Uma Canção de Sakura e Tomoyo: Finalmente Juntas escrita por Braunjakga


Capítulo 53
Não gosto de você perto da Tomoyo!




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Capítulo 51

Não gosto de você perto da Tomoyo.

 

Barcelona, Catalunya, Espanha

9 de Julho de 2016

 

I

 

Já era de noite. O Toyota Etios de Tomoyo parou no estacionamento do prédio e todo mundo subiu no elevador para o apartamento das Daidouji. Chegando lá, Felipe e Sophia esperavam sentados no sofá da Sala. Bastou ver a costureira para que El Rey se levantase do sofá e cumprimentasse Tomoyo com um beijo. Sakura olhou meio contrariada para a cena, pois fazia um bom tempo que não beijava ninguém. 

— Isso se chama segurar vela, Sakura! — disse Kero, provocando a mestra.

— Fica na sua! — respondeu Sakura.

Sonomi veio da cozinha com uma bandeja de chá para todo mundo. 

— Olá, Filhota! Sakura! Como foi em Montserrat? — perguntou Sonomi. 

— Foi tudo bem, Mamãe. Felizmente, Dom Miquel soube como despertar os poderes da Sakura! — disse Tomoyo sorridente. 

— Que bom! — disse Sonomi. — Agora a Sakura não vai ficar dependendo só das cartas, né?

Tomoyo correu para Sophia e estendeu os braços.

— Sofi, vem aqui com a "mare" (mãe)! 

— Não quero! — disse a princesinha, cruzando os braços e virando o rosto. As bochechas dela estavam inchadas de ar. 

— Sophia, que malcriação é essa? — perguntou o pai.

— Vocês foram pra Montserrat e nem me chamaram! Como você é cruel! — disse Sophia. 

— Ora, Sofi! Você já não gosta de rezar e quer fazer o quê no meio de uma igreja? — perguntou Tomoyo. Todo mundo sorriu, menos a princesa que não achou graça nenhuma naquilo. 

— Montserrat é muito importante no meu país! Se eu sou a princesa, preciso ir pra Montserrat! — disse Sophia.

— Eu tenho uma outra proposta: por que você não faz que nem o Chi, Sofi? Ele reza o rosário comigo de noite… Você nem para fazer isso… Só na frente do retrato da sua mãe e olha lá! — disse Tomoyo, gesticulando, fazendo graça com  a pequena. Sophia olhou para Chitatsu com um pouco de inveja e andou até ele.

— Noi Boig! (Menino doido!) — disse a princesa. Chitatsu não entendeu nada daquilo e Sophia se trancou no quarto dela, no apartamento das Daidouji. Sakura não gostou nada daquilo e berrou:

— Eu vou matar essa menina! Fica falando em catalão pra ninguém entender! Como pode! Primeiro foi “Sense pit”, agora vem com “Boig Noi” pra cima do meu filho! — disse Sakura, furiosa. Ela só não partiu para cima de Felipe porque Sonomi segurava a cardcaptor. Felipe, meio sem jeito tentava se desculpar.

— Sakura, ela é só uma criança… — disse Tomoyo, tentando colocar panos quentes na situação. 

 

II  

 

Barcelona, Catalunya, Espanha

14 de julho de 2016. 

 

Tomoyo se levantou da cama e foi para a cozinha tomar uma água. Chegando lá, encontrou Sakura sentada na mesa, com o mão apoiando a cabeça. Ela estava com o olhar triste e melancólico, olhando para o vazio. Havia uma jarra de água gelada e um copo na frente dela. A Costureira chegou perto e se sentou na mesa do lado dela.

— Hey, Sakura, essa cara não combina com você! Você sabe disso. 

— Faz um ano, Tomoyo. Um ano que a gente foi atacada pela Ordem e até agora nada. Eu fico pensando que, se eles quisessem as cartas, ou eu de novo, eles já teriam mandado um outro ataque, mas não foi isso que aconteceu… — disse Sakura, bebendo um pouco do copo de água. 

— Você teve um pesadelo, não é? Seus pesadelos sempre são tão cheios de detalhes… 

— O Kero diz que é por causa dos meus poderes. Cada dia que se passa, me pergunto se foi um erro abrir o livro das cartas… 

Tomoyo agarrou a mão de Sakura.

— Não fala isso. Eu não te falei que vou estar sempre do seu lado quando você tiver que lidar com seus poderes. Eu estou aqui, Sakura! Esse não é só um problema seu! 

Sakura sorriu, um pouco irônica, com aquele gesto.

— Você é tão… Sabichona, Tomoyo! Você é pior que livro de auto-ajuda… 

— Oras! Quer que eu te deixe sozinha então? Cai fora da minha casa! — disse Tomoyo. Ela se levantou e apontou para a porta da sala. 

— Você não teria coragem…. — disse Sakura. As duas gargalharam tanto que temeram acordar a casa toda. — Fala baixo, Tomoyo!

— Está bem! 

As duas se acalmaram e voltaram a se sentar na mesa. 

— Talvez seja esse meu problema, querer resolver tudo sozinha, sem envolver ninguém… Desde aquela época que a gente saía sozinha atrás das cartas… — disse Sakura. 

— Desde aquela época… Hey, Sakura, o que você acha de a gente sair amanhã e descontrair um pouco? A gente só tá ficando aqui em Barcelona, isso cansa, sabe… Fora que eu tô te achando muito tensa com esses treinamentos que você está fazendo com o Kero… 

Sakura bebeu de uma vez o copo de água.

— Você sempre me observando, sua “stalker”! — disse Sakura, dando uma ombrada em Tomoyo.

— É meu dever te observar, como sua “stalker” oficial! — disse Tomoyo, devolvendo a ombrada. 

 

III  

 

Vielha i Mijaran, Val d’Aran, Catalunya, Espanha 

15 de agosto de 2016

 

O rio Garona era um pequeno filete de água que corria pelos vales sinuosos daquele local. Estavam no Vale de Arão. Montanhas e mais montanhas cercavam Sakura, Tomoyo, Sonomi, Carmen, Felipe, Sophia, Kero e Chitatsu.

— O Val d’Aran! Que privilégio estar nesse canto tão remoto de nosso reino! — disse Carmen. Sakura ficava fascinada com a forma que a pajem falava.

— Para de ser Nerd, Carmen! — disse Sophia.

— Vossa alteza é mais nacionalista que eu! — disse Carmen, sorrindo.

— Já falei pra não me chamar assim! — gritou Sophia. Carmen sorriu. 

— Nossa! Aqui é fresquinho também! Parece Bilbao! — disse Sakura.

— O Vale de Arão têm clima atlântico, Sakura. Aqui tá mais perto de Bilbao que de Barcelona… — disse Sonomi.

— Sabichona, hein, Sonomi-san? — disse Sakura.

— E outra: Quando chega o inverno, essas montanhas ficam cobertas de neve… É a melhor época pra esquiar por essas bandas! Meu lugar preferido também é o Val! — disse Felipe.

— É mesmo? — perguntou Sakura.

— Sim. Aqui o pessoal vai mais com a minha cara do que no resto do meu reino! — disse Felipe, se lamentando. 

Sakura ficou cabisbaixa e Tomoyo mudou de assunto.

— Esse isolamento todo faz com que aqui tenha surgido uma cultura única! O povo daqui tem seu próprio autogoverno, sua língua e seus costumes! — explicou Tomoyo. 

— Essa Espanha é engraçada, não é? Cada canto que a gente vai, o povo fica falando uma língua diferente! — comentou Sakura.

— Essa aqui é a Occitânia! Nosso reino tem muitos países, não é, papai? — disse Sophia, correndo na frente de todo mundo.

— E é o seu nobre dever manter esses reinos juntos, minha pequena rainha! — disse Felipe, colocando um chapéu na cabeça dela. Sophia ficou emburrada. 

— Não sou rainha ainda! A Tomoyo que vai ser a rainha antes de mim! — disse Sophia, mais encarando Sakura do que o pai. A menina correu pelas ruas de paralelepípedos do lugar na frente de todo mundo. 

— Sophia, volta aqui! — gritou Tomoyo, correndo atrás da menina. Todo mundo seguiu a costureira e Kero ficou no ombro de Chitatsu.

— Hey, Chi! Aproveia esse conto de fadas com princesas, reis e vales encantados enquanto ainda dá tempo! Qual das duas você acha mais bonita: a Sophia ou a Carmen? — disse Kero, tirando sarro da princesa. Chitatsu apenas olhava para o chão, contando as pedras do caminho. 

— Eu só quero continuar contando, Kero-chan! Não ligo com nada disso não! — disse Chitatsu, num tímido sorriso. Kero deu um piparote na nuca dele e Chi entendeu que era para correr e parar de contar pedras no meio do caminho. Foi isso que ele fez. 

 

IV

 

Os telhados das casas da Catalunya eram por natureza inclinados, por conta das neves que atingiam a região. Quanto mais perto dos pirineus, mais inclinados os tetos eram. Por se localizar na fronteira entre França e Espanha, os tetos das casas do Vale eram os mais inclinados de todos e as torres das igrejas eram pontudas como cones. 

Próxima à uma dessas igrejas, um conjunto de Cobla cantava. 

— Esses caras cantam uma música diferente, né? — disse Sakura.

— Isso se chama Cobla, Sakura. — disse Felipe.

— Cobla? 

— Sabia, Sakura, que a Cobla é um conjunto musical típico da Occitânia? Na Catalunya, eles se tornaram uma espécie de conjunto nacional. — explicou El Rey.

— Tô vendo. Você gosta muito da Catalunya, né? 

— Até demais! — disse El Rey, sorrindo.

Usando trompetes, trombones, tubas, clarinetes, oboés e contra-baixos, eles cantavam músicas tradicionais da região. Perto deles, havia círculos e mais círculos de pessoas dando as mãos e mexendo os pés no ritmo da melodia. Sakura estava encantada.

— Hoe! Como se chama essa outra dança daqui? — perguntou Sakura. 

— Isso é Sardana. É a dança nacional da Catalunya. Todo mundo sabe como se dança e é fácil aprender! — disse Sonomi.

— Sério? Posso mesmo? — perguntou Sakura, com os olhos brilhando. 

— Vai! Só pedir pra entrar na roda que eles deixam! Quanto mais gente melhor! — disse Sonomi. Sakura correu e entrou na ciranda, para badalar um pouco. 

 

V

 

Tomoyo olhava para a cena com os olhos tristes.

— Que foi, filha? — perguntou Sonomi.

— Estou sem minha câmera. Minhas mãos estão coçando… — disse Sonomi.

— E o seu celular? — perguntou a executiva, com um sorriso no rosto.

— Bem… 

— Você nunca deixou de se concentrar na Sakura, não é? É a sua cabeça que te impede de pegar esse celular e filmar a sua garota! — disse Sonomi. 

— Mamãe! Eu namoro o Felipe se a senhora estiver pensando outra coisa! — disse Tomoyo vermelha.

— E paquera a Sakura com o coração! Sei! Quero ver até quando vai aguentar isso! — disse Sonomi. Felipe não estava com elas. Tinha ido atrás de uns sorvetes para todos.

 

VI

 

Perto da banda de Cobla, a pequena princesa Sophia olhava os movimentos de Sakura e Tomoyo com atenção e não gostava nada do que via. Não gostou nadinha de ter visto Tomoyo pegar o celular e filmar a amiga. Tentou ir lá, mas Carmen a impediu. Ela segurou o braço de Sophia e perguntou: 

— Está tudo bem, Sophia? 

— Não tá nada bem! Olha só, olha só! — disse a princesa, puxando a amiga e apontando para Tomoyo, filmando Sakura. 

— O que tem de mais? 

— O que tem de mais? Você não enxerga! Aquela Sakura tá roubando a Tomoyo! 

— Roubando? — perguntou Carmen, atordoada. — Isso é besteira, Sophia… 

— Como assim, besteira? 

— Sua majestade e Dona Tomoyo não são casados… Nem são comprometidos… Os dois não usam aliança… — disse Carmen, com franqueza e timidez, esquivando-se dos olhares raivosos de Sophia. 

Sophia olhou mais uma vez para Sakura se divertindo e quase quis chorar. 

— Não são, é? A Tomoyo prometeu ser minha “mare” (mãe)... — Sophia começava a enxugar alguns fios de lágrimas que caíam. 

— Sophia, não chora! Se você chorar, a Tomoyo vai vir correndo atrás de você… — disse Carmen.

Sophia levantou os olhos e viu Chitatsu e Kero parados num canto, observando os músicos e as pessoas. A princesinha enxugou os olhos de vez e correu brava para os dois. Carmen foi atrás dela para evitar que ela fizesse alguma besteira. 

 

VII

 

Chitatsu tomou um susto quando ela e Carmen chegaram.

— Dança sardana comigo! 

— Hoe? — admirou-se Chitatsu.

— É doida essa aí? — perguntou Kero.

— É uma honra receber esse convite da Princesa das Astúrias! Não sou doida não, seu boneco feio! — disse a Princesa. Bastou que ela chamasse o guardião de boneco para que ele desse uma leve mordida no dedo dela. Em vez de chorar ou gritar, Sophia agarrou Kero e ficou brigando com ele, tentando enforcá-lo. Kero tentou morder com mais força, mas não conseguiu. Chitatsu ficou preocupado.

— Está bem, eu danço, eu danço! — disse o pequeno dragão, tudo para evitar que Tomoyo viesse até eles. Ela já olhava para eles com preocupação, vendo os gestos bruscos de Sophia. Os quatro se deram as mãos e começaram a dançar. 

 

VIII

 

Sakura saiu da ciranda e voltou a ficar do lado de Sonomi e Tomoyo.

— Nossa, tô cansada! O povo sabe se divertir aqui, hein? — disse Sakura, olhando para as crianças. — Nossa, eles se entenderam, né? Que bom! Até o Kero tá junto!  

— Eu já estava preocupada que eles estivessem brigando mais uma vez… — disse Tomoyo, preocupada com a cara de raiva de Sophia para Sakura. De repente, a princesa gritou:

— Hey, Sakura! 

— Hoe? 

— Vou pegar ele pra mim, viu? Vou tomar ele de você! — gritou Sophia. 

— Tomar meu filho de mim? — perguntou Sakura, olhando curiosa para a princesa. Nem Chitatsu entendia direito o que ela falava e Carmen estava preocupada. Kero sinalizava com o dedo que Sophia estava doida. 

 

IX

 

A música parou e as rodas de Sardana começaram a se desfazer. A praça no meio da cidade ficou cheia de gente indo e vindo.  

— Com licença… Com licença… — disse uma mulher de cabelos curtos azuis, pedindo licença para Sakura no meio daquela gente.

— Ami Mizuno! Você por aqui? Como vai, amiga! — disse Tomoyo, abraçando a mulher. 

— Estou ótima! Férias mais que necessárias! Vi seu "post" no "insta" dizendo que você ia vir pra cá e, como eu tô de férias aqui em Lleida, minha terra natal, resolvi te encontrar aqui!    

— Que prazer, amiga! — disse Tomoyo. Sakura não entendeu nada.

— Quem é ela, Sonomi-san? 

— É a minha ginecologista e da Tomoyo! — explicou Sonomi.

— E vem aparecer num rolê aleatório aqui, em pleno Val d’Aran? Eu, hein? — disse Sakura, gargalhando. De repente, Ami apareceu do lado de Sakura, olhando-a de cima a baixo.

— Você deve ser a Sakura Kinomoto, não é?  

— Sou sim.

— Você é médica também, né?

— Sim, mas só sou plantonista por enquanto…   

— Você ainda estuda medicina? 

— Tô me especializando. Já fiz um ano de cirurgia e vou terminar ano que vem… 

Ami Mizuno retirou os óculos que usava, esfregou as lentes na camisa e tornou a colocá-los.

— Então… Estude em vez de ficar dançando Sardana! — disse a mulher de cabelos azuis, repreendendo Sakura. Todas ficaram em silêncio. Depois, Ami e Tomoyo gargalharam com o clima de tensão no ar. A cardcaptor fez uma cara de credo que parecia não ter visto tanta graça na brincadeira assim. Foi nessa hora que Felipe apareceu com os sorvetes.

— Demorou, hein? — disse Tomoyo.

— Perdi alguma coisa? Tava falando com a Marcela, ela acabou de me ligar e… — disse Felipe, com os potes de sorvetes dentro da sacola. Enquanto falava, ele deixou a sacola cair com o susto que tomou, vendo Kero e Carmen tentando puxar os braços de Sophia. A pequena estava dando um mata leão em Chitatsu. A princesa olhou para Sakura e disse:

— Ele é meu! Vou tirar ele de você! 

— Ai minha nossa! — disse Sakura, com a mão na cabeça. 

 

X

 

Na hora do almoço, todos foram para um restaurante. Até mesmo Ami Mizuno foi junto com o pessoal e aproveitou a boquinha com Sonomi, Kero, Sakura, Chitatsu e Carmen. 

— Espero que você não estranhe o Kero-chan, Ami. — disse Sakura. 

— Que é isso! O Kero que se apresentou pra mim! — disse Ami.

— Eu senti um poder mágico dentro de você e não resisti! vi que a cor da sua aura é azul! — disse Kero. — Parece até ondas de água, me senti relaxado… 

— Então, meu poder é ligado à água. Mas preciso de uma caneta pra liberar meus poderes… Tá aqui, olha! — disse Ami, mostrando para a turma uma caneta rosa com o símbolo do planeta Mercúrio na tampa. 

— Nossa, que coisa! Você tem algum tipo de ataque? — perguntou Kero, admirado.

— Spray de bolhas. É um ataque onde eu espalho um monte de bolhas no ar. Quando elas estouram, viram neblina. Na minha forma mais avançada, eu consigo até congelar coisas com elas! — explicou a médica.

— O bom de a gente ter poderes mágicos é saber logo de cara com quem a gente pode se dar bem ou não. Eu já tô gostando muito de você, Ami! — disse Kero.

— É mesmo, é? Se isso fosse verdade, já ia adivinhar de cara que já tava levando chifre! O pior é que eu até fui com a cara da Gotzone no começo! Olha só no que deu! — admirou-se Sakura.

— Eu acho que você tinha que conversar, Sakura… Amor tem dessas coisas… — sugeriu Ami. A Cardcaptor torceu o nariz.

— Tá vendo, Sakura? Mais uma maga que precisa de um objeto pra liberar seus poderes! Você não tá sozinha… — disse Kero, tentando mudar de assunto, com ares de professor. 

— Tô vendo… — disse Sakura, olhando para uma cena fora do restaurante. 

 

XI

 

Na rua, fora do restaurante, Sophia, Tomoyo e Felipe conversavam mais a sério. 

— Você viu o que você fez, mocinha? — perguntou Tomoyo. — Você estava sufocando o Chitatsu! Pra que isso, Sophia? Pra que essa agressividade toda? — perguntou Tomoyo. 

— Foi por causa da Sakura… — disse Sophia, com os olhos marejados.

— Como assim a Sakura? O que ela te fez? — perguntou Tomoyo.

— Você tava filmando ela! — explicou a princesa.

— Sophia! Eu filmei todo mundo! Não só foi a Sakura! Eu filmei você dançando Sardana, eu filmei seu pai tocando clarinete, que ciúme é esse, hein? O Chitatsu não tem nada a ver com isso!

— Você olha pra Sakura de um jeito esquisito! Tô vendo isso faz tempo! — berrou Sophia na cara de Tomoyo, olhando para o pai. A arquiteta não soube o que dizer por um momento até Felipe começar a falar.

— Olha a malcriação, Sophia! Você nunca falou assim com a Tomoyo! — disse Felipe, agarrando o ombro da pequena, olhando diretamente nos olhos azuis dela, que já estavam vermelhos de lágrimas. 

— Você e a Tomoyo não usam alianças, não é? — perguntou Sophia. Agora era Felipe que não conseguia falar.

— Sophia… — disse Tomoyo.

— Então você não é a minha mare (mãe) pra me dar bronca! — gritou Sophia. Ela se desprendeu do pai e correu pelas ruas da cidade de Vielha. Tomoyo começou a chorar com aquelas palavras. Ela colocou as mãos no rosto e se sentou num banco de pedra próximo, apoiada nos braços de Felipe. 

 

XII

 

De repente, Sakura correu para tentar ajudar Tomoyo.

— O que aconteceu? — perguntou a Cardcaptor.   

— A Sophia… Ficou brava… — disse Felipe.

— Eu vou atrás dela! — disse Sakura.

— Deixa ela. É melhor assim… 

— Ela ficou olhando feio o tempo todo pra mim, quero tirar isso a limpo! — disse Sakura, correndo atrás da menina.

Felipe respirou fundo e colocou o pescoço para trás.

— A Sophia é um problema mesmo com essas coisas… — comentou El Rey.

 

XIII

 

Numa rua estreita da cidade, às margens do rio Garona, Sophia chorava. Ela estava bem escondida na beiradas do rio, quase pisando nas pedras do leito. Naquela parte do vale, o rio era raso o bastante para que ninguém se afogasse nele, mas qualquer cuidado era pouco. As pedras salientes que estavam no leito eram muito escorregadias e podiam machucar a pequena.

— Sophia! — gritou Sakura.

A menina levantou a cabeça e olhou para ela assim que ouviu seu nome.

— Ainda bem que você tá aqui! Sabia que deixou todo mundo preocupado? — perguntou Sakura.

— Como me encontrou? — perguntou a princesa.

— Eu fechei os olhos e senti sua presença, ué? Não tem mistério nisso!

— Eu vacilei… — disse a princesa, voltando a baixar a cabeça e abraçar os joelhos. 

— Não é vacilo! Você tem magia, não tem? A Tomoyo me falou que você fala com fantasmas de vez em quando… Ela não consegue ver, mas sente, sabe? — disse Sakura, tentando criar algum tipo de laço com a menina. A princesa não comentou mais nada.

Sakura teve receio de se aproximar dela. Chitatsu nunca tinha dado trabalho na vida, sempre foi um menino quieto e concentrado. Se por um lado, aquilo a preocupava, por outro, tirava uma parte de sua preocupação. Sophia agia com a malcriação que sempre viu, mas nunca esperou vivenciar. Precisava falar com ela, afinal a razão de tudo aquilo era a presença da Cardcaptor.

Sakura se sentou do lado dela e tentou puxar conversa mais uma vez.

— O que tá acontecendo, Sophia? Tem alguma coisa que eu te fiz pra você ter ficado assim, chateada comigo? Hein? — perguntou a Cardcaptor, com toda a sensibilidade do mundo.

Sophia levantou a cabeça e respondeu:

— Tomoyo é a minha "mare" (mãe). 

— Sua "maré", é? Eu não tenho nada contra isso! Até acho bonito essa sua ligação com ela e… 

— Minha única "mare" (mãe). Minha mãe Helena morreu. Só tenho a Tomoyo. Meu "pere" (pai) gosta da Tomoyo. A Tomoyo não quer ser rainha. O congresso odeia o papai. O juiz odeia o papai. Querem prender o papai! Vão tirar o meu "pere" de mim! Só tenho a Tomoyo! Se você me tirar a Tomoyo, não vou ter mais ninguém… — disse Sophia, voltando a berrar com o próprio raciocínio. Sakura sentiu empatia pela menina.

— Sophia… Eu não tô tentando tirar a Tomoyo de você… 

— Tá sim! A Tomoyo só pensa em você! Só fala em você! Eu achei que você era de mentira que nem papai Noel! Você é de verdade! 

"Que nem papai Noel, é? Essa menina é muito esperta pro meu gosto…", pensou Sakura, lembrando-se que Tomoyo sempre contava histórias de quando as duas capturavam as cartas para ela. A Cardcaptor voltou a insistir:

— Sophia, isso não é verdade! A Tomoyo te ama muito também e… 

— Isso é mentira! Ela gosta mais de você! 

Sakura ficou vermelha na hora.

— Não é assim! A Tomoyo também fala bastante de você pra mim!

— Não gosto de você perto da Tomoyo! — berrou Sophia, se levantando e encarando Sakura, sem nem pensar no que falava. Tomoyo e Felipe viraram a esquina e ouviram a princesa gritar. A costureira fazia uma cara tão triste que a princesa se arrependeu do grito que deu. 

 

XIV

 

Era de noite. Da janela do carro, dava para ver algumas viaturas dos Mossos d'esquadra patrulhando a rodovia e alguns poucos carros trafegavam ao lado delas. 

No banco de trás, Chitatsu dormia a sono solto no colo de Sonomi, que também dormia. Kero também acompanhava o rapaz, enquanto Tomoyo dirigia o carro. 

— Será que ela tá bem? — perguntou Sakura. 

— A Ami? Ela pegou o carro e foi pra Toulouse… Ela tava indo para lá antes de parar no Vale… 

As duas ficaram em silêncio.

— Sakura, você está mais feliz? — perguntou Tomoyo.

— Com certeza! Me ajudou a esquecer o estresse todo de um ano atrás. Pena que deu mais estresse ainda… — disse Sakura.

— Entendo… — Tomoyo ficou quieta, entendendo o que ela quis dizer.

— Esse negócio do Felipe ter pedido um helicóptero chamou muito a atenção do povo, né? Todo mundo percebeu que o rei tava lá, só não sabia onde… 

— Toda a família real aprendeu a esquiar nessas montanhas… Por isso o povo daqui não odeia o Felipe e já está acostumado com o barulho… 

— Sei…

Um fio de lágrima saia dos olhos de Tomoyo.

— Sabe o que é mais difícil, Sakura? É as palavras da Sophia doerem no fundo da alma! É você se sentir incapaz de fazer mais por ela… 

— Eu acho que você já aprendeu a ser mãe dela, Tomoyo, mesmo sem você querer… Agora você tá sentindo isso na pele. E olha que não tem como voltar mais atrás.

— Não sei se não tem como! Se a Sophia não me quiser mais, eu… 

— Para com isso! Você sempre esteve falando de mim pra ela, né? Tô vendo que não deu certo! O ciúme dela é mais forte, uma pena… — disse Sakura, um pouco vermelha, tentando falar de outra coisa.

— Sim, eu tentei dar uma heroína para ela… Uma heroína diferente das pessoas dos retratos do palácio real… 

— Foi então que… Você falou de mim?

— Sim. A pessoa mais corajosa que eu conheci… — disse Tomoyo. Sua face branca ficou vermelha de imediato. Sakura também ficou assim, mas tentou disfarçar conversando.

— Me desculpa, Tomoyo, se eu não sou a heroína que ela esperava. Mas ainda temos muito a fazer por ela, juntas. Vou mostrar que ainda posso ser uma heroína sim… Uma que ela não tenha que se preocupar… — disse Sakura, sorrindo. — Vamos lá?

— Vamos sim! — disse Tomoyo. Ela mexeu no câmbio e o carro acelerou na autoestrada quase deserta. Sakura tinha muito a perguntar, mas achou melhor deixar para outra ocasião.

 

Continua… 








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