Uma Canção de Sakura e Tomoyo: Finalmente Juntas escrita por Braunjakga


Capítulo 38
É melhor assim (parte II)




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Capítulo 36

É melhor assim…

 

Bilbao, Espanha

17 de janeiro de 2016

 

A noite avançava nas ruas de Bilbao. Flocos de neve caíam dos céus, cobrindo a rua com um véu branco. Mirada por aqueles magos de fuzil, Gotzone levantou-se do corpo de Sakura. Médicos correram para ver o corte no pescoço da Cardcaptor, passando a mão na ferida para curar. Ao fazerem isso, um brilho verde saiu da mão deles. 

— O corte foi até a coluna cervical, mas não é nada profundo… Nem afetou a medula… — disse um dos médicos magos.

— Graças à Deus! — disse Beatriz. desmontando-se de Kero. O leão dourado pulou para o lado da mestra e mostrou os dentes para Gotzone, bradando as asas como uma ameaça.

— Ama!

— Ama!

Do outro lado da rua, Iñigo e Iñaki correram e abraçaram as pernas da mãe. Goti agarrou os meninos e colocou-os no colo dela. Eles abraçaram com força o pescoço da mãe. Ela estava com o corpo todo dolorido, mas não deixou de fazer um agrado para os filhos.

— Ama, hil egin zarela uste du! (pensei que você ia morrer, mãe!) — disse Iñaki, chorando. 

— Ama hemen da! Ama hemen da! Ez negar egin! (A mãe tá aqui, Não chora!) — disse Gotzone, beijando a testa do menino. A basca encarou Kero e olhou para Usoa e Lore, convalescendo na calçada. Alguns soldados da Ordem cercavam as mulheres e tentavam fazer compressas com as mãos. Um círculo mágico vermelho estava debaixo dos corpos das duas.

— Gotzone Bengoetxea… Você não acha que seus crimes são muito grandes pra eu poder aceitar essa baderna que você criou aqui numa boa? — disse Dona Beatriz. A loira não ligou com as palavras dela. Só tinha olhos para os filhos. Iñaki ouviu o que ela disse e se desprendeu da mãe. O menino olhava para a mulher de vestes brancas e cajado dourado na mão com apreensão. Ela colocou os meninos no chão e sussurou algumas palavras nos ouvidos deles. Eles correram para a calçada e se esconderam atrás de um poste, olhando a tudo o que acontecia. 

— Argiñe, como estão as meninas? — perguntou Goti.

— A Usoa… Quebrou mais da metade dos ossos do corpo… Perdeu muito sangue… A Lore… Vai ficar bem, o corte foi fundo, mas ela aguenta… 

Gotzone encarou Beatriz. A vontade de prender todo mundo ainda era grande na ministra, ela só não sabia como falar. A loira pegou a espada enorme e girou-a com simplicidade em torno da mão. Ela andou até a ministra e os soldados de branco levantaram o fuzil.  

— O que é que você disse mesmo, hein? — disse a basca.

— Você tem mais que se lascar mesmo! Você não ouviu? Tá surda é, sua bandida! — disse Sakura, voltando a encarar Gotzone. Ela estava bem melhor. A dor e o corte no pescoço foram fáceis de curar.

— Traz o pokemón! — gritou Beatriz.

Os soldados de branco trouxeram uma espécie de roda metálica flutuante, parecida com uma tampa de bueiro. O objeto estava deitado e bastou um dos magos tocar num botão do lado dela para que a roda se dividisse em duas partes. Um círculo mágico verde apareceu em cima e em baixo. Em segundos, o corpo teletransportado de uma mulher de jaqueta e saias apareceu. Era Tomoyo.

— Sakura! O que está acontecendo? Recebi uma ligação urgente, dizendo que eu precisava ir pra Bilbao, que eu precisava te impedir, mas… — Tomoyo olhou para o corpo das duas mulheres da Ordem e lamentou-se por dentro. — Estou vendo que eu cheguei atrasada. Isso foi o que eu mais me perguntei, sobre como eu chego aqui tão rápido. Os caras do ministério vieram atrás de mim e… Eu subi naquela tampa e… 

— Tomoyo-chan! — disse Sakura, assustada. — Você não precisava me impedir de nada! Eu tô tratando de pôr um fim na Ordem do Dragão, já que a Dona Beatriz aqui é uma molenga e… 

— Você me respeita, mocinha! — Disse Bea.

— Eu não sou uma mocinha, eu sou uma mulher, carajo! — gritou Sakura, dizendo seu primeiro palavrão em espanhol.

— Soldados, prendam a Sakura! 

— Ai, minha virgem, não faz isso! — disse Tomoyo, com a mão na boca de indignação.    

Um monte de soldados cercou a médica, com fuzis nas mãos. Eles fizeram Sakura se ajoelhar e encostaram o rosto dela no asfalto. Depois, colocaram as mãos delas nas costas e algemaram seus pulsos, sempre com os fuzis apontados para as costas e a nuca dela. 

— Hoe! O que é isso? Eu não sou a vilã aqui! 

— Os crimes da Gotzone são inumeráveis. Formação de quadrilha mágica, lavagem de cérebros por motivo fútil… Mas você fez pior. É inadmissível um mago usar magia na frente dos comuns! Pra quê existe o ministério? Pensa que a gente é de enfeite, é? Além disso, você violou ordens minhas, violou normas de segurança e botou todo mundo em perigo! Você acha que a gente vai aceitar isso? Você vai ser punida sim! E ainda por cima matou um prisioneiro sem a minha autorização! Você agarrarou um capitão meu como se fosse um capacho seu! Isso é atitude de uma mocinha! Mocinha sim!  — gritou Bea. Sakura olhava com raiva para ela. 

— Olha o que eu faço aqui com as suas tropas! — disse Sakura. Uma rajada de vento mágico apareceu debaixo do corpo deitado da cardcaptor e afastou os soldados que a cercavam. Ela afastou os braços e quebrou as algemas. 

— Permissão para atirar, ministra! — disse um sargento.    

— Espere! Deixa ela se ferrar! — disse Bea, olhando resignada para a cena. 

— Sakura! — disse Tomoyo. Ela tentou correr para segurar a cardcaptor, mas alguns soldados seguraram no ombro dela e impediram que se aproximasse da amiga.

— É perigoso se aproximar! Tá saindo muito poder mágico dela! Você pode se machucar! — disseram eles.

 — E vocês me trouxeram aqui para quê então? — Tomoyo olhou preocupada para a amiga, com tensão na alma. Sakura agarrou o ombro de Gotzone, que já estava dando as costas para os soldados de branco, e puxou a loira.

— Volta aqui! Essa briga não acabou não! — disse Sakura.

— Cala a boca! Vai dormir! — disse Gotzone, metendo o escudo na boca de Sakura. Dessa vez, doeu mais que o corte que a basca fez no pescoço dela. Doeu no corpo e na alma. Sakura tremia de raiva. Seus olhos estavam arregalados e sua boca sangrava. Ela deu um tapa na cara de Gotzone tão forte que a marca das unhas dela ficou no rosto da jogadora. Agora era Goti quem ficou com os olhos arregalados de raiva. Ela devolveu o tapa e Sakura tentou bater de novo, mas Gotzone foi mais rápida e agarrou o pulso dela. A basca ficou torcendo o braço dela, com raiva no olhar e nos dentes, o rosto sangrando com a marca das unhas.

— Não vão me ajudar não, é? — disse Sakura, olhando para os soldados de branco à sua volta. Os únicos que tentavam fazer alguma coisa eram Tomoyo e Kero. 

— Parou, parou! — um raio vermelho caiu como um meteoro no meio das duas. Elas se separaram com o clarão. Uma mão masculina segurava o pulso das duas. Era Syaoran. Ele vestia uma armadura vermelha como sangue com muitos acessórios, mas sem a capa escarlate, como Gotzone e suas amigas. As asas transparentes vermelhas e os olhos brilhantes de mesma cor estavam nele. 

— Shoran… — disse Sakura.

— Syaoran… — disse Gotzone. 

— Aita! — disseram os gêmeos. Eles tentaram correr, mas Argiñe segurou os dois. 

— Aita, Shoran? Que papelão! — disse Sakura, indignada.

— Sim, Sakura, Aita… Desculpa se isso te machuca… Me deixa eu carregar essa sua raiva. — disse Syaoran. Ele sentiu que um peso tinha saído de suas costas dizendo aquilo. 

— Syaoran Li, muito me admira que você faça parte desse bando de bandoleiros! Você me deve explicações também. Não só vocês, os outros também!  — disse Bea, enfática.

— Ixaron! (Peraí) A gente não é um bando de bandoleiros não! A gente acorda cedo pra ouvir uma merda dessas? — protestaram os soldados da Ordem. 

— Quer saber? Vocês são um bando de fora da lei! Que negócio é esse de justiça com as próprias mãos? — responderam os soldados do Ministério. 

— Que negócio é esse o escambau! Quem disse que a lei protege todo mundo, hein? Se a gente tiver que depender do ministério pra salvar a gente da Torre, tamo ferrado! — replicou uma soldado da Ordem. 

As duas forças se misturaram e começaram a discutir. A rua virou uma balbúrdia que nem Gotzone, nem Beatriz, esperavam ver, mas ninguém saia no tapa, não ainda.            

— Esperem! — gritou Syaoran. O grito foi tão brutal que todo mundo ouviu e parou de discutir. — Dona Beatriz, Kerberos, Tomoyo… Toda a Ordem do Dragão aqui reunida, todo o ministério de assuntos especiais… Se alguém tem que ser preso hoje aqui, esse alguém sou eu!

Todo mundo ficou em silêncio. 

— Eu também acho que essa briga de hoje teve um começo… Ainda bem que ele chegou até a gente! Prendam-no! — disse Bea.

— Ixaron! Aqui ninguém vai prender ninguém não! — disseram os soldados da Ordem. Os soldados do ministério avançaram para pegar Syaoran e os soldados da Ordem fizeram uma linha para proteger o chinês. 

— Quem é você pra me impedir, Gotzone? 

— Eu sou a Interventora geral da Ordem do Dragão! Confirmada pelo escudo “lúa chea” e a espada “eguzki”! Agora quem te confirmou neste cargo de “ministra”, quem foi? Me diz, que eu quero saber! — Gotzone cravou a espada no asfalto e todos os soldados da Ordem se ajoelharam para a loira. Listras de sangue pingavam do rosto dela, mas aquilo parecia trazer mais respeito para ela.

— Gora (viva) Gotzone! — gritou Argiñe.

— Gora Gotzone! — Todos os soldados gritaram se volta. Eles levantaram-se do asfalto e levantaram suas armas e bandeiras para o alto.  

— Gora eta Gora Euskadi! (Viva e vivas para Euskadi) — gritou Argiñe.

— Gora! — disseram todos. 

— Gora Espainia eta Joder Ministerioa! (Viva Espanha e dane-se o ministério!) — puxou Argiñe.

— Gora Espainia! Joder Beatriz! — repetiram todos da Ordem, com grande ênfase.

Gotzone abriu os braços, mostrando todas as tropas em volta dela. 

— Tá vendo, ministra? A gente dá a vida pelo nosso país e você ameaça a gente com prisão… Por isso tem muita gente que odeia a Espanha!

— Sim! Confesso, é uma pena, mas eu não tenho controle legal nenhum sobre as atividades de vocês! Por isso, vocês são um bando de bandidos sem lei que vão responder por cada ação fora da legalidade! 

— A gente tá combatendo o verdadeiro inimigo da Espanha e de Euskadi das linhas de frente e você vem me falando asneira! Vai catar coquinho ministra! 

— É o que? 

— É o que eu tô dizendo! Se nem Pi Sunyer se intimidou na frente das Cortes de Aragão, eu não vou arregar na frente de uma burocrata, que vive do bom e do melhor em Madrid e tá pouco se lixando com os magos da Espanha! 

— Devo lembrar que essa “Torre Negra”, que com certeza seu amigo Hernán Cuesta fazia parte, nasceu no seio da Ordem! O ministério de assuntos especiais existe pra isso! Pra impedir que bandoleiros, repito: bandoleiros, como você e seus amigos, pensem que pode fazer de tudo com magia! 

Gotzone sorriu com o que a ministra dizia, como se ouvisse uma piada.

— Sério mesmo? A magia nasceu livre no mundo, qualquer um se apropria dela e faz com ela o que quiser. Coisas como o ministério só servem pra atrasar o lado. 

— Atrasar o lado? Quer dizer que lei e ordem agora é arrasar o lado? Sem lei, não tem convivência! O ser humano é lobo do ser humano, com magia ou não! 

— Viva Dona Beatriz! — gritou um capitão!

— Viva! — Os outros soldados disseram.

— Viva o ministério!

— Viva! 

— Viva Espanha!

— Viva!

— Dane-se a Ordem!

— Dane-se!

Gotzone sorria com a ousadia deles.

— Vocês falam que querem proteger os magos, mas muitas vezes usam esse papel de “defensores da lei e da ordem” pra criar as próprias leis e bancar de bonzão na frente dos outros! Quantos magos corruptos são pegos só na Espanha! Quantos e quantos "fardas brancas" como vocês não abusam dessa autoridade, dessa lei que dizem proteger? — questionou Gotzone.

— Joder! — gritaram os soldados da Ordem. Goti continuou:

— É assim com o capital, é assim com qualquer forma de poder. Que se dane essas leis! Que se dane tudo! Se a lei não tá do nosso lado, a gente vai ser a lei! Essa é a Ordem do Dragão! 

— Gora! — todos gritaram.

— Gotzone… Eu sei que o ministério errou no passado, não foi só uma vez, foi duas, foi três… Mas coisas como roubar, matar e manipular é falta de ética em qualquer canto, até mesmo no crime organizado.

As tropas do ministério começaram a vaiar Gotzone por um bom tempo. Dona Beatriz pediu pra parar. 

— Mostrar magia pros comuns é pior ainda… Eu tô protegendo a gente contra os caras que querem ferrar com a gente! Se os magos não se unir, tá todo mundo ferrado… — concluiu Beatriz.      

— Eu nunca matei ninguém. Mas eu confesso que eu manipulei o Syaoran sim, sou um pouquinho… 

— Ah, agora resolveu confessar a bonita! — disse Beatriz, com ironia.  

— Eu não me arrependo de nada! — gritou Gotzone.

Sakura, Kero, Syaoran, Beatriz olharam o rosto machucado e sério da Interventora com apreensão. 

— Não mesmo! Não me arrependo dos meus filhos… Porque eu sei que eu fiz o que estava ao meu alcance pra salvar o Shoran da maldição que o Hernán Cuesta colocou na cabeça dele… 

Todo mundo olhou sério para Gotzone. 

— Nunca que a Sakura ia conseguir quebrar o feitiço… Eu dei meu jeito e confesso: não resisti a tentação. — disse Gotzone. Todo mundo ficou em choque, esperando a reação da cardcaptor. — Eu sempre me garanti, sabia que o Shorancito seria meu um dia, só não esperava que fosse usando magia. Me desculpa, Sakura… 

Sakura não reagiu. Fez um não com a cabeça, como se não acreditasse no pedido de desculpa dela. 

— Mas só por isso, eu te peço desculpas… Te agradeço também por ter livrado a Ordem desse câncer que era o Hernán. Agora, quanto ao resto… Eu vou me lembrar desse tapa, se bem que, sua cara tá a mesma porcaria que a minha… 

Sakura colocou a mão no rosto e reparou que as unhas de Goti arranharam suas bochechas. Sua pele começava a arder. 

— E também…  

Gotzone fechou os olhos e respirou fundo antes de continuar. Abriu os olhos e fez o melhor sorriso que podia fazer.

— Shorancito, eu te amo, eu não me arrependo desse amor. Sempre te amei desde que você era um bebezinho de 13 anos… 

— Bebezinho? — Estranhou Kero.

— Você me deu o que eu tenho de mais precioso, os meus filhos, os nossos filhos… Não precisava se sentir culpado por eles, não precisava se preocupar comigo… Eu sempre tive consciência dos meus atos, das consequências e estou disposta a pagar por eles… Um dia, um dia, Dona Beatriz…   

 — Sei… — disse a Ministra. — É tudo o que você tinha a dizer, Gotzone? 

— Sim, é tudo. Se a senhora quiser conversar comigo um dia, numa boa, eu tô disposta a te ouvir. Mas, se vier com esse papo de “prisão” pra cima de mim, pode vir pra porrada que, depois dessa luta, eu tô sentindo que eu posso acabar com a raça dos cinco grandes da Europa aqui e agora! Começando com você!

— O fato de eu não temer suas ameaças me faz digna desse cargo também, mocinha! — disse Bea. 

Os soldados do ministério apontaram mais uma vez os fuzis para Gotzone. Os soldados da Ordem fizeram a mesma coisa, apontando suas espadas e lanças para eles. Os dragões menores rugiam também. 

— Mas, por hora, dá o fora daqui! Some da minha frente antes que eu me arrependa! — finalizou Bea.

Asas transparentes vermelhas apareceram nas costas dos soldados e eles pularam no ar, como raios de luz rubros. Os que estavam montados em dragões também se foram, carregando os corpos feridos de Usoa e Lore. Só ficaram Gotzone, Argiñe e os gêmeos. A amiga de Goti estava apreensiva. Gotzone colocou o escudo e a espada nas costas, sinalizando que estava tudo em ordem. 

— Depois eu vou, Argiñe, vai na frente… 

A mulher bateu suas asas transparentes vermelhas e caiu fora de lá. Beatriz levantou as mãos e os soldados entenderam que eram para se retirar. Aos poucos, aquela multidão organizada saía das ruas nevadas de Bilbao, levando seus carros e seus apetrechos. Um capitão e um sargento bateram continência para ela e ela devolveu o gesto com outra continência, mostrando que estava tudo bem, não precisaria mais de tropas do ministério naquele momento.

A noite fria avançava. Sakura e Syaoran se olhavam, sem saber o que falar. Bea tentou quebrar o gelo.

— E essa armadura, Shoran? — perguntou a ministra.

— Eu… Meu corpo tá cheio da magia da Ordem. 

— Tem usado ela sempre? 

— Não… Só hoje mesmo que eu usei… 

— Impressionante! Você vende a alma pro diabo, mas ganha habilidades dele! 

— Foi o único jeito de impedir que o Hernán Cuesta me usasse como um brinquedo dele. 

— É isso que ela usou pra quebrar a crosta que ele colocou na sua cabeça? 

— Sim. 

— Engenhoso… Você podia ter morrido. Meus soldados morreram só de chegar perto dele…

— Entendo… Foi um milagre que me salvou… — disse Syaoran.

— Foi um milagre mesmo, da forma mais errada possível, mas foi um milagre… — disse Bea, olhando para Gotzone. — Sakura, imagina você começar a faculdade sabendo que o Shoran morreu. Acho que você ficaria arrasada na época, não? 

Sakura sorria com nervosismo nos lábios e não sabia o que pensar. Parecia que a ministra estava do lado de Gotzone de alguma forma ou tentando entender o lado dela. 

— Sakura… Não pense que a Dona Beatriz está defendendo a Gotzone. Acho que nem o próprio ministério tinha conhecimento para tratar o Syaoran de uma magia que ninguém conhece. Por isso, ela confiou na Gotzone, colocou uma tarefa nas costas dela com prazo definido. Acho que ela deve ter apostado alto pra salvar o Syaoran… Ela conseguiu, mas também, respeitou a liberdade dele e deixou ele livre para você… Você pensa que ela não poderia ficar com o Syaoran para ela? — disse Tomoyo. De alguma forma ou a amiga lia seus pensamentos ou, ao menos, tentava entender as razões de Gotzone, era o que a cardcaptor pensava.

— Tomoyo-chan, até você? Você tá tentando me fazer aceitar a galhada enorme que eu levei na cabeça? Que tipo de "corna" você acha que eu sou, hein? 

— Corna política, aquela que prometeu "Vou matar a Gotzone" e até agora não cumpriu. — disse Gotzone.

— Agora vai! — disse Sakura. Ela ia partir para cima, mas Tomoyo e Beatriz seguraram a Cardcaptor.

— Gotzone, basta! — gritou Syaoran. As atenções agora foram voltadas para eles. — Iñigo, Iñaki… — disse Syaoran. Os meninos ainda estavam escondidos atrás do poste, olhando com suspeita para aquela reunião. — Vem com o Aita, vem… 

— Aita? — disse Sakura, sem acreditar. — Por mais que me digam isso, não dá pra aceitar… 

Os meninos, no começo, vacilavam entre continuar agarrado no poste e ir para o colo do pai. Eles tinham medo dos olhos verdes furiosos de Sakura. Iñaki perdeu o medo e correu para o braço do pai. Iñigo acompanhou o irmão depois de uns segundos. Sakura olhava indignada para eles. Gotzone, temendo pela segurança de todo mundo, correu para perto deles. Os quatro pareciam fazer um retrato de família perfeito, daqueles que Tomoyo, um dia, adoraria fazer e já havia feito muitas vezes quando era Syaoran, Sakura e Chitatsu apenas.

— Ela te deu dois filhos, né? Eu só te dei um! Eu sou tão frouxa que eu nem sou capaz disso! E você ficou todo o tempo do meu lado! — disse Sakura, se recriminando.

— Sakura, você me disse uma vez que eu não devia usar a Tomoyo como escudo das minhas desculpas. Eu também peço que você não se esqueça disso e deixe de usar a Goti como escudo das suas frustrações. Muito menos se considere frouxa! Você me deu um filho maravilhoso também… — disse o chinês, sério. Sakura ficou boquiaberta com aquilo. 

— Eu quero que você entenda que, sim, a Gotzone é muito bonita, muito atraente e… Como Syaoran, eu me sinto de alguma forma atraído por ela, da mesma forma que eu fui atraído pela sua meiguice, pela sua gentileza, pela compatibilidade das nossas magias… 

Um choque apareceu na cabeça de todos. Gotzone abraçou Syaoran e logo foi empurrada de volta.

— Não é só corpo, é pensamento parecido, é ter a mesma profissão, os mesmos objetivos de vida… 

— Como é que você pode! — disse Sakura, com as mãos trêmulas. Tomoyo segurou Sakura para que ela não fizesse nenhuma besteira e Kero pulou na frente das duas, rosnando para a família reunida na sua frente. Bea ficou preocupada com a atitude do guardião.

— Você não quer a verdade? Eu estou te dizendo. A melhor forma de mostrar respeito por você é contando tudo o que está preso dentro de mim. Tirar todo esse peso que eu carreguei durante anos comigo… Agora, eu confesso, eu nunca me senti tão feliz na minha vida por contar a verdade! Nunca me senti tão feliz por assumir pra Deus e o mundo que eu sou pai desses meninos! Por favor, me entenda um pouco! — disse o Chinês, com lágrimas nos olhos. Sakura também chorava, com os dentes trincados. 

— Você destruiu a nossa família, Shoran… 

— Me desculpa, Sakura! Eu assumo a minha responsabilidade! Eu não queria fazer isso! Eu também não podia abandonar os filhos que eu fiz antes de me casar com você… 

Sakura queria continuar a perguntar o porquê daquilo, o porquê de ele não ter contado antes, mas aquelas eram perguntas cujas respostas já foram dadas ou até mesmo Syaoran não conseguiria responder. A Cardcaptor levantou a cabeça e concentrou toda a sua raiva em Gotzone. Tomoyo agarrou com mais força o braço dela, percebendo o olhar da amiga. Ela se soltou da costureira com um movimento brusco. 

— Me deixa, Tomoyo.

Dona Beatriz pegou o seu cajado, mas Syaoran foi mais rápido e chegou perto de Sakura, com os meninos no colo, sem temer a cardcaptor. Gotzone arregalou os olhos e tapou a boca de espanto. Sakura não soube como reagir. Quis chamar o chinês de covarde por se esconder atrás de crianças para enfrentá-la, mas não era bem isso que ele estava fazendo.

— Isso é um absurdo… 

— Eu sei… É melhor assim… Pra nós dois. Jogar tudo às claras. — Nos braços de Syaoran, Iñigo estava tão cansado por causa do frio e do cansaço que cambaleava de sono. Syaoran puxou o menino para perto dele e Sakura, pela primeira vez naquela noite, deixou de sentir ódio e começou a sentir um pouco de empatia por eles. 

— Eu acho melhor esses meninos irem pra cama… 

Syaoran olhou para Gotzone e, por telepatia, eles concordaram em levar o menino até a casa dela, em Donostia, onde Chitatsu já estava.

— Outra hora a gente se fala… — Asas transparentes vermelhas apareceram nas costas do chinês e ele pulou nos ares, num rastro de luz vermelho brilhante. 

— Dona Beatriz, quando essa história acabar, a gente conversa, mas antes… — disse Gotzone, andando até Sakura. — Eu sei que a nossa conversa não acabou aqui, Sakura. Se você quiser me enfrentar de verdade uma hora, eu vou te esperar você resolver suas pendências com a justiça e só depois disso, eu acerto minhas contas com ela também, com o Conselho europeu e com quem mais for!

— Hunf! — disse Bea. Gotzone pulou no ar e acompanhou Syaoran. Sakura ficou olhando a partida dela com tristeza no olhar. 

— O que ela quis dizer com isso, hein? 

Uma viatura da Ertzaintza, a polícia do País Basco, parou do lado dela. Quatro soldados de farda branca saíram do carro e apontaram pistolas para Sakura. 

— Você tá presa, Sakura! Por usar magia na frente dos comuns… 

— Como é que é? — Sakura nem teve tempo para se assustar. Os soldados já pegaram o pulso dela e colocaram as algemas. Levaram-na para dentro da viatura e Sakura ficou olhando para a Ministra. Tomoyo e Kero tentaram correr atrás dela, mas o carro de polícia já havia partido. 

Não podiam fazer mais nada.

 

Continua…  

 


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