Uma Canção de Sakura e Tomoyo: Finalmente Juntas escrita por Braunjakga


Capítulo 51
A mágica está dentro de você (parte I)




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Capítulo 49

A mágica está dentro de você (parte I)

 

Barcelona, Catalunya, Espanha

8 de julho de 2016

 

I

 

Era noite.

Na varanda do apartamento das Daidouji, Sakura sente a leve brisa veraneia vinda do litoral. Segurava nas mãos a chave do lacre e fechava os olhos. Repentinamente, a chave do lacre virou o báculo da estrela. Ela fazia as acrobacias que sempre fez, mas nada de sentir poder mágico algum saindo de dentro dela. Era como apontar uma varinha para um vaso, dizer “wingardium leviosa” e o vaso não flutuar. Sakura ficava frustrada cada vez que tentava fazer voar algum vaso da varanda. 

A Cardcaptor estava com um olhar melancólico e nostálgico. Kero voou aos poucos e pousou no balaústre ao lado dela. 

— Cê tá com saudade das cartas, né? 

— Elas são uma parte de mim, Kero! Elas são as cartas Sakura! Sem elas, não sou a maga que sou…  

— Me lembro que foi a Tomoyo que deu esse nome… Ela queria vir com essa coisa de “cartas fofinhas Sakura” e não virou! — disse Kero. Sakura deu uma breve gargalhada com o guardião. 

— Você tem certeza?

— Do que? 

— De que eu só consigo fazer magia com elas? Você tinha dito que eu tinha poderes mágicos quando eu abri o livro, por isso, eu fui capaz de soltar as cartas… Cadê esses poderes que você diz que eu tenho e eu nunca vi? Cadê?

Kero ficou cabisbaixo.

— Sakura… 

— Eu me lembro da luta do finado Dom Alfredo Bosch e da Princesa Hinoto contra o Interventor da Catalunya. Aqueles poderes mágicos foram incríveis mesmo… Como eu não consigo fazer uma coisa dessas? 

— Sakura, não é todo mago que vai desenvolver poderes daquela ordem… Alguns passam a vida toda treinando pra isso, outros já nascem com predisposição a ter esses grandes poderes… Se você quiser se desenvolver, vai ter que ralar muito…

— Ralar quanto?

— Mais que você ralou pra passar no vestibular, isso é certeza. É treino pesado, é praticar magia por anos e anos a fio e só fazer isso… Mesmo assim, a magia é uma estrada sem ponto de chegada… Você vai praticando, praticando e sempre vai praticando e nunca chega num final… 

Sakura ainda estava inconformada com a explicação do guardião.

— Você não me disse que eu superei os poderes do próprio Mago Clow, não é?

— Você superou os poderes que o Clow usou pra fazer as cartas, não o poder mágico dele. Me desculpa, Sakura, Clow respirou magia a vida toda. Não tô dizendo que você não vá chegar no nível dele, mas vai ter que ralar muito mesmo, desistir da sua vida de médica, de mãe…     

Um fio de lágrima escorreu dos olhos fechados de Sakura. 

— Maldita Dona Beatriz! E ainda vem com essa de que eu tenho que me preparar… Droga! Me preparar como? Depois fala que eu fico mais fraca com as cartas! Eu que tô fraca agora, sem elas! — disse a Cardcaptor, frustrada. 

— Sakura… Tem um jeito de você treinar seus poderes mágicos… Mas não vai precisar levar a vida toda… — disse Kero.

— Não vai precisar! Me fala, Kero! O que eu tenho que fazer? 

— Você vai ter que aprender a falar com fantasmas… 

— Fantasmas!? Hoe! — disse Sakura, gritando de medo. — Mas por que? 

— Cada mago do mundo tem uma afinidade com algum elemento. Alguns com o fogo como eu, outros com a água como o Yue, alguns com elementos raros, como o cristal da Dona Beatriz e outros tem afinidade com os fenômenos da mente e da psique, como a Gotzone… 

— Sei…

— Mas você… Tem afinidade com fantasmas, espíritos e outras coisas do além… — disse Kero. Sakura chorava rios de lágrimas ouvindo aquilo.

— Como eu posso ter afinidade com fantasmas se eu odeio fantasmas!? 

— É de família. Seu pai e seu irmão conseguem ver gente morta. O Chi talvez desenvolva poderes assim algum dia… 

Sakura ficou triste com a explicação do guardião. 

— Mas que droga, Kero! Talvez nunca eu desenvolva meus próprios poderes… — disse Sakura, saindo da varanda mais cabisbaixa do que quando chegou.

— Sakura, não é assim… O problema da magia é que ela é um poder espantoso que os próprios magos tem medo. Se mais gente não tivesse medo dos poderes mágicos que tem dentro de si, talvez os usuários de magia fossem mais de vinte por cento… — disse o guardião.

 

II

 

Sakura sentou-se no sofá da sala e ficou vendo as notícias do jornal com um balde de pipoca do lado. Kero estava ao lado da mestra, ajudando-a comer. Por incrível que pareça, ele segurou a sua vontade de jogar videogame para só ficar do lado dela, zapeando a TV. O guardião acabou parando em um canal de notícias, onde Dona Beatriz dava uma entrevista em pessoa.  

 — Aqui é a repórter Sara Carbonell direto de Madrid. Estamos aqui com a Ministra de Assuntos especiais, Bea Fanjul, para falar sobre a reforma do palácio da Moncloa. Ministra, boa noite.

— Boa noite, Sara.

— Será que essa reforma apresentada pelo presidente de governo José Sanchez vai ficar pronta até as eleições no fim do ano?

— Sem sombras de dúvidas. Temos um orçamento de oito milhões de euros… 

Sakura pegou uma pipoca do balde e jogou na televisão.

— Bea Fanjul… Que picareta essa mulher! — disse Sakura.

— Xô trocar de canal… — disse Kero.

Nessa hora, porta da entrada se abriu. 

— A Tomoyo e o Chitatsu chegaram! — disse Kero.

— Oi Kero, Oi Sakura! Tadaima! (Voltei) — disse Tomoyo.

— Oi mamãe, Kero-kun! Tadaima. — disse Chitatsu.

— Okaerinasai… (Bem vindos de volta) — disse Sakura, meio sem ânimo.

— E aí, Tomoyo, como foi a missa? — perguntou Kero. 

— Estamos no décimo quarto domingo do tempo comum! 

— E o que é isso? — indagou Sakura.

— Relembramos tudo o que Cristo disse para a nossa salvação! — disse Tomoyo com um ânimo na alma.

— Esquisita! — disse Sakura.

— Não, mamãe, foi legal! — disse Chitatsu.

— Arrastando meu filho ainda pra essas coisas! Dois esquisitos! — reclamou Sakura, num tom fleumático.

— Ora, não diga isso! Isso não é tão diferente de visitar um templo Xintoísta! O Cristianismo existe no Japão desde o ano 1549, trazido por São Francisco Xavier, nosso apóstolo do Oriente. Ele veio aqui da Espanha, sabia? — disse Tomoyo, entusiasmada. Sakura viu o brilho no olhar da amiga e sentiu um pouco de inveja da alegria dela. 

— Você gostou Chi? — perguntou Kero.

— É diferente… É legal também. Me ajudou a concentrar melhor… — disse o rapaz, animado. 

— E você gosta de se concentrar? 

— Muito! — disse o rapaz. 

O humor de Sakura não mudou nada desde que os dois chegaram em casa. Tomoyo estranhou e resolveu perguntar o que era.    

— Ora, o que aconteceu? — perguntou Tomoyo. 

— É a Sakura. Eu falei pra ela que o jeito mais rápido de desenvolver os poderes dela sem precisar das cartas é falando com fantasmas… — disse Kero.

— Nossa é mesmo? — disse Tomoyo. 

— Sim. Não tem outro jeito… — disse Kero.

— E como faz isso? — perguntou Tomoyo.

— Um dos jeitos que eu tô pensando é com esse japamala que você tem na mãos… — disse Kero. Tomoyo tirou o objeto e mostrou para eles.  

— Você quer dizer que a Sakura vai ter que rezar o rosário comigo? — perguntou Tomoyo.

— Mais ou menos isso, só que um pouco diferente. — disse Kero.

— Kero-chan, perdoe-me te corrigir. O rosário tem 59, 60 contas, o japamala tem 108. Não vai ser parecido. — disse Tomoyo, sorrindo de olhos fechados.

— Puxa vida, é mesmo! — disse Kero.

— Seu burro! — Sakura deu um cascudo na cabeça dele. Chitatsu gargalhou. 

— Mas serve do mesmo jeito! — disse Kero, berrando com a Cardcaptor.

— E também, acho que só rezar não vai bastar… Se não tiver uma intenção, não vai adiantar de nada. — disse Tomoyo. 

— Por isso que o pirralho júnior já disse tudo o que a gente vai precisar! — disse Kero, olhando para Chitatsu com um brilho nos dentes. Ele piscou o olho e fez um joinha com as mãozinhas.

— Hoe? O que eu tenho a ver com isso? — perguntou o rapaz.

 

III

 

Tomoyo e Chitatsu estavam ajoelhados na sala, diante da imagem de uma mulher negra segurando um bebê. Era a Virgem de Montserrat de quem a costureira era muito devota. Os dois seguravam um rosário nas mãos. Kero pediu para que eles fizessem isso para ajudar Sakura. 

A cardcaptor ficou do outro lado do cômodo, observando-os. Tomoyo também arranjou um terço para Sakura e Kero.

— Tá vendo, Sakura, a postura deles?

— Sim, o que é que tem? Eu vou ter que rezar agora é?

— Você entendeu tudo errado. O que eles estão fazendo, além de rezar, é criar e manter a concentração, Sakura! Olha só! Se concentrar é o pilar da magia e o foco é a raiz dos feitiços. Você tem que fechar os olhos e recitar o mantra que eu te mandar, está entendendo? Vai ser a mesma coisa que evocar um feitiço do fundo da sua alma.

— Eu tô entendendo como esse negócio de despertar poderes mágicos é um saco! Ficar sentada, me alhoelhando e machucando o joelho! Como é que dá pra se concentrar assim? — disse Sakura. 

— Você diz isso porque você é muito rebelde! Não tem disciplina nenhuma! Pelo menos o Chi não puxou isso de você! — disse Kero. Sakura olhou o guardião com olhos estreitos. 

— Vamos lá, Kero! Me fala o que eu tenho que fazer antes que eu perca a paciência de vez! 

— Eu já te falei! Fecha os olhos, controla a respiração e sinta a presença da sua própria magia… 

— Sentir a presença da minha própria magia… 

Sakura fez exatamente como Kero pediu. Passou uns minutos e nada aconteceu. Ela abriu os olhos, frustrada. 

— Não tá rolando nada… 

— Você não tá se concentrando direito! Olha só como eu faço! 

Kero fechou os olhos e, em poucos segundos, flutuou no ar. A aura ao redor do corpo dele brilhou em amarelo. 

— Agora você. O básico de despertar seus poderes mágicos é fazer essa aura aparecer no seu corpo. A cor dela é do mesmo elemento que você domina. Como eu domino o fogo, minha aura é amarela.

— E a minha? 

— A sua deve ficar mais ou menos da cor arco-íris ou um preto e branco distorcido. 

— Hum…

— Recita comigo: vou me concentrar, vou me concentrar… 

— Vou me concentrar, vou me concentrar… 

— Depois de duas voltas nesse terço, sua mente vai ficar tão tonta que sua aura vai aparecer num instante…

— Vai dar pra sentir?

— Claro que sim! Quando a aura aparece, é a primeira coisa que a gente sente! 

Sakura deu três voltas no rosário, recitando a frase de Kero, e nada de a aura aparecer. Abriu os olhos e jogou o terço no tapete. Tomoyo e Chitatsu olharam com pesar o gesto dela. Eles já haviam terminado as orações e estavam na torcida pela jovem médica. 

— Sakura… Não fica assim… Talvez leve mais tempo que o habitual… — disse Tomoyo.

— Pra mim, as coisas sempre levaram mais tempo! Injusto isso! Droga! — Sakura levantou-se do tapete. Mal deu as costas para todo mundo e Chitatsu puxou a camisa dela.

— Mamãe, Mamãe, vamos treinar juntos! Eu ajudo a senhora! — disse Chitatsu. Ela ficou tão tocada com o gesto do filho que se agachou e abraçou o pequeno.

— Chi, a mamãe tá passando por um perrengue, mas vai dar tudo certo! Está bem? Já é onze da noite e tudo o que eu mais quero é que você durma e descanse para amanhã… Vamos aproveitar esse tempo que a gente tem juntos antes que acabem as minhas férias… 

— Tá bom, mamãe… — disse Chi, se recolhendo para o quarto. Sakura reparou que ele estava triste. Ela ficou triste também. 

— É por isso que eu não quero envolver meu filho com os meus problemas. Ele se preocupa! Eu fico triste com a preocupação dele! Ele não merece isso, ele tem que crescer como uma criança normal. — disse a Cardcaptor.

 

IV

  

No dia seguinte, Sakura acordou tão confusa por causa da meditação que Kero passou que cambaleava como se estivesse alcoolizada. Entrou na sala e tropeçou numa mala. 

— Peraí, essa mala é minha, o que ela tá fazendo aqui? — perguntou Sakura. 

— Bom dia, Sakura! Como passou a noite? — perguntou Sonomi. 

— Tô meio estranha ainda… Mas… Sonomi-San, o que significa isso? Minha mala ainda por cima tá feita! 

— É só pra um fim de semana… 

— Fim de semana? Mas que fim de semana é esse que ninguém me fala nada?

— A Tomoyo tá preocupada com o fato de você não conseguir usar magia que resolveu conversar com um amigo “especial” dela.

— Amigo especial? 

— Sim, Sakura! Ele vai te ajudar a se concentrar e libertar esses poderes dentro de você! Não é demais? — disse Sonomi, otimista. Sakura ainda estava contrariada. 

— Cadê o Kero? Cadê meu filho?

— O Kero saiu com a Tomoyo pra fazer uma revisão no carro. O Chi tá no quarto se arrumando, olha ele lá! — disse Sonomi, apontando para a porta do quarto do rapaz. Chitatsu vestia uma blusa de lã e uma touca na cabeça.

— Bom dia! Será que vou sentir frio, mamãe? — disse o rapaz, animado.

— Hoe!!! Só eu que não tô sabendo de nada aqui! A Tomoyo sempre me bota nessas roubadas que ela inventa! — disse Sakura de um jeito engraçado. Sonomi sorriu. 

— Sakura, o que ela tá fazendo é um gesto de carinho com você. Ela tinha reunião no Barça hoje, mas desmarcou só pra te ajudar…   

— Pra me ajudar? — Sakura arregalou os olhos e ficou vermelha ouvindo aquilo.

— Claro que sim! Tá todo mundo preocupado com a sua frustração de ontem, minha filha! Enquanto você estiver aqui com a gente, ninguém quer te ver triste, está bem? — disse Sonomi, agarrando as mãos de Sakura.

— Tem horas que eu acho que vocês me mimam demais, sabia? 

A porta do apartamento se abriu. Tomoyo apareceu com Kero, segurando uma sacola grande.

— Sakura, você ainda tá de pijama? Temos que partir agora mesmo, enquanto a estrada está com boa visibilidade! — implorou Tomoyo. — Vem, Chi, me traz sua mala!

— Tá bom, tá bom, depois eu te cobro no carro! — disse Sakura, indo para o banheiro enquanto via o filho arrastando a mala para fora da casa. 

 

Continua… 



 





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