Uma Canção de Sakura e Tomoyo: Finalmente Juntas escrita por Braunjakga


Capítulo 55
Uma coisa importante pra falar




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Capítulo 53

Uma coisa importante pra falar… 

 

Barcelona, Catalunya

24 de julho de 2016

 

I

 

Era tarde. A brisa quente do verão agitava as folhas das árvores ainda verdes de primavera.

Nos jardins casa paroquial de Barcelona, Tomoyo e Felipe caminhavam ao lado de Dom Miquel Tossel. Os jardins estavam silenciosos e calmos.

— Diga-me, Tomoyo, como vão os exercícios da Sakura? — perguntou Dom Miquel.

— Ela está indo bem. Ela já consegue mexer umas colheres só com a força do pensamento… — explicou Tomoyo.

— Bom… O que mais?

— Ela também tá treinando abrir e fechar portas só com os poderes dela, meu Tio. — respondeu Felipe.  

Dom Miquel sorriu. 

— Isso é bom. Acredito que vocês já saibam, mas vou repetir: quanto mais a gente pratica uma coisa, mais ela se torna parte de nós mesmos… Mas só isso não é o bastante… Temos que ter a consciência que treinar não é fazer o maior número de exercícios da noite para o dia, mas sim, fazer o maior número de exercícios ao longo de um período de tempo, como uma semana, da forma mais organizada possível… Essas árvores não nasceram do dia pra noite, não é verdade? — perguntou o príncipe cardeal. Felipe e Tomoyo fizeram sim com a cabeça, concordando.

— Da mesma forma, são os poderes da Sakura: de pouquinho em pouquinho, a cada dia, eles vão ficando melhores. — disse Dom Miquel.  

— Meu tio, se eu pudesse, eu ajudava com mais, mas sou tão ruim com a magia quanto a Sakura! Só consigo fazer umas magias simples de cura e olhe lá!

— Eu entendo… Qualquer ajuda que a Sakura tiver agora é necessária, mas sinto que ela só vai aprender mesmo quando tiver que usar o poder dentro do coração na prática. — pensou Dom Miquel.

— Eu tenho medo que isso seja doloroso… — disse Tomoyo, abraçando no automático o braço de Felipe. El Rey abraçou a cabeça dela. O Cardeal não deixou de reparar no gesto.

— Então, meu sobrinho, Tomoyo, Não pensam em fazer o sagrado sacramento do matrimônio? No seu caso, sobrinho, refazer o sacramento? — perguntou Dom Miquel.

— Fazer os votos do matrimônio? — perguntou Tomoyo, se desprendendo de Felipe.

— Sim! É importante pra todo católico fazer esse sacramento… 

Tomoyo estava vermelha e não soube o que responder.

— Ou você pode optar pelo sacramento da Ordem, Tomoyo! Meu sobrinho, Antoni I, depois que virou Papa, pensa em recriar as Diaconisas… — disse Dom Miquel.

— Recriar as diaconisas? — perguntou Tomoyo. 

— Penso em te indicar, mas é claro, você tem que ser casada ou não pode se casar mais. — explicou o Cardeal.

— Bem, eu… Eu pretendo ver mais pra frente esse papel na Igreja ou… Fazer o sacramento do casamento… — disse Tomoyo, envergonhada.

— Eu vou esperar sua resposta… — Sorriu Dom Miquel. De um dos cantos do jardim, Chitatsu correu até onde eles estavam e abraçou as pernas de Dom Miquel. Ele fez um carinho na cabeça do rapaz. — Olha o que vemos aqui! Um rapazinho que quer fazer o sacramento do batismo, não é? — brincou o religioso.

 

II

 

Era fim de tarde. No quarto do apartamento das Daidouji, Sonomi colocava uma pilha de caixas em cima da cama de Tomoyo, e Sakura abria caixa por caixa, olhando o que havia lá dentro. 

— Nossa! Isso é tudo desenho que a Naoko mandou? — perguntou Sakura.

— Sim, Sakura! Tudo o que a Tomoyo desenhou esse tempo todo! Ela pediu pra vocês darem uma olhada e escolher uns enquanto os outros ela vai expor em Paris! — disse Sonomi.

— Paris? Ela vai expor meus desenhos em Paris, Mãe? — perguntou Tomoyo.

— Claro que sim! A França é o maior mercado otaku da Europa! Aquele mangá da Sakura que a Naoko escreveu virou sucesso! Vão até fazer um anime! — disse Sonomi. — Fora que ela também vai expor em Berlim.  

— Nem precisava… — disse Sakura, sem graça.

— Bem! Isso é tudo o que chegou! Vou deixar vocês a vontade enquanto preparo as malas da Sophia, da Carmen e do Chitatsu pra praia! — disse Sonomi, deixando as duas à vontade enquanto a meninada chamava a executiva.

— Mamãe, a mala da Carmen e da Sophia já tá pronta! — disse Tomoyo, em vão, pois Sonomi já havia partido. — Droga, ela nem me escutou. — Lamentou-se Tomoyo. Sakura continuava a olhar as ilustrações com uma atenção que a arquiteta se espantava. 

— Sakura? Sakura? — perguntou Tomoyo. 

— Você desenhava muitos vestidos de casamento, não é? — perguntou Sakura com um olhar sorridente, olhando olho no olho da amiga querida. A roxinha se sentiu intimidada por dentro com aquele olhar. 

— Bem… Eu sempre sonhei em me casar, ter filhos, ter uma família… Eu mantive esse sonho enterrado dentro de mim, mas agora… Ele vem com tudo… 

— Por causa da Sophia? — perguntou Sakura.

— Por causa de um monte de coisas… — disse Tomoyo, se distraindo e deixando uma caixa cair da cama. Sakura e Tomoyo se apressaram para segurar, mas já era tarde. 

— Tomoyo, você é desastrada! — disse Sakura. 

— Esse colchão que é muito macio! — explicou-se Tomoyo.

As duas acabaram por pegar o mesmo desenho juntas. Envergonharam-se. Sakura reparou que era um desenho dela, vestida num vestido de casamento branco. 

— Hey! — disse Sakura. Ela aproveitou a distração de Tomoyo e puxou da mão dela o desenho. Era um desenho de Sakura com um vestido de casamento branco, dividido em duas partes: primeiro era a parte do busto, igual à um colete justo, com uma gola alta no pescoço, o segundo era uma saia bufante branca. Um par de luvas, também brancas, cobrindo até cotovelo acompanhava o vestido. 

— Acho que eu não tinha que me espantar com isso… Você também sonhou que eu me casaria também, né? — perguntou Sakura, olhando com intimidação e graça para Tomoyo. 

— Seu casamento era uma certeza… Você é muito assanhada, sabia? O Touya sempre tem razão… — disse Tomoyo, tentando fugir dos olhares dela.

— O que?! — disse Sakura, indignada. 

 

III 

 

Praia de Treumal, região da Costa Brava,

Blanes, Catalunya, Espanha

25 de julho de 2016

 

Meio-dia. Fazia um dia de sol abrasador nos litorais da Catalunya. Naquele horário do dia, as praia estava vazia por conta da força do calor, mas aquela turma estava bem abrigada contra os raios do Sol. Felipe havia trazido no carro uma tenda gazebo hexagonal grande o bastante para caber todo mundo e com cortinas que podiam ser fechadas a qualquer momento. Sonomi estava lá dentro, lendo um livro no tablet. 

  Sophia, Tomoyo e Sakura estavam do lado de fora, conversando sobre as malcriações da princesinha.

— Sophia, agora fala pra Sakura aquilo que você me prometeu lá em casa, diz pra gente… — disse Tomoyo, segurando a mão da princesa. Ela usava um maiô marrom, sua cor preferida, com alguns babados nos braços e nas coxas que ela mesma costurou. Sophia e Sakura usavam um biquíni, a princesinha usava um com babados que a arquiteta escolheu para ela.  

— Mare, não consigo falar com aqueles meninos rindo da minha cara… — disse Sophia, apontando para Iñigo e Iñaki, logo atrás dela. — Por que eles ‘tão aqui? — perguntou Sophia.

— Minha filha, eles são irmãozinhos do Chitatsu! Eles ficaram mais de 25 dias longe dele! Eles sentiram saudades! Tente se dar bem com eles. Olha lá a Carmen conversando com eles. — disse Tomoyo, se agachando na frente dela. 

— Não sei se consigo me dar bem com esses meninos que falam de um jeito esquisito… Eles ‘tão me xingando esse tempo todo e eu não tô nem sabendo… — disse Sophia, inflando as bochechas. 

— Eles falam euskera, filha! um dia, você vai aprender também! — disse Tomoyo, acariciando o rosto dela. De repente, os gêmeos correram pela areia até a água do mar e Sophia ficou olhando tudo.

— Itsasoa! Itsasoa! (mar, mar!) — gritaram os gêmeos. Carmem correu atrás deles e puxou Chitatsu consigo. 

— Ez goaz urrunegi! (Não vão tão longe!) — disse Sakura, em euskera, já que ela estudava em Bilbao.

— Faz parte da vida, Sophia, falar com quem não fala a mesma língua que a gente. O nosso erro é não tentar falar e já ir taxando à torto e à direito que fulano ou sicrano não presta! — disse Tomoyo, sorrindo. 

Sophia olhou sério para Sakura, parecendo que queria gritar a qualquer instante. A princesa colou os braços na cintura e se inclinou. 

— Gomen’nasai! (desculpa!) Se eu disse que você não tinha peitos! — disse Sophia. Sakura sorria de canto da boca para ela. 

— Eu aceito suas desculpas, Sophia. — disse Sakura. — Só não vai enforcar meu filho! 

— Mas que você não tem peito, eu não tô mentindo! Quero ter um peito grande como o da Tomoyo quando eu crescer! — disse Sophia, correndo para o mar também. 

— Ai, ai! — disse Tomoyo, se lamentando. 

— Essa menina não tem nem sete anos direito e já tá falando em peito! Fala sério! Essas crianças de hoje em dia… — disse Sakura, inconformada.  

— Toda criança quer ser adulto logo, Sakura… — disse Tomoyo, tentando acalmar a situação. 

 

IV

 

Num canto da praia, Chitatsu desenhava algumas figuras geométricas na areia, carregando um pedaço de pau que achou. Ele usava a madeira como régua e lápis. Kero flutuava em volta dele, só observando. Sophia ficou incomodada com aquilo.

— Kero, você por aqui? Pensei que não ia vir… — perguntou a princesa.

— E perder uma praia dessas? Não tô nem loco! — respondeu o guardião.

— Então, por que você não veio com a gente? — perguntou Sophia.

— Tava na casa da Ami Mizuno esses dias, que é muitcho minha amiga. A gente tava praticando magia… Você também não fala com fantasma? — perguntou Kero.

— Sei… 

— Daí, recebi a mensagem da Tomoyo e tô aqui!  

— Vocês são esquisitos…

— Mas também não é sempre que a gente encontra alguém que fala com fantasma, né? — disse o guardião, sorrindo.



Sophia ficou aborrecida com Kero e foi até Chitatsu. 

— Hey, menino doido, o que você tá fazendo?

— Estou estudando as figuras geométricas. Sabia que Arquimedes escrevia na areia da praia de Siracusa? — perguntou Chitatsu, animado. 

— Eu não tenho nenhum interesse nisso! Você não faz coisa de criança?

— Como o que?

— Jogar videogame, brinquedo… 

— Matemática é o meu brinquedo… — disse o rapaz, sorrindo. Sophia ainda ficou inconformada.  

— Eu também jogo bola com meus anaiak. 

— Anaiak? 

— Irmão em euskera… 

O estômago de Sophia embrulhou com aquele papo de Euskera. 



Foi então que Iñigo e Iñaki apareceram atrás dela. 

— Sophia, você é uma princesa, ez da (não é)? — perguntou Iñigo.  

— Sim! Sou uma princesa sim, e daí? 

— Você pode arranjar uma vaga na Unibertsitatea (Universidade) pra gente? — perguntou Iñaki. 

— Unibsersi… 

— Lekua azterketaretzat da. (É um lugar pra estudar) — disse Iñaki. Carmen ficou preocupada, espremendo os dentes. Iñaki e Iñigo ficaram sérios por um momento e depois caíram na gargalhada. Sophia não gostou nada daquilo.

— Fala uma coisa que eu entenda! — disse Sophia. Ela abriu os lábios de Iñaki de ponta a ponta e o rapaz fez a mesma coisa com ela. Carmen agarrou os braços de Sophia e tentou tirar aquelas mãos da boca do menino antes que se machucassem. Iñigo tentou ajudar o irmão também. Quando viram aquela confusão, Chitatsu e Kero ficaram preocupados. O guardião, aproveitando que ninguém estava vendo, se transformou no grande leão alado e correu até as crianças.  

— Não posso deixar vocês quietos e já vão começando a brigar! — disse Kero. 

 

 V

 

Já era três horas da tarde e o Sol começava a se pôr. Na frente da tenda gazebo, Sonomi alinhou Sophia, Iñaki, Iñigo e Carmen.

— Me digam: quem foi que começou? 

Ninguém falou nada.

— Por que a bochecha da Sophia e do Iñaki está vermelha? 

Ninguém falou nada mais uma vez. 

— Ah, é? Ninguém vai falar? Então ninguém mais entra no mar! — disse Sonomi. 

De repente, todo mundo apontou para Sophia.

— O que? Até você, Carmen? — disse a princesinha, supresa.

— Sophia, você é uma princesa. Se eles erraram ao falar em euskera com você, a senhora também errou puxando a bochecha deles! — disse Carmen. 

— Traidora… — disse Sophia. 

— Não quis repetir a briga que você teve no Camp Nou… Eu não estava, mas o Chitatsu me disse tudo. Você ficou nervosa quando um menino da Inglaterra riu da sua cara… Então, você meteu a mão na cara dele… — disse Carmen. 

— Bom saber! — disse Tomoyo, puxando a orelha de Sophia. — A gente vai ter uma conversinha, mocinha, quando a gente chegar em casa! Ou você estica esse pavio curto ou não vai para a gente sair junto novo! 

— Mas foi ele quem me provocou! Ele tá rindo de mim desde que a gente chegou até aqui! — disse Sophia, tentando se explicar. Iñigo e Iñaki tentaram segurar o riso. Sakura, de longe, percebeu. 

— Eu tô vendo, Iñigo, Iñaki! Eu vou falar pra Gotzone o que vocês andaram aprontando! — disse Sakura, séria. Eles pararam de rir na hora.

— Sakura, Honekin, ez daukat ezer! Esan nuen anaiari Sophiaren aurpegian, guek ez euskaraz hitz egingo! (Sakura, eu não tenho nada a ver com isso! Eu disse pro meu irmão que a gente não vai falar basco na cara da Sophia!) — disse Iñaki, tentando se defender. 

— Saldukeria (traição)… — disse Iñigo, cabisbaixo.

Sakura ainda olhava com cara feia para eles.

 

 

Passadas umas horas, Sakura e Felipe caminhavam na praia.

— Achei muito bonito o respeito que o Iñigo e o Iñaki tem por você. A família Bengoetxea é amiga minha de longa data. Unai Bengoetxea, o pai da Gotzone, do Koldo e do Ander, foi meu superior no exército.

— Não sei se é respeito ou se é medo de mim… Eu só sei que não consigo sentir ódio desses meninos. — disse a Cardcaptor, resignada.

— Isso é ser mãe, Sakura. Mesmo não querendo, você arranja um jeito de se entender com ela. Você poderia lutar na justiça pela guarda do seu filho, eles te dariam razão por você ser mãe, mas você não quer nada disso… 

— Eu não sou uma pessoa que gosta de brigar, Felipe. Sempre foi mais fácil pra mim arranjar amigas que inimigas… — disse Sakura, melancólica. 

— Esses meninos sentem isso. Você não é uma pessoa má, Sakura, por isso, eu te admiro muito. 

Sakura ficou lisonjeada pelo elogio do rei. 

— Não sei como um homem como o senhor é tão odiado pela justiça… 

— Nem eu entendo… Foi o meu silêncio me colocou nessa situação e, de agora em diante, eu resolvi que não vou me calar mais… Eu tenho uma coisa importante pra falar… 

— Pra falar? Falar pra quem? 

— Pra você. — disse El rey, fixando os profundos olhos azuis em Sakura. — Sakura, você conhece a Tomoyo como ninguém, não é? 

— Sim… Conheço… 

— Sei que ela não quer se comprometer comigo agora, nem com ninguém… Mas meu tempo é curto e… Eu não vou durar muito como rei… 

— O que é isso, Felipe! A Marcela não disse que vai te defender? Você vai sair dessa!  

— Talvez em algum ano no futuro, mas agora, quero viver o pouco de tempo que eu tenho, aproveitando essas praias, esse sol da minha terra, ao lado da Tomoyo. 

Sakura, aos poucos, começava a entender onde ele queria chegar. Um calafrio tomou conta de sua barriga.  

— Felipe… 

— Sakura… Eu vou pedir a Tomoyo em casamento. 

Um silêncio de segundos apareceu entre eles. No coração de Sakura, era como se um raio tivesse caído.  

— O que você acha disso? 

— O que eu acho? — perguntou Sakura, quase gaguejando. A primeira coisa que veio à mente dela foram os vestidos de casamento que Tomoyo desenhou. — Eu acho que esse é o maior sonho da Tomoyo. Ela sempre quis ser mãe. A Sophia meio que ajuda ela realizar esse sonho dela, sabe? Por isso que elas se dão tão bem… 

— Pensei a mesma coisa. Vou pedir a Tomoyo em casamento até o fim do mês! — disse Felipe, inspirado.

— Hoe! — gritou Sakura, de susto.

 

Continua… 


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