Uma Canção de Sakura e Tomoyo: Finalmente Juntas escrita por Braunjakga


Capítulo 52
A mágica está dentro de você (parte II)




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Capítulo 50

A magia está dentro de você, parte 2

 

Monistrol de Montserrat, Catalunya, Espanha

9 de julho de 2016

 

I

 

Assim que o Toyota Etios de Tomoyo parou no estacionamento, todos saíram do veículo felizes pelo fim da longa viagem. 

A primeira reação de Sakura foi abrir a boca, surpresa com as dimensões daquela construção diante de seus olhos.

— Nossa! Isso tudo aqui foi construído nas montanhas?

— Monastérios são feitos nas montanhas! Se você visse os da Grécia, ficaria mais impressionada ainda! Não sei o que eles fazem pra subir naqueles desfiladeiros! — disse Tomoyo, sorrindo.

— Montanhas são lugares onde se tem muita magia… Por isso, são lugares perfeitos pra construir monastérios. — disse Kero, respirando fundo.

— Você e esses lugares mágicos, né, Kero? — disse Sakura, pegando na mão do filho. — Vamos, Chi.

— Vocês sabiam que São Jorge matou um dragão na Catalunya? Isso foi lá pelas bandas de Tarragona. Dizem que o santo enterrou os ossos da criatura aqui! — disse Tomoyo. Sakura ficou arrepiada.

— Credo, Tomoyo! Que história é essa? 

— É só uma história que aumenta a mística de Montserrat. Tem gente que fala que é por causa disso que a Virgem Maria resolveu aparecer para os catalães nesses montes.

— E por isso, esse lugar respira magia, olha só as pessoas ali! — disse Kero, apontando para uma fila de fiéis que entrava nas instalações do monastério.

O complexo de prédios do monastério de Montserrat era imenso. Os prédios tinham uma altura de dez a quinze metros, havia séculos de história em cada tijolo encrustado na rocha bruta das montanhas. As primeiras ilhas que Colombo descobriu nas Américas ele deu o nome de Montserrat. Havia uma capela enorme na frente deles, onde se celebravam missas e onde estava a imagem da Virgem negra de Montserrat, padroeira da Catalunya e havia também um outro complexo de prédios para os monges do lugar.

— Vamos indo, gente, ainda temos muito a ver aqui… Meu amigo está a nossa espera. — disse Tomoyo.

Enquanto andavam, Kero e Sakura sentiram suas cabeças serem atingidas por um raio. Era uma presença mágica poderosa.

— Mas que poder colossal é esse? — perguntou Kero.

— Parece com a da Dona Beatriz e do finado Dom Alfredo… E também, lembra muito o poder dos Interventores, né, Kero-chan? — perguntou Sakura.

— Um Interventor aqui? Será que é o Interventor da Catalunya? — perguntou Tomoyo, trêmula de preocupação.

— Não, não é bem isso… É um poder parecido com o deles, se bem que não dá pra sentir a presença deles por eles usarem magia de sangue, mas… Tem a força deles! E também… 

— É tão violento e ao mesmo tempo é tão sereno, né? É me sinto com tanto medo, mas… Eu também me sinto tão bem… Eu sinto uma amargura tão grande, mas também tem junto uma felicidade recente… 

— Como assim? — perguntou Tomoyo.

— É como se a gente estivesse diante de uma imensa cachoeira ou… Na beira de um grande abismo com um jardim lindo no final… É como um Dragão imenso e perigoso subindo nas nossas costas, mas o Dragão não faz mal algum…  — disse Sakura, em transe. Os olhos de Chitatsu já estavam brancos de tanta magia que absorveu no ar. Do nada, ele começou a andar em linha reta até uma das portas do monastério. Chegando lá, um senhorzinho de batina preta e solidéu vermelho na cabeça abraçou o menino. O religioso tocou na testa de Chitatsu e tirou o menino do transe. Ele sorria.

— Desculpe se eu preocupei vocês, faz tanto tempo que alguém não me pede por conselhos mágicos que fiz um pequeno teste para ver a sensibilidade mágica de vocês. O que acharam? — disse o homem. 

— Dom Miquel Tossel! — disse Tomoyo, animada. Ela se aproximou dele e beijou o anel na sua mão esquerda. O religioso fez um sinal da cruz na testa dela e abraçou a moça. Depois, pegou Chitatsu no colo. O filho de Sakura não tinha medo dele.

— Na verdade, seu padre, eu não gostei nada disso! — disse Kero. — O senhor trate de se explicar como é que consegue fazer a gente sentir a presença dos Interventores da Ordem! — disse Kero, num tom de voz exagerado. 

— Kero-chan, eu quem pergunto! Como é que você faz um papelão desses nesse lugar sagrado? Você está na frente de Dom Miquel Tossel, cardeal-príncipe de Barcelona, centésimo vigésimo quarto presidente da Generalitat da Catalunya! Mais respeito! — disse Tomoyo, repreendendo o guardião.

— Acalmem-se. Esses eram títulos que eu possuiu no passado e agora não possuo mais… A Generalitat está com outro presidente, Barcelona tem outro arcebispo e a Igreja Católica tem outro Príncipe… Dessa vez um papa: meu sobrinho, agora Papa Antoni… — disse o Cardeal, sorridente. 

— Eminência… O Senhor ainda é o Cardeal Bispo de Óstia e também…Camerlengo de sua santidade… Deão do Colégio dos Cardeais e… — disse Tomoyo um pouco tímida. 

— Sei, eu sei, Tomoyo… Sou também segundo filho do Rei Sergi I. E daí? 

— E daí? — perguntou Kero, confuso.

— Títulos são uma coisa que a gente carrega por um tempo até outro assumir. Fazer o melhor da gente com cada título que a gente tem é o que importa. Diga-me, Kerberos: quanta gente recebeu o título de "rei" e foi um verdadeiro incompetente? Meu próprio pai é um exemplo disso… — disse Dom Miquel. 

— Que Cardeal evoluído… — comentou Kero.

— Ele não é Cardeal à toa, não é, Kero? — disse Tomoyo, dando um piparote no guardião.

— Filho de um rei? Hoje! — exclamou Sakura.

— Sim, tive a chance de ser rei, mas recusei em prol do meu irmão, Dom Andoni I. Agora, sou um simples sacerdote. — disse Dom Miquel.

— O Senhor é tão humilde… — disse Tomoyo, com os olhos brilhando.

— E você sempre colocando aqueles que você ama lá nas nuvens! Olha lá, Tomoyo! Cuidado com isso, viu? — disse o cardeal, sempre sorridente, puxando amorosamente as bochechas da roxinha.

— Só um simples sacerdote, é? — perguntou Kero, ainda desconfiado. 

— Eu tive a sorte de nascer príncipe, quase ter me tornado rei e alcançar o posto mais alto da minha profissão, mas também, vi meu pai enlouquecer bem diante dos meus olhos, vi meu irmão e meu rei Albert I morrer na minha frente, passei 35 anos longe da minha terra, não estive do lado do meu irmão Andoni quando ele mais precisou de mim… Depois que voltei pra Espanha e virei presidente, tive que voltar pro Vaticano no fim do meu mandato e fiquei mais 30 anos no exílio, servindo dois Papas, longe dos meus sobrinhos-netos… Foi uma vida difícil que só agora estou tendo algum descanso, graças à Tomoyo… Ficar do lado da minha família é mais importante agora que qualquer título que ganhei em vida… — O Cardeal abraçou o ombro da costureira. — E graças à minha família hoje, posso envelhecer feliz…  

— Ah, então o senhor é parente do Felipe! — perguntou Kero. Tomoyo deu um tapa na cara com a constatação óbvia de Kero.

— Sou tio dele! Eu já sei de toda a história dele com a Tomoyo. Ele tá passando por tanta coisa… Se não fosse a Tomoyo… — disse o Cardeal. 

— Puxa vida, por que o senhor diz que só tá descansando agora? — perguntou Sakura.

— Assumir as responsabilidades que eu assumi requer tempo e energia. Seja qual for o tamanho dela, muitas vezes vivemos em prol dela e acabamos nos esquecemos de nós mesmos. Por isso, mesmo que eu tenha alcançado posições muito grandes, tinha momentos que eu me sentia vazio e me perguntava "por que estou fazendo isso?". 

— Eu entendo… — disse Sakura, corando o rosto e coçando a nuca. Ela se lembrou do sacrifício que foi ser mãe e estudante e viu que sua vida se encaixava certinho na narrativa de Dom Miquel. 

— Então, o que ajudou a me sustentar é a esperança de rever as pessoas queridas e a fé de que vai dar tudo certo, colocando em tudo o que eu fiz até agora a força do meu amor até esse momento chegar… — disse Dom Miquel, colocando Chitatsu no chão de novo. — Agora não é hora de falarmos sobre mim, o tempo é curto e outra hora a gente fala mais sobre isso… Vamos entrando, gente, vamos entrando… — disse o Príncipe, apontando o caminho para o pessoal.

 

II

 

Todos foram para uma sala reservada de reuniões do monastério. As paredes do local também eram enormes como as de fora e havia vitrais ricamente coloridos nas janelas altas. Um clima de silêncio e reclusão preenchia o ambiente, mesmo a sala ficando ao lado da igreja principal, sempre barulhenta por conta das missas a toda hora. As grossas paredes de pedra ajudavam a reforçar o isolamento acústico.

— O Senhor mora aqui? — perguntou Kero… 

— Não. Vivo em Madrid, passo uma parte do ano no Vaticano e tenho bons amigos aqui que me abrem um espaço quando eu peço… — respondeu Dom Miquel. O Cardeal tinha uma aura antiga e honorável, impondo respeito apenas com sua presença e poucas palavras. 

— Ah… — disse Kero.

— Então, Sakura, você é a pessoa que está tendo problemas para despertar seus poderes, não é? — perguntou o Cardeal.

— Sim, Dom Miquel. — respondeu a Cardcaptor.

— Você já fez algum treinamento para tentar despertá-los? — perguntou Dom Miquel.

— Bem… Esse é o problema, eminência. Eu tentei várias vezes e meus poderes não despertaram. Tava treinando com um terço que a Tomoyo-chan me emprestou, mas… Não tô tendo resultado… — disse Sakura.

— Por quanto tempo você vem treinando? — perguntou o Cardeal.

— Bem… Um dia… — respondeu Sakura, com timidez.

— E você espera ter resultados em um dia, Sakura? — disse Dom Miquel, sorrindo. 

— Não é bem isso. Não é a primeira vez que eu uso magia. Eu já usava cartas antes pra lançar feitiços. Só acho muito injusto eu não conseguir fazer a mesma coisa agora, sem as cartas…  — disse Sakura, frustrada.

— Sakura, tem muitos fatores que determinam o grau de sucesso de uma magia. Pelo que a Tomoyo me passou, você sempre dependeu das cartas para usar magia. Você já está acostumada a usar objetos para lançar feitiços. Fazer a transição de usar magia com um item mágico para a sua própria energia pessoal é um processo traumático e trabalhoso em essência… — explicou Dom Miquel. Sakura corava de vergonha e Kero aproveitou para devolver o cascudo que tinha levado da mestra no dia anterior. Quando Sakura se virou para ver o que era, Kero já tinha voado para o outro lado, assobiando para o teto. 

— Então… Vai demorar muito até que eu consiga usar qualquer tipo de magia? — perguntou Sakura.

— Vai… Ou não. Primeiro, você tem que deixar de pensar que Magia é uma coisa que você usa para passar a pensar que a Magia está dentro de você.

— Como assim?

— Quando você aprende uma nova língua, não adianta nada só decorar listas e listas de palavras, você precisa usar as palavras, sentir as palavras, pensar no mundo usando as novas palavras que você aprendeu…

— Sei… Foi a mesma coisa que me disseram quando eu aprendi euskara… — disse Sakura, se lembrando do que Gotzone lhe falou há um tempo atrás.

— Está vendo? É a mesma coisa com magia. Quando eu digo "taula" em catalão quero dizer "mesa" em espanhol. Você tem que tirar as palavras de dentro de você para interagir com o mundo na língua que você quer falar. Se você não conseguiu tirar, é porque você não aprendeu ainda. Basta você olhar no dicionário como se diz "mesa" em catalão e encaixar essa palavra dentro do seu coração, praticando "taula" todo dia.

— Quer dizer que… Pra aprender a usar magia eu tenho que encaixar magia na minha vida? No que eu tiver fazendo? Eu não tenho que pensar nela como se eu estivesse lançando um feitiço como se eu quisesse que um papel queimasse? 

— É aí que você se engana. A força que você usa pra queimar um papel não é a mesma que você usa pra derreter uma pedra. O nível de concentração é diferente. 

— Aprende, Sakura! — disse Kero. Dom Miquel continuou:

— Você não pode pensar que usa magia como uma faca, você tem que entender que você é a magia, Sakura! Se alguma coisa acontece por causa da magia não é que você está só lançando um feitiço, mas sim, você está vivendo a magia dentro de você. Por isso que a cor da nossa aura está ligada à nossa personalidade. Quantos e quantos corredores conseguem chegar em primeiro lugar com um carro não muito bom? Uma parte do trabalho quem faz é o carro, outra parte é o piloto.

A Cardcaptor ficou em silêncio por um tempo, processando na mente as informações do religioso. O Dom Miquel viu que Sakura se esforçava de verdade para entendê-lo e resolveu acelerar um pouco as coisas.

— Diga-me, Sakura: qual é a primeira coisa que você faz quando usa as cartas?  

— Bem… Eu giro o báculo, digo a minha frase mágica e toco a carta com o báculo… 

— Você sabia que fazer isso é um exercício de concentração? Quando você dança e gira o báculo, você se esquece do mundo e incorpora a Sakura, a capturadora de cartas. 

— Puxa vida, nunca parei pra pensar nisso! O engraçado é que quando eu lutei contra a Gotzone… As cartas apareceram sem eu precisar chamar! 

— Raiva também é uma forma de se concentrar. A pior possível, mas é uma forma. O problema da raiva é você não controlar o quanto de força você libera. Isso só faz perder o foco e acaba te cansando… 

— Agora eu e o que aconteceu. Quem ia imaginar que aquela dancinha boba que a Tomoyo-chan inventou ia servir de alguma coisa… — disse Sakura. Todos sorriram. — Pena que a ela saiu falando muito de mim pros outros! — disse Sakura, puxando a orelha da parceira.

— Sakura, Dom Miquel Tossel é de minha absoluta confiança! — disse Tomoyo, se defendendo.

— Você não é a primeira pessoa a usar cartas pra lançar magia, Sakura. Não precisa ficar assim. Magia com objetos é muito comum e cartas são um meio muito prático mesmo para transportar feitiços que já foram criados ou capturados por nós… — disse Dom Miquel.

— Quer dizer que eu não sou a única a usar cartas? — perguntou Sakura.

— Não. Tem gente que usa cristais, outros pedras preciosas e tem gente que usa até mesmo chaves pra evocar espíritos do zodíaco. A magia é muito plural e existe de diversas formas de usá-la. Não se preocupe quanto aos seus segredos… A Tomoyo não revelou segredo nenhum seu… 

Sakura sorriu de leve. 

— Acho que eu sou uma burra mesmo!

— Não existe burrice na magia, só existe tempo e uma vontade grande de preencher esse tempo com exercícios e mais exercícios. Deixe-me lhe mostrar… — disse o Cardeal, pegando na mão de Sakura. 

 

III

 

A Cardcaptor teve uma vertigem. As paredes duras do monastério começaram a desaparecer como se fossem feitas de fumaça. A mesa também sumiu numa nuvem de poeira e todos se levantaram das cadeiras. Assim que se levantaram, as cadeiras desapareceram também. Em segundos, estavam cercados de pedras e gramas.

— Hoe! Onde é que a gente tá? — perguntou Sakura.

— Pirineus. Aqui ninguém vai incomodar a gente… — disse o Cardeal.

— Nossa! A gente veio pra um lugar tão alto em tão pouco tempo… — Comentou Tomoyo. 

— Quando a gente faz esse tipo de "viagem" pra um canto tão longe assim, uma energia mágica muito grande tem que ser liberada! Eu não senti nenhuma! — respondeu Kero. 

— Eu tô de boa, Kero-kun… — respondeu Chitatsu. — Não senti nada também.

— Essa é uma das habilidades que o tempo me ensinou: esconder meu poder mágico quando uso magia de alto nível. — respondeu Dom Miquel, sorridente.

— Mas pra que todo esse mistério, hein? — perguntou Sakura.

— Pra evitar que magos bisbilhoteiros venham desafiar a gente… 

Todos olharam tensos para o Cardeal.

— Mas, também, ninguém é obrigado a revelar o nível do seu poder… — disse o cardeal, sorrindo. Kero ainda olhava o homem com desconfiança. — Venha, Sakura. Dê-me sua mão. 

Sakura pegou na mão do homem e uma aura arco-íris surgiu em volta do corpo dela. Em volta do Cardeal, uma aura branca se manifestou.

— Mas que presença poderosa é essa?

— É o seu poder, Sakura. Você tem um reservatório de poder mágico incrível que só cresceu com o tempo. Foi o próprio Mago Clow quem fez isso por você… 

— E o que eu faço com todo esse poder? — perguntou Sakura, tremendo de surpresa.

— Venha… — O Cardeal flutuou alguns centímetros do chão. Graças ao poder mágico de Sakura, uma aura cinzenta apareceu ao redor de Chitatsu e ele também flutuou. Kero foi envolvido por sua aura dourada, mas já estava flutuando. Sakura viu todo mundo levitar e flutuou também. Só Tomoyo, que não tinha magia, ficou no chão, contemplando o espetáculo de energias mágicas.

— Pense no fogo queimando sua mão, Sakura, e tenho certeza que uma chama vai vir até você… A magia está na sua força de vontade. — disse Dom Miquel. Ele esfregou as mãos e uma língua incandescente apareceu. Sakura fez a mesma coisa e um fogaréu explodiu na frente dela.

— Não se assuste. Magia é um rio. Você tem que deixar ela passar por você. Não precisa conter o poder dentro de você… — disse Dom Miquel. Ele esfregou as mãos e uma labareda maior apareceu. Sakura olhou para uma pedra e apontou a palma da mão. Um jato de fogo saiu de lá, golpeando a rocha. Sakura ainda estava tão nervosa com a surpresa que as chamas ora ficavam fortes, ora fracas. Parecia que Sakura perderia o controle novamente. Então, Tomoyo segurou a mão livre de Sakura e falou:

— Sakura, você já dominou esse poder dentro de você! Você já usou as cartas! Você já sabe como fazer isso! Você já fez isso! Agora, só falta controlar! — Tomoyo sorria, transmitindo segurança para a companheira. As chamas de Sakura começaram a tomar forma e se transformaram na carta "Fogo" quando a médica pensou na carta querida. Era apenas uma imagem. Sakura tremeu de novo, pensando estar diante da carta.

— Está vendo, Sakura? As cartas vão sempre estar com você! Ninguém vai te tirar aquilo que você guarda dentro do seu coração! — disse Tomoyo, sorrindo. Sakura sorriu também. A Cardcaptor fechou as mãos e as chamas na forma da carta "Fogo" começou a ficar mais fraca até desaparecer por completo.

— Acho que não preciso dizer mais nada. Nossa "comum" aqui já disse tudo. — disse Dom Miquel, sorridente, indicando Tomoyo. Todos olharam para ela.

 

IV

 

Bastou um estalo de dedos e todos estavam de volta à sala de reunião do mosteiro de Montserrat. As cadeiras e as mesas estavam no mesmo lugar, como se não tivessem saído de lá. Até mesmo as grossas paredes de pedra do monastério estavam lá, intactas.

— Hoe! Como é que eu fiz tudo aquilo? — perguntou Sakura. 

— Sakura, a mágica estava dentro de você o tempo todo. A gente só tirou ela de lá. É o mesmo que você começar a falar inglês numa sala onde só falam inglês, quando você já sabe alguma coisa de inglês, é claro. Agora, é a sua vez de continuar por esse caminho longo que é a magia. Pratique uma hora por dia e você conseguirá dominar o imenso poder mágico que há dentro do seu coração, Sakura! — disse Dom Miquel Tossel. 

— Uma hora por dia? Não é um tempo muito longo? — perguntou Tomoyo.

— O tempo que ela gastava vendo seriado agora é o tempo que ela vai usar para treinar o uso dos poderes mágicos dela! Tenho certeza que com 200 horas de magia, o uso vai ser natural… — disse Dom Miquel.

— Bem, eu já tô acostumada com treinos e mais treinos… Tudo vale quando o inimigo é a Ordem do Dragão, né… — disse Sakura.

— Vocês estão enfrentando a Ordem do Dragão? Meu Deus! Eu deveria ter passado era três horas de treino todo dia! — disse o Cardeal, preocupado.

— Mas é claro que sim! A Ordem é o nosso inimigo! A Dona Beatriz pegou as cartas da Sakura e agora ela não tem outra opção pra lutar se eles atacarem! — disse Kero, exasperado. O cardeal ficou calado, em profunda meditação. Tomoyo ficou preocupada.

— Dom Miquel? O senhor conhece a Ordem? — perguntou Tomoyo.  

— Se conheço? Claro que um homem com a minha idade e a minha posição conhece esses grupos contraventores da Autoridade mágica. — respondeu o Cardeal. Todos ficaram atônitos. 

— O que o senhor conhece deles? — perguntou Kero.

— Sei que Ordem do Dragão é um grupo de magos fora da lei que não se envolve com assuntos do Ministério de assuntos especiais, mas nem por isso eles interferem na vida das outras pessoas comuns. Só que, de um tempo para cá, eles têm mostrado as garras com um objetivo bem claro e escuro em mente. — disse o Cardeal.

— Esse objetivo seria a Sakura? — perguntou Tomoyo. 

— Pelo visto, é o que parece. Mas a Ordem do Dragão é muito orgulhosa para buscar uma fonte de poder mágico que ela não construa por si mesma. Acho muito estranho eles irem atrás das Cartas Sakura… Muito estranho mesmo… 

— Estranho como? Desde os meus 13 anos, é a única coisa que eles pensam! — disse Sakura.

— Sakura, pessoal, a Ordem é orgulhosa, se gaba da sua independência. Seja lá quem esteja no comando da Ordem agora, não segue as tradições dela, isso eu tenho certeza! — disse Dom Miquel. Um frio na espinha apareceu nas costas de todos.

— A Gotzone disse a mesma coisa! Como o senhor pode saber disso? — perguntou Kero. Dom Miquel tirou uma foto em preto e branco que guardava dentro da batina e mostrou para a turma.  

— Esse era eu, na minha etapa de jovem seminarista. Vêem a pessoa de armadura do meu lado? Não dá pra ver a cor, mas é vermelha… — perguntou o Cardeal. Todos souberam que a pessoa ao lado dele era da Ordem do Dragão.

— Mas… — perguntou Kero.

— Ele era meu amigo mais próximo, Martí Piqué. Ele era auxiliar de cozinha no palácio real de Madrid, mas tinha um grande poder mágico dentro dele. A Interventora da Catalunya na época, Elsa Nuet, o escolheu como sucessor por causa disso, pese a idade jovem dele. Por conta de seus poderes, ele foi promovido para sub interventor de Barcelona num instante. Mas, em 1936, ele foi assassinado num incidente com os republicanos no palácio real de Madrid. Elsa Nuet também foi morta. Desde então, ninguém sabe quem comanda a Ordem. mas, seja lá quem for, não segue as tradições da Ordem. — explicou o Cardeal. Todos ficaram pensativos.

— Dom Miquel… Eu realmente estou muito surpresa com essa história… O senhor era amigo do vice-comandante da Ordem? Puxa vida! — disse Tomoyo.

— Não falei que a minha vida era uma tragédia? mas é uma tragédia que eu encaro de peito aberto, com fé em Deus e na Virgem Maria. Se não, eu já tinha ficado louco! — disse o Cardeal, sorridente. Sakura, Tomoyo e Kero ainda tentavam digerir a informação dita pelo religioso. 

— Dom Miquel, tem mais alguma coisa que o senhor saiba sobre a Ordem? — perguntou Kero.

— Isso é tudo por enquanto. Eu vou dizendo mais ao longo do tempo. Enquanto isso, treine, Sakura! Treine para o dia que você tiver que enfrentar a verdadeira ameaça que atrapalha a sua vida… O Interventor da Catalunha de agora é a mesma pessoa que matou meu amigo Martí e a mestra dele, Elsa… — disse Dom Miquel, num tom sério. Sakura também ficou séria e respondeu:

— Pode ter certeza, meu senhor, eu vou treinar duro, isso sim! Não vou admitir que nada ameace a minha família mais!  — disse Sakura. O cardeal estendeu a mão para ela e os dois se cumprimentaram.

 

Continua… 












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