Uma Canção de Sakura e Tomoyo: Finalmente Juntas escrita por Braunjakga


Capítulo 46
Vamos visitar o Barça?




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Capítulo 44

Vamos visitar o Barça? 

 

Bilbao, Euskadi, Espanha

25 de abril de 2016

 

I

 

Sakura estava sentada no sofá da sala, folheando o livro “El azul es un color cálido”. Logo nas primeiras páginas, Sakura se emocionava.

— “Te quiero, Emma, eres mi vida…”, puxa! Essa Adele é uma vacilona mesmo! Mas também quem mandou a Emma ser atirada do jeito que era? Foi pensar só em trabalho dá nisso! É difícil de julgar… — comentou Sakura. Depois, fez um semblante triste, olhando para um disco Blu-Ray em cima da mesinha de vidro. Era o filme inspirado no livro em suas mãos.

Comprou só para poder entender a história, de alguma forma, e lembrou-se que foi o próprio Felipe que havia recomendado o filme, para que ela entendesse o seu preconceito contra lésbicas. Isso foi logo depois que ela tinha acabado de assistir a peça de “Shiroi heya no futari”. Se soubesse que o título do filme e do livro eram os mesmos, não teria se enganado, mas o Blu-Ray estava escrito “La vie de Adele” e não “El azul es un color cálido”, lamentou-se Sakura.

— Eu também não sou nenhum exemplo de manter relacionamentos! — disse a Cardcaptor. Ela fechou o livro e foi dormir no quarto. — Novos horizontes, uma nova vida daqui pra frente, quem sabe… — disse Sakura, cobrindo-se com o edredom. 

Fechou os olhos e imagens começaram a invadir a sua mente. Uma pessoa delicadamente abriu a porta do quarto e ela despertou. 

— Hoe… Quem é?

A pessoa nem se apresentou e foi logo beijando a Cardcaptor com todo o desejo do mundo. Nem mesmo dava tempo para Sakura respirar, ela era beijada com voracidade. Sem entender nada, Sakura se entregou àquele desejo, àqueles lábios quentes e aquela língua saborosa, gostosa de brincar. Abraçou a sombra que lhe beijava e sentiu-se excitada por dentro. De repente, foi reconhecendo aos poucos de quem eram aquelas costas, aquele calor, aqueles lábios. Desgrudou-se, abrindo progressivamente os olhos e teve um susto.

— Tomoyo! 

Despertou. Tudo não passou de um sonho. Sakura respirava como se estivesse afogando e seu coração batia no peito numa velocidade feroz, quase de infarto. Tremia.  

— Eu tô assistindo muito filme, só pode! 

Correu para a cozinha e tomou um copão de água, quase se sufocando uma segunda vez.

 

II

Barcelona, Catalunya, Espanha

26 de abril de 2016

 

— Filha, o que você tá pensando? — perguntou Sonomi, olhando suspeita para a filha.

— Eu? Pensando nada! — disse Tomoyo, sorrindo de leve. — Por que a pergunta? 

Era café da manhã. Na pequena mesinha da sala de jantar no apartamento, Sonomi agitava o açúcar que colocou na xícara e Tomoyo passava requeijão numa fatia de torrada. 

— A Sakura me ligou hoje de manhã. Ela disse que sonhou um sonho esquisito… 

— Sonho esquisito? Com quem?

— Bem… Ela me falou que você deu de presente um livro pra ela. O que você tem a ver com isso, Tomoyo? — perguntou Sonomi, desconfiada. 

— Ora, mamãe, livros são apenas livros! Se a Sakura sonhou alguma coisa diferente disso, é com ela mesma! — disse Tomoyo, sorrindo de leve, quase gargalhando.

— Você sabe que a Sakura é sensível e tem poderes diferentes de todo mundo. Além desse estresse todo com a Ordem do Dragão, sabe… Qualquer coisa vai abalar ela… Ela mora sozinha, sem o Chi e o Kero do lado, você entende… 

Tomoyo terminou seu desjejum. Levantou-se e pegou a bolsa antes de sair para o trabalho.

— Mamãe… Se a Sakura sonhou alguma coisa, ela sabe que a gente está aqui para apoiar ela, não sabe? — disse Tomoyo.

— Você está pronta pra apoiar ela em tudo? — perguntou Sonomi, olhando sério para Tomoyo como só ela fazia em algumas poucas vezes. 

— Sempre estive 

— Então… Quando ela tiver dúvidas e precisar de ajuda, eu quero que você sempre esteja do lado dela, entendeu? — disse Sonomi.

— Nossa, mamãe, assim você me assusta! — respondeu Tomoyo. Ela pegou o elevador do prédio até o estacionamento. Ficou com mais frio na barriga do que pensava que Sakura  sentiu naquela noite mal dormida. 

 

III

 

No escritório, Tomoyo analisava uma planilha na tela do MacBook e, de vez em quando, seus olhares batiam em uma foto no porta-retrato em sua mesa. 

A conversa com a mãe ainda estava muito viva em sua cabeça. Na foto, estava ela e Sakura, correndo em um campo de girassóis no Japão, antes da ida dela e da mãe para a Catalunya. 

Pegou o objeto e ficou observando-o com carinho. A costureira lembrou-se do livro de temática LGBT que ganhou enganado de Sakura e tratou de entregar para ela ler. Lembrou-se também da primeira vez que leu aquele livro. Ganhou de uma antiga ficante, há quase sete anos, quando ainda estava na faculdade de arquitetura. Laura era o nome dela. A garota amava muito Tomoyo e havia muito em comum entre as duas, mas ela nunca quis se relacionar a sério com ninguém, nem levou o relacionamento para frente. Como mostra de como aquela decisão deixava a menina frustrada, a costureira recebeu aquele livro, para que refletisse sobre a decisão que tomava. Depois dela, nunca mais Tomoyo conseguiu se relacionar com alguém do mesmo sexo.  Aquele livro, “El azul es un color cálido” soou como uma maldição para ela e temia que a mesma coisa se passasse com Sakura naquele momento. Passado um tempo, a menina apaixonada por Tomoyo encontrou outra pessoa e seguiu com a vida. Passados um ano, Tomoyo encontrou Felipe e sua vida nunca mais foi a mesma. Com ele, se esqueceu que era lésbica. Uma lembrança que agora saía com a força de um gêiser de seu inconsciente. Mesmo assim, Tomoyo ainda não se considerava madura para seguir com um relacionamento com alguém, muito menos com Felipe pelas dificuldades mil que ele trazia consigo: a idade, a filha, a responsabilidade de ser rei e as acusações levantadas contra ele por feitos do passado.   

O passado era um fantasma que assombrava à todos quando evocado. Precisava superá-lo e focar no presente. No meio dessa nuvem de pensamentos em sua cabeça, a porta do escritório abriu. Era Bartomeu, o presidente do Barça. Era raro ele aparecer no escritório, alguma coisa devia ter acontecido, pensava a roxinha.

— Presi. Bom dia, o senhor por aqui?

— Bom dia, Tomoyo. Não aconteceu nada de relevante. Estou aqui para falar no seu papel aqui no Barça… 

— Meu papel?

— Você é arquiteta de formação, mas vem fazendo uma carreira aqui… Começou como roupeira pra pagar sua faculdade, agora está como secretária da Barça TV e fotógrafa nas horas vagas… 

— Eu também faço uns projetos por fora num escritório japonês aqui na Catalunya… 

— Eu sei, a Nikken Sekkei, não é?

— O senhor é muito perspicaz, presi! — disse Tomoyo sorrindo de leve. O presidente sorriu também. 

— Pois é… Vejo pelas suas fotos que você tem um olhar artístico… Eu gosto disso.

— Obrigada. 

— Acho que todo mundo já sabe que recentemente fechamos um acordo com os japoneses para a reforma no nosso estádio… Um contrato muito longo por sinal, de trinta anos. Eu gostaria muito que você pudesse ajudar com seu talento artístico e ser a nossa ponte com os japoneses… 

— Como assim? — perguntou Tomoyo, desentendia, já sabendo o que ele queria dela.

— Você é japonesa de nascimento, fala japonês fluente e vamos precisar de uma profissional como você nos nossos acordos com eles e… O Barça está fechando uma série de parcerias com empresas japonesas, como a Rakuten. Em vez de buscar alguém de fora, quero dar valor ao pessoal aqui de dentro. Quero que você seja a imagem da nossa aliança Barça-Japão Você já é uma cidadã da Catalunya faz tempo, conhece como funciona o clube… Seria injusto eu trazer alguém de fora para ser a minha secretária executiva de projetos quando eu já tenho alguém aqui dentro… 

— Secretária executiva de projetos?

— Você vai ter acesso aos nossos projetos de construção de escolas de futebol, vai viajar com a gente à negócios, vai trabalhar lado a lado do Diretor financeiro. Fora outras “regalias” que prefiro chamar de “privilégios” para melhor desempenhar suas funções com nossos parceiros e qualquer construtora que deseja negociar com o clube. Você entende?

— Si… Sim! 

— Está certo então… A partir do verão, você vem com a gente… A não ser que você queira continuar na Barça TV, Você escolhe… 

— Bem, presi, eu tenho que avaliar… Mas, pode ter certeza que vou considerar muito bem a proposta do senhor… — disse a costureira, tremendo. 

— Pense bem… Vai ser bom pra você também… — disse o presidente, olhando profundamente para Tomoyo. — E mais uma coisa para te fazer pensar melhor… — O presidente mexeu o bolso do paletó e tirou um maço de ingressos para a semifinal da Liga dos campeões da Europa. — No geral, a gente só consegue dar pros funcionários os ingressos do Barça quando a gente joga na nossa casa, mas… Quando a gente atinge certos patamares, é comum a gente ter acesso ao que antes era restrito. Esse é só o começo. Muito mais ainda está para vir… — disse o presidente, sorrindo. Tomoyo também não conseguia segurar o sorriso.

— Chame alguém que você gosta pra apoiar a gente com você… Precisamos desse troféu! — disse Bartomeu. Ele entregou os ingressos nas mãos trêmulas de Tomoyo e saiu. A arquiteta não sabia se gritava, se pulava de alegria ou se ligava para a mãe primeiro. Voltou a olhar para o porta-retratos dela e com Sakura e tomou uma decisão. Pegou um telefone e discou para um número da agenda.

— Alô? Aqui quem fala é a Sakura.

— Oi Sakura, tudo bem?

— Tomoyo-chan! Por que você tá me ligando? O que a Sonomi-chan te falou?

— Nada, Sakura, ela não me falou nada.

— Nadinha mesmo? Tem certeza?

— Sim, Sakura, nada. Ela só pediu pra te ajudar no que você precisar. 

— Sério mesmo? Eu vou perguntar… 

— Pode perguntar… Minha ligação era por conta de outra coisa…  

— Que coisa?

— Vamos visitar o Barça?

— Como assim?

— Eu… Meio que ganhei uns ingressos pra assistir um jogo importante do Barça. Fora outras coisas que eu queria falar com você pessoalmente. O Chi gosta do Barça, não gosta? 

— Claro que sim! Ele gosta sim… — do outro lado da linha, Sakura suspirou, melancólica. — Pra falar a verdade, eu não sei se ele gosta mais… Ele tá em Madrid agora e… 

— Vê com ele pra mim, por favor! É muito importante. Gostaria que ele estivesse aqui nesse jogo… 

— Você não tem o número dele?

— É surpresa, Sakura!

— Eu vou ver com ele então, Tomoyo, vou ver com ele sim. Depois me conta tudo tá? 

— Conto sim… Eu só quero te ver feliz, Sakura, e não quero que pense bobagens… Está bem?

— Tá bem sim… Obrigada, Tomoyo, por me ajudar, me fazendo parte da sua vida, da sua alegria também… Isso é muito importante pra mim também, sabia?  

— Sempre, Sakura, sempre… — disse Tomoyo, corando o rosto de vermelho. 

— Tchau, minha parceira! Tô ocupada agora, mas vou esperar a noite chegar pra gente se falar melhor. 

— Está bem, Tchau, Sakura. Um beijo. — A roxinha desligou o telefone com o coração acelerado. O frio na barriga que sentiu quando pegou o elevador de manhã aumentou mais ainda, mas também uma certeza grande subiu no peito, derretendo o gelo do medo. 

Olhou para o retrato mais uma vez e viu que o fantasma do passado não a assombrava mais. Desejava que os medos do presente não assombrassem Sakura também.

 

Continua… 

 


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