Uma Canção de Sakura e Tomoyo: Finalmente Juntas escrita por Braunjakga


Capítulo 57
Eu ainda nem falei a minha opinião pra ela (Parte II)




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/783908/chapter/57

Capítulo 55

Eu ainda nem falei a minha opinião pra ela! (Parte II)

 

V

 

Já era de noite. O céu estava estrelado, sem nuvens. No quarto de hóspedes do apartamento das Daidouji, Sakura olhava para as estrelas. Ela estava deitada na cama, se recuperando da bebedeira de ratafia. A única coisa que vinha na mente de Sakura eram as peças daquele quebra-cabeças que tentava montar chamado Tomoyo. 

Tentava entender ainda por que Tomoyo escolheu Felipe. Enquanto juntava as peças, Chitatsu correu até a cama de Sakura, estendendo os bracinhos em cima da barriga dela. 

— Chi! Você chegou! Que alegria é essa? 

— Eu aprendi com meus irmãos… Não gostou, mamãe? — perguntou o menino, preocupado.

— Que nada, filho! Eu que tava pensando besteira aqui… Vem! — disse Sakura. O menino se sentou na cama e Sakura fez um esforço para se sentar na cama. Chitatsu deitou a cabeça no colo dela e a cardcaptor ficou acariciando os cabelos tigela do filho, muito iguais aos seus próprios cabelos. 

— Me desculpa se eu não posso estar mais com você… Te acompanhando na escola… Nos treinos da escolinha… 

— Você está sempre comigo, mamãe! O celular tem um monte de algoritmo que deixa a gente juntos! 

— Filho, mas é só um celular… 

— Eu vejo e falo com a senhora com eles! Com o algoritmos. Por isso, eu amo matemática! — disse o rapaz animado. Sakura sorriu.

— Não liga mesmo?

— Números são uma ilusão, mamãe! Um quilômetro, quinhentos… Tudo é ilusão! Quando a gente quer chegar lá, a gente chega… 

Sakura estranhou o papo do filho.

— Chi, quem tá te ensinando essas coisas?  

— Eu fico pensando em Jesus. Ele andou um montão de quilômetros da Galileia até Jerusalém em três anos! Ele demorou, mas chegou lá! 

— Ah, a Tomoyo… Tinha que ser! — disse Sakura, voltando a se deitar na cama. Chitatsu se levantou do colo da mãe com o mesmo olhar de preocupação que chegou no quarto. — Para com isso, menino! Você tá ficando esquisito que nem a Tomoyo! 

— Mamãe… Eu gosto da Tomoyo… Mas eu sou eu… 

— Você só começou a falar desse Jesus quando foi com a Tomoyo na igreja, né? 

— A Tomoyo é muito legal comigo! Quando a senhora me falou aquele negócio de distância no começo do ano, a Tomoyo me falou de Jesus. Os fariseus estavam perto de Jesus, mas longe dele. O etíope que aparece no livro de Atos, que nem viu Jesus direito, tava mais perto dele que os fariseus! Eu entendi o que aconteceu com a senhora e o papai. — disse Chitatsu. Sakura apertou a cabeça do rapaz em seu peito. — Meus "anaiak" (irmãos) me disseram que a senhora ficou brava com a Gotzone e brigou com ela…. 

— Briguei!? O que seus “anaias” disseram?

— Que a senhora não gostava da Gotzone porque ela roubou o papai. 

“Cretina”, pensou Sakura, não disfarçando a raiva que sentia. Chitatsu percebeu. 

— Não precisa ficar assim, mamãe. A Gotzone me trata bem. Não como os meus anaias, claro, ela é Ama (mãe) deles, tem presente que ela dá só pra eles, mas ela também cuida de mim, me pergunta da escola, dos treinos… 

“Querendo roubar meu filho também, Gotzone?”, pensou Sakura.  

— A senhora está longe de mim, mamãe, mas acho que a senhora tá mais perto de mim que ela… Eu acho que é isso…       

“Ufa, menos mal!”, pensou Sakura, aliviada.

— É sim, Chi, sim.... — disse Sakura, enconstando a cabeça do rapaz na sua barriga mais uma vez. — E  o seu pai com a Gotzone, Chi? Como anda as coisas?

Chitatsu se calou um pouco.

 

VI

 

Na sala do apartamento, Sonomi recebia Rika e Naoko. As duas estavam cheias de Sacolas nas mãos com compras delas e do filho de Sakura. 

— Oi, meninas! Como foi as compras com o Chitatsu? — perguntou Sonomi. 

— Ele é muito quietinho, nem dá trabalho! — disse Naoko. 

— Só fica contando os blocos na rua! — disse Rika, dando risada. 

— Esse Chitatsu… Como ele me preocupa… 

— Olha que a senhora nem é vó dele direito! — disse Naoko! 

— Eu me sinto como uma! Se o Fujitaka não tá aqui, é o mínimo que eu posso fazer por ele… — disse Sonomi, envergonhada. 

— Olha que fofo a cara de vó dela! — comentou Rika, envergonhando ainda mais Sonomi.

— Por falar nisso, cadê o Chi? — perguntou Naoko.

— Foi pro quarto da Sakura! Ela tava tombando de ratafia! — explicou Sonomi.

— Essa Sakura! Uma hora é o txakoli, outra hora é a ratafia! Muito soltinha ela… — disse Rika.

— Será que ela vai falar aquele assunto com ele? — perguntou-se Naoko.

— Que assunto? — perguntou-se Sonomi.

— Aquele, Sonomi! Aquele… — disse Naoko, gesticulando com as sobrancelhas, por trás dos óculos.

— Ah… — disseram todas, entendendo o que Naoko dizia nas entrelinhas.

  

VII

 

— Mamãe… Não sei se a senhora e o papai vão voltar a morar juntos de novo quando a senhora terminar a faculdade… 

— Você não se importa com isso, Chi?

— Me importo sim! Mas eu também ganhei dois irmãos e a senhora não gosta dela… É difícil nós três morar juntos um dia… Por isso, eu pensei nisso, mamãe, nesse negócio de distância. A senhora falou que eu nunca vou te perder e perder o papai, né?

— Sim, meu filho, você nunca vai perder a gente… 

— Eu parei pra pensar que se vocês ainda me amam, eu só tenho que me acostumar com a distância… A gente nunca está longe de quem a gente ama, né?   

— A Tomoyo quem te falou isso?

— Claro que sim! Ela fala mais comigo que a Gotzone!  

— É sério isso mesmo, menino? 

— A Tomoyo é muito legal! A Sonomi-san me trata como a minha amona, (avó) que nem o aitona (avô) Fujitaka fazia comigo… Como é que é em japonês mesmo, mamãe?  

— Obaa-san (Avó), Chi… — disse Sakura, se incomodando com o euskera que o filho falava.

— Isso! Ela conhece muito dele e da obaa-san Nadeshiko! Ela me mostrou as fotos do tempo que a Obaa-san era modelo!    

Sakura sorria de satisfação. Ela se desgrudou do menino e olhou “olho no olho” nos profundos olhos verdes dele. 

— Chitatsu, meu filho. O papai arranjou uma nova pessoa, não arranjou? 

— Sim… A senhora também vai arranjar um outro cara, mamãe? 

— Chi, você tá muito esperto pro meu gosto! — disse Sakura, surpresa com o poder de adivinhação do filho. Chitatsu sorria também. — Filho, e se não for exatamente um cara, o que você acharia? — perguntou Sakura.

— Mamãe, a senhora tá pensando em se casar com uma menina? 

— Chitatsu! — disse Sakura envergonhada, mas depois não conseguiu se esconder e nem soube de outra forma melhor de anunciar a novidade. — Bem… Você já falou tudo! O que você acha, Chitatsu, se eu me casar com uma mulher no futuro? — perguntou Sakura. Chitatsu ficou na dúvida mais uma vez. 

— Eu não ligo com isso… Se for alguém como a Tomoyo, eu não me importo… Eu só quero que goste de mim e não fique implicando com o meu gosto pela matemática! — disse o rapaz, sem desviar o olho dela. Sakura abraçou com todas as suas forças o menino. 

— Eu quero voltar a ficar do lado da senhora, mamãe! Se a senhora arranjar uma pessoa que cuide de mim que nem a Tomoyo eu vou ficar feliz, porque eu vou ficar com a senhora! 

— A gente vai ficar juntos um dia sim, meu filho… A gente vai ficar… 

 

VIII

 

Barcelona, Catalunya, Espanha

29 de julho de 2016

 

Sakura despertou melhor das sensações que a ratafia havia provocado em seu organismo. Depois de escovar os dentes, Sakura encontrou na mesa do café da manhã as amigas Rika e Naoko. A quatro-olhos da Naoko passava manteiga no pão enquanto a Rika de cabelos cinza trazia uma jarra de suco que acabou de preparar. 

— Oi, meninas, bom dia! Cadê a Sonomi-san?

— Ela foi pra Madrid, resolver um assunto com a Tomoyo e o Felipe… Elas falaram que voltam até o fim da noite. — explicou Naoko.

— Nossa, até agora nada? Eu tava precisando falar com a Tomoyo! É urgente, eu tenho que voltar pra Euskadi até agosto! A professora Begoña agendou uma cirurgia pra mim dia dois! 

— A gente sabe, Sakura, o que você vai falar com a Tomoyo… — explicou Rika. 

— Já sabem, é? Será que tá tão na cara assim! — disse Sakura, agoniada.

— A Sonomi explicou pra gente… — disse Naoko.

— É o que? Como é que ela vai espalhando nossas conversas assim, sem mais nem menos, sem me consultar! 

— Sakura… — disse Rika.

— Essa hora, ela deve tá falando pro Felipe e pra Tomoyo também! E eu ainda nem falei a minha opinião pra ela! — disse Sakura, puxando os cabelos. Ela pegou o celular e começou a discar para a mãe de Tomoyo. Rika impediu, puxando o celular da mão dela. 

— Quer se aquietar, menina? Deixa a gente te explicar tudo! Senta aí e toma café com a gente antes que você acorde o Chi com essa gritaria toda! — disse Naoko. Sakura, sem ter por onde sair, sentou-se junto com as meninas na mesa. 

— Fala logo, Rika! Manda brasa! O que a Sonomi-san falou?

— Sakura… Ela só falou com a gente, porque nós somos as suas amigas desde que você tinha sete anos! Nós somos amigas da Tomoyo também, assim que ela se mudou pra Tomoeda, quando ela só tinha nove anos, se lembra? — disse Naoko. 

— Tem certeza? — perguntou Sakura, desconfiada. 

— Claro que sim! A Sonomi não é tão imatura a ponto de espalhar um assunto pessoal seu pra quem não tem nada a ver com isso, sem te consultar direito! A gente só tá aqui pra te apoiar tá, menina! Entenda bem! A gente também não tá aqui pra contar pra Tomoyo o que você tem que falar pra ela pessoalmente… — disse Rika, segurando o pulso dela. Sakura se acalmou um pouco mais com os olhares sérios da amiga de cabelos curtos e cinzas. 

— Atitude é tudo, garota! Uma menina gosta disso, principalmente a Tomoyo! — disse Naoko, tirando uma com a cara de Sakura. A cardcaptor deu um tapa na testa e fez um não com a cabeça.

— Ai, ai, ai, ai! Hoe! Bem, já que a Sonomi-san abriu o bocão dela e contou o meu dilema pra vocês, acho que eu tenho que me explicar… — disse Sakura.

— Não precisa, Sakura. Eu já sabia que você tinha dúvidas se queria mesmo namorar o Shoran desde aquele dia que você dormiu na minha casa, se lembra? A gente tinha 14 anos. Você tava cheia de dúvidas se era certo isso, se era certo aquilo. Você até me perguntou se tinha que perder a virgindade com 16 anos! Você perguntou pra mim! — disse Rika. Naoko era só gargalhada.    

— Eu pensava que você podia me orientar, oras! Você sempre foi mais madura que todo mundo! Achei que você já tinha experiência, mas não! Quem me ajudou foi a Chiharu e a Naoko… — disse Sakura, cabisbaixa.

— Sakura, eu falei pra você: se você quiser se entregar, não tem que perguntar! É só deixar rolar e pronto! É tudo tão natural… Não tem que ter medo! — disse Naoko. — Eu até achei que você fosse mais ligeira, mas você esperou se casar… Sério mesmo? — disse Naoko, dando risada. 

— Para com isso, Naoko! A gente tá parecendo que voltou 10 anos no tempo! — disse Sakura, frustrada. 

— Sakura, o que a desmiolada aqui tá querendo dizer é que você, no fundo, sempre teve dúvidas sobre o que você era, o que você sentia. Mas agora, só agora, essas coisas tão tomando claridade… Você entende? — explicou Rika.

— Contra essa “claridade” que eu queria lutar… — disse Sakura.

— Você não tem que lutar contra isso! Isso é uma parte de você! Lutar contra isso é lutar contra você mesma! É justo agora, Sakura, que você tem que ser a garota mais corajosa que já existiu e enfrentar esse medo que está corroendo você por dentro… — disse Rika. Sakura olhou um pouco cansada para a amiga. 

— Às vezes, eu não tenho nem vontade de falar com a Tomoyo… Eu sou muito vacilona, não consigo esconder nada dela! — disse Sakura. — Tô com medo de estragar tudo o que a gente construiu esse tempo todo… 

— Sakura, convenhamos que foi a Tomoyo quem te provocou esse tempo todo, sempre te mandando indireta. Agora que você abriu seu coração pras “mensagens secretas” dela, nada mais justo do que você jogar na cara dela o que você realmente está sentindo! A Tomoyo não é de se jogar fora! Já viu ela de maiô? Ela fica gostosa, né? Parece até uma modelo!  Ela tem mais corpo que eu e a Rika juntas! O Felipe é um velho babão de sorte que tem tudo aquilo pra ele e não sabe aproveitar! — disse Naoko, Rika tratou de puxar a orelha dela até a mangaká gritar de dor.

— Naoko! Para com isso! Isso não ajuda nada a Sakura! Bem, amiga, o que eu tenho a dizer é que, seja lá com quem você desejar ser feliz, se você quiser voltar pro Shoran ou se quer tentar novos caminhos com o mesmo sexo, a gente está do seu lado. Não importa o que você seja ou com que idade você deseja sair do armário! O importante é você se sentir bem, fazendo aquilo que você deseja, está bem? Desde que isso não afete sua segurança e sua saúde, é claro! — disse Rika. Sakura sorriu. 

— Eu não sou adolescente mais… Eu não tinha que ter esse tipo de dúvida! — disse Sakura, cabisbaixa. Naoko e Rika se juntaram cabeça com cabeça e abraçaram Sakura. De repente, a porta da sala se abriu. Eram Tomoyo e Sonomi, voltando de Madrid. Tomoyo estava com um semblante sério como o de Sakura, enquanto Sonomi era só sorrisos. As três amigas deram um salto das cadeiras na hora. 

— Sonomi-san! Tomoyo! Vocês aqui, agora? Nem deu tempo de a gente preparar nada! — disse Rika, assustada. 

  — Não precisa! Não precisa! A gente comeu uma “tapa” na estação do AVE! A gente já imaginou que ia ser uma surpresa, mas a Tomoyo não quis perder mais tempo em Madrid, sabendo que a Sakura tinha tão pouco tempo aqui com a gente, não é filha? — disse Sonomi, apertando os braços da menina. Tomoyo levantou os olhos para a cardcaptor com um profundo sentimento de culpa dentro de si. Os olhares das duas se encontraram, como quem tem muita a falar uma pra a outra. Todo mundo ficou em silêncio até que alguma das duas tomasse uma atitude. Foi Sakura quem quebrou o gelo.

— Fala aí, Tomoyo! Como foi em Madrid? Cheguei anteontem aqui, sabe? E você já tinha saído… Fui… Pedir uma ajuda pra minha professora Begoña e ela… Meio que me deu um empurrão daqueles, sabe? 

— Sei… — disse Tomoyo, tímida e sorridente. 

— E eu… Tenho muito a te falar. 

— Eu também, Sakura, eu tambem!

— Nossa! A gente tem muito a se falar, né?

— Claro que sim! — disse Tomoyo.

— Então… O que acha de a gente sair pra um encontro hoje, hein?

— Encontro? — disse Tomoyo, envergonhada. Todas as meninas ficaram boquiabertas. Sakura ficou tão vermelha que tentou remediar a situação.

— Eu disse encontro? Que diabos de encontro! Eu quis dizer… Eu quis dizer encontro mesmo e daí!? No restaurante que você quiser, sabe? — disse Sakura, vermelha, mas ainda com coragem, berrando para todo mundo escutar. — Eu vou embora pro País Basco e não sei quando vou voltar… Talvez nas férias, talvez fim de ano… Até ano que vem, tô com a agenda cheia, entende? É duro ser médica, acho que pra você, depois dessa promoção, vai ser corrido pra você também, né? — perguntou Sakura, esperando a resposta de Tomoyo. 

De repente, Chitatsu aparece de pijama na sala, esfregando os olhos e bocejando.

— Hoe! Bom dia! Que barulho é esse? — perguntou o rapaz. 

Tomoyo pegou as duas mãos de Sakura e olhou séria nos olhos dela. Mesmo não querendo mostrar, havia um brilho no olhar bem no fundo deles. 

— Eu aceito… — disse Tomoyo, num misto de melancolia misturado com alegria. Naoko ovacionou o gesto, enquanto Rika pedia para ela se acalmar. Sonomi sorria. Na mente de Chitatsu, parecia que uma ficha havia caído. Ele se aproximou de Tomoyo e abraçou a saia dela, tal qual Iñigo, seu irmão, tinha feito com Sakura seis meses antes. 

— Eu também te aceito, Tomoyo… Se for a Tomoyo, eu aceito sim, mamãe! Pode ficar tranquila! — disse o rapaz animado. Ele saltitava, abraçando calorosamente aquela mulher que sempre acompanhou a vida dele, do nascimento até agora e o tratava-o como se filho dela fosse.

Ninguém soube como reagir às palavras do rapaz. Ele também não quis esclarecer.  

 

Continua… 












Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Uma Canção de Sakura e Tomoyo: Finalmente Juntas" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.