter mais medo de nada agora… — respondeu a professora do outro lado da linha.  

  

Continua… 






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